"Há um só Deus Vivo e Verdadeiro, Eterno. Sem corpo, partes ou paixões, de Poder, Sabedoria e Bondade Infinitos, o Criador e Preservador de todas as coisas tanto visíveis como invisíveis. E na unidade desta Divindade há Três Pessoas de uma Substância, de um Poder e de uma Eternidade".
No principio, Deus eterno era único em sua existência. No momento em que quis conhecer-se, gerou uma "imagem" de si mesmo, pois a vontade do Pai torna-se ação. Esta imagem de Deus nada mais era que o Próprio. Porém Este passou a se ‘visualisar’ e estabeleceu uma criação, que apesar de fazer parte de si, não deixava de ser seu Filho.
Então em sua perfeição, Deus criador (gerador) e, vou permitir-me chamar, Deus criatura (gerado) amaram-se e reconheceram-se como uno, isto gerando um "movimento" divino de sua integração e interação. A este movimento da existência os cristãos chamam de Espirito Santo, formando a "Divina Trindade".
Para dar um presente ao Deus criado (Filho), o Primeiro concebeu a "criação" (chamarei assim todo o plano de existência) para que o Primogênito pudesse saber como é o amor a algo criado, pois o mesmo ainda não sentira o amor de algo inferior a Si, de uma criação.
"No Princípio era o Verbo, (ou O Logos) e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava No Princípio com Deus. Tudo foi feito por Ele, nada do que tem sido feito foi sem Ele. NEle estava a Vida, e a Vida era a Luz dos homens".
Os três primeiros parágrafos são especulações baseadas no cristianismo para entendermos os motivos que levaram Deus a nos criar ( assim concebo atualmente ), apesar de ser descabido saber o homem os motivos que levaram o Pai a nos conceber (uma parte não compreende o todo). Aqui estamos preocupados em seguir nossos objetivos (projetos) maiores traçados pelo Pai, integrando-nos ao mesmo; sabendo como chegamos ao atual estágio de existência, saberemos como retornar a Deus.
Poderíamos escutar aqui a famosa pergunta: "Se Deus é eterno, o que ele fazia antes de nos criar? Antes de Sua Trina Divisão Ele era menos perfeito?"
Devo então recordarmo-nos dos grandes profetas, médiuns e os apóstolos do mestre Jesus (bem como o Próprio) que elucidam eventos passados, revelam o presente e futuros acontecimentos estando "estático no tempo". Para estes, o tempo passado, presente e futuro são conceituais, assim como para Deus. O antes e depois - tomando o "agora" como referencia - não se aplica ao Pai, apenas a nós homens.
Só que a criação, por sermos parte atuante da mesma, pode ser entendida. Temos ou teremos acesso a toda ela. Os que já tiveram acesso a estas informações nos trazem constantemente esclarecimentos. Precisamos separar as informações que nos chegam de maneira criteriosa, cientificamente, comparando diversos relatos e escritura com as experiências dos sensitivos, e nós mesmos procurando desenvolver nossas capacidades sensitivas.
Segundo a Cabala, para dar execução àquilo que já havia planejado, Ele cria de sua essência (a transmutação de uma parte finita de si, como já referido) seu agente executor, o qual chamaremos de Cristo Cósmico. Pela primeira vez surge algo diferente da "Essência Divina", uma substância. A partir de agora entenda-se como criação como tornar existente algo a partir de uma modificação da substância que lhe dá origem.
A Cabala (Tradição) Cristã tem suas raízes na Kabbalah judaica, a qual podemos consultar em sua fonte original, no Antigo Testamento. É mister ressaltar a importância da análise dos textos bíblicos na sua forma mais original possível por dois principais motivos:
1- o primeiro é devido aos erros de tradução, uma vez que no hebraico antigo a maioria das palavras apresenta vários significados, exigindo que o tradutor entenda o contexto de sua leitura para uma tradução acertada;
2- o segundo só nos é revelado com uma atenciosa e crítica leitura daqueles textos, pois pesquisadores já detectaram várias interpolações, "autorias indevidas" e censura nos texto bíblicos . Provavelmente para salvaguardar o conhecimento preciso para aqueles que detinham-no em sua forma original, entenda-se aí as altas autoridades eclesiásticas judaicas que eram os únicos a poderem manipular os manuscritos deixados por Moisés.
Em Gênesis I,1, em hebraico, temos os seguintes dizeres (Bereshit barah ...) que foi traduzido como "1) No princípio criou Deus os céus e a terra." O detalhe aqui é que a palavra barah é utilizada única e exclusivamente para determinar uma criação feita por Deus. A partir deste ponto, o texto bíblico quando se refere as criações divinas refere-se como "Deus disse" ou similares. A palavra barah não mais é utilizada, o que nos indica que este foi o único ato feito pelo Logos (Deus Filho, origem de tudo e fonte primordial da vida), os demais atos atribuídos a Deus são impropriamente feitos, pois este é confundido com o Cristo Cósmico, que colocará o divino plano em execução, ou ainda com a Tríade Superior, à qual nos referiremos mais à frente.
Notemos ainda que "céus e terras" anteriormente referido em seus originais, revelam que estas diziam "altura" (águas superiores), e "profundidade", referindo-se a duas grandes divisões:
1- altura (águas superiores): este é o lugar do Cristo Cósmico sem alteração alguma, ele com todo seu esplendor. É a morada daquele que foi feito para criar (equivale a clara do Ovo Cósmico egípcio);
2- profundidade: sua já referida transmutação de uma substância para outra substância (Cristo Cósmico) que dará vazão a criação. A energia, para tornar-se matéria necessita de diversos estágios intermediários para diminuir sua "vibração". Até agora temos o primeiro "estágio", a primeira forma que pode comunicar-se diretamente com Deus. O universo material ainda não existe (equivale à gema do já supracitado ovo no mito egípcio).
O importante aqui é a idéia de polaridades complementares, negativo/ positivo ; vazio/cheio ; yin/yang ; mulher/homem , os grandes motores da existência. Sem um, o outro não tem sentido. Um é necessário à existência do outro e deles tudo provém.
Após este primeiro versículo, até o fim do capítulo, o texto traz expressões "e Deus disse" trazendo aí interpolações da sagrada escritura e confundindo Deus Logos com o Cristo Cósmico e com a Tríade Superior. Somente em Gênesis II,3 é que nos é apontada com clareza a criação do Cristo Cósmico quando nos traz "3) E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o, porque nele cessou toda a sua obra, que criou Deus para fazer.". Daí concluímos que após o Cristo, a vontade do Pai foi executada por este, sua "obra". Claro que Cristo Cósmico colocou em execução aquilo que Deus Pai já idealizara, pois sem que Deus a crie em si, nada poderia existir, como uma construção que só é executada após ter sua planta terminada.
Isto posto, podemos afirmar que tudo o que existe, visível ou invisível, é primeiramente manifestada nos planos superiores, é necessária a existência em todos os planos metafísicos para a existência no físico. Verificamos este fato em Gênesis II,5 "4) Estas são as origens dos céus e da terra ao serem criados; no dia de fazer (verbo utilizado quando a ação é do Cristo Cósmico), o Eterno Deus, terra e céu. 5)E toda a planta do campo antes que houvesse na terra e toda a erva do campo antes que germinasse..." e em seguida passa a relatar sobre o Jardim do Éden, local onde foi criado o Homem que indicamos na figura anterior como "a profundidade" o qual abordaremos mais tarde.
Antes da criação do homem, veio a existência a entidade que chamaremos de Tríade Superior, que era subordinada diretamente ao Cristo Cósmico, por onde todo o fluxo de energia passaria e que governaria o Éden. Era praticamente a manifestação do Cristo nas "profundezas".
Em Gênesis II,7 é descrita a criação do Homem como ser completo o qual representaremos com dois triângulos sobrepostos (estrela de Salomão ):
Este Homem é, como descrito em seguida na bíblia, criado no Jardim do Éden e no cap. II versículos 16 e 17 lhe é dito " 16) E ordenou o Eterno Deus ao homem, dizendo: ‘De toda árvore do jardim podes comer: 17) E da árvore do conhecimento, do bem e do mal, não comerás dela; porque no dia em que comeres dela, morrerás’". E mais adiante relata a criação da mulher "21) E fez o Eterno Deus cair um sono pesado sobre o homem e (este) adormeceu; e tomou uma das suas costelas e formou com ela ... 22) ...uma mulher, e a trouxe ao homem". Aqui precisamos esclarecer o seguinte:
1- árvore é considerada, dentro da cabala, como uma ligação, uma passagem interfaces, entre planos diferentes, portanto o liberou para percorrer todos os planos da criação;
2- morrer significa uma mudança radical, mais especificamente neste caso, a perda da atual consciência ( abordaremos o assunto mais adiante);
3- o que foi traduzido como costela, na realidade era a palavra hebraica “sela” a qual significa, além de costela, uma metade.
Não é a toa que misticamente o homem completo é simbolizado pela sobreposição de duas metades. Isto representa sua imagem (triângulo para cima) e semelhança com Deus, indicando a sua dupla composição. Tomar uma de suas partes é separar esta dupla natureza em duas distintas: homem e mulher.
Aqui, vemos representadas esquematicamente dentro do Éden as três grandes almas. Todo homem descende deste Adão bem como toda mulher é parte desta Eva.
A casa, ou plano, ocupado pela primeira tríade chama-se Olam HaAzilut (o mundo da emanação). O da Segunda tríade, Olam HaBriá (o mundo da criação). O plano seguinte, Olam HaIezirá (o mundo da formação), e o último plano denomina-se Olam HaAssiá (o mundo da ação ou produção).
Éden e Adão (Adam) não trazem mera semelhança gráfica. A figura da árvore, já acima exposta, costuma corriqueiramente, nos livros iniciáticos, ser sobreposta a uma silhueta humana. A Tríade Superior na cabeça, Adão no peito e Eva no ventre. A este ser, os cabalistas denominam ADAM KADMON PROTOPLASTA. Este seria a imagem e semelhança de Deus. Sem impurezas.