Anjo de Luz

Informação é Luz , ajude a propagar

 

(2)  SE VOCÊ MEDITAR, O MUNDO SERÁ MELHOR

(jcl-ribpreto-2006)

 

O objetivo deste trabalho é tentar fazer compreender, como já compreenderam expoentes de nossa ciência mais avançada, a física quântica, que, o que pode nos levar à percepção do Sagrado não são as religiões e crenças populares, mas o misticismo milenar, oriental ou ocidental, através da  meditação. Como disse Krishnamurti, sábio contemporâneo: “As religiões impedem o acesso à Verdade”. E, ainda: “Aquele que se liga a religiões populares ou organizadas segundo escritos ditos sagrados é imaturo”.

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- Acabar com todas as ilusões.                                                                    

     Minha filha estava lendo estes papéis e disse: “Pai, quando você estiver na metade, não haverá mais ninguém te ouvindo”. Eu perguntei: “Porque você está dizendo isso?” Ela respondeu: “As pessoas precisam de ilusões, de esperanças, de consolo, de alguma coisa em que se agarrar... e você está tirando tudo isso delas!!!”

     E eu gostaria que vocês me dissessem se conhecem alguém que vive sem ilusões? Quem de nós não está com a cabeça cheia de idéias, opiniões, ideais, suposições, crenças e esperanças em tantas coisas que nem sabe se, realmente, são verdades ou se algum dia vão acontecer?

     O que é isso a que damos o nome de Deus, céu, inferno, pecado, umbral, carma, espírito, alma, salvação, sacramento, reencarnação, ressurreição, aperfeiçoamento espiritual, santidade? Será que temos total certeza de que essas coisas são verdades absolutas só porque pensamos ou acreditamos que sejam, ou porque lemos ou ouvimos falar sobre elas? Ninguém tem nenhuma dúvida, por menor que seja, a respeito disso?             

     Então, eu disse para minha filha: “O que você falou é verdade! Mas, o que são ilusões? São coisas que existem na realidade? Ou só existem na imaginação das pessoas?”

 

- A busca de Deus. A importância do assunto.

     O assunto de hoje é este: a busca da compreensão daquilo a que damos o nome de Deus. É possível que muitos estranhem o que vou falar, mas isso será, talvez, devido aos preconceitos. Estamos tão acostumados a ouvir, pensar e ler coisas tão diferentes que, talvez, achem até mesmo absurdo o que vão ouvir aqui.

     Primeiramente, o fato, que todos podemos observar, é que nós, ocidentais, não damos atenção aos ensinamentos daqueles homens que atingiram o que chamamos de “reino de Deus” (ou reino dos céus, iluminação, consciência cósmica, consciência crística, consciência búdica, nirvana, samadhi, satori, e assim por diante, conforme a cultura de cada povo). E, observem: não damos quase nenhuma atenção àquilo que tentaram nos ensinar esses homens que tanta influência tiveram, na história dos povos, na formação das civilizações porque, do que eles falaram, nasceram todas as religiões e crenças que existem até hoje!

     Parece que não levamos em consideração as palavras que esses homens de mente aberta, iluminada, como, por exemplo, Jesus, nos deixaram. Ou que achamos que esses assuntos são apenas para determinados momentos, como as cerimônias e festas religiosas, o culto do domingo e certas crises.

     No entanto, eu gostaria que vocês percebessem o quanto estamos errados em pensar assim. Este assunto é importantíssimo, muito mais do que podemos imaginar apenas com o que as religiões nos ensinam. Estas sempre nos deixam com muitas dúvidas sobre aquilo que elas mesmas tentam explicar, bem como não enfatizam, como deveriam, as necessidades do homem em relação ao Sagrado.

 

- Preconceito.

     Mas, para estudar estes assuntos e perceber como estamos enganados, temos de deixar de lado o maior obstáculo que existe em nosso caminho: o preconceito. Preconceito é achar que uma coisa é boa ou má, se serve ou não serve, se é certa ou errada, mesmo sem conhecê-la, isto é, mesmo sem saber se, realmente, é boa ou má, se devemos aceitá-la ou não. Preconceito é, também, pensar que aquilo que já sabemos é tudo o que precisamos saber e, assim, satisfeitos, recusamos tudo o mais.

     O que faz com que não acreditemos plenamente nas palavras dos pregadores, ou das escrituras das religiões ocidentais, é que, em nossa cabeça, sempre restam muitas dúvidas. Ou algum de vocês não tem qualquer dúvida, por menor que seja, a respeito?  Olhem para dentro de vocês mesmos e vejam se isso não é um fato.

     E porque sempre restam dúvidas? Porque ainda não tivemos, cada um de nós pessoalmente, a experiência que os chamados iluminados tiveram. Essa experiência acaba com todas as dúvidas e vamos então - não pensar ou imaginar -, mas saber, o que é fato e o que é ilusão, o que é verdadeiro e o que é falso, não mais por ler ou por ouvir dizer, mas por experiência própria.

 

- Conclusões da ciência moderna.   

     Depois que a própria ciência mais avançada do mundo, a física quântica, concluiu que as meditações das tradições orientais podem levar a estados elevados de consciência (estados que, até há pouco tempo, nem eram considerados pela ciência ocidental), nos quais podemos entrar numa condição de felicidade indescritível, chamada de “bem-aventurança” pelos místicos e iluminados, muitos cientistas, psicólogos, religiosos e estudantes praticam técnicas de meditação.

      Mas, o objetivo dessa meditação não é mais, como geralmente acreditamos aqui no mundo ocidental, fazer cessar o estresse ou trazer saúde para o corpo. É muito mais do que isso: é perceber, conhecer a verdade; é conhecer o que ou quem realmente somos; conhecer aquilo a que damos o nome de “eu”, aquilo a que chamamos de Deus.

 

- Satisfeitos com a vida?

     Agora, se vocês estão satisfeitos com a vida, como ela é com vocês e suas famílias; compreendem porque sofremos; se não têm problemas fisiológicos, psicológicos ou existenciais; se não se interessam em acabar com as dúvidas ou acham que não têm mais dúvidas a resolver, nem ouçam as minhas palavras.

 

- Se não estão satisfeitos...                                                                            

     Contudo, se vocês desejam compreender esta confusão que é a vida – pois a vida não é mais que uma tremenda e incompreensível confusão –, se desejam entender o seu significado, o seu sentido; se querem verdadeiramente compreender o que é Deus e sentir o que os iluminados sentiram – bem-aventurança, serenidade e sabedoria -, vocês perceberão que não podemos ficar só nas orações, nos pedidos aos céus, nas leituras de textos ditos sagrados, no comparecer aos cultos e rituais; nem no ouvir sermões emocionantes, ou nas promessas, confissões e comunhões.

     Todas essas coisas não passam de exterioridades, artificialidades, criações dos homens, como também o são as cerimônias e festas religiosas; músicas e cânticos sacros; vestes, posturas e gestos ritualísticos, incenso e velas acesas, atitudes e procedimentos em benefício dos semelhantes.

 

- Exterioridades levam a nada.

     Mas, porque não podemos ficar só nessas coisas?

     Porque, como ensinam os iluminados, e as próprias escrituras cristãs, Deus nunca é encontrado nas exterioridades, nas coisas superficiais. As respostas que procuramos e Deus só podem ser encontrados nas profundezas do ser, em nossa interioridade mais profunda.

     Portanto, se desejamos, realmente, compreender o que é a vida, compreender o que é o “eu”, e sentir Deus, isso requer muito mais... Requer que penetremos no sentido da vida total, requer que busquemos com perseverança, e que, em total silêncio, entremos em nosso próprio interior, porque o “reino de Deus já está dentro de nós” como ensinaram Jesus, Paulo e outros.

 

- O que as religiões organizadas nos dão.

     As religiões organizadas, as religiões populares, nos dão, apenas, pequenos momentos de satisfação, de alívio psicológico (como um refrigerante num momento de calor; o efeito passa logo e o calor volta). Mas nunca, percebam isso, nunca nos levam para uma compreensão total que é necessária para que fiquemos completa e definitivamente livres de todo sofrimento e de toda ignorância.

     Vejam bem: nós nem sabemos quem somos, porque existimos, porque estamos aqui, porque sofremos. Para todas as perguntas que fazemos sobre essas coisas, nunca encontramos respostas que nos satisfaçam plenamente.

     E onde começam as dúvidas que nos deixam sempre insatisfeitos? Nas próprias escrituras cristãs! Um exemplo: o Velho Testamento nos mostra um Deus impaciente, vingativo, parcial, orgulhoso, nervoso e cruel; o Novo Testamento nos fala de um Deus de misericórdia e de amor. Pela história do VT, Deus era impiedoso e agia de modo a dar medo aos judeus. Já, no NT, Deus se torna um Pai amoroso. Mas, segundo certas crenças, mesmo sendo um Pai amoroso, ainda pune, com severidade, e por toda a eternidade, aqueles que não obedecem a seus mandamentos (isto é, às suas leis, às suas ordens).

 

- O Deus das religiões organizadas e o Deus Real.

     Vejam bem: o Deus das religiões populares, das religiões organizadas, é o Deus dos rituais e das cerimônias; é o Deus “inatingível”, ou só “atingido” pelos “privilegiados”, os chamados “santos”. É o Deus que está longe de nós, num céu hipotético; ele lá, nós aqui; que, num julgamento também hipotético, premia os seres humanos que obedecem a suas leis, e pune aqueles que não obedecem; é o Deus que não consegue derrotar o mal ou o diabo, que é sua criatura (pois, conforme as escrituras, Deus é o criador de todas as coisas), e o diabo, contra a vontade do seu criador, leva com ele inúmeras almas, mostrando que, nem sempre, Deus tem poder sobre o mal.

     Esta é a visão que as religiões populares, as religiões ocidentais, em geral, nos dão de Deus. Não é uma visão pobre e mesquinha?    

     Ao passo que o Deus real é o Deus que não conhecemos (há religiões, no Oriente, que lhe dão mais de “mil” nomes, pois nenhum o representa); é o Deus que, pensamos, criou o Universo, criou todas as coisas que existem; que não elege um povo para explorá-lo; que está em todo lugar, não longe de nós, mas dentro e fora de nós, como afirmaram Jesus, Paulo e outros; é o Deus que opera todas as coisas; que cria e destrói incessantemente e que, como ensinam os sábios, podemos vir a conhecer desde que nos esqueçamos de nós mesmos, nos momentos de meditação.

     Esse é o Deus que não está só nas palavras dos sacerdotes e ministros, ou nos templos; nem nos rituais, cerimônias e orações; é o Deus cujo percebimento nos revela, como disse Jesus, a verdade de que “eu e o Pai somos um”. É o Deus que está dentro de nós e que, assim, não precisamos de intermediários, como “santos”, sacerdotes, gurus, pastores, espíritos e médiuns para alcançá-lo. É o Deus, cujo percebimento, liberta o homem de toda ignorância, nos coloca numa condição de extrema felicidade, amor incondicional e sabedoria, e nos liberta de todos os sofrimentos, como afirmam os místicos e como afirmou Jesus.

 

- Fatos são fatos.

     Talvez vocês pensem que sou muito pessimista ou que exagero naquilo que estou falando. Mas, observem, com atenção e sem preconceitos, se o que estou falando são fatos ou não são fatos.

 

- Capra e Krishnamurti.

     Talvez já tenham ouvido falar de Fritjoff Capra. Capra é um renomado físico quântico. Ele ouviu o místico indiano Krishnamurti afirmar que, se quisermos alcançar a auto-realização espiritual, ou encontrar Deus, que é a mesma coisa, temos de fazer cessar o pensamento e o raciocínio.

     Capra ficou perturbado. Ele estava começando a carreira de cientista e, para o cientista, pensamento e raciocínio são ferramentas essenciais.

     Capra perguntou: “Como posso ser um cientista se tenho de fazer cessar o pensamento e o raciocínio?”.

     Krishnamurti respondeu: “Primeiro, você não é um cientista, você é um ser humano; depois, você é um cientista. Primeiro você tem de se libertar (de todos os problemas, ignorância, dúvidas e conflitos) e essa libertação não é alcançada nem pelo pensamento, nem pelo raciocínio. Ela é alcançada pela meditação – que traz a compreensão da totalidade da vida, sem qualquer forma de fragmentação. Uma vez que você tenha compreendido a totalidade da vida, pode se especializar como cientista, sem qualquer problema”.

 

- A totalidade da vida. Jesus e Gautama.

     O que será que Krishnamurti quis dizer com “Compreender a totalidade da vida”? Não será isso o que aconteceu com Jesus, com Gautama e com outros?

     Vejam: a história conta que Gautama (aquele que, mais tarde, seria “o Buda”) só conhecia a vida do palácio: luxo, fartura, facilidades de todo tipo. Isso era a parcela de vida que ele conhecia, seu fragmento de vida; não a vida total.

     Quando, um dia, deixou o palácio, veio a conhecer as misérias do mundo: sofrimento, doença, fome, injustiça, dificuldades de todo tipo, a outra parte da vida que ele ainda não conhecia. Uma parte, a vida de riqueza e prazer; a outra parte, a vida dos explorados e sofredores.

     Perturbado e penalizado com aquilo, e tentando compreender como Brama, o Criador, permitia contrastes tão grandes, entregou-se à meditação e se iluminou; tornou-se um Buda, que quer dizer o Desperto, aquele que abriu os olhos, que agora pode ver, aquele a quem chegou a luz, que está iluminado, que compreendeu.

     Com Jesus (que seria chamado de “o Cristo”), deve ter acontecido coisa semelhante. Jesus nasceu e cresceu numa terra dominada pelos romanos e oprimida pela nobreza da própria terra. Desde criança, Jesus sentiu a revolta do povo sujeito a todo tipo de exploração e abuso, enquanto os romanos e a nobreza judia viviam no luxo e na fartura. Jesus, como Gautama, deve ter tentado compreender esses tremendos contrastes. Como o Deus-Pai permitia tanta desigualdade, injustiça e sofrimento? Por isso deve ter meditado e, finalmente, chegou à iluminação; tornou-se um Cristo, um Buda, isto é, despertou, tornou-se um iluminado.

 

- Costume ou indiferença.

     Parece que nós nos acostumamos e não percebemos que nem tudo vai bem. Muitos estão sofrendo, enquanto outros vivem no gozo e na fartura. A maioria aceita a vida como ela é, e a vida continua. Jesus e Gautama não devem ter aceitado essa condição de injustiça e de desigualdade. Devem ter tentado compreender por que uns gozam enquanto outros sofrem. Talvez, assim, tivessem chegado a perceber a totalidade da vida, isto é, seu fragmento de vida e o fragmento dos demais.

 

- Ação dos homens e ação de Deus.

     Devem ter percebido, então, não só o sofrimento causado pela ação dos homens, mas, também, o sofrimento causado pela ação da natureza, pelos desastres naturais, pelas doenças e tantas coisas mais que não vêm da ação do homem. E, se não vêm da ação do homem, parece, então, que vêm da ação daquilo a que chamamos Deus, do próprio Deus...

                                                                                                                                    

- Os fatos mostram: não existe igualdade, nem justiça.

     Será que isso é compreender a totalidade da vida? Não ficar preso à maneira em que você vive, mal ou bem, mas tentar conhecer como toda a vida é? Como a vida é com todos os seres? Quando ficamos presos apenas ao nosso modo de viver, quando não alargamos nossos horizontes para compreender a vida total, permanecemos cegos, mergulhados apenas em nosso fragmento de vida.

     Mas, a vida, quando é observada friamente, sem preconceitos, mostra muito mais. Mostra que há dor e sofrimento, mesmo que, conosco e com os nossos, tudo possa estar bem. Mostra que há misérias desconhecidas, que há muitas coisas que parecem erradas, e que, pelo q os fatos mostram, não existe, vejam bem, não existe aquilo que chamamos igualdade ou justiça, nem na ação do homem, nem na ação da natureza (no “Tao Te Ching”, já dizia Lao Tse, 600 a.C: “O que se passa no mundo mostra, àquele que está acordado, a total desapiedade dos acontecimentos”).

 

- Avaliações x Fatos.

     Observem esses contrastes. Eles existem em todo lugar. Mas, não tirem conclusões apressadas, não façam julgamentos, nem comparem o que estou dizendo com qualquer outra coisa que vocês já ouviram, pensaram ou leram. Só observem se são ou não são fatos... Só isso!... Não julguem, porque julgamentos não são fatos; julgamentos são apenas avaliações e a avaliação de uma pessoa pode ser completamente diferente da avaliação de outra. Mas, fatos são sempre fatos.  

 

- Como sair da escuridão.

     Pois bem, observando a vida no dia-a-dia, dentro e em torno de nós e nas notícias que chegam sobre o mundo, mais ficamos convencidos de qual é a solução para sairmos da escuridão em que estamos mergulhados. E, conforme os místicos (isto é, os buscadores de Deus) e os iluminados de todas as partes sempre afirmaram e, hoje, também cientistas quânticos e psicoterapeutas dentre os mais respeitados do mundo, essa é a única solução!...

 

- Vida de lutas e de compromissos.

     A vida é cheia de lutas e compromissos difíceis e desgastantes. Lutas de todo tipo: lutas pela saúde; para conseguir “aquele” emprego; para se habilitar a uma profissão; para criar os filhos; para suprir a família; para atender às obrigações profissionais. E mais lutas para disputar afetos e os primeiros lugares nessa competição sem fim, do dia-a-dia, de tentarmos nos igualar, ou ultrapassar os que têm mais do que nós (um trabalho mais bem remunerado, um carro mais novo, uma casa melhor, um corpo mais forte ou mais bonito), e tantas coisas mais que a inveja, a ambição, a capacidade de inventar e o enorme desejo de imitação do homem trouxeram...

     E, como eu dizia, a única solução para sair dessa escuridão é a ensinada pelos místicos e pelos iluminados de todos os tempos, por aqueles homens que conheceram aquilo que, na verdade, o ser humano é.

 

- Caminhada para a morte. A única certeza.

     A vida nada mais é, observem friamente, a vida nada mais é do que uma caminhada para a morte. A única coisa totalmente, absolutamente certa, à nossa frente, é a morte. Nós não temos certeza de mais nada; nem se vamos estar em casa esta noite! Nem o que poderá acontecer na próxima esquina!

     Nossos entes queridos e nós mesmos, hoje estamos bem; amanhã, de repente, estamos doentes; ficamos apreensivos, sofremos, mas a crise passa e tudo volta ao normal. Mas, mais dia, menos dia, vem de novo aquela fase de dor; a crise vai, volta, até que, naquele momento esperado com medo, o ser querido se vai para sempre.

     Não é exatamente isso o que acontece o tempo todo?

 

- Turbilhão de incertezas.

     Todos nós estamos mergulhados num turbilhão de incertezas; tudo é imprevisível! Vejam o ‘tsunami’! Quem, entre aqueles milhares de vítimas, podia imaginar que aquelas praias lindas e cheias de sol de repente iriam se transformar em palco de tragédia tão grande!

      Portanto, nada podemos afirmar sobre o minuto seguinte. Um ‘tsunami’, um acidente, um novo vírus letal, a falência, a demissão repentina, a doença inesperada, a falta de dinheiro para as necessidades básicas, a violência e as guerras destruindo tudo o que o homem construiu e matando e levando sofrimento a milhares de inocentes, como a mídia mostra todos os dias...

 

- Conosco, tudo bem. E com os outros?

     E, continuem observando os fatos, mas sem fazer julgamentos. Nós estamos aqui, bem alimentados, vestidos, aparentemente saudáveis; os filhos, a esposa, o marido, tudo vai bem. Mas, debaixo daquela ponte, ou vasculhando depósitos de lixo, e nos hospitais e prisões, outros seres, iguais a nós, humanos como nós, estão passando dificuldades tremendas, sofrimentos tremendos que nada e ninguém conseguem aliviar...

     Restaurantes cheios de gente bem vestida, enquanto, na esquina, aquela família, suja e mal alimentada, mendiga migalhas!...

     E os hospitais psiquiátricos, os manicômios, verdadeiros depósitos de seres humanos que a vida esqueceu...?!

     E os menores jogados às ruas, à prostituição e ao crime?

 

- Os recém-nascidos e os mais velhos.

     Observem mais: crianças que, para sofrimento delas e dos pais, já nascem com deformações físicas ou mentais, ou com males incapacitantes, e os mais velhos andando com dificuldade sobre articulações desgastadas; a visão e a audição falham; os pulmões enfraquecidos no ganho do pão para os filhos em ambientes envenenados; o coração doente pela angústia e ansiedade no trato da família, nos desencontros da vida, e tanta coisa mais que vemos todos os dias...

 

- Filas.

     E as filas à frente dos institutos de seguro social, à frente dos hospitais públicos; as filas quilométricas sob sol ou chuva ou frio, na ânsia de conseguir aquele empreguinho mal pago e insalubre?!

     Qual a razão de tudo isso, de todo esse sofrimento, que ninguém compreende, mas que é tão comum que ninguém mais se surpreende com essa miséria sem fim? Quem, aqui nesta sala, pode afirmar, com toda a certeza, que compreende tudo isso? Pode até, em face do que ensinam certas doutrinas, imaginar ou pensar que compreende; mas, será que, lá no fundo, compreende mesmo?

 

- Qual a razão do sofrimento?

    Como é difícil, ou mesmo impossível, explicar a razão do sofrimento, muitos dizem ser conseqüência de provas, da “lei de causa e efeito” ou de “carma negativo”, enquanto outros afirmam que isso faz parte dos “insondáveis desígnios de Deus”.

 

 - Tudo é incerto.

     Ao lado de tudo isso, a enorme luta do homem na ânsia de conservar a juventude, a saúde, os afetos, as posses. Mas, tudo é incerto e nada é permanente: saúde, beleza, felicidade, riqueza, poder, apegos, afeições e amores, tudo isso pode acabar de um momento para outro.

     E, quando se dá conta, o tempo passou. E vem a velhice com seus outros numerosos problemas: os órgãos, a audição e a visão não mais ajudam, surgem os males da coluna, a memória falha; e vêm a hipertensão, a osteoporose, o diabetes, quando não surgem enfermidades dolorosas que fazem sofrer o doente e a família. Nós vemos isso todos os dias, não vemos?

 

- Hospitais, consultórios, laboratórios.

     Todos sabemos desses problemas; todos conhecemos esses problemas em nossas famílias ou nas vizinhas. Basta observar um pouco para ver que é assim: hospitais, laboratórios e consultórios médicos sempre cheios; crianças, jovens e velhos, homens e mulheres esperando, ansiosos, sofrendo.

 

- Armadilhas.

     E as armadilhas da genética e das mil espécies de bactérias e vírus; a imprevisão das epidemias; drogas e mais drogas, destinadas à cura, mas que, muitas vezes, trazem mais mal do que bem; cadeiras de rodas, próteses, muletas, andadores, tubos de oxigênio, salas de cirurgia, mal de Parkinson, mal de Alzheimer, e tantos outros nomes esquisitos que nós nem sabemos o que são... 

     E as grandes dores, físicas ou morais, que nenhuma droga faz passar e que fazem com que a vaidade, o orgulho, a beleza, o dinheiro, percam todo o valor que lhes damos!!?

     Será que tanto sofrimento tem explicação?  Será isso produto do “carma” ou da “insondável vontade do Criador”?

 

- Nascer: um jogo no escuro.

     Observem se não é assim: o nascimento de uma criança, que é sempre esperada com alegria pelos pais, não passa de um “jogo no escuro”. Ninguém sabe como ela virá ao mundo, se estará perfeita ou não; nem o que o futuro, o que o amanhã reserva para ela...

 

- Momentos de descontração e alegria.

     E continuem observando, sem a suposição de que eu esteja sendo demasiado pessimista, pois estou apenas relatando fatos que todos vocês conhecem.   

    Parece que a vida só tem pequenos momentos de descontração e alegria: na infância e na adolescência, quando a responsabilidade ainda não chegou; na conversa com os amigos; na vitória do seu time; no olhar correspondido pelo ser amado; no progresso dos filhos; no almoço do domingo, a família reunida, o netinho no colo; no encaminhamento dos filhos para a vida, mas uma vida também cheia de incertezas; numa viagem de lazer; no alívio temporário que a medicina oferece...

     Alegrias, parece, só em pequenas coisas. O resto são essas questões sem fim que enchem o pobre ser humano de preocupação, ansiedade e medo.

     Enquanto tudo vai bem, enquanto esses problemas não chegam, o homem, a mulher, os jovens, as crianças, brincam; estão alegres e acham que a vida é boa, acham que vale a pena viver. Mas, essa alegria, essa brincadeira, não dura para sempre; mais dia menos dia, e a vida nos apanha nas suas malhas de dor e sofrimento, de conflitos, desencontros e perdas. E, quando o sofrimento vem, chegamos até a questionar o significado da vida. E nunca encontramos o que nos ajude a compreender o significado da dor.

 

- Sofrimento e religiões ocidentais.

     Devido a tanto sofrimento, todas as religiões, aqui do Ocidente, consideram a vida penosa e difícil. E, como o sofrimento vem desde cedo, foi até criado o conceito de “pecado original”, um pecado que não é nosso, mas que nascemos com ele e que podemos vir a sofrer por causa dele.

     Mas, vejam: para os católicos, estamos “num desterro neste vale de lágrimas”; para os espíritas, “num mundo de expiação e provas”; para os evangélicos, “num mundo onde vivemos sob o assédio constante de Satanás” e, embora, como afirma o Apocalipse, “no final dos tempos, Satanás seja lançado aos abismos, depois de mil anos ele será solto para, novamente, enganar as nações”; para outras crenças, devido a tantos males, violências e sofrimentos, nem é Deus quem governa o mundo, é Satanás; e, ainda para outras, estamos ao capricho de sortilégios, velas e rezas, que podem trazer às vezes benefícios, às vezes malefícios.

 

- Somos impotentes. O porquê da vida e do sofrimento.

     Observem bem, e se observarem friamente, sem procurar enganar a vocês mesmos, verão que todos somos impotentes porque nada ou quase nada podemos fazer... Nem mesmo sabemos o porquê da vida, quem somos nós, porque estamos aqui, porque sofremos, o que é tudo isto que aí está!

 

- Os relacionamentos entre os seres humanos.

    Somos também impotentes para administrar as difíceis questões dos relacionamentos entre nós mesmos. Daí vem toda espécie de conflitos, dos mais simples, que envolvem amigos e familiares, até os que dão origem às guerras entre nações, muitas delas sob o pretexto de “defender” o Deus desconhecido, as chamadas guerras santas, tão evocadas na atualidade (como se o Criador necessitasse de ser defendido de sua criatura, por sua criatura).

 

- A psique.

     Nós, também, somos incapazes de entender os fenômenos mais simples da vida que existe em nós. Desconhecemos os processos que ocorrem, sem cessar, dentro de nós mesmos. Desconhecemos, principalmente, os fenômenos relativos à nossa psique, nossa área subjetiva, psicológica, a consciência que sempre foi deixada em segundo plano pelos cientistas, mas que, hoje, a ciência moderna está tentando colocar no lugar de máximo destaque que lhe cabe neste universo sem fim.  

 

- O que somos realmente.

     No entanto, vejam bem: numa análise mais profunda, nós não somos esse ser fraco, ignorante e insano, corrupto e insalubre que aparentamos ser. Não somos esse ser cheio de defeitos morais, pecador, tão fraco que, por si só, não consegue se libertar de suas imperfeições e pecados, como afirmam as religiões populares.

     Os conceitos negativos, que as religiões populares fazem acerca do homem, já estão, há séculos, na cultura dos povos, em particular dos povos do Ocidente (por isso, os sábios dizem que a cultura ocidental é prostituta). Daí vem essa nossa visão errada de que “o homem nada pode fazer sozinho”. E, por isso, os ocidentais, em geral, estão convencidos de que devem se sujeitar a intermediários, como “santos”, padres, sacerdotes, espíritos amigos ou benfeitores, das diferentes seitas e crenças, para tentar conseguir algum alívio, embora, vejam bem, alívio nunca definitivo, para os seus problemas fisiológicos, psicológicos ou existenciais.

 

- Lições esquecidas: “Buscai em primeiro lugar...”

     As religiões ocidentais, e nós mesmos, esquecemos as palavras daquele sábio que deu origem a essas mesmas religiões. Ele afirmou que todos esses problemas podem ter solução. Quando Jesus disse “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus, que o demais vos virá por acréscimo”, nós não percebemos a profundidade de suas palavras. E, parece, nem as igrejas cristãs deram a elas a ênfase que deveriam dar. A primeira coisa que devemos fazer, a mais importante, conforme as palavras desse sábio, é buscar o reino de Deus.

     E o que significaria “o demais virá por acréscimo”? Só pode significar que, encontrado o “reino”, não precisaremos de mais nada; que já teremos tudo aquilo de que necessitamos. Jesus não seria um irresponsável a fazer afirmações falsas. Ele deve ter falado por experiência própria, convencido de que sua afirmação era uma verdade absoluta, a mesma verdade que, há milênios, é ensinada pelos místicos orientais e ocidentais. Jesus deve ter encontrado o “reino” e, com isso, percebeu que não necessitava de mais nada, que estava completo, pleno.

 

- ”Eu e o Pai somos um”.

     Jesus, então, percebeu e afirmou “eu e o Pai somos um”. Ao perceber isso, compreendeu que nós, os homens, continuaríamos mergulhados na ignorância, praticando toda espécie de erros e, por isso, sofrendo, enquanto não tivéssemos, também, o conhecimento que ele agora possuía.

     Ao conhecer que era “um com o Pai”,  compreendeu que não existe a morte; que o sofrimento do homem pode ter fim; que o que rege o universo é, sem dúvida, o amor, embora, em face do sofrimento e violência que existem em todos os níveis da vida, a gente não consiga ainda compreender o significado desta afirmação.

     Com esse conhecimento, Jesus se sentiu completamente livre. Ao mesmo tempo, ele viu que a humanidade continuava completamente presa na ignorância, porque os homens ainda não tinham o conhecimento que ele havia conquistado. Sentiu, então, enorme compaixão pela condição miserável do ser humano. Por isso, como outros que tiveram a mesma experiência, ele não ficou calado e enfrentou até a morte para tentar fazer que os demais homens também conhecessem a verdade.

 

- O cristianismo primitivo. Fatos x Ensinamentos. 

     No entanto, no correr dos séculos, interpretações erradas ou seleção indevida dos ensinamentos de Jesus, fizeram com que suas lições chegassem, aos homens, de maneira deturpada. Tanto isso é verdade que ministros cristãos chegaram a afirmar que “pelo cristianismo de hoje, ninguém chega a Deus”; que “a igreja cristã falhou, por estar fazendo a humanidade ocidental caminhar contra um muro, sem conseguir dar um passo na direção de Deus”. E, o que é mais grave: que a igreja se preocupa mais em levar aos fiéis “os fatos da história da vida de Jesus”, em vez de levar aos fiéis aquilo que é muito mais importante: “os seus ensinamentos”.

     Prestem atenção e vejam se isto não é uma verdade: Enquanto Jesus, como se vê nos evangelhos, ensinou sobre o reino de Deus, as igrejas cristãs ensinam sobre a vida de Jesus. As igrejas passaram a contar os fatos da história da vida de Jesus, a ensinar a adorar, a dar glórias, a fazer-lhe culto e pedidos quando, o que devem fazer, é transmitir, aos homens, seus ensinamentos.

    

- Percepção direta. Carl G. Jung.

     Pesquisadores cristãos afirmam que “o que falta, no cristianismo de hoje, é o conhecimento de que podemos ir além da teoria e da doutrina; que podemos passar para a percepção direta”, vejam bem, “percepção direta”; podemos perceber, diretamente, aquilo de que a doutrina fala. Isto é, podemos ter a percepção direta de Deus. Esse conhecimento existia no cristianismo dos primeiros séculos, mas a igreja cristã se esqueceu de divulgar.

     Jung, o famoso psicoterapeuta, disse que essa “é a experiência mais importante e sublime na vida do ser humano”. E, prestem atenção a estas outras palavras de Jung:

     “O fato, que tenho comprovado numerosas vezes, em meu consultório, é que a experiência de Deus é a verdadeira terapia e, na medida em que as pessoas por ela passam, se afastam da maldição da patologia”.

     Perceberam? Quanto mais próximos estamos de “sentir” Deus, mais longe nós estamos das doenças do corpo e da mente.     

 

- A verdade que liberta.

     Pois bem, ao conhecer a verdade de que era “um com o Pai”, Jesus se sentiu completamente liberto, tanto que ele nos deixou a conhecida afirmação “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará. Essas palavras, também, não são tratadas com a ênfase necessária e, talvez, nem mesmo sejam explicadas pelas igrejas cristãs. E Jesus compreendeu que a humanidade continuaria presa à ignorância e ao sofrimento porque ainda não conhecia essa verdade.

 

- Problemas existenciais. Necessidades prementes. Mentalidade.

     Tentou, então, ensinar que o que nos liberta da escuridão é o conhecimento da verdade. Mas parece que esse ensinamento não foi compreendido pelos homens. Em parte, talvez, devido aos problemas que nos mantêm mergulhados nas questões da sobrevivência; em parte, porque aqueles que tentaram divulgar a verdade que Jesus, como outros iluminados, conhecera, tiveram que adaptá-la à cultura da época, à mentalidade do povo, que então, como hoje ou mais do que hoje, devia ser mais voltada para as questões do dia-a-dia, para as questões materiais da sobrevivência.

     A recomendação de “buscar em primeiro lugar o reino de Deus” ou não foi compreendida ou foi esquecida, e nós continuamos a buscar, em primeiro lugar, a satisfação de nossas necessidades existenciais, o modo mais fácil de resolver os problemas, para nós mais importantes e urgentes, de segurança material, poder, prestígio... Observem se isso não é um fato.

 

- Outra afirmação esquecida: “O reino de Deus está dentro de vós”.

     Do mesmo modo que foi esquecida a importância da afirmação de Jesus: “Conhecereis a verdade e a Verdade vos libertará”, foi esquecido o significado desta outra sua afirmação que diz que “o reino de Deus já está dentro de nós”. Seriam afirmações levianas? Será que aquele iluminado, cuja herança, as religiões cristãs, domina até hoje todos os povos do Ocidente, teria feito afirmações tão sérias, sem base?

 

- Confiamos em Jesus?

     Vejam vocês que as religiões cristãs, as religiões que se “baseiam” nas palavras de Jesus, dominam, até hoje, todo o Ocidente. Isso parece ser sinal de que os chamados “cristãos” confiam nas palavras desse iluminado. Mas, se observarmos friamente, vamos ver que não é assim. Os fatos mostram que os homens e mulheres ocidentais, talvez com não muitas exceções, não acreditam, não confiam e não têm fé naquilo que Jesus ensinou. Prova disso é que, se confiassem de verdade, estariam seguindo fielmente seus ensinamentos. Mas, como podemos ver claramente, em geral não é isso o que acontece. Basta observar e analisar, sem preconceito, aquilo que está acontecendo, no dia-a-dia, em torno de nós.

     Confiar em Jesus não é ajoelhar-se a seus pés, não é lhe dar graças, nem glorificá-lo ou adorá-lo, rezar, fazer promessas e sacrifícios, pedir-lhe perdão, pedir-lhe auxílio, nem conhecer ou obedecer aos preceitos de sua Boa Nova, os evangelhos, como as igrejas ensinam. Todas essas coisas, como já vimos, são apenas exterioridades. Confiar em Jesus deve ser muito mais do que isso; deve ser seguir seus ensinamentos; fazer a busca à qual ele deu tanta importância que disse ser a primeira coisa que devemos fazer.

 

- A que verdade Jesus se referia ao dizer “... a verdade vos libertará”?

     A verdade a que Jesus se referia ao dizer “... a verdade vos libertará” é, com certeza, a verdade de que “eu e o Pai somos um”; que “o reino de Deus está dentro de nós”; que “somos o templo do Altíssimo”, como tantas vezes, Paulo, o “porta-voz” do cristianismo, também afirmou. 

     Jesus assegurou que, ao conhecer essa verdade, o homem estará completamente livre. Ele não disse: “conhecereis a verdade e a verdade poderá vos libertar”. Ele afirmou, vejam bem, que conheceremos a verdade e que, pelo fato de conhecer a verdade, seremos libertados.

 

- Mas, seremos libertados de quê?

     Libertados de tudo a que estamos sujeitos, de tudo que nos aflige, de todo sofrimento, de toda ignorância, de tudo de que dependemos. Por isso, todos os que conheceram essa verdade se sentem livres de todos os conflitos e sofrimentos e em total bem-aventurança.

     E a que verdade se referia? Evidentemente à verdade, para nós, mais importante e extraordinária de todas: a verdade de que “eu e o Pai somos um”.

 

- Somos a própria divindade. Há coisa mais prática?

    Nós não somos este corpo físico, nem o espírito, nem a alma que, conforme várias doutrinas, habitam o corpo. Somos muito mais do que isso: somos o próprio Absoluto, o próprio Todo, o próprio Ser Divino. Não se surpreendam! Isto tudo parece que soa esquisito, para nós, ocidentais. É porque nossa cultura é outra, e porque a vida, no Ocidente, é a vida da rapidez, da velocidade, da competição, da concorrência; vida em que não se pode perder tempo com assuntos que não parecem ser úteis e práticos, como se houvesse alguma coisa mais útil e mais prática do que se libertar de toda ignorância e de todo sofrimento. Pensem nisso!

    Se analisarmos bem, lá no fundo, o que o ser humano realmente quer é ser feliz. Tudo que fazemos, de bom ou de mal, de certo ou de errado, em última análise, tem por objetivo conquistar a felicidade. Mas, só poderemos ter essa felicidade se acabarmos com todo sofrimento e com toda ignorância. E como fazer isso? Veremos logo mais.

 

- Texto de Scrhoedinger.

     Mas, não fiquem surpresos com a afirmação de que nós somos a própria divindade, o próprio Todo. Ouçam este texto:

     “Por mais inconcebível que pareça para os seres humanos, nós e todos os seres sencientes somos tudo em tudo. Daí que a vida, que estamos vivendo, não seja apenas uma parte da vida total, mas, é a própria vida total... Podemos atirar-nos ao chão, estender-nos sobre a mãe Terra, com a convicção absoluta de que estamos em comunhão com ela e ela conosco... Tão certo que ela nos engolirá amanhã, nos trará, outras vezes, novas lutas e novos sofrimentos. E não somente ‘algum dia’. Agora, hoje, todos os dias, ela nos traz à vida, não uma só vez, mas milhares e milhares de vezes, exatamente como nos engole, todos os dias, milhares e milhares de vezes”.

     Vejam bem: “nós somos a própria vida total”. E, prestem atenção! Estas palavras não vêm da cabeça de um “místico confuso”, mas da clareza da mente de Schroedinger, o cientista que formulou a física quântica, a ciência mais avançada de nosso planeta. E isso que ele afirma é a mesma coisa que os místicos e os iluminados sempre afirmaram: nós somos o próprio Todo, o próprio universo; mais ainda do que isso: nós somos a própria Divindade, a Divindade que buscamos mesmo inconscientemente. O que nos falta é “abrir os olhos”; é perceber que já somos “isso”, é “conhecer essa verdade”.

 

- Satisfações-substitutas.

     Mas sendo essa busca inconsciente, iludidos, nos contentamos, mas nunca definitivamente, com as chamadas satisfações-substitutas. Por isso, corremos atrás de prestígio, dinheiro, poder, beleza, fama, vícios, religiões, emoções, sexo. Mas, na realidade, o que procuramos, o tempo todo, e mesmo inconscientemente, é nos ligar, conscientemente, à Divindade Absoluta. (como diz o Zen: é “cavalgar o boi para procurar o boi”; isto é, é procurar a nós mesmos, pois Deus já “está” em nós, já está aqui).

 

- Máscaras de Deus.

     Soa estranho dizer que somos a própria divindade. Mas, é o que os místicos e os iluminados sempre afirmaram, como Jesus também afirmou ao dizer “eu e o Pai somos um”. As grandes tradições místicas orientais ensinam que somos apenas “máscaras de Deus”. Que nós somos, biologicamente, fisicamente, diferentes uns dos outros; diferentes na aparência, no modo de ser, mas que dentro de nós está o próprio Deus, único ator neste mega-drama universal que é a nossa vida de todos os dias.

     É difícil para nós, ocidentais, entender estas afirmações; e é difícil porque tudo que “sabemos” sobre Deus e sobre nós são apenas crenças, idéias e opiniões que as religiões populares nos dão. Será que podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que a idéia que, hoje, temos sobre nós e sobre Deus é cem por cento correta? Se fosse correta, como é que poderíamos explicar a existência de tantas religiões, seitas e crenças com doutrinas tão diferentes? Estariam, então, todas corretas, com todas suas diferenças, ou só estão corretas na interpretação de seus seguidores?

 

- Aqueles que tentaram revelar a verdade.

     Aqueles homens que tentaram abrir nossos olhos para essas verdades, enfrentaram o poder constituído, em particular o poder da igreja cristã, e muitos perderam a vida. Basta um olhar na história da Idade Média, para ver quantos morreram por isso.

 

- O erro das igrejas.

     Foram criadas organizações, as igrejas, para ensinar ao homem as verdades reveladas. No entanto, parece que todas elas caíram num mesmo erro: o erro de tentar interpretar as palavras dos sábios para homens que não eram voltados para as coisas mais elevadas da vida, porque seus numerosos problemas existenciais lhes tomavam toda a atenção.

     As igrejas tentaram ensinar ao homem a verdade que nem mesmo elas conheciam. Por isso, se dedicaram mais a ensinar como devemos nos conduzir na vida em sociedade, para um melhor relacionamento entre os seres humanos (amar, respeitar; agir honestamente, isto é, os mandamentos), mas não nos ensinaram “como” conhecer a ‘Verdade’. E, aos poucos, os ensinamentos do sábio judeu foram esquecidos ou deturpados e perderam o sentido original, o sentido que possuíam no cristianismo de Jesus.

 

- A igreja cristã e o cristianismo.  

     O cristianismo, que as igrejas ensinam hoje, quase nada tem a ver com o dos primeiros séculos, o cristianismo que Jesus ensinou. Esta afirmação, vejam bem, é de pesquisadores idôneos que encontraram respostas às suas indagações sérias sobre o cristianismo dos primeiros tempos.

     A igreja de Roma, apoiada pelo imperador romano, tornou-se poderosa e dominou as demais. Foi atraída pela pompa do Império e se dedicou à conquista das coisas temporais, das coisas do mundo e, com isso, se esqueceu das coisas espirituais que os Evangelhos contêm. E, assim, as lições mais importantes se perderam.

 

- Religiões organizadas. Imaturidade.

     Surgiu, também, talvez para preservar a pureza dos ensinamentos, uma falsa necessidade de reunir os homens de mesma crença em grupos, as religiões organizadas. Isso nos deu a visão errada de que devemos nos ligar, e daí ficarmos, portanto, dela dependentes, a alguma corrente religiosa para encontrarmos a salvação. No entanto, ouçam o que a esse respeito dizem os sábios, entre eles o místico indiano Krishnamurti:

     “O homem que se liga a religiões organizadas é imaturo”, isto é, não amadureceu ainda. Como dizem os mestres, ele ainda está cursando o “‘jardim da infância” e, dificilmente, chegará à “Graduação Universitária”.

     Mas nós, homens e mulheres, nos ligamos, muitas vezes pela tradição da família e, talvez, quase nunca por uma análise profunda de questões tão importantes*, a religiões organizadas que dão esperanças de uma continuidade ou sobrevivência após a morte biológica, com seus prêmios e castigos (carma, pecados, méritos e deméritos, céu, umbral, inferno).

 

- Nossa ligação à religião.

     * Como eu disse, a ligação à religião é “questão muito importante”. Entretanto, parece que, para nós, ocidentais, essas questões não têm tanta importância assim. Mas isso é porque em nós, embora estejamos ligados às religiões cristãs, essa ligação é, em geral, muito superficial. Observem se não é assim conosco. Quando foi que levamos totalmente a sério nossa religião? Mas isso é assim porque, como dissemos, as religiões mais nos enchem de dúvidas do que de certezas, e porque desconhecemos completamente, nem temos idéia do que seja a auto-realização espiritual de que Jesus falou nos Evangelhos e da qual outros iluminados falaram tantas vezes.

 

- O Deus do Velho Testamento e o Deus do Novo Testamento.

     Como estava dizendo, nós nos ligamos às religiões sem uma análise profunda do que estamos fazendo. E, enquanto a morte não chega, deve cada um proceder corretamente, obedecendo aos preceitos, mandamentos e ética de seu grupo ou crença particular, senão o castigo de Deus será impiedoso.

     E pergunto: Qual é o verdadeiro Deus? No Velho Testamento, como vimos, está um Deus impaciente, impiedoso, vingativo, cruel, orgulhoso, parcial, que se fazia temer pelos homens; no Novo Testamento, está um Deus de amor e misericórdia, que se fazia amar pelos homens. Qual é o verdadeiro Deus?...

     Como, também, estava dizendo, o castigo do Deus de misericórdia e de amor (vejam bem: de misericórdia e de amor!) será tremendo e impiedoso e, conforme algumas crenças, por toda eternidade! (onde estão, então, a misericórdia e o amor?).

  

- Palavras de Deus. Maldições.

     Para avivar a memória, ouçam estas palavras que o “Deus” dirigiu ao povo de Israel, o povo que se tinha como “o eleito de Deus”, como estão no Velho Testamento. Imaginem, se não fosse ao povo “eleito”, como seriam mais duras suas palavras!:

    “Se não me escutardes e não guardardes meus mandamentos... eis como eu hei de vos tratar: enviarei terríveis flagelos sobre vós; a tuberculose e a febre empanarão vossos olhos e vos farão desfalecer; debalde semeareis vossa semente porque vossos inimigos a comerão; voltarei a minha face contra vós e sereis vencidos pelos vossos inimigos;... farei vossa terra dura como bronze e ela não dará frutos; mandarei contra vós as feras dos campos, que devorarão vossos filhos... farei cair sobre vós a minha espada, lançarei a peste no meio de vós e tirarei o vosso pão; amontoarei vossos cadáveres e vos odiarei; nada vos saciará; comereis a carne de vossos filhos...

     “Reduzirei vossas cidades a deserto..., Àqueles dentre vós que sobreviverem, porei tal espanto em seus corações que o ruído de uma folha agitada pelo vento os porá em fuga... e cairão sem que ninguém os persiga.

     “Se não me obedecerdes e não praticardes cuidadosamente todos os meus mandamentos, todas as maldições virão sobre vós. Tudo que é vosso será maldito... o fruto de vosso solo, as crias de vossas vacas e ovelhas. Sereis malditos quando entrardes e malditos quando sairdes. O Senhor mandará a maldição e o pânico contra vós em todas vossas empresas, até que sejais aniquilados, por me terdes abandonado. Mandar-vos-á a peste, até que ela vos destrua a todos; todos os flagelos e doenças, até que tudo pereça. Em lugar de chuva em vossas terras, tereis poeira e secura até que tudo seja aniquilado. Vosso cadáver será pasto de animais. Recebereis uma mulher, mas outro a possuirá; construireis vossa casa, mas não a habitareis; plantareis e não comereis os frutos. Vossos filhos e filhas serão escravizados por povo estrangeiro e não os tereis de volta. Eu hei de vos enlouquecer por tudo que vossos olhos terão de ver, mas nada podereis fazer e sereis esmagados, porque eu, o Senhor, vos ferirei com uma úlcera maligna incurável que se estenderá da planta de vossos pés ao alto da vossa cabeça. Para onde quer que fujais, a mão do Senhor estará sobre vós para vos trazer mal e aflição etc.etc”. E muitas maldições mais.

 

- Será esse o Deus em que acreditamos?

      Será esse o Deus no qual as religiões ocidentais nos fazem acreditar? O Deus do amor, da misericórdia e da paz, como as crenças populares apregoam? E todas essas maldições eram feitas para que o povo que se dizia “eleito por Deus”, não prestasse culto a “outros deuses”, mas que obedecesse somente àquele que o libertara do Egito. Assim, ouçam:

     “... se vos desviardes de mim..., se prestardes culto a outros deuses... eu exterminarei Israel da terra que lhe dei, derrubarei o templo que consagrei em meu nome, e Israel será objeto de sarcasmo e zombaria para todos os povos”.

     Perceberam? Os judeus tinham de obedecer, cegamente, apenas àquele que se dizia o Deus único; àquele que, nas lutas para se apoderar da Terra Prometida, tirava dos judeus as melhores conquistas, os melhores frutos, os melhores animais, ouro, bronze, azeite, madeiras de lei, e até mesmo, prestem atenção, até mesmo as melhores virgens, e a quem, vejam só, “o cheiro da carne assada é agradável às narinas”. Não estranhem o que estou dizendo; tudo isso está na Bíblia Cristã; leiam! Mas é necessário ler sem preconceitos e sempre questionando, analisando.

     Eram lutas em que o povo judeu não combatia, mas esse “deus”, ou seus “anjos”, “combatiam” por ele, e isso em toda caminhada de 40 anos pelo deserto.

     Agora, vocês já pensaram?  Porque uma caminhada de 40 anos do Egito para a Terra de Canaã se são fronteiriços? Ouçam a razão disso nas palavras de Josué, 5:6:

     “Os israelitas tinham marchado pelo deserto por 40 anos, até a completa extinção daquelas gerações de homens escapados do Egito, mas infiéis à voz do Senhor. Por terem cultuado outros deuses, inflamaram o furor do Senhor... para onde quer que fossem, a mão do Senhor estava sobre eles para lhes trazer mal e aflição”.

     Perceberam? A caminhada durou, portanto, quarenta anos, para que só chegassem à Terra Prometida as gerações nascidas no deserto. Porque isso? Para que todos aqueles que, no passado, haviam adorado outros deuses, morressem no caminho e, assim, só entrassem na terra de Canaã os fiéis adoradores daquele que se dizia: “Eu sou o Senhor, vosso Deus”. Lembrem-se de que nem mesmo a Moisés, o líder do povo hebreu nessa enorme caminhada, foi permitido entrar na Terra Prometida.

     A obrigatoriedade de fazer, a Deus, as oferendas citadas era por toda a vida dos descendentes daqueles judeus; portanto, as oferendas eram obrigatórias para sempre. E, conforme o livro I Reis, 8:5, “Sacrificavam, ao senhor, tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podia contar”!

 

- Passagens bíblicas estranhas

     Entre muitas passagens bíblicas estranhas, vejam estas:

     Uma passagem na qual Deus diz que se arrepende de ter colocado Saul no trono de Israel. (Que Deus seria esse que se arrepende do que faz? Terá siso surpreendido pelos desmandos de Saul?).

     Outra: II Reis 2.23: “Por haver, um bando de rapazes, chamado Eliseu de “careca”, e ele era careca, “Eliseu os amaldiçoou em nome de Deus. Imediatamente, saíram da floresta dois ursos que despedaçaram quarenta e dois daqueles rapazes” (Aqui nos mostram um Deus cruel e vingativo).

     E mais: II Reis 1.10: “Por ter sido repreendido por um mensageiro, que chefiava 50 homens, a mando do rei Ocosias, Elias disse: “Se sou um homem de Deus, venha fogo do céu e vos devore, a ti e aos teus 50 homens” e, imediatamente, o fogo, caindo do céu, devorou o chefe e seus 50 homens”.

     Vocês reconhecem, nesses textos, o “Deus de nossos corações”? Embora o “Deus de nossos corações” talvez, seja nada mais do que um conceito no qual as religiões nos levaram a crer?

 

- Caramuru.                                                                                        

     Aquele que dizia “eu sou o senhor, vosso Deus” era, ao que parece, um ser poderoso e forte, dotado de tecnologia avançada de modo a dar medo e, assim, impor respeito e obediência aos hebreus, e a arrebatar, com sua tecnologia, da tenda dos holocaustos, as numerosas e ricas oferendas que, mais de uma vez por dia, obrigatoriamente, lhe eram feitas. Se não, vejamos esta outra citação bíblica:

     “... então, subitamente, o fogo do Senhor baixou do céu e consumiu as oferendas dadas em sacrifício e”, vejam só, “até mesmo a lenha (!), as pedras do altar (!), a poeira e a água do chão...”  

     Ouviram com atenção? Aquilo a que chamavam Deus levou com ele não apenas as ofertas que os judeus lhe faziam, mas até as enormes pedras do altar e outras coisas!.

     “Vendo isso, o povo, aterrorizado, prostrou-se com o rosto por terra e exclamou: “Você é mesmo Deus! Você é mesmo Deus!” ou, como está no VT: “O senhor é Deus! O senhor é Deus!”.

     Isso não lembra a vocês um episódio da história do Brasil? O episódio de Caramuru? Quando o navegador português, ao ver a massa de indígenas que se aproximava, deu um tiro para o alto com sua espingarda...? E o que aconteceu, então? Os indígenas, ao verem o fogo que saía daquela arma e ouvindo o ruído do disparo, pararam e, apavorados na sua ignorância, se prostraram por terra, gritando: “Caramuru! Caramuru!” (que quer dizer: “Pai do fogo e filho do trovão”)... E este fato aconteceu somente há cerca de quinhentos anos! Enquanto que, pela história, os fatos citados a respeito do povo hebreu, se deram milhares de anos antes disso e o povo devia ser também muito ou mais ignorante.

     Mas, será esse o Deus de nossos corações? O Deus da fúria, impaciente, colérico, vingativo, que nos criou ignorantes e imperfeitos e que, depois, se erramos, nos amaldiçoa e nos pune por sermos ignorantes e imperfeitos?

 

- Obedecendo por medo.   

     Observem, portanto, se não é assim: muitos, talvez a maioria daqueles que seguem, mais ou menos, sua religião, numa análise mais profunda, obedecem aos mandamentos de Deus e de suas igrejas, por medo do que poderá acontecer se não obedecerem. Uma prova disso é a expressão que ouvimos tantas vezes: “... sou temente a Deus...”

     Do mesmo modo, nossa busca freqüente de perdão, através de orações, promessas, confissões, comunhões, jejuns, sacrifícios, procedimentos e outras coisas, deve ter, por motivo, nosso medo de ficarmos sujeitos a castigos pelos “pecados” que cometemos e pelos quais não obtivemos ou não pedimos perdão.

 

- Salvos pela graça. “Deus opera, em nós, o pensar e o fazer”.

     Vejam outra afirmação, que deve ter enorme significado, mas que foi esquecida pelas igrejas cristãs: “não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”. Essa afirmação é repetida nas epístolas de Paulo. Por ela, o ser humano já está salvo; melhor ainda, não há do que ser salvo. As escrituras cristãs, e também os místicos e os iluminados de todas as épocas, e atualmente a filosofia da ciência quântica, afirmam que “é o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer”. Como, então, podemos estar em pecado, se nem podemos afirmar que os pensamentos, as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos, são nossos? Pois é Deus que opera em nós o pensar!  

     Estão estranhando? Leiam as escrituras cristãs, mas leiam com atenção e questionando! E, como aconselha o sábio Krishnamurti: “não ponha outra cabeça acima da sua”, isto é, o que os outros dizem é apenas a opinião deles, interpretações, muitas vezes equivocadas, das percepções que tiveram. Por isso, os sábios recomendam que cada um procure ter sua própria experiência; que cada um veja por si mesmo.

 

- Whitman.

     O poeta americano Walt Whitman é um daqueles que tiveram vislumbres dessa experiência, daquilo que chamamos iluminação ou consciência cósmica. Ele, como outros que tiveram a mesma experiência, afirmou que ninguém conhece a verdade pelo fato de freqüentar templos e cultos, nem por ouvir sermões que emocionam, nem por pedir aos céus, ou por orar; nem por promessas ou por praticar as virtudes pregadas pelas diferentes igrejas e crenças, ou por sacrifícios.

     Como os místicos e os iluminados, ele afirma que, somente na solidão, no silêncio do “eu”, na perseverança da busca, é que nós podemos encontrar aquilo que é sagrado. E, depois disso, vamos perceber que sermões, escrituras, sacrifícios, rituais, cultos, orações, promessas, isto é, exterioridades, não têm qualquer valor; desaparecem como fumaça.

      E afirmou, também, que: “Enquanto estamos na escuridão, não compreendemos as escrituras; quando chegamos à luz, elas não são mais necessárias”.

 

- Teresa e as noviças. João da Cruz e Santo Agostinho.

     A partir de 1905, portanto há mais de 100 anos, outras verdades surgiram com a nova física. Mas, a igreja, com seu poder temporal e sua enorme influência sobre as massas, também tentou evitar sua divulgação. Contudo, já bem antes, a doutora em teologia, como é considerada, hoje, a santa da igreja católica, Teresa de Ávila, ensinava às noviças de seu convento - e por isso quase foi levada ao tribunal da “santa” inquisição: “Nenhuma de vocês pode entrar no reino de Deus, sem primeiro entrar dentro de vocês mesmas, pois é dentro de cada um de nós que Deus está”.

     E João da Cruz, monge católico e, hoje, considerado santo da igreja, esteve muito tempo preso nos cárceres dos conventos, para que não divulgasse verdades semelhantes. Do mesmo modo, Santo Agostinho disse ter procurado Deus, por muito tempo, fora dele, mas, por fim, acabou descobrindo que Deus estava dentro dele mesmo. E Meister Eckhart, místico cristão, disse que, quando conhecermos Deus, nós nos identificaremos com ele, pois nós somos o próprio Deus.

 

- Blasfêmias.

     Para nós, ocidentais, essas palavras parecem blasfêmias. A crença católica, como a evangélica, a espírita e outras, ensinam que somos incapazes de nos aproximar de Deus, porque estamos cheios de pecados e imperfeições. Enquanto isso, as revelações trazidas pela meditação ensinaram ao místico que desde sempre somos a própria divindade (“eu e o Pai somos um”); que nosso trabalho, para nos libertarmos da ignorância e do sofrimento, é, como afirmou Jesus, perceber, ou melhor, conhecer essa verdade.

 

- Meditação oriental. Ciência e misticismo.

     Hoje, a meditação oriental é praticada, aqui no Ocidente, por milhares de pessoas: cientistas, psicólogos, psiquiatras, sacerdotes, monges, freiras, estudantes. Ela é a porta pela qual essas percepções podem entrar. Como vimos, essa afirmação é confirmada pela ciência moderna que, hoje, tem do universo uma nova visão, semelhante à dos místicos.

     Hoje existem trabalhos com relação aos quais é até difícil de saber se são obras de cientistas-físicos quânticos ou de místicos-buscadores de Deus, pois suas concepções sobre a vida, sobre o lugar do homem no universo e sobre Deus, são semelhantes.

     Vejam este título dado a um livro: “Questões quânticas: Escritos místicos dos maiores físicos do mundo”. Afinal, esse livro trata de física quântica ou de misticismo?... Trata das duas coisas porque, hoje, e talvez pela primeira vez na história do mundo, a visão de mundo da ciência se confunde com a visão de mundo do misticismo milenar, o mesmo misticismo que a ciência ocidental considerava, até há pouco tempo, um amontoado de superstições, bobagens e mesmo patologia.

 

- “... Fé do tamanho dum grão de mostarda...”’

     Quando Jesus disse “se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha...”, ele apenas nos mostrou que nossa fé é muito pequena, que não temos fé nenhuma. Não que tenhamos culpa disso; apenas que não temos fé nenhuma. A fé incondicional, a convicção absoluta, só pode ser alcançada com o percebimento da verdade, com o conhecimento da verdade, a verdade de que “eu e o Pai somos um”.

     É essa percepção que liberta, para sempre, de todos os sofrimentos, de toda ignorância, e que torna possível uma criatividade com resultados que nem podemos imaginar. Foi esse conhecimento, essa criatividade, que deve ter tornado Jesus capaz de produzir os chamados “milagres”.

 

- Impotência ante o sofrimento.

     Nossa impotência ante o sofrimento, ou do semelhante ou nosso, nos traz sentimento de frustração e de desespero. Não sabemos o que fazer. A própria medicina, com todo seu avanço, tem alcance muito pequeno! No entanto, como Jesus afirmou, “se tivermos fé do tamanho de um grão de mostarda...” a coisa poderia ser tão diferente! Talvez pudéssemos “mover” doenças e dores; ensinar, aos nossos semelhantes, o caminho para sair da escuridão.

 

- Virtudes forçadas.

     Vejam ainda: os sábios e os místicos dizem que todas as virtudes, como o amor ao próximo, a capacidade de perdoar, a humildade, são forçadas, imitações e até falsas quando não nascem do conhecimento da verdade. Dizem que somente a experiência de Deus pode nos dar as virtudes genuínas, como o amor, a humildade e a sabedoria.

     Chegam a dizer que dificilmente podemos encontrar, no mundo, um verdadeiro cristão, porque, eles perguntam, como alguém pode amar por mandamento (por ordem, imposição, obrigação)? Mas é isso que a igreja cristã manda: que amemos o semelhante como a nós mesmos; que perdoemos, não sete, mas setenta vezes sete vezes; que apresentemos a outra face e tantas coisas mais que o homem comum até julga loucura (parece que os homens não perceberam que essas palavras eram lições do ponto de vista de um iluminado; por isso parecem loucura porque, como afirmou Paulo, “a sabedoria de Deus é loucura para os homens”).

     A igreja manda que nos amemos uns aos outros, mas esqueceu de ensinar “como” despertar esse amor. No entanto, Jesus ensinou como alcançar as virtudes que ele teve, entre elas esse amor. Mas, sua lição foi esquecida ou mal interpretada e os homens não receberam, e não recebem ainda, esses ensinamentos.  

 

- “Por mim” ou “pelo eu”?

     Conforme os Evangelhos, Jesus disse “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. - Não teria ele dito: “ninguém vai ao Pai senão pelo ”eu’’? Afirmou também: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. - Não teria afirmado: “o “eu” é o caminho, a verdade e a vida”?...  Não estranhem! Analisem!  Nossas escrituras, nesses dois mil anos, passaram por tantas traduções, gramáticas, interpretações e idiomas, e sofreram a influência de tantos interesses, costumes e culturas tão diferentes!

     (Recentemente, em entrevista na TV, dois rabinos afirmaram exatamente isso: que a tradução correta, em lugar de “por mim” é “pelo eu”, e em lugar de “eu sou” é “o eu é”).

     Vejam um exemplo de como as escrituras sofreram alterações: um homem considerado, entre todos os historiadores, um dos mais fiéis, o nosso Rui Barbosa, escreveu a introdução ao livro “O Papa e o Concílio”. As fontes citadas são irrefutáveis, muitas do próprio Vaticano: decretos, anais, tratados, acordos, bulas papais, cartas de bispos, padres, reis, imperadores, obras de historiadores de imparcialidade irrepreensível, atas de concílios, pastorais, sermões etc. Nessa introdução, conta que o Papa Sixto V escreveu, de próprio punho, uma nova versão da Bíblia, decretando que só essa era verdadeira e que seriam excomungados os que lhe alterassem uma só palavra. Contudo, a nova versão continha cerca de duas mil incorreções em pontos importantes. O papa Belarmino, seu sucessor, aconselhou abafar o perigo a que Sixto levara a igreja: recolher e destruir todos os exemplares; e, depois de corrigida, reimprimi-la afirmando-se, no prefácio, serem os erros culpa dos impressores. Belarmino assinou o prefácio com essa mentira e, em sua biografia, gabou-se de ter ‘pago o mal com o bem’, pois Sixto colocara sua principal obra no Índice de livros proibidos pelo Vaticano. A biografia extravasou dos arquivos. Um cardeal sugeriu imediata queima da biografia e se fizesse profundo segredo porque, nela, Belarmino chamava três papas de mentirosos.

     Contudo, é isso mesmo o que os místicos e iluminados ensinam: o caminho para a busca de Deus é para dentro de nós, na direção onde pensamos que está nosso “eu”. A própria Teresa de Ávila, a doutora teologal da igreja católica, já ensinava isso às noviças. É na direção onde pensamos que está nosso “eu” que Deus está; dentro de nós, portanto.

     Lembrem-se destas afirmações: “o reino de Deus está dentro de vós”, “Deus habita em nossos corações”, “Vós sois o templo do Altíssimo”. Há alguma coisa estranha nestas afirmações? Nem pode haver. São afirmações de Jesus, de Paulo, de Teresa de Ávila, de João da Cruz, de Santo Agostinho e de tantos outros sábios do misticismo Ocidental e Oriental.

     Por isso, o iluminado disse: “Quem tem olhos de ver, veja! Quem tem ouvidos de ouvir, ouça!” (isto é, “quem puder compreender, compreenda!”).

 

- “Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus!”

     Também não foi dada importância a estas palavras do profeta, do Velho Testamento, que disse: “Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus”. Qual será o significado dessas palavras? Lembrem-se que Jesus ensinou que, quando quisermos falar ao Pai, devemos nos “fechar em nosso quarto e, em oculto (isto é, sozinhos, em silêncio, aquietados), falar ao Pai que, em oculto, nos ouve”. Será essa uma sugestão para fechar as portas e janelas de madeira, ou o que seja, e ficarmos isolados em um cômodo da casa, de modo que ninguém saiba de nossa conversa com Deus? Será que isso facilitaria a comunicação? Ou seria “fechar” nossa mente, isto é, tentar não ouvir, não ver, não exercitar os sentidos objetivos, nem a imaginação, nem a memória; enfim, trazer silêncio à mente, calar a mente ou, como ensinou o profeta do Velho Testamento, aquietar a mente?

 

 - Estática cerebral. “Ou eu, ou Deus”.

      Portanto, conforme os iluminados afirmam, é dentro de nós que vamos encontrar aquilo a que denominamos Deus. Mas, enquanto houver ruído, isto é, enquanto houver expectativas, lembranças, imaginações, emoções, pensamentos, remorsos, desejos, enfim, enquanto houver estática em nosso aparelho receptor que é o cérebro, enquanto houver operações em nosso cérebro, não vamos conseguir sintonizar a divindade.

     Aqueles que tiveram a experiência de Deus ensinam que quando a mente se aquieta, o ego também se aquieta, o ego cessa de operar. Afirmam que quando o “eu não é, Deus é”; isto é, quando o nosso “eu”/ego, nossa mente individual se afasta, isto é, se aquieta, “abre espaço” que pode ser preenchido pela divindade absoluta.

 

- Objetivo da meditação.

     E é exatamente esse o objetivo da meditação: calar a mente, aquietar a mente, isto é, cessar com todas as operações mentais; trazer silêncio ao cérebro, fazer cessar o “eu”, com suas lembranças e condicionamentos e, se houver perseverança nessa condição, podemos vir a perceber aquilo que os místicos perceberam: que nós não somos essas criaturas impotentes e sofredoras, envolvidas pela escuridão da ignorância; que podemos dar o vôo da águia, subir às alturas e conhecer que somos a própria divindade que em nós habita.

     Por isso: “Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus!”, isto é, aquiete o ego, cesse com suas ações de pensar, imaginar, recordar, se emocionar e você poderá, se for perseverante, “ouvir” a voz de Deus, “sentir” Deus, “tocar” Deus.

     Como disse o iluminado: “Aquele que perseverar até o fim será salvo!”

 

- Os descrentes. O carma.

     Porque tantas vezes ouvimos dizer que os profissionais da saúde, particularmente os médicos, são descrentes? Não será porque eles vêem, no seu dia-a-dia, nos consultórios e hospitais, tanto sofrimento, tantos males sem cura, desespero e lágrimas e, ao mesmo tempo, não encontram qualquer explicação para tudo isso?

     Há pessoas, talvez aquelas mais inclinadas ao romance, que se ligam a crenças que oferecem uma possibilidade de compensação futura; a crenças ou religiões que afirmam que há necessidade de pagar os erros que cometemos no passado, pois só assim nos libertamos do peso de nossos “pecados” e vamos ter asas para vôos mais altos.

 

- Outra visão: somos punidos por nós mesmos.

     Outra visão, diferente dessa, afirma que os males que afligem o ser humano não são impostos pela divindade. Que somos nós, as criaturas de Deus, que produzimos, com nossa ansiedade, ignorância, erros, pecados, medos e sentimentos negativos, os miasmas que produzem tais sofrimentos. Que Deus nada tem a ver com isso.

     É como se o Criador criasse tudo e, depois, se afastasse deixando para suas criaturas ignorantes, pois que todos nós fomos criados ignorantes, a responsabilidade de seguir suas leis. Se não as seguimos, se cometemos erros, seremos como que punidos por nós mesmos.

     Será o Criador tão impiedoso assim? E onde está sua onisciência? Criou suas criaturas, isto é, nós mesmos, ignorantes, sujeitos, portanto, ao erro e, depois, se erramos, nos deixa expostos a castigos tão grandes, que crianças já vêm ao mundo com sofrimentos terríveis para toda a vida! Ou, de repente, num certo momento da existência, surge aquela doença ou aquele problema tão sério que faz que a gente derrame lágrimas e se desespere e até pense que não vale mais a pena viver...!?

     

- Carma e animais irracionais.

     E quanto ao carma? Será que somente o erro doloso, isto é, o erro praticado com consciência do que se está fazendo, é que exige correção? Parece que não é bem assim; parece que qualquer erro, consciente ou não, traz a necessidade de corretivo. Se não fosse assim, como entender os males que afligem os animais que chamamos de irracionais? Eles apresentam doenças muito semelhantes às do ser humano e sofrem dores semelhantes. Será que os animais irracionais, inconscientes do que fazem, pecaram, adquiriram carma negativo, porque agiram com desobediência aos mandamentos divinos?  Pensem nisso...!

 

- Aceitação da “palavra”.

     Muitos, talvez por tradição familiar ou por conveniência social, se ligam a crenças que quase nada explicam. Talvez não estejam buscando explicações. Talvez não questionem a doutrina e a aceitem, passivamente, como sendo “a palavra de Deus”, “a palavra do Senhor”. A crença está ali; eles a seguem, mais ou menos, como podemos ver que ocorre com tanta gente. Parece que pensam que, desde que cumpram certas regras de suas igrejas, como comparecer ao culto do domingo, realizar certos atos prescritos pela crença, dar glórias a Deus e ajudar financeiramente sua igreja, dar o dízimo como manda a lei, tudo irá bem.

     Mas, quando chega o sofrimento que, mais dia menos dia, chega para todos, vão perceber que a religião quase nunca traz o consolo esperado.

 

- Incerteza e impermanência. A única certeza.

     Enfim, todos nós estamos cheios de dúvidas, mergulhados na escuridão, nas incertezas do dia de amanhã, numa total ignorância sobre todas as coisas. Como os grandes místicos falaram e como hoje assegura nossa ciência mais avançada, tudo é incerto e tudo é impermanente. Tudo está se transformando sem cessar. Foi exatamente sobre essa incerteza e impermanência de todas as coisas, que o Buda fundou sua filosofia.

     O fato, apontado pelos iluminados e pela moderna ciência, é este: o universo e a vida estão em incessante movimento, num eterno fluir, em constante transformação; transformação que pode trazer coisas que consideramos agradáveis ou coisas que consideramos desagradáveis, dor ou prazer, felicidade ou infelicidade. E, como tudo é impermanente e incerto, tanto uma coisa como a outra pode cessar e, de novo, recomeçar.

     Assim, a única certeza que nós podemos ter é que não temos certeza de nada.

 

- A solução. Compreensão perfeita.

     Por isso, a única saída desta babel de incertezas, ignorância e sofrimentos é a solução dos místicos: é buscar a percepção que eles buscaram, conhecer a verdade que eles conheceram, a “verdade que liberta”, como disse Jesus. É o “conhece-te a ti mesmo”, o “auto-conhecimento”, dos antigos filósofos gregos.

     E essa busca é possível pela meditação.

     Mas, quando falamos de místicos, estamos falando de místicos de todas as denominações porque qualquer e toda denominação cessam ao se conhecer a verdade.

     Todas as “religiões” do Ocidente e do Oriente, cristianismo, judaísmo, budismo, bramanismo, todos os numerosos “ismos”, isto é, quer sejam religiões populares ou tradições sérias buscadoras da “re-ligação” com a divindade, perdem as características que as tornam diferentes umas das outras, e “se fundem numa única compreensão perfeita e universal” quando se tem o conhecimento da verdade; isto é, quando se tem a extraordinária percepção de que “eu e o Pai somos um”.         

 

- Concordância universal.

     Por essa razão, os grandes estudiosos como, por exemplo, Einstein e Jung, chamaram a experiência de Deus de “experiência de concordância universal”’. Em qualquer época da história e em qualquer lugar onde tenha ocorrido, a experiência é semelhante ou igual para todos os homens que a tiveram. Qualquer diferença vem das diferenças de culturas e de interpretações.

 

- Grandes homens falam da experiência.

     Essa experiência é tão extraordinária que foi exaltada por todos os que por ela passaram como a experiência mais sublime que o ser humano pode ter. Jung, o psiquiatra, usou palavras semelhantes, e Jesus a considerou a pérola, o tesouro que quem encontra “vende tudo o que tem”, isto é, desiste de tudo o mais, e “compra aquele campo”. Jesus chegou até a afirmar que, “quem não abandona pai e mãe para segui-lo”, isto é, para buscar essa experiência, “não é digno dela”, com essas palavras fazendo ver que esse tesouro é muito mais importante do que qualquer outra coisa, do que qualquer outro bem, conquista ou posse.

     Outros, como Teresa de Ávila, afirmaram que “comparado com essa experiência tudo mais é lixo”; Krishnamurti, o sábio indiano contemporâneo, ensinou que “tudo o mais é fútil e infantil”; e um poema Zen assegura que, “se você já esteve lá”, isto é, se você já teve a experiência, “como lhe parecem sem importância todas as outras coisas”.                                                     

     Maharish Maharesh Yogi, o homem que trouxe para o Ocidente a Meditação Transcendental, afirma que, enquanto não temos essa experiência, somos, ainda, meramente subumanos, e Krishnamurti diz que a vida só tem significado quando chegamos “lá”. Por isso, com razão, Jesus aconselhou que devemos “em primeiro lugar” buscar Deus; disse que, conhecida a verdade, de nada mais necessitamos. Vamos perceber, então, que a morte não existe e que não há necessidade de salvação, pois que desde sempre estamos salvos porque “eu e o Pai somos um”.

 

- Jesus, Buda e a iluminação.

     Não compreendemos ainda, (dizem que somente os iluminados compreendem), mas tudo está certo; o que move o universo é o amor, e a felicidade é certa para todos. Assim, Jesus afirmou que essa experiência é a “libertação”; o Buda disse que “é o fim de todo o sofrimento”, e outros sábios asseguram que “é a bem-aventurança total”. Todos os problemas, conflitos e sofrimentos cessam. O indivíduo percebe que tudo está perfeito e sente profunda compaixão pela situação do ser humano que sofre porque ainda não percebeu... (de um cântico do bramanismo: “... do perfeito tirando o perfeito, o que resta é perfeito...”).

     Portanto, a única saída da escuridão em que estamos, é “aquietar o eu, esquecer o eu”, penetrar numa condição além do eu. E é isso o que a meditação pode fazer. Ela nos leva para além de nosso nível comum de consciência, além das limitações de nossa mente, e faz com que penetremos em níveis mais elevados de compreensão.

     E, quando falamos de meditação, estamos falando de quê? Meditar não é pensar ou refletir sobre um tema elevado, no amor ao próximo, nos exemplos que Jesus deixou, na paz mundial, imaginar ou visualizar isto ou aquilo; nada disso. Como dissemos antes, estamos falando de aquietar o eu, de silenciar o eu. Isso é trabalhoso e leva tempo, sobretudo para nós, ocidentais.  

     Nós estamos acostumados, viciados, condicionados a tagarelar o tempo todo. Nosso cérebro não é capaz de ficar quieto; estamos sempre falando, ouvindo, raciocinando; ficamos imaginando o dia de amanhã, lembrando o dia de ontem (nunca estamos no presente, no aqui-agora); julgamos, avaliamos, classificamos, comparamos, dando nomes a tudo que vemos, tudo isso sem cessar nem quando estamos dormindo.

     Não gostamos do silêncio. Experimente assistir, na TV, a um filme com legenda e tire o som; veja como os outros vão reclamar, mesmo que não precisem do som! E os pequenos rádios que muitos sempre levam consigo enquanto caminham!

     Agora, imaginem fazer silêncio mental! A dificuldade será enorme. Mas, para a percepção do sagrado é necessário esse silêncio: “Aquieta-te...”

     Foi isso que Krishnamurti disse ao físico Capra: “temos de fazer cessar o pensamento e o raciocínio”. Isso é aquietar-se.

 

- Atenção aos pensamentos; à respiração; a nada.

     Porém, depois de tentativas e tentativas, podemos ter certos instantes de silêncio. Uma técnica ensinada pelo Zen Budismo é ficar atento ao fluir dos próprios pensamentos. É como se disséssemos aos pensamentos: “Podem falar, que eu estou escutando!” Depois, fiquemos totalmente atentos para o pensamento que vai “falar”, atentos para o pensamento que vai nascer naquele instante. Se estivermos atentos, totalmente atentos, veremos que nenhum pensamento nasce! Quando estamos totalmente atentos não há pensamentos; e quando não há pensamentos, também não há o “eu”, o ego deixa de existir; as operações do ego cessam e pode surgir um vazio, um nada; não há nenhuma percepção... E se perseverarmos nesse vazio, de repente, não se sabe quando, nem onde, a coisa pode explodir; a luz pode chegar e, num relâmpago, mostrar a Verdade... E, então, acabam-se todos os sofrimentos e toda ignorância!...    

     Outra técnica é ficarmos totalmente atentos à respiração normal, sem qualquer esforço. Mas, não fiquemos imaginando o ar entrando e saindo; devemos apenas sentir a entrada e a saída do ar pelas narinas. A imaginação é ação do “ego” e exercitar a imaginação é exercitar o “ego” tornando-o mais forte, quando o que temos de fazer é aquietar o ego. Somente deixando o “ego” para trás, isto é, indo além do ego é que podemos encontrar nosso caminho.  Tentem!

     Outra técnica é deixar tudo isso de lado; livrar a mente de qualquer esforço, pois como já disse, qualquer esforço reforça o ego; nada de atenção ao pensamento que vai nascer, ou de atenção à respiração ou a um mantra. Apenas sentar-se (do Zen: “o mais importante é sentar-se”) e permanecer sentado, em completa passividade, sentado sem atenção para nada, sempre sem qualquer esforço, sem qualquer expectativa ou esperança. Sentar-se e deixar que venham os pensamentos, mas não lhes dar qualquer atenção. Deixar que venham e que passem por nós simplesmente, como se fossem nuvens flutuando pelo céu. Apenas isso; não se prender a nenhum; que eles venham, passem e que vão embora.

      Há uma outra técnica; esta ainda exige a presença do ego: colocar a atenção ou, preferentemente, os olhos na direção da ponta do nariz ou no umbigo ou uns palmos à frente dos pés. Esse movimento dos olhos, para baixo, teria a faculdade de levar a um relaxamento maior do corpo.

 

- A atenção.

     É necessário que, em todos os momentos da vida diária, estejamos atentos a tudo (nunca distraídos): ao que vemos, ouvimos, sentimos; a todos os eventos interiores ou exteriores, enfim, a todas as coisas que nos produzem sensações de qualquer espécie; essa atenção produz benefícios à mente, trazendo-lhe sensibilidade, acuidade e perspicácia que lhe possibilitam penetração mais profunda nas tentativas de meditação e, sobretudo, porque pode vir a possibilitar nosso comando sobre a mente. Este comando, nunca o temos, pois é a mente/ego que nos comanda e não nós a ela. E, o mais importante, a atenção é pode vir a matar o ego.

     Temos de usar a atenção. Por isso, Jesus nos deixou tantas parábolas sobre estarmos atentos. Assim, a parábola do servo fiel que aguardava (atento) a chegada do patrão (a iluminação); a parábola das virgens insensatas que, desatentas, se esqueceram de colocar azeite em suas lâmpadas e, assim, não perceberam a chegada do noivo (a iluminação); a parábola do ladrão; temos de estar atentos, pois o ladrão (a iluminação) pode chegar quando menos esperamos e, se não estivermos atentos, não vamos percebê-lo. E, conforme mostraram pesquisas sérias, no cristianismo primitivo, a maior virtude era a atenção, e o maior pecado era a desatenção. A desatenção nos distrai e perturba a meditação.

     Se estamos distraídos por qualquer coisa: pensamento, lembrança imaginação ou sensação (um compromisso, uma dívida que vence amanhã, uma providência importante que devemos tomar, uma dor, medo, desejos, remorsos ou preocupações sobre dinheiro, saúde, gula, avareza, preguiça, sexo, ódio, vaidade, orgulho, aquelas coisas às quais as religiões dão o nome de pecados capitais e outros), não vamos conseguir meditar; não haverá silêncio mental, nem tranqüilidade; não podemos aquietar a mente.

     Aquilo a que chamamos “Deus” está em toda parte, está aqui, está dentro e fora de nós, neste exato momento, em todos os momentos (como dizem as escrituras cristãs: “O Senhor está acima e abaixo, à esquerda e à direita, à frente e atrás” e dentro de nós, pois, como falou Paulo, “vós sois o templo do Altíssimo”, e ainda “o Senhor habita em vossos corações”. E se nossa mente estiver aquietada, estiver em silêncio, isto é, vazia do ego, a ausência dos “ruídos” produzidos pelo “ego” pode permitir a percepção dessa Realidade.

     Temos que tentar e tentar de novo! Lembrem-se do conselho do sábio judeu: “... pois, para aquele que bate, a porta se abrirá...” (bata, teime, tente...).

 

- Se 1% medita... 

     Como os sábios afirmam e, hoje, muitos cientistas, o mundo será melhor à medida que mais e mais pessoas meditam. Há estudos de cientistas e pesquisadores, das mais importantes universidades do mundo, mostrando que, se 1% de uma coletividade medita, diminuem, drasticamente, nessa coletividade, os índices de crimes, violência, acidentes, conflitos, internações em hospitais, uso de drogas, perturbações da natureza, alcoolismo, suicídios, enfermidades etc.

     E, como afirmou Schroedinger, um dos pais da nova física, estaremos sempre voltando e voltando. E se mais e mais pessoas meditam, encontraremos o mundo melhor em nossas voltas. Por isso vale a pena tentar. Ninguém vai querer, na sua volta, encontrar o mundo nas mesmas condições de escuridão e sofrimento em que hoje está.

   

- A única solução. 

     Então, amigos, a única solução é a meditação. Sentar-se em posição confortável, na qual nada esteja perturbando ou oprimindo, e esquecer o “eu”, esquecer tudo, até mesmo que estamos meditando; esquecer até mesmo o desejo de esquecer, sempre sem qualquer esforço ou esperança, que são operações do ego. Esse esquecimento nos leva para “além do ego”, para fora do tempo e do espaço. Esse é o verdadeiro “salto quântico”, um salto para fora do sistema do espaço-tempo, para o atemporal, onde podemos vir a perceber Deus.

     E isso será o fim de todo sofrimento e de toda ignorância e o começo da felicidade, da sabedoria e do amor.

 

- Pascal e Carpenter.

     Para terminar, vamos conhecer a experiência de Pascal, conhecido matemático, cientista e escritor francês:

     A partir de certo dia, ele se afastou da sociedade e se tornou recluso em sua própria casa (como Jesus, nas chamadas tentações, no deserto; Paulo, que foi viver entre tecelões, depois de sua visão na estrada de Damasco, e outros que, depois da experiência, se retiraram para, na solidão, tentar compreender o que lhes havia ocorrido).

     Depois de certo tempo, Pascal recomeçou a escrever, mas suas obras, agora, tinham um caráter mais elevado, diferente das anteriores. Sua compreensão de vida e de mundo tinha se modificado de maneira drástica. Quando morreu, um criado encontrou, costurado com cuidado dentro da bainha de seu gibão (túnica), um pergaminho onde estavam escritas as seguintes palavras:

     “Ano da graça de 1654, segunda-feira, 23 de novembro... desde cerca das dez e meia da noite até meia-noite e meia... FOGO, FOGO... transfiguração... Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob... Certeza, alegria, certeza, sentimento de alegria e paz... Deus de Jesus Cristo, meu Deus e teu Deus... Esqueci-me do mundo e de tudo, exceto de Deus. Ele só é encontrado nos caminhos dos Evangelhos... a GRANDEZA DA ALMA HUMANA... agora vejo que ela é o próprio Deus. Pai justo, o mundo não te conhece, mas eu te conheci. Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria! Eu não me separarei jamais de ti... Meu Deus, esta é a vida eterna que se ganha depois de te conhecer, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste - o Cristo; com ele, tudo é Um... Renúncia total e doce... submissão total a Cristo... eternamente em alegria por um momento de aprendizado sobre a terra... jamais esquecerei o que hoje me ensinaste... Amém”.

     Esse pergaminho existe até hoje. Recebeu o nome de “amuleto místico de Pascal” e está na Biblioteca Nacional, em Paris.

 

     Edward Carpenter é outro que teve a experiência. Ouçam suas palavras:

     “... Acabados todos os sofrimentos, acabadas todas as penas... abriu-se dentro de mim um profundo oceano de felicidade... todas as coisas foram transfiguradas, cantando felicidade sem fim... Naquele dia, no dia da tua libertação, ela virá a ti em lugar que desconheces, sem que saibas em que tempo (como na parábola do ladrão)... tu, então, estarás livre para sempre... (“... a verdade vos libertará”); deixa que a felicidade te invada... a morte já não te separará daqueles a quem amas... o mundo da igualdade... da felicidade total...”

 

- Encerramento.

     Termino aqui. Perdoem se falei demais. Como disse antes, considero da maior importância este assunto e a compreensão que podemos tirar dele.

     Lembrem-se das palavras, hoje esquecidas, de padres do cristianismo dos primeiros tempos: “meditação é a coisa mais importante que a humanidade tem a fazer”.

     Lembrem-se, também, do que afirmou um humilde sapateiro, Jacob Bhoeme, místico cristão: “Enquanto o Cristo não nascer dentro de você, você continuará vivendo na escuridão de um estábulo, entre fezes e urina”. 

     

     Como disse o iluminado: “Quem tem olhos de ver, veja!

                                           Quem tem ouvidos de ouvir, ouça!”          

.........................................................................

     Pense e analise tudo o que foi dito aqui, hoje, e... medite!    

     Pesquise e verá que não há outra saída. Mas, não se esqueça: sempre coloque de lado todos os preconceitos! Se há preconceitos não podemos dar sequer um passo na direção de Deus.      .......................................................................................  

     Prezados amigos. O texto acima, me parece, contém tudo que precisamos saber acerca da prática da meditação. Os demais documentos, os textos numerados que vêm a seguir, apenas objetivam aprofundar o assunto, que, para nós ocidentais, é coisa nova, pois é estranha à nossa cultura e costumes. Foram escritos com essa finalidade: trazer, se possível, o convencimento de que, para compreendermos a vida e para deixarmos a ignorância e o sofrimento, a solução está na meditação. Trazem concordâncias de cientistas, psicoterapeutas, psicólogos, médicos, físicos quânticos, místicos orientais e ocidentais, todos de renome, seus testemunhos e tentativas de explicar a experiência que a meditação pode trazer, e muitas coisas mais. No meu modo de ver, é leitura e análise útil para todos que estão buscando respostas acerca das dúvidas e questionamentos que a vida sempre apresenta àqueles que estão abrindo os olhos e tentando “compreender”.    

................................................................................

 

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Co-criando A NOVA TERRA

«Que os Santos Seres, cujos discípulos aspiramos ser, nos mostrem a luz que
buscamos e nos dêem a poderosa ajuda
de sua Compaixão e Sabedoria. Existe
um AMOR que transcende a toda compreensão e que mora nos corações
daqueles que vivem no Eterno. Há um
Poder que remove todas as coisas. É Ele que vive e se move em quem o Eu é Uno.
Que esse AMOR esteja conosco e que esse
PODER nos eleve até chegar onde o
Iniciador Único é invocado, até ver o Fulgor de Sua Estrela.
Que o AMOR e a bênção dos Santos Seres
se difunda nos mundos.
PAZ e AMOR a todos os Seres»

A lente que olha para um mundo material vê uma realidade, enquanto a lente que olha através do coração vê uma cena totalmente diferente, ainda que elas estejam olhando para o mesmo mundo. A lente que vocês escolherem determinará como experienciarão a sua realidade.

Oração ao Criador

“Amado Criador, eu invoco a sua sagrada e divina luz para fluir em meu ser e através de todo o meu ser agora. Permita-me aceitar uma vibração mais elevada de sua energia, do que eu experienciei anteriormente; envolva-me com as suas verdadeiras qualidades do amor incondicional, da aceitação e do equilíbrio. Permita-me amar a minha alma e a mim mesmo incondicionalmente, aceitando a verdade que existe em meu interior e ao meu redor. Auxilie-me a alcançar a minha iluminação espiritual a partir de um espaço de paz e de equilíbrio, em todos os momentos, promovendo a clareza em meu coração, mente e realidade.
Encoraje-me através da minha conexão profunda e segura e da energia de fluxo eterno do amor incondicional, do equilíbrio e da aceitação, a amar, aceitar e valorizar  todos os aspectos do Criador a minha volta, enquanto aceito a minha verdadeira jornada e missão na Terra.
Eu peço com intenções puras e verdadeiras que o amor incondicional, a aceitação e o equilíbrio do Criador, vibrem com poder na vibração da energia e na freqüência da Terra, de modo que estas qualidades sagradas possam se tornar as realidades de todos.
Eu peço que todas as energias e hábitos desnecessários, e falsas crenças em meu interior e ao meu redor, assim como na Terra e ao redor dela e de toda a humanidade, sejam agora permitidos a se dissolverem, guiados pela vontade do Criador. Permita que um amor que seja um poderoso curador e conforto para todos, penetre na Terra, na civilização e em meu ser agora. Grato e que assim seja.”

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