Sabemos que os sonhos são mensagens do inconsciente, mas fico me perguntando até que ponto a mente humana consegue retratar uma situação, uma cena, um ocorrido, que em sã consciência sabemos e até juramos jamais ter vivenciado tal passagem?
Muitos pesquisadores e autores renomados, foram tão profundos em suas pesquisas e teses sobre este assunto, que conseguiram trazer para a vida contemporânea, um leque de possibilidades que se abre diante de nós.
Quando cursei Pedagogia, passava noites debruçada em meio aos livros de psicologia, sociologia, filosofia dentre muitos outros de minha área que me deram um bom embasamento teórico.
Na teoria de Freud, encontramos o conceito de inconsciente e pelo qual o autor se refere como sendo “ quarto de desejos”, ou seja, dos nossos desejos mais íntimos e reprimidos, que jamais ousaríamos comentá-los a quem quer que seja.
Já para Jung, este mesmo conceito fala de um mundo que é uma parte tão vital e real da nossa vida, quanto é o mundo consciente e meditador do ego.
Os símbolos e os meios de comunicação com este mundo se processam por meio dos sonhos.
Mas e aí, como realmente podemos interpretar um sonho, se cada um seleciona inconscientemente seus símbolos para seu propósito?
Assim podemos falar dos sonhos como um estabelecimento de comunicação direta com si próprio.
Portanto, a interpretação dos sonhos é pessoal e particular, assim como também sabemos que esses símbolos ou arquétipos são comuns a toda humanidade, e é isso que Jung chamava de inconsciente coletivo.
Refletimos um pouco sobre tal teoria.
Tudo que eu sei você sabe e tudo o que você sabe eu também sei, isso se tornaria uma grande bola de neve que juntaria todas as mentes em uma única, consegue imaginar a grandiosidade deste fenômeno?
Seria como se todos estivéssemos conectados de uma só vez a grande mente universal, ao todo que tudo sabe e que tudo vê, interligados e conectados à uma grande teia cósmica e que podemos até mesmo apelidá-la de MATRIX.
NA MITOLOGIA
Segundo Jung, os mitos são expressões simbólicas de dramas internos, inconscientes, que revelam a natureza da psique. Possuem uma visão mais profunda de caráter universal, estruturada por conteúdos dos quais são os motivos típicos da imaginação de todos nós.
Jung dizia também que a arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um, é a nossa liberdade de expressão, a sensibilidade, a criatividade, é a vida correndo nas veias.
Seguindo essa linha, podemos concluir de uma forma mais racional, que os sonhos são criações artísticas do inconsciente.
Nossa... sendo assim, posso afirmar que os meus sonhos, dariam ótimos livros ou filmes de ficção científica!
Bem seja lá como for, sempre procurei estar atenta às informações que chegam até mim por impulso, por sonhos, por premonição, por intuição ou mesmo por locução interior, porque sei que esses comandos interiores guiam-me com segurança em meus comportamentos, nos meus deslocamentos astrais e em minhas ações.
Mas se há ainda uma coisa que me intriga, são esses meus sonhos que se repetem e que vez por outra ocorre comigo desde criança. Um dos mais marcantes, foram os sonhos das ondas gigantescas, que parece ser bem mais um pesadelo do que propriamente um sonho. E que por alguma razão do meu inconsciente, encontro-me sempre diante de um mar muito calmo e que até me proporciona momentos de contemplação, do nada lá vem ela em minha direção levando tudo, limpando tudo, alcançando e submergindo até mesmo o pico de uma montanha ou de um edifício mais alto, é evidente que me ponho a correr como uma verdadeira atleta disputando a medalha de ouro na olimpíada e acordo sempre antes que a onda possa me alcançar, com o coração saltando pela boca e claro sem conseguir entender direito o significado desses sonhos, pois se para os psicólogos, terapeutas e interpretadores de sonhos a água tem relação direta com as emoções.
Em meu caso, haja emoção pra tanta água!
Essa onda gigantesca, acompanha-me em meus sonhos, pelo que posso recordar aproximadamente desde os meus dez anos de idade.
Vocês conseguem ter noção de como saí do cinema ao assistir a pouco tempo atrás o filme 2012?
Sabem aquela cena da onda colossal carregando aquele pequeno navio?
Pois posso afirmar a todos que ela saiu diretamente do meu sonho e foi parar exatamente neste filme.
Não... vocês não podem imaginar como saí daquela sessão!
Foi como se eu tivesse plasmado o meu sonho de tal forma, dele conseguir sair de mim e se projetar na tela.
Além de me sentir completamente abobalhada, senti-me uma perfeita idiota por ter perdido a grande oportunidade da minha vida, de eu mesma ter escrito um filme como este, afinal aquelas cenas já me eram familiares a muito tempo!
Já imaginaram poder levar os créditos pelo filme?
E o que é pior, procurem imaginar a possibilidade perdida de embolsar toda aquela quantia em dólares, gerado pela criação e apresentação de 2012.
Com certeza quem escreveu este filme, deve ter tido os mesmos pesadelos que eu.
Dói muito mais ainda em saber, que o autor foi bem mais rápido e esperto que eu e conseguiu transformar seus pesadelos em um magnífico e lucrativo sonho de milhões e milhões de dólares.
Idiota sim... mil vezes, quem sabe assim eu aprenda de vez e acredite mais nessa força estranha que vem me acompanhando e que me impele a escrever.
Hoje, estou aqui para relatar e documentar um sonho o qual venho tendo à aproximadamente pouco mais de um ano e que vem ganhando mais corpo e mais sentido pra mim a cada vez que ele se repete. Sinto que esse é o momento de revelá-lo, pois sonhei novamente na noite anterior e por estar nítido demais, devo aproveitar a oportunidade. É relevante que eu diga que esta já é a quinta vez que tenho este mesmo sonho.
Tenho certeza de que daria um excelente filme de ficção científica!
Caso alguém veja esse relato na telinha do cinema, já sabem que fui eu que sonhei primeiro, e até agradeceria e daria uma boa porcentagem a quem indicar ou tiver contato com um bom produtor de cinema, favor me avisar!
Criatividade inconsciente um tanto que persistente à minha, não acham?
Ou coisa de louco mesmo, vai saber!
Mas antes de contá-lo, gostaria de preservar um amigo, cuja presença chega a ser expressiva no sonho.
A visão que tenho dele é interior, mesmo porque não o conheço muito bem, apenas superficialmente, mas vejo nas entrelinhas de suas ações que é uma pessoa de nobres propósitos, de bom caráter e aparenta ser bastante sensível por demonstrar se importar com o próximo, contudo, sinto que encontra-se um tanto meio deslocado dentro de si mesmo, pois ainda desconhece a grande força espiritual que está latente dentro dele.
Tive este sonho pela primeira vez à aproximadamente uns três anos atrás, apesar de aparentemente ser um sonho qualquer até por mostrar-se um tanto confuso para uma compreensão e interpretação imediata, mas que na época já havia nele indícios de um perfil energético e espiritual muito forte.
De lá para cá, tive outros sonhos intrigantes e reveladores, que compunham outras situações com este mesmo amigo, por isso penso que consigo sentir sempre a mesma energia se manifestando.
Após esse espaço de tempo o primeiro sonho se repetiu dentro do mesmo padrão de conteúdos apontando sempre as mesmas cenas anteriores, porém sua energia já era perceptiva pra mim com mais intensidade do que na primeira vez que sonhei e só depois do sonho se repetir algumas vezes é que pude vir a conhecê-lo fisicamente.
Foi e é até hoje uma coisa inexplicável, pois assim que o vi pela primeira vez o reconheci de imediato. Sim o reconheci, mas num primeiro momento foi um reconhecimento por meio da sua presença energética a qual corresponde exatamente aos registros sutis demarcados nos sonhos anteriores. Após conhecê-lo pessoalmente, já tive o mesmo sonho por mais duas vezes.
E é justamente aí que entra a pergunta que não quer calar, por que sonhar várias vezes o mesmo sonho e qual é a mensagem de fato que seus símbolos estão tentando passar?
Por que essa persistência?
No mínimo podemos considerar algo que precisa ser analisado com um olhar mais atento, sei que parece um tanto utópico e principalmente visto que, pelo sonho ter ocorrido antes mesmo de sua presença física ter se manifestado à mim, mas enfim, pelo arquétipo que minha inconsciência conseguiu retratar e sabendo ser um ato puro da mente captado pelos meus fortes sentidos interiores, finalmente o reconheci.
Por essa razão, irei chamá-lo de MENSAGEIRO todas as vezes que tiver de demarcar sua presença durante o relato deste sonho. Por alguma razão, nas duas primeiras vezes que sonhei não pude visualizá-lo com clareza e sua identidade parecia estar envolta à uma névoa. Mas sua energia vibratória sim, esta ficou “escancaradamente” muito clara, talvez até por ter estudado estes fenômenos e entender que sempre entramos num estado alterado de consciência todas as vezes que dormimos.
Mas o que é importante nessa história toda são os "pequenos sinais", os encaixes precisos como seu perfil, altura, timbre de voz, seu próprio temperamento e a irradiação penetrante dos olhos, assim como toques muito sutis que foram acontecendo em meio ao caminho diário de nossa convivência que foram para mim as peças chaves e incontestáveis que faltavam para encaixar e poder completar esse quebra-cabeças.
Sua identidade, foi se definindo melhor e revelando-se à partir da terceira vez que sonhei.
Então...vamos ao sonho!!!
A noite caia rápido na pequena cidade costeira a qual me encontrava. Não me recordo de ter estado nesse lugar em qualquer época de minha vida. A noite estava com uma temperatura agradável, uma brisa suave, um cheiro de maresia perfumava o local, pois usava um vestido soltinho com pequenos detalhes em branco, azul e verde e calçava sandálias rasteiras, daquelas de amarrar até pouco acima dos tornozelos, coisa pré-histórica, só vendo!
Andava em meio às ruas da cidade iluminada pelas lojas comerciais que mesmo à noite encontravam-se abertas ao público. Havia um "ar" de festa, assim como no final do ano em que todos vão às compras de natal.
Mas não era natal em meu sonho, pois não tinha enfeites de árvores, bolas ou sininhos.
Havia um trânsito local até mesmo absurdo para o horário noturno, eu caminhava tranqüila, porém sem direção, ou seja, não me lembro que estaria indo para algum lugar específico, como uma casa ou uma loja por exemplo, apenas caminhava por entre as ruas, os edifícios, o comércio e os carros que formavam um pequeno congestionamento.
Tudo parecia normal, apesar da agitação e eu observava atenta o movimento do local.
Subitamente em questões de minutos, aquela temperatura agradável mudou de forma radical para um frio desconcertante, onde pude sentir um desconforto de imediato, devido ao fino vestido que trajava.Estava claro de que todos sentiram o mesmo que eu, fazendo com que as pessoas apertassem seus passos a fim de se proteger do frio que chegara de repente e que pegou a todos de surpresa.
Em seguida, os carros começaram a parar um a um, ocorreu um blecaute, onde todas as luzes se apagaram de uma só vez e fizeram daquela noite a mais terrível de todas que eu já havia presenciado, pelo frio impiedoso e pela escuridão que assombrou intrépido a todos.
Então senti que momentos de muita angústia e dor estavam prestes a chegar, que faria agravar ainda mais aquela situação inesperada.
Alguns minutos de silêncio e oração, roguei ao Pai por todos nós.
Foi quando uma chuva eletromagnética despencou torrencialmente sobre tudo, dezenas de raios caiam dos céus simetricamente um após outro, caiam como se fossem raios lazer de cores que mesclavam do azul ao violeta, como se fossem fios de navalhas cortantes sem emitirem som algum, notei que não era uma tempestade comum, pois não havia trovões, nem gotas de água.
Faíscas foram jogas do céu como setas certeiras, e como num efeito dominó caiam sobre prédios, lojas, carros, pessoas, criando um cenário de uma destruição avassaladora, pude sentir que era o fim de tudo.
Apesar de total assombro e desespero pela fúria da natureza que se impunha impiedosa sobre todos que ali estavam, corri na direção dos escombros onde muitas pessoas em pânico pediam por socorro na tentativa de ajudá-las, pois a cada minuto que passava aumentava mais o número de pessoas feridas em relação às poucas outras que estavam no auxílio, assim como eu.
Naquele desespero e correria consegui resgatar um garoto de aproximadamente uns oito anos de idade, arrastei aquele menino comigo até que tropecei diante de uma larga escadaria de mármore branco com ele em meus braços. Já todo machucado e quase sem forças ele segurou minhas mãos e pediu que eu sentasse junto a ele na beirada da escada e então sussurrou em voz baixa:
- Moça!
- Que bom que me encontrou, pensei que não conseguiria sair de lá nunca mais!
- Procurei não me mexer pois senti que minha perna estava presa em algo, mas não chorei, fiquei quietinho e pedi que Deus me enviasse um anjo para me tirar de lá, e então vi quando chegou forçando a entrada pela porta da cozinha.
- Deus me ouviu moça e me enviou você!
- Então... só pode ser para você que tenho de entregar uma coisa que achei e guardei comigo até agora. Estava guardada no meu quarto, numa mochila embaixo da cama, quando tudo começou a sacudir eu estava na cozinha, mas tive que voltar para o quarto para pegá-la.
Ele me olhou por alguns segundos, mas a sensação que tive é de que aquele olhar mergulhou no que havia de mais profundo em mim e senti nele uma gratidão sem igual, pela qual jamais havia experimentado antes.
Foi quando falou:
- Moça, não há mais tempo, olhe bem... tudo está sendo destruído, deve ir agora!
Disse o menino muito firme e seguro de si, apesar de tudo.
No fundo... bem lá no fundo, até pela delicada situação que se encontrava eu entendi o que ele queria me dizer. Mas eu não poderia descer sozinha aquelas escadas sem levá-lo comigo, olhei para trás e vi a devastação que se arrastava por todo canto, tentei puxá-lo mais uma vez para fazê-lo descer comigo aqueles degraus.
Pela força que fiz até cheguei a rasgar meu vestido, na tentativa de encorajá-lo a descer. Mas ele não quis...não naquele momento e pelo seu olhar eu compreendi que ele havia decidido ficar. Foram segundos decisivos por parte dele que pra mim pareceu ter durado uma eternidade inteira.
A situação dele era bastante crítica, tentei confortá-lo e disse a ele que precisaria retornar para mais uma tentativa de resgate, mais alguém, só mais uma pessoa...que fosse!
Mas ele não me deixou ir, segurou firme minha mão e retirou de sua pequena mochila pendurada sobre os ombros, uma caixinha de aproximadamente uns 20 centímetros de diâmetro, colocou-a em minhas mãos, depois envolveu-as com suas pequenas mãozinhas.
E sussurrou, já quase sem voz:
- Vai moça...não há mais tempo de voltar para mais nada, o melhor que tem a fazer agora é não deixar que nada aconteça à você e também com esta caixa, por isso precisa ir, o mais rápido que puder e prometa cuidar dela como se fosse tua própria vida.
- Me promete moça, que não irá abri-la antes do tempo certo, que vai cuidar bem dela até o final, custe o que custar?
- Que não vai deixar que ninguém se apodere dessa caixa, pois a partir de agora ela é tua e está sob os teus cuidados!
- Não deixe que ninguém a destrua, que ninguém a danifique, que ninguém a tome de você...não deixe....não deixe, prometa!
Perguntei-lhe, o que havia dentro dela de tão especial para ele e para que zelar tanto por uma caixa, por que ninguém poderia abri-la?
O que continha naquela caixa, que não pudesse ser aberta antes do tempo e de que tempo estaria se referindo que o deixava tão aflito e ao mesmo tempo, tão empenhado em conservá-la?
O garoto repetiu por mais uma vez:
- Vá, antes que seja tarde, desça essas escadas, você precisa ir!
Tudo aquilo não poderia estar acontecendo, não poderia deixá-lo lá daquele forma, argumentei, até mesmo implorei que viesse comigo dizendo-lhe:
- Venha garoto você consegue eu tenho certeza disso, eu te ajudo!
Persisti confiante, foi aí que ele concordou:
-Vá na frente, que irei logo atrás de você, ande logo, não há mais tempo...vai!
E desci correndo sem olhar pra trás com aquela caixa nas mãos, foi quando os raios já começaram a atingir alguns degraus, apertei meus passos e fui saltando de dois a três degraus de uma só vez, até chegar no último onde caí ao chão exausta e tremendo de medo. Notei que estava sobre areia, olhei em minha volta e já me vi num outro cenário, completamente diferente do alto daquela escadaria em que eu estava a pouco, senti a leveza da areia e notei que aqueles degraus apesar de tudo, haviam me conduzido para uma praia muito tranqüila, serena... o mar estava calmo, ali me senti segura pela primeira vez, olhei para o céu e suspirei aliviada e agradecida.
A sensação que tive era como se eu tivesse pulado de um sonho para um outro, ou melhor, parecia que eu acabava de sair de um pesadelo para entrar em um sonho, mas não!
Eu ainda estava lá, pois na lembrança de tudo o que havia se passado, ao olhar para trás a procura do menino que estaria vindo logo atrás de mim, não pude ver mais nada.
Ele disse que viria em seguida, acreditei nele, acreditei sim... pois no momento em que ele afirmava que viria, ele o fazia com convicção e uma pureza tão grande.
Como não acreditar em alguém com tanta pureza de coração e ainda mais, num momento crucial como aquele?
Mas ele não conseguiu e o que pude visualizar foi somente destruição e ruínas, nada além disso!
A escadaria ficou toda destruída, já não havia mais caminho de volta e lá no topo da escada o que ficou foi a lembrança de uma cidade inteira em escombros. Exausta, abatida, inconformada com um buraco imenso dentro do peito, sensação estranha por ter perdido aquele menino, por não ter conseguido trazê-lo comigo apesar de todo o meu esforço, assim como também por todas aquelas pessoas que lá ficaram, por todas aquelas vidas aniquiladas, chorei... como nunca havia chorado antes, olhando aquela caixa em minhas mãos, minhas lágrimas escorriam sobre ela.
Sentia-me completamente sozinha, diante daquela imensidão esverdeada do mar, sentada na areia, mergulhada nas lembranças procurei me recompor, observei e estudei cada pedacinho daquela caixa, tentei descobrir o que havia dentro dela, sacudi, virei, revirei-a e parecia não haver nada lá dentro,não fazia nenhum barulho, estava tão vazia, tal qual eu me sentia.
Pensei, que tolice a minha!
Ser a guardiã de uma caixa fechada, vazia e trancada por uma fechadura comum, apenas porque um menino que nem mesma cheguei a saber seu nome, me pediu!
Por outro lado, como não cumprir a promessa que lhe fiz, como trair a integridade e a determinação que continha naquele pedido?
O que seria de mim?
Para onde eu iria?
Qual o sentido de eu estar ali, se já não havia mais nada?
Fitei o mar, comunguei com toda aquela energia, olhei para a esquerda, depois para a direita, estava só e me perguntava, qual direção deveria tomar?
Nesse momento o mar soprou uma brisa restauradora em meu rosto e brincou com meus cabelos como estivesse me fazendo um carinho e entendi essa linguagem como se fosse um novo alento pra mim, resolvi então seguir o toque que a natureza estava me sugerindo.
Caminhei lentamente na direção do vento, era como se ele tivesse me empurrando, me guiando, me encorajando a prosseguir adiante, naquele instante o vento seria o meu guia.
Caminhei por muito tempo... me perdi no tempo, um tempo que não mais existia, um tempo que eu sabia, que era apenas uma ilusão distante!
Prosseguia na direção da brisa e perguntava a mim mesma, para que sobreviver a um caos como aquele?
Para que ser a zeladora de uma caixa vazia?
Já não havia nada que pudesse exercer sobre ã caixa algum sinal de perigo?
Se não...eu mesma!
Qual era o motivo da minha existência, por que eu estava naquela situação?
Qual a finalidade de prosseguir só e para que?
Por que arrancaram tudo de mim, de uma só vez?
Caminhando em beira mar, sentindo a água massageando meus pés, senti que naquele momento, naquele cenário já não fazia mais frio, parecia estar em outra realidade, no coração trazia um aperto, uma saudade de tudo aquilo que deixei para traz, senti até mesmo uma revolta por aquele menino não sair do meu pensamento.
Fui deixando o vento me levar, a água do mar me acalentar até que tive um impulso, uma vontade de jogar aquela caixa ao mar para que as ondas a levasse de mim, levasse toda aquela angústia pra bem longe de mim, aperto, angústia, saudade... que me fazia chorar.
Mas não tive coragem, afinal aquela caixa era tudo que havia restado e que trazia comigo.
De repente, lá bem distante notei que se aproximava como que um vulto em movimento, à noite estava escura e quase não havia estrelas, mas tive a impressão que algo parecia vir em minha direção, senti uma ponta de esperança, será que mais alguém havia sobrevivido aquela tragédia?
Meu coração bateu mais forte, alguém estaria perdido assim como eu?
Instintivamente meus passos ganharam um novo impulso, e assim que aquela figura se aproximava mais e mais, pude ver sutilmente o perfil de alguém criando forma, bem ali... logo mais a minha frente e bem diante dos meus olhos...
Graças ao bom Pai, senti um alívio e a certeza de que não estaria mais sozinha!
Novamente olhei o mar, enchi o peito com a brisa da maresia, fiz uma reverência às forças guias do vento por terem me levado naquela direção.
Alguém se aproximava sim...com passos firmes, mas algo estava errado, senti a presença de alguém muito forte, mas não pude enxergá-lo nitidamente.
Sua figura, parecia estar nebulosa, turvada, inconstante.
Ao chegarmos mais perto, pude sentir toda a energia vibratória que vinha dele, algo dizia que aquela figura me era familiar, mas como não tinha uma forma clara e definida, como poderia estar sentindo-o e reconhecê-lo prontamente apenas por sua presença energética?
O que pude ver e sentir de imediato foi apenas um perfil magnético, a sua essência sem forma mas que ao mesmo tempo tornava sua vibração e presença muito significativa.
Tive um forte impulso por abraçá-lo, mas ele pareceu esquivar-se. Ao pronunciar algumas palavras, também me deu a impressão que sua voz não me era estranha, eu já havia ouvido aquela voz antes.
Que dizia:
- Estou imensamente feliz por você ter conseguido chegar até aqui, está muito bem apesar de tudo o que passou, posso sentir isso, disse ele!
- Vejo que conseguiu trazer com você a caixa e agradeço por seu empenho e dedicação, é um grande mérito seu e também o que realmente importa para nós. Conseguiu trazê-la, fez a tua parte, agora eu devo fazer a minha e preciso de sua ajuda, por isso peço-lhe que venha comigo o mais rápido que conseguir, pois temo que se não agirmos rapidamente, não teremos mais tempo.
Indignada com sua aparente frieza, perguntei:
- Como assim, o que importa pra você é a caixa?
- Um simples objeto é o que importa?
- E nós...que estamos aqui agora, não temos importância nenhuma?
- Nada...assim!
- Tudo se acabou, tudo foi destruído, pessoas morreram, deixaram para trás seus sonhos, suas metas de vida, suas famílias e você só se preocupa com esta caixa?
- Eu não posso acreditar nisso!
- Esta é a grande piada do século!
- De que mundo você acha que veio?
- Isso não pode estar acontecendo, não é justo preocupar-se somente com uma caixa vazia e insignificante!
- O mensageiro, com voz bem firme, mas doce ao mesmo tempo, insistiu:
- Venha, temos que nos apressar, você consegue caminhar mais rápido?
- Sim, é certo de que eu consigo andar mais rápido, se me ajudar, pois assim como você precisa da minha caixa, eu também preciso da sua ajuda pois estou esgotada, sem forças!
- Consegue entender isso?
- Estou sem forças, o mundo que deixei para trás simplesmente acabou!
O mensageiro respondeu-me:
-Se ficar calma e tiver confiança em mim, logo saberá de todos os seus questionamentos e compreenderá porque estou agindo desta forma com você.
Me de um voto de confiança, eu preciso que confie em mim!
Caminhamos lado a lado por algum tempo, apressados porém calados sem dizermos uma só palavra, até chegarmos na ponta daquela praia imensa onde haviam muitas rochas, de todos os tamanhos. A praia estava deserta, havíamos só nós dois perante aquela imensidão azulada.
Contudo, ainda não fazia sentido pra mim, todo aquele auto controle por parte dele.
Parecia um robô, sem emoções, frio e calculista, tudo o que eu sempre abominei.
Sem dizer uma só palavra o MENSAGEIRO me pegou pela mão e me conduziu para a maior de todas as rochas em extensão e altura.
Puxou-me firme, a fim de me ajudar a subir, mas dessa vez fui eu a hesitar e resistir.
Notamos que o mar estava mais agitado que o normal e com isso ele insistiu que eu subisse rapidamente na rocha junto dele.
Ia subindo ligeiro à minha frente e me puxava, ajudando-me a subir.
Chegamos até o topo daquela pedra enorme e somente ao chegarmos em rocha firme, lá de cima, foi revelando-se lentamente e gradativamente pra mim.
Começou pelos olhos que antes eram apenas dois pontos luminosos, postado sobre aquela rocha, frente a frente refletiu-se através de meus olhos como um espelho e pela primeira vez pudemos nos enxergar de verdade.
Houve então um reconhecimento legítimo de ambas as partes.
Sim...dessa vez notei que ele se sentia mais seguro diante de mim, assim nos abraçamos e nos saudamos com tanta alegria por conseguirmos chegar juntos naquele momento, naquele lugar, naquele espaço no tempo.
A alegria de ambas as partes era imensa, parecíamos duas crianças brincando após um grande e tortuoso castigo.
Então... lembrei-me daquele menino e sentia a mesma pureza se cristalizar e se expandir diante de mim e em mim.
Foi quando juntos, percebemos que o mar já havia envolvido toda a praia e a grande rocha em que nos encontrávamos e estávamos totalmente ilhados pelas águas.
No céu havia duas luas que giravam em sincronia ao redor da rocha. Ele logo notou meu desespero, mas tentou me acalmar dizendo que aquele era o sinal que precisávamos e que estávamos no lugar certo e no momento exato.
Sentou-se ao chão no centro da rocha e me posicionou sentada à sua frente e pediu com um sorriso no rosto, para colocar a caixa entre nós dois.
Perguntei o que significava tudo aquilo?
Aquelas luas girando em torno da gente, junto com a maré cheia, que havia nos ilhado, mas ele parecia estar hipnotizado pela caixa, apesar disso ainda tentei lhe falar sobre o garoto, sobre tudo o que aquele menino havia me dito antes que eu descesse correndo escadaria abaixo e do comprometimento que firmei com o garoto em cuidar e não deixar que nada de mal acontecesse com a caixa.
Naquele momento eu queria uma resposta a qualquer custo.
Instintivamente ele até procurou me acalmar por mais uma vez, mas levei um susto ainda maior.
Nada mais fazia sentido, tudo estava fora do lugar e a concentração dele sobre aquela caixa, me deixava ainda mais atordoada. De repente, tochas de fogo saiam do mar e posicionavam-se em torno da rocha, circundando-a por completo.
Como poderia estar acontecendo aquilo?
Como assim!
Como o fogo poderia resistir sobre a água sem se apagar?
Pegou uma chave no bolso de sua camisa... uma chave antiga de cobre, toda trabalhada com os mesmos entalhes que enfeitavam a madeira em volta da fechadura da caixa.
Ele pegou minhas mãos e acomodou a chave com suavidade de forma que suas mãos acolhessem à minha que a segurava toda trêmula.
Novamente lembrei-me do menino, ao fazer o mesmo comigo quando me deu a caixa.
Da mesma forma que um educador procede ao pegar a mão de uma criança para ensiná-la a escrever.
Com seu olhar firme e confiante, disse:
- Agora temos que abrir juntos esta caixa em sincronia, assim como na dança das luas.
Gentilmente me fez colocar a chave na fechadura e a giramos no sentido horário para abri-la e antes mesmo dela se abrir, o mar e o céu agitaram-se de tal forma a criarem juntos dois grandes rodamoinhos, um no mar e outro no céu.
O céu foi se abrindo como uma fenda azul prateada e os raios que caiam, pareciam vir hora do céu, hora do mar. De dentro daquela fenda, um grande buraco jorrou sobre nós,
um tubo de luz que brilhava feito um diamante, formando uma espécie de espiral, que como um grande aspirador, foi envolvendo e tomando tudo o que havia ao nosso redor. As luas, os raios, o mar, o círculo de fogo e também a grande rocha a qual nos encontrávamos.
Tudo foi sugado para dentro daquele buraco e por mais que eu tente não consigo me lembrar de mais nada, depois de ter passado para o outro lado e o buraco ter se fechado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS;
Entendo que é um forte sonho de cunho espiritual, há nele vários simbolismos que é preciso serem revistos e analisados com mais detalhes, assim como no outro sonho,
( Uma viagem espiritual ), que já tive oportunidade de relatar e que também está à disposição dos leitores deste Blog.
O que há além do Portal?
Como compreender seus arquétipos?
Por que toda a aparente frieza inicial de meu amigo para comigo e justamente somente nós termos conseguido atravessar esta passagem juntos?
Para onde fomos, além do portal se não consigo ultrapassar em sonho os limites desta passagem?
Por : Lisa Teixeira
Fonte: Retirado do Blog: www.muraldecristal.blogspot.com
Setembro / 2010
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