CRIANÇAS EM GUERRA!!!

[KATIA CEI]

Crianças em guerra


Não bastasse a nossa guerra civil não declarada e não assumida, corre uma outra em paralelo muito mais cruel.

A guerra que me apavora é a que vejo destruindo a educação apesar dos discursos, é a que vejo explodindo valores morais e matando em emboscadas nossos jovens, nas drogas, na ilusão de um corpo invejável em decorrência de anabolizantes, silicones e lipos baratas e clandestinas.

Fico horrorizada ao ver o número crescente de pais matando suas crianças, jogando-as em valas, bueiros, espancando-as, estuprando-as como se fossem um nada, tratando-as como não se deve tratar nem um inimigo numa guerra.

E não reagimos.

Dia após dia as crianças passam pelas páginas dos jornais vítimas dos mais variados crimes, o tempo passa e os nomes vão ficando para trás. Muitas nem sequer chegam a ter um nome, como o recém nascido salvo por uma cadela. Vez por outra clamamos por justiça (ou será vingança?).

Via de regra, existe um histórico de agressões, mas ninguém faz nada, ou quase nada, até porque deve ser difícil fazer num país que não tem condições de cuidar de suas crianças nem dentro da escola nem dentro de casa. Sabemos que são assediadas pelo tráfico, pela prostituição, pelo crime isento de pena legal.

Um dia as crianças crescem e de vítimas podem passar a agressores e então matam seus pais, chacinam uma família inteira por uma bobagem, destroem suas vidas, se é que estas já não tinham sido destruídas lá atrás na tenra infância.

Talvez tenhamos que encarar o assunto mais seriamente ainda e pensar se o erro maior é deixar que estes anjinhos venham ao mundo em famílias despreparadas, desestruturadas, sem condições para criá-los, em meio à pobreza material ou à pobreza de responsabilidade decorrente de uma “ficada” sem compromisso.

OK, não podemos generalizar todos os casos, nem é minha intenção, mas numa época de tolerância zero para bebidas e velocidade, será que não podíamos pensar um pouquinho em tolerância zero para agressões familiares? Será que não poderíamos ser mais rigorosos com quem maltrata intencionalmente uma criança pequena e indefesa, que a abandona?

Se é crime beber dois copos de cerveja e dirigir por colocar a sociedade em risco, deve ser crime também espancar brutalmente um nenezinho recém nascido, ou atirá-lo numa lixeira, ou jogá-lo num lago, ou... desculpem o desânimo, mas parece que a crueldade humana não tem limites.

O presidente Lula quer tolerância zero para o descumprimento de leis ambientais, o que está correto.

Eu gostaria de um programa de tolerância zero para com a destruição de nossas crianças, medidas que evitassem a sua precária educação fundamental, que diminuissem as agressões, o abandono, a criminalidade.