O que está acontecendo? Os terremotos estão aumentando?
Apesar dos últimos acontecimentos ocorridos no Haiti, Ilhas Salomão ou mesmo uma série de abalos sucessivos ocorridos na Grécia e Argentina no dia de ontem terem chamado a atenção da imprensa e das pessoas de modo geral, não existe qualquer comprovação científica de que os tremores estejam aumentando. Nem este ano, nem nas décadas passadas.
Tremores como o que aconteceu no Haiti, de 7.0 graus de magnitude, ocorrem em média 18 vezes ao ano em todo o planeta e neste ano (2010) já ocorreram dois desses eventos de grande intensidade. Nos últimos 500 anos foram registrados pelo menos uma dúzia deles somente na região caribenha. Um deles, de 7.6 graus (oito vezes mais intenso que o do Haiti), atingiu a República Dominicana em 1946 deixando mais de 20 mil desabrigados. Terremotos com intensidade igual ou superior a 8.0 graus só ocorrem uma vez por ano.
Existem diversos fatores que contribuem para a sensação de que os terremotos estejam aumentando, mas a rápida expansão nas telecomunicações e o aumento nas estações registradoras são apontados como o principal responsável por essa impressão.
Em 1931, a rede sismográfica mundial contava com apenas 350 estações registradoras e atualmente esse número ultrapassa 4 mil. Nos EUA esse número é de 8 mil. O incremento de estações e a capacidade de disseminar os dados registrados mais rapidamente através de satélites, telex e internet permitiu aos centros sismológicos localizar pequenos abalos praticamente indetectáveis anos atrás, tornando sua divulgação praticamente imediata, colaborando para a sensação de aumento de sismos.
É o mesmo que comparar a observação astronômica com dados de antes e depois do telescópio Hubble. As galáxias, novas estrelas e novos planetas sempre estiveram lá, mas a tecnologia permitiu que os pesquisadores pudessem olhar mais longe e ver mais. Não foram os terremotos que aumentaram, mas a capacidade detecção é que foi aprimorada.
Anualmente, a rede sismográfica global, NEIC, registra entre 12 mil e 14 mil terremotos por ano, ou aproximadamente 50 sismos por dia. Com base nesses dados, as estatísticas mostram que os terremotos continuam a ocorrer dentro da média histórica. Para eventos de grande porte, as únicas exceções foram os anos de 1970 e 1971, quando foram registrados 20 e 19 terremotos entre 7.0 e 7.9 respectivamente. Nos outros anos, o total esteve em muitos casos abaixo da média de 18 terremotos por ano. Em 2009 ocorreram 16 abalos nessa faixa de magnitude.
Fotos: No topo, detalhe da falha de San Andreas, na costa oeste dos Estados Unidos. Milhares de sismógrafos estão instalados ao longo da falha, registrando praticamente qualquer abalo na região. A falha, de 1290 quilômetros de extensão, praticamente corta o Estado da Califórnia e marca a junção entre a placa tectônica do Pacífico e a placa tectônica da América do Norte. O movimento dessa junção provocou a destruição da cidade de São Francisco no começo do século 20. Acima, gráfico mostra a quantidade de terremotos registrada pelo Centro de Pesquisas Geológicas dos EUA, USGS, entre 2000 e 2010. Crédito: Wikimedia Commons/Apolo11/USGS.