A partir de estudos astrônomicos, sobretudo da constelação de Órion, uma parte do mistério que envolve as pirâmides de Gizé começa agora a ser desvendada.
Nos últimos dois séculos, nossos conhecimentos sobre a cultura do Antigo Egito evoluiram bastante. Mas vários mistérios permanecem sem solução, sendo o principal quando, como e por que foi construída a Grande Pirâmide.
A egiptologia tradicional diz que a Grande Pirâmide foi construída por volta do ano 2450 a.C., pelo faraó Quéops, da quarta dinastia, para lhe servir de túmulo. Foi erguida na cidade de Gizé, uma necrópole da antiga Mênfis, que hoje é parte da Grande Cairo. A tradição de construir pirâmides começou como uma sofiticação da idéia da mastaba, ou "plataforma", que cobria a tumba real; depois foram sendo usada várias mastabas sobrepostas. As primeiras pirâmides, como a estrutura em degraus do rei Djoser, em Saqqara, construída pelo famoso arquiteto Imhotep, ilustram essa conexão.
Acredita-se que a Grande Pirâmide tenha sido construída durante um período de 30 anos, sendo que dez deles foram gastos na construção da estrada por onde os blocos de pedra foram arrastados e na preparação dos compartimentos subterrâneos do terreno onde os blocos foram colocados.
Gizé é o nome do local onde estão as 3 pirâmides: A maior é a de Queóps, um pouco menor a Quéfren e a menor é a de Miquerinos.
Este desenho do século XIX do interior da Grande Pirâmide feito por Luigi Mayer mostra a precisão com a qual os blocos de pedras eram fixados uns aos outros. O declive ingrime da grande Galeria conduzia a Câmara Funerária do Rei, onde só encontraram o sarcófago vazio. Grandes blocos de granito deslizaram possivelmente por esta rampa abaixo fechando o túmulo para sempre. A passagem de baixo conduz a câmara da Rainha.
O Famoso local de Gizé situa-se a oeste do Nilo, a menos de 16 Km a sudoeste do Cairo. As três grandes pirâmides aparecem no horizonte assim que se chega aos suburbios da grande cidade. O Sharri a al-Ahram (Avenida das Pirâmides) conduz diretamente aos monumentos majestosos.
Embora os egipícios tenham sido muito cuidadosos registrando tudo o que fizeram - cada rei que tiveram, cada guerra que lutaram e cada estrutura que ergueram -, não há nada sobre eles construindo a Grande Pirâmide. Assim, não se sabe como isso foi feito, mas as teorias que tentam explicar são abundantes, indo dos discos voadores à pedra artificial. Há duas principaos, uma envolvendo uma rampa em espiral, que ia sendo erguida enquanto a construção avançava, e outra baseada em relatos de Heródoto, o chamado "pai da história", sugerindo que as pedras foram levantadas com a ajuda de alavancas e plataformas de madeira. Seja como for, a Grande Pirâmide é a estrutura mais bem construída da face da Terra. É toda feita em pedra, e seu interior não foi preenchido com terra, como as da América Central.
O meio utilizado pelos Egípicios para o transporte das pedras até o cume das pirâmides talvez tenha sido uma fileira de 2 homens puxando um trenó sobre vigas húmidas subindo sembre em espiral por uma rampa lateral(1). Outro meio pode ter sido o da construção de uma rampa de encontro à superfície de cada uma das faces da pirâmide (2), mas isto significaria que para manterem o necessário decline de 1 para 10, a rampa e chegasse ao cume tivesse que começar com 1830m de afastamento da pirâmide. Depois, a rampa seria removida aos poucos e as pedras brancas de revestimento colocadas no seu lugar(3)
As Pirâmides de Gizé tem estimulado a imaginação humana. Quando foi erguida, a Grande Pirâmide tinha 145,75m de altura (com o passar do tempo, perdeu 10m do seu cume). O ângulo de inclinação dos seus lados é de 54º54'. Sua base é um quadrado perfeito com 229m de lado. Mas, apesar desse tamanho todo, é um quadrado quase perfeito - o maior erro entre o comprimento de cada lado não passa de 0,1 %, algo em torno de 2 cm, o que é incrivelmente pequeno. A estrutura consiste em mais de 2 milhões de blocos de pedra, pesando cada um de duas a 20 toneladas.
Na face norte fica a entrada da pirâmide. Um número de corredores e galerias leva ao que seia a câmara mortuária do rei, localizada no "coração da estrutura". O sarcófago é de granito preto e também esta orientado nas direções da bússola. Surpreendentemente, o sarcófago é maior do que a entrada da câmara. Só pode ter sido colocado lá enquanto a construção progredia, um fato que evidencia a complexidade do projeto e como tudo foi cuidadosamente calculado.
São calculos assombrossos. Por exemplo, se você tomar o perímetro da pirâmide e dividi-lo por duas vezes a sua altura, chegara ao número pi (3,14159...) até o décimo quinto dígito. As chances desse fenômeno ocorrer por acaso são quase nulas. Até o século 6 d.C., o pi havia sido calculado só até o quarto dígito.
E isso é só o começo. A grande pirâmide pode não ser a mais velha estrutura na face do planeta (a estrutura mais antiga do mundo atualmente são As Avenidas Megalíticas de Carnac, datando de 4700 a.C., as pirâmides tem a idade de 2450 a.C. - em breve estaremos colocando um matéria na página sobre as Avenida Megalíticas de Carnac, visite a seção Matérias periódicamente...), mas é a mais acuradamente orientada, com os seus lados alinhados quase exatamente para o norte, sul, leste e oeste. O equivalente mais bem sucedido na civilização contemporânea, o Observatorio de Paris, possui um desvio de apenas 6 minutos de grau do norte magnético (que fica 7 minutos a noroeste do norte geográfico). A Grande Pirâmide tem um desvio de 3 minutos. É um mistério como os antigos egípcios conseguiram tamanha precisão sem utilizar uma bússula - assim como é incrível que até agora nintem tenha aparecido com uma explicação para o enigma.
Ao que parece, todas as construções na planícies de Gizé estão espetacularmente alinhadas. No solstício de verão, quando visto da Esfinge, o Sol se põe exatamente no centro da Grande Pirâmide e de sua vizinha, a Pirâmide de Quéfren. No dia do solstício de inverno, visto da entrada da Grande Pirâmide, o sol nasce exatamente do lado esquerdo da base da cabeça até se pôr ao lado direito de sua base. A geometria das três pirâmides tem sido uma fonte de confusão por muitos anos, por casa da maneira aparentemente imperfeita com que foram alinhadas. É curioso, porque foram os egípcios os inventores da geometria.
Por outro lado, a pirâmide está colocada num lugar muito especial na face da Terra - ela esta no centro exato da suprefície terrestre do planeta, dividindo a massa de terra em quadrantes aproximadamente iguais. O meridiano terrestre a 31º a leste de GreenWich e o paralelo a 30º ao norte do equador são as linhas que passam pela maior parte da superfície terrestre do globo. No lugar onde essas linhas se cruzam está a Grande Pirâmide, seus eixos norte-sul a leste-oeste alinhados com essas coordenadas. Em outras palavras, a Grande Pirâmide esta no centro da superfície terrestre. Ela é, por assim dizer, o umbigo do mundo.
Veja nesta fotografia de 1895 o tamanho e a beleza da pirâmide de Quéops
Muitos arquitetos e engenheiros que estudaram a pirâmide concordam que, com toda a tecnologia de hoje, não conseguiríamos construir uma igual. Será? Às vezes as pessoas preferem acreditar em qualquer coisa, menos na capacidade do gênio humano. Foi com essa intenção que, em 1994, em grupo de arqueólogos tentou construir uma réplica da pirâmide, sem usar a tecnologia moderna, nem mesmo a roda, mas conseguindo uma escala proporcional de tamanho, tempo e número de operarios 40 vezes menor. Isso resultaria justamente nos 10 m que faltam ao cume da Grande Pirâmide.
Cordas e varetas serviam como instrumentos para medição e demarcação do terreno, as pedras foram cortadas a cinzel nas pedreiras distantes, transportadas de barco e empurradas até o local da empreitada, ao lado de Quéops. O sistema utilizado para erguer as pedras foi uma combinação de tampa com alavancas. Tudo como nos velhos tempos.
Para surpresa geral, as pedras foram se encaixando com precisão milimétrica e a construção progrediu, apesar dos atrasos provocados pelo desconhecimento do Know-how da época, que teve de ir sendo desvendado na base da tentativa e erro. O que frustou o sucesso da empreitada foi o tempo. Não deu. Se a equipe dispusesse de alguns dias a mais, além dos 45 dias determinados, teria construído uma Grande Pirâmide em escala.
As pirâmides em degraus foram as primeiras tentativas de construir uma pirâmide como a de Queops.
Como vimos, muito tem sido feito nesses últimos dois séculos para se tentar entender a cultura do Egito Antigo, mas a velha escola continua dominate, sustentando que as pirâmides eram simplesmente tumbas grandiosas para homenagear faraós mortos, construídas com trabalho escravo e erguidas de maneira relativamente desestruturada. Mas esses conceitos estão mudando, principlamente graças ao promissor trabalho de Robert Bauval e Adrian Gilbert, um estudo astronômico sobre as pirâmides.
Os dois publicaram suas descobertas preliminares no livro The Orion Mystery, editado pela Heinemann. Eles também fizeram um documentário para a TV em 1995, jogando uma nova e intrigante luz sobre o assunto. Os pontos de vista expressados no livro e no documentário foram inicialmente desprezados pelos egiptólogos acadêmicos, mas, conforme as evidências foram reforçando sua teoria, mais e mais fente foi pegando o bonde e a velha escola esta ficando cada vez mais isolada.
Embora Virginia Trimble e Alexander Badawy tenham sido os primeiros a notar que os "respiradouros" da pirâmide de Quéops apontavam para a constelação de Órion, aparentemente com o objetivo de mirar a alma do rei morto em direção aquela contelação, Bauval foi o primeiro a notar que o alinhamento das três pirâmides era uma acurada imagem espelhada das Três Marias, como são chamadas no Brasil as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka, que formam o "cinturão" de Órion. A isso ele deu o nome de Teoria de Correlação, que forma a espinha dorsal de sua pesquisa.
Pirâmides de Quéops, em Fizé: precisão geométrica ainda é um enigma
As pirâmides há muito vêm fascinando Robert Bauval. Ele é um engenheiro egípcio, filho de pais belgas, nascido em Al-Iskandariyya (Alexandria), e passou a maior parte de sua vida trabalhando no oriente médio. Por muitos anos ponderou sobre o significado de Sah, a constelação de òrion, e sua ligação com as pirâmides.
Bauval sabia que a aparentemente inconsistente disposição das três pirâmides em Gizé não era acidental. O problema há muito ocupava sua cabeça e a de seus amigos engenheiros. Muitos concordavam que o alinhamento, embora incomum, não era um erro, dado o conhecimento que os egípcios tinham.
Enquanto trabalhava numa obra na Arábia Saudita, Bausal costumava passar as noites com a família e os amigos num churrasco no deserto. Num desses finais de noite ao redor da fogueira, um amigo engenheiro, que também era astrônomo amador, apontou para a constelação de Órion, que se levantava atrás das dunas. Ele mencionou de passagem que as estrelas que formam o cinturão do caçador pareciam imperfeitamente alinhadas, e não formavam uma diagonal reta. Mintaka, a estrela mais à direita, está ligeiramente fora do prumo. Enquanto o amigo explicava, Bauval ia vendo a luz - o alinhamento das três estrelas correspondia perfeitamente ao das pirâmides de Gizé!
Inicialmente, Bauval usou o programa de astronomia Skyglobe para checar o alinhamento das estrelas em 2450 a.C., em um computador pessoal. Embora inacurado para um trabalho sério, o software foi suficiente para clarear a mente de Bauval quanto ao valor de sua descoberta. O programa SkyGlobe também pode colocar a Via-láctea nos mapas celestes que produz, e ao fazer isso Bauval encontrou mais evidências para a sua teoria. Gizé esta a oeste do Nilo, da mesma forma que Órion está a "oeste" da Via-lactea, e na mesma proporção que Gizé esta para o Nilo.
Bauval calculou a precessão das Três Marias e descobriu que, devido a sua proximidade no espaço e a sua grande distância da Terra, há 5 mil anos as estrelas apareciam exatamente do mesmo modo como são vistas hoje. Claro, elas mudaram em declinação - antes estavam abaixo do equador celeste, a cerca de -10º de declinação.
A astronomia é fundamental na Teoria da Correlação de Bauval. Em um ciclo de 26 mil anos, o eixo do nosso planeta oscila levemente e isso leva a uma mudança aparente na posição das estrelas. Esse fenômeno é conhecido pelo nome de precessão. Enquanto a Terra oscila, a Estrela Polar que marca o pólo Norte celeste vai mudando. Atualmente, a estrela Polaris marca esse ponto, mas, na época das pirâmides, no lugar dela estava Thuban da constelação de Draconis. Dentro de dez anos, a estrela Vega, da constelação de Lira, irá ser o pólo norte celeste.
Outra mudança na posição das estrelas é provocada pela expansão do universo. As estrela não estão paradas no espaço - elas tem o que se chama de movimento próprio. Algumas estão se movendo em direção a Terra, enquanto outras estão se afastando. Grupos de estrelas relacionadas, como as Três Marias, em Órion, tendem a se mover juntas pelo espaço.
A mudança da posição de uma estrela está em função, entre outras coisas, de sua distância do local de observação. Estrelas que estão muito longe parecem se mover bem devagar. Este é o caso das Três Marias, distantes aproximadamente 1,4 mil anos-luz da Terra. Assim, através dos séculos, elas mudaram sua declinação, e hoje nascem e se põe em tempos diferentes. Mas elas retém sua forma característica por causa da distância.
É muito importante entender que o céu era diferente no tempo das pirâmides. A forma geral das Três Marias tem permanecido igual, embora muitas outras partes do céu tenham mudado dramaticamente. Graças aos sofisticados programas de computador, é possível projetar o céu de volta no tempo, o que permitiu a Bauval verificar e construir sua teoria.
Órion: Desalinhamento refletido nas Pirâmides de Gizé
As relações que tal descoberta implica são fascinantes. Os egípcios eram dualistas, tudo que pensavam e em que acreditavam tinha sua contraparte - causa e efeito, direita e esquerda, leste e oeste, morte e renascimento - e nada era visto em isolamento. Eles contruíram em Gizé uma réplica exata do cinturão de Órion, o destino do faraó, o Duat. Longe de ser uma tumba, a pirâmide seria o ponto de partida da jornada do rei morto de volta às estrelas de onde veio.
A egiptologia tradicional acredita que os egípcios praticam a religião solar, centrada na adoração de Ra. O culto a Ra, cujo centro era Heliópolis, a cidade do Sol, era sem dúvida importante, parece que era um apêndice de uma religião estelar ainda mais antiga. Toda a evidência que tem surgido sugere que Ra era meramente um dos instrumentos pelos quais o rei retornava ao tempo primordial, e não o seu objetivo final. A aplicação da astronomia ao estudo do Egito Antigo mostra que as estrelas tinham importância definitiva no destino final do rei, como se pode notar pelo texto 466 recolhido na pirâmide: "Ó Rei, és esta grande estrela, a companheira de Órion, que gira pelo céu com Órion, que navega o Duat com Osíris..."
O rei era muito importante por ser o elo entre os deuses e os homens, e era tratado com enorme respeito na vida e na morte. Desde o momento de seu nascimento era educado e treinado para seu retorno às estrelas. Cada aspecto da sua vida estava associado com sua jornada. Ele aprendia as rezas e encantamentos (muitos foram coletados no Livro dos Mortos), que lhe garantiria uma jornada segura. Seu objetivo na vida era um retorno bem-sucedido, e a pirâmide, longe de ser uma tumba ou um memorial, era o ponto de partida dessa grande jornada.