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Criança também sofre com as conseqüências do excesso de peso e da falta de exercícios físicos
Enxaqueca, depressão, diabete, colesterol alto e obesidade. Parece estranho que esses sejam problemas de criança, não é? Não são. Os consultórios pediátricos andam cheios de crianças pequenas que precisam lidar com controle de glicose, dores de cabeça, taxas de colesterol, sessões de terapia e tabelas de calorias. Mas por que tudo isso? Algumas não eram diagnosticadas até mesmo por falta de conhecimento científico. Outras são genéticas e não há como fugir delas. Uma parcela das crianças, no entanto, fica doente porque vive nos dias de hoje. Estresse, violência, excesso de informação, falta de tempo para o lazer, entre inúmeros outros fatores típicos das grandes cidades neste início de século, tornaram-se os grandes vilões dessa história. Não estranhe, portanto, se encontrar uma criança de 6 anos com enxaquecas constantes. Ou uma de 4 com colesterol alto.
As crianças de hoje não têm tanto espaço para fazer exercício - e o sofá acaba sendo o lugar preferido da casa. Também não querem trocar bolacha recheada por maçã. Ou seja, obesidade e sedentarismo, velhos conhecidos problemas dos adultos, estão invadindo o universo infantil. Descubra aqui como deixar seu filho longe dessas "doenças de adulto".
Depressão infantil
Sim, criança também tem depressão. E nem sempre é fácil perceber o problema nos pequenos. "Sintomas como hiperatividade, excesso de agressividade ou apatia podem ser um sinal de depressão", declara Lee Fu I, psiquiatra do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Os tempos modernos têm ensinado aos nossos filhos coisas que eles só viriam a aprender quando adultos", diz Lee. Hoje é comum ouvir crianças dizer que estão ansiosas por causa de uma prova ou estressadas com o excesso de atividades. A violência urbana, perdas significativas como a separação dos pais e até o nascimento de um irmão também podem desencadear a depressão na infância. Fique atenta caso seu filho tenha mudanças súbitas de humor, falta de interesse em atividades antes prazerosas, perda de atenção, distúrbios alimentares e do sono, tiques, forte irritação ou amargura. O tratamento deve priorizar a terapia de família, a individual ou ambas. "Criança também toma remédios ansiolíticos, mas o ideal é que seja por um curto prazo", explica o psiquiatra Eduardo Szaniecki, da Clínica Tavistock, em Londres.
Colesterol alto
A herança genética é a principal causa desse problema. "No ambulatório do Instituto da Criança já atendemos crianças, com menos de 1 ano de idade, com níveis de triglicérides impossíveis de serem dosados, tamanha a concentração", conta Ary Lopes Cardoso, médico responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Esses casos são raros, mas existem". Além da genética, a obesidade não é a única responsável pelo aumento das taxas. "As estatísticas mostram que apenas 10% das crianças obesas atendidas no ambulatório possuem colesterol alto", diz Ary. Mas ele pode ser agravado pelos maus hábitos. "Crianças que comem alimentos ricos em gordura saturada e não praticam exercícios físicos vão, com maior chance, apresentar aumento nos níveis de colesterol alto e triglicérides", declara Ary.
Enxaqueca
Aquela dor latejante que começa em um dos lados da cabeça e costuma vir acompanhada de náuseas, vômitos e dor abdominal não é exclusividade dos adultos. Crianças também sofrem de enxaqueca e o excesso de atividades é acusado de ser o grande culpado do problema. A agenda dos pequenos vive lotada de atividades físicas, cursos de idiomas, música, balé, judô, teatro e circo. "Estudam de manhã e, à tarde quando poderiam brincar, realizam um monte de tarefas", diz o pediatra Glaucio José Granja de Abreu. A solução , segundo Glaucio, seria diminuir o ritmo e as responsabilidades da garotada. O tratamento é planejado de acordo com a freqüência, a intensidade, a duração da dor e o grau de limitação das atividades nos momentos de crise. Há medicamentos indicados para a fase aguda, mas é necessário fazer tratamento profilático para controlar o problema.
Obesidade
Muito fast-food, poucas frutas e verduras; muito sofá, televisão e videogame, pouco exercício físico. Combinações como essas, você já sabe, são apontadas como as grandes responsáveis pelo aumento de crianças obesas em todo o mundo. Segundo estudo do Centro de Adolescência da Unifesp, em parceria com o Núcleo de Qualidade de Vida da Universidade São Marcos e com o ILSI- Brasil (Instituto Internacional de Ciências da Vida), só no ano de 2004, a cidade de São Paulo registrou 8.000 crianças, de 10 a 15 anos, com obesidade infantil - 23% da população dessa faixa etária. No ano de 2003, em Florianópolis, 22% das crianças entre 7 e 10 anos apresentaram excesso de peso. Em Santos, eram 33% das crianças de 7 a 10 anos, no ano de 2004, e em Natal, na mesma época, 32% das crianças entre 7 e 14 anos estavam acima do peso. "Hoje em dia, elas não brincam mais na rua e só vão à escola de carro. Ingerem a mesma quantidade de calorias, mas não gastam o que comeram. É lógico que vão engordar", afirma Ary Lopes Cardoso, médico responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. O grande problema de engordar na infância se deve ao fato de que nos primeiros anos de vida, as células de gordura estão se multiplicando. Isso significa que a criança terá mais depósitos de gordura para serem preenchidos quando se tornar adulta. "O simples fato de se tornar gordinha na infância já carimba na criança a possibilidade de cerca de 50% a 60% de chance de vir a ser obesa na idade adulta", explica Lilian Cardia, especialista em Nutrição Materno-Infantil pela Unifesp. O tratamento na infância não é fácil. "A restrição de consumo é necessária. Ninguém pode comer o que quiser e quando quiser", diz Lilian. É o que se chama de reeducação alimentar.
Diabete tipo II
Ela sempre foi conhecida como um problema típico de adultos com mais de 40 anos, obesos, sedentários e com histórico familiar da doença. " Há alguns anos, praticamente não existiam casos de crianças com esse tipo de diabete. Hoje, apesar de raros, já começam a despontar", diz o endocrinologista pediátrico Durval Damiani, presidente do Setor de Diabetes do Jovem da Sociedade Brasileira de Diabetes. A razão? Dieta inadequada, rica em alimentos calóricos, a falta de exercícios e, conseqüentemente, a obesidade. Tudo isso associado a uma predisposição genética. Nesse tipo de diabete, o organismo produz insulina, mas as células se tornam resistentes à sua ação. Em geral não é preciso tomar medicamento, mas é imprescindível fazer um controle rígido da taxa de glicose, acertar a dieta e praticar exercícios. "Apesar dos fatores genéticos, é possível combater o risco da doença tendo uma vida saudável, com exercícios físicos e adotando uma dieta balanceada",