A dor suprema!

[ismael de almeida]

A dor suprema!

 

“Olhai por vós mesmos”... --- João.

Cada criatura retorna a Terra com a aflição que lhe diz respeito às lides regeneradoras.

Aflição que nos expressa o passado remanescente ou nos define o débito atuante na contabilidade divina. EMMANUEL.

 

Há muitos anos passados, em São Paulo, como profissional da área de saúde, eu prestei serviços gratuitos, na Casa Infantil ASILO ANJO GABRIL e CASA DE DAVID; instituições filantrópicas sem fins lucrativos.

Não saberia dizer se estas casas de caridade ainda existem no presente.

O que ficou gravado profundamente na memória e no coração foi a DOR SUPREMA que presenciei e vivi na CASA DE DAVID.

Lembro-me de um imenso pavilhão, com dezenas de centenas de crianças e adolescentes, que mais pareciam rebotalhos humanos, do que propriamente seres humanos.

O pavilhão abrigava em leitos pobres esses simulacros de gente.

Crianças sem braços e sem pernas, crianças que mais pareciam pedaços de carne viva, disformes, retorcidas, estropiadas, dementes, todas semilúcidas ou em estado vegetativo, num quadro dantesco, centenas delas inconscientes, rostos monstruosos, que lembravam duendes, ou seres de outro mundo.

Tudo era assustadoramente horripilante. Sabia-se que eram seres humanos e vivos, pelos olhos, que denotavam que havia vida, mas ao mesmo tempo parecia “não haver vida”, tão grande era a dor daquelas criaturas.

Sobretudo o que chamava a atenção era o MAU CHEIRO daqueles corpos, não por falta de higiene, por que a higiene era rigorosa, a mesma conhecida nos hospitais.

Também impressionava o olhar apagado, suplicante, indiferente, resignado ou revoltado, daquelas pobres almas aprisionadas num leito de dor.

Em algumas crianças o olhar estava distante, perdido num passado nebuloso, com quadros que só elas vivenciavam. Outras, não tinham luz no olhar, como se fosse só escuridão.

Só quem conheceu a CASA DE DAVID, pode avaliar o que seja a DOR SUPREMA, do ser humano, despojado de tudo na existência, até mesmo de um corpo físico normal.

Conheci em hospitais onde trabalhei como cirurgião --- sou cirurgião dentista com especialidade em cirurgia hospitalar --- pacientes com câncer terminal, que queriam viver; pacientes que queriam morrer, desiludidos da vida, suplicavam a morte como refúgio de sua dor.

Mas nada tão impressionante, e marcante como na CASA DE DAVID, onde a alma afundou no pântano do extremo sofrimento, que torna apagado os horrores do Inferno de Dante, e o ABISMO do médium RANIERI, narrativas muito mais dolorosas, do que os OVOIDES de ANDRÉ LUIS.

Não pode haver inferno pior, do que um ser humano num corpo retorcido, em estado vegetativo, com a existência condenada, sem a menor possibilidade de cura.