O Pós-Vida
Segundo aprendemos, a transição ocorre no momento da separação do corpo
psíquico do corpo físico. Também aprendemos que durante alguns dias o
falecido ainda continua preso aqui, no corpo psíquico e, posteriormente,
haverá aquilo que podemos chamar de segunda morte, quando a consciência
abandona o corpo psíquico e vai ocupar o plano de consciência
correspondente ao seu nível de evolução.
Assim como o corpo
físico do falecido fica sem vitalidade, sem consciência, ocorre o mesmo
com o corpo psíquico que também não possui consciência, já que esta é um
atributo da alma (alguns se referem a este corpo psíquico, desassociado
da matéria, como “cascão” e acreditam que ele tenha consciência e que
influencia negativamente os vivos). Ou seja, mesmo que o corpo psíquico
seja imaterial e que nos sirva de veículo para acessarmos o mundo
espiritual, ele está associado à matéria, pois, ele só é gerado a partir
do momento que a energia vital se manifesta na matéria, animando-a
(dando-lhe consciência), ao se combinar com a energia alma.
Como
sabemos, o corpo psíquico (ou a energia psíquica) é gerado pela
polaridade positiva da energia vital. Podemos concluir, portanto, que o
corpo psíquico só existirá conscientemente enquanto houver vida física. A
conclusão é de que a consciência psíquica é gerada pelos organismos
vivos, ou seja, ela está associada a um nível de consciência que ocorre
enquanto estamos encarnados, da mesma forma que a consciência objetiva,
resultado de nossas percepções sensoriais, físicas, deixa de existir
após a transição.
Mas, o poder de plasmar imagens do corpo
psíquico é considerável. E, é este poder que tem gerado os maiores
equívocos neste campo. Isto nos leva a uma outra questão bem rosacruz: a
forma-pensamento e o pensamento-forma. O conjunto da humanidade gera
também um corpo psíquico e, infelizmente, os nossos medos têm impressos
imagens horripilantes nele. Há pessoas que afirmam, com toda convicção,
que viram a imagem do diabo em sua frente. Em alguns casos não duvidamos
que estas pessoas viram mesmo aquilo que fantasiamos ser a figura do
diabo. Somos capazes de projetar todo tipo de pensamento-forma, embora
não corresponda a uma realidade cósmica. Somos orientados sutilmente
para mantermos sempre em mente que estas coisas são falsas, miragens e
não reais. Saber distinguir estas coisas da realidade do mundo
espiritual é fundamental para nossa exata compreensão das leis que regem
o universo (visível e invisível).
Algumas pessoas acreditam num
suposto plano espiritual onde as personalidades-almas desencarnadas se
alimentam, trabalham, estudam, etc. Porém, estas crenças são
incoerentes, ilógicas e fantasiosas, pois, se não temos um corpo físico,
material, para manter e, se é ele que nos impulsiona o desejo de se
nutrir, porque íamos precisar nos alimentar? Se não existe fome (que o
corpo físico desperta) como vai existir o seu desejo? É verdade que
pode-se argumentar que esta “fome” é mental, mas este raciocínio é
simplista, pois, por exemplo, o mau-hábito de fumar e o alcoolismo
seriam levados para lá também. Não dá para imaginar desencarnardos
fumantes e alcoolátras. É evidente que os vícios (inclusive o
glutanismo) estão impressos em nosso subconsciente, que é desassociado
no momento da nossa transição. Ou seja, são essencialmente materiais,
temporais. Pode ser que estes vícios fiquem em estados latentes, em
dormência para serem despertados, talvez, e que se tornem tendências
numa futura encarnação e não que ocorram nos planos espirituais de fato.
A verdade para esta condição será também para todas as coisas ligadas
ao corpo físico.
Se a vida é movimento e ação é óbvio supor que a
vida espiritual seja exatamente o oposto, de quietude e contemplação.
Assim, a nossa consciência, nos planos espirituais em que ocupamos (o
nível em que nos encontramos antes de nos iluminarmos ao atingir a
consciência cósmica), não é agitada pelos fenômenos e acontecimentos
(fatos) como ocorre no contato com a matéria. Isto é tão verdadeiro que
nunca ouvimos falar que, numa regressão, alguém tenha se lembrado de sua
vida (sucessões de fatos que fazem uma história) num plano espiritual.
Se não há vivências, não há movimento e se não há movimento, não há
memória.
Parece ser evidente que alguns desejos ligados ao ego
só existem enquanto estamos encarnados. Também parece lógico que lá (em
algum plano de consciência) não temos sexo, idade, etc., como acreditam
alguns. Ou seja, no plano espiritual não existe o macho, a fêmea, o
velho, o novo, pois o tempo é uma impressão que acontece em nossa
consciência objetiva, mortal. A velhice é uma condição ligada a
temporalidade e, naturalmente, ao desgaste do corpo físico, material.
Portanto, no plano espiritual não somos homens ou mulheres, jovens ou
velhos, magros ou gordos, filhos ou pais, etc.
Alguns supõem
também que no plano espiritual exista ação e que algumas atividades
deste plano seriam intencionalmente feitas com o propósito de nos afetar
(muitas das vezes negativamente). Ora, parece também lógico que a
maioria dos desencarnados não têm consciência da existência deste plano
terreno (provavelmente só os despertos a têm) para influenciar os vivos.
Se isto ocorresse a lei do livre-arbítrio estaria comprometida e,
consequentemente, o carma individual estaria constantemente sendo
transgredido, fazendo do ser humano um joguete eterno de forças que ele
não dominaria e retiraria também toda responsabilidade por suas ações
(seu carma).
Uma idéia que podemos formar em relação a transição e
todas as etapas que a acompanha é que, se enquanto encarnados existe um
ego (o corpo psíquico que nos impulsiona a certos desejos e emoções),
ligado a nossa sobrevivência física (subsistência, reprodução, etc),
induzindo-nos a competição, a disputa, ao confronto e ao conflito e que
na transição ele deixa de existir e igualmente todos os impulsos ligados
a ele. Estes impulsos ocorrem enquanto estamos encarnados (enquanto
existe o ego ou enquanto ele não foi sublimado). Na transição nos
libertamos dos impulsos exclusivos do ego. É de se supor, portanto, que
na transição ocorre, na verdade, uma expansão de consciência. Ou seja,
todo desencarnado toma consciência de suas atitudes enquanto estava
encarnado, pois, sua mente se liberta do ego.
Estamos vencendo
nossa condição animal para, assim, nos humanizarmos. E, temos esta
oportunidade toda vez que encarnamos e nos deparamos com situações
criadas pelo ego que nos obrigam a profundas reflexões para vencê-las,
através do sofrimento dos erros causados por ele mesmo. Certamente que
estamos ainda no processo de humanização e, para tanto, precisamos
vencer e superar nossa condição e tendência animal.
A conclusão
lógica deste raciocínio é que quanto mais vezes uma personalidade-alma
tenha se encarnado, mais o domínio do ego sobre esta é menos acentuado,
da mesma forma que uma personalidade que esteja apenas em suas primeiras
encarnações estará completamente dominada por ele. Ou seja, todos, num
futuro, o dominarão através das experiências tiradas de suas inúmeras
encarnações. Daí, a compreensão, a paciência e a tolerância com todos
aqueles que julgamos não ter um nível de consciência (em virtude de sua
“maturidade” cósmica) que os permitam perceber esta realidade.
Consequentemente,
é uma obrigação, de todos aqueles que têm esta consciência, ajudar os
seus irmãos humanos a superar suas tendências e/ou perdoá-los por ainda
não dominá-las.
O óbvio também é que aqueles que estão
desencarnados e livres de tais influências do ego, consigam perceber
aquilo que, às vezes, não percebemos quando estamos em seu domínio
exclusivo quando estamos encarnados. É justamente em virtude disto que
podemos nos elevar até os níveis onde habitam os desencarnados,
principalmente um parente nosso, para pedir-lhes inspiração. Certamente
que podemos, enquanto encarnados, nos elevar aos planos espirituais, mas
não é lógico ocorrer o contrário (exceto, talvez, os Mestres Cósmicos).
A crença na interferência dos mortos sobre os vivos ainda é muito
forte, mas ela não é plausível, pois, para isto ocorrer as leis cósmicas
estariam constantemente sendo violadas.
Com certeza, toda transição
é uma libertação. Mas, libertação do quê? Do ego. Dos vícios do corpo,
das tendências nefastas e, enfim, de tudo que obscurece nossa
consciência. Certamente existem graus desta libertação, porém, no plano
espiritual a força do ego sobre a consciência é inevitavelmente
enfraquecida. Podemos imaginar que o objetivo da evolução seja
justamente o de alcançarmos a libertação tatal.
Como é dito de forma
admiravelmente coerente e lógica em nossas monografias: “no nascimento
três energias se fundem (energia espírito, energia vital e alma). E, no
momento da morte elas se separam”.
É curioso que a idéia que
concebemos em relação ao após-vida determina o nosso modo de viver.
Certamente são as nossas crenças que têm nos impedido de apreendermos a
bela simplicidade das leis que envolvem o nascimento e a morte. Está
evidente que a idéia que formemos neste campo irá direcionar o caminho
que vamos trilhar para desenvolvermos (ou, infelizmente, atrasar) a
nossa busca espiritual. Aqui estamos na linha divisória entre ciência e
superstição. Qualquer equívoco neste campo nos afastará ou nos
aproximará da verdade na senda da espiritualidade.
De toda
forma, podemos fazer magnifícas deduções a respeito das leis que
envolvem o nascimento e a transição através do fabuloso ensinamento
rosacruz e de suas práticas e, assim, eliminarmos muito de supertição
que ainda envolve este assunto e o obscurece.
Hideraldo Montenegro