IKÚ E A ANCESTRALIDADE

[Maria Helena dos Santos Alves]

                                             IKU E A ANCESTRALIDADE

 

      Em yorubá, Ikú é a representação coletiva dos ancestrais, ou sejaa, é o orixá que simboliza a Morte que, concebido como homem, é um símbolo masculino. é Irunmalè, um ebora dos grupos dos "filhos". Como eles, é um guerreiro representado por um òpá, o Kùmòn, símbolo que faz parte dos emblemas do Obalúaiyé. O Kùmòn é um maço de cerca de 30 centímetros de comprimento, às vezes com a cabeça talhada, que pode ser maciça ou apresentar vagamente a forma de um crânio. É um emblema poderoso e perigoso, pois serve para matar.

     Ikú é uma entidade  dotada de significado específico e próprio possuindo existência e natureza próprias.. Não fica num lugar fixo, mas roda em torno do mundo para realizar seu trabalho.

     Ikú está profundamente associado ao mito da gênese do ser humano e à terra.

    "Quando Olórum procurava matéria apropriada para criar o ser humano, todos os ebora partiram em busca da tal matéria.  Trouxeram diferentes coisas: mas nenhuma era adequada.  Eles foram buscar a lama, mas chorou e derramou lágrimas.  Nenhum ebora quis tomas da menor parcela.  Mas Ikú apareceu, apanhou um pouco da lama e não teve piedade do seu pranto.  Levou-o a Olódùmarè, que pediu a Òrìsàlá e a Olúgama que o modelaram e foi Ele mesmo quem lhe insuflou seu hálito.  Mas Olódumarè determinou a Ikú que, por ter sido ele a apanhar a porção de lama, deveria recolocá-la em seu lugar a qualquer momento, e é por isso que Ikú sempre nos leva de volta para a lama."

      Ikú restitui à terra o que lhe pertence, permitindo, assim, os renascimentos e, desse ponto de vista, Morte é um instrumento indispensável de restituição e um símbolo importante.

      Todo renascimento está relacionado aos ancestrais que são a garantida da continuidade, evolução e prosperidade.  A própria vida no àiyé depende deles.  A terra, a Igbá-nlá, a grande cabaça, ao recebê-los restitui sua capacidade genitora e, fecundada pela água-sêmen, converterse-á no "ventre fecundado" de onde tudo nasce e se expande tanto no aàiyé como no òrun.

      Os òrisá são massas de movimentos lentos, serenos, de idade imemorial, dotados de um grande equilíbrio necessário para manter a relação econômica entre o que nasce e o que morre, associados, portanto à justiça e ao equilíbrio.

      Devemos novamente insistir no fato de que para o Nàgô, a morte não significa absolutamente a extinção total, ou aniquilamento, conceitos verdadeiramente que o aterram. 

     Morrer é uma mudança de estado, de plano de existência de status.  Faz parte da dinâmica do sistema que inclui, de forma evidente, a dinâmica social.  Sabe-se perfeitamente que Ikú deverá devolver a Ìyá-nlá, a terra, a porção símbolo de matéria de origem na qual cada indivíduo fora encarnado; mas cada criatura ao nascer traz consigo o seu orí, seu destino. Trata-se, portanto, de assegurar que este se desenvolva e se cumpra; a imortalidade, ou seja, o eterno renascimento, de um plano de existência a outro, deve ser assegurado.

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Trecho extraído e adaptado da obra de Juana Elbein dos Santos,

"OS NAGO E A MORTE".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[léa cristina]

Que lindo esse texto, belíssimo, nunca tinha ouvido falar de Ikú, amei, gostei dele da coragem e do não envolvimento emocional que tanto nos atrapalha em nossa caminhada. Muito bom, agradeço do coração por mais essa contribuição. Bj seu coração de Luz.