AMOR E SACRIFÍCIO

[celia silva bezerra]

AMOR E SACRIFÍCIO

Clara era uma senhora que trabalhou muito durante a sua vida. Tinha uma filha a quem dedicava boa parte de seu tempo. No entanto, sentia-se cada vez mais cansada, e algumas vezes, pensava mesmo em desistir. O esgotamento tinha como causa o sacrifício que ela fazia para tentar ajudar outras pessoas, principalmente a sua filha, Vanessa.

Vanessa estava começando sua adolescência, e queria ter mais liberdade, como qualquer adolescente. Mas sempre que Vanessa desejava sair, se divertir, ou mesmo realizar algo que Clara não concordasse, ela batia o pé e proferia o mesmo discurso:

- Eu me sacrifiquei a vida inteira por você. Te criei com toda a dedicação e abdiquei de parte de minha vida por você. Agora você precisa seguir as minhas instruções.

A menina acabava por sentir-se culpada, e na maioria das vezes acatava as ordens da mãe.

Certo dia, a filha demonstrou interesse por começar a trabalhar, mesmo tendo 15 anos de idade, na condição de aprendiz, e disse que iria conjugar o trabalho com os estudos. A mãe não concordou e disse:

- Filha, você ainda é muito jovem para trabalhar. Você precisa ficar aqui em casa comigo e me ajudar em algumas tarefas do lar.

- Mas mãe, disse a menina, se eu arrumar um emprego, eu posso ajudar na parte financeira, você sabe que um dinheiro a mais seria muito bom para nós. E posso perfeitamente unir os estudos com o trabalho. Prometo não desviar dos estudos.

A mãe continuou sem concordar, e disse:

- Filha, a resposta é não. Você precisa me ajudar em casa, e quero você por perto. Não se esqueça o quanto eu me sacrifiquei por você.

A menina ficou muito revoltada, foi para o seu quarto e bateu a porta com força.

No dia seguinte, Clara resolveu conversar com um padre sobre o ocorrido. Explicou ao amigo que todos os sacrifícios que fez pela filha, assim como os sacrifícios que ela fez por outras pessoas a quem ajudou, foram todos por amor, e que agora a filha precisava entender isso.

O padre ouviu tudo e disse:

- Clara, acho que a sua história nos remete a três grandes lições sobre o ato de fazer por amor. São lições que devemos sempre observar para conviver de forma saudável com nossos entes queridos e amigos.

- Que lições são estas? – perguntou Clara.

O padre respondeu:

- Em primeiro lugar, vem a lição do amor e do sacrifício. Uma pessoa que se sacrifica pelo outro e faz isso por amor, não sente verdadeiramente um sacrifício em suas ações, pois se realizamos algo com amor incondicional, não há sacrifício: há apenas esforço, trabalho duro, superação, cansaço, mas nunca sacrifício. Quem ama e faz algo bom por que ama, não sente o sacrifício, mas sente suas ações como algo natural. Fazem por que amam e querem o melhor para o ser amado.

- A segunda lição é a do amor e da não-compensação. Quem faz algo por amor, jamais deve pedir compensações posteriores pelos seus atos. Caso contrário, pode parecer que a pessoa trabalhou duro esperando algo em troca, ou uma espécie de reparação pelo bem que tenha feito. Pedir uma troca pelos nossos atos de amor é um contra-senso, posto que, ou fazemos por amor e sem esperar nada, ou fazemos esperando algo em troca e não fazemos por amor.

- A terceira lição é a do amor e da liberdade. Quem ama o outro não tenta prende-lo de nenhuma forma, mas permite que o ser amado seja livre. Isso por que se amamos alguém, desejamos que essa pessoa expresse todo o seu potencial, e ninguém pode manifestar sua essência se for podado ou oprimido. De que adianta amar alguém e sufocar justamente aquilo que amamos nesta pessoa, seu jeito de ser e sua alma individual? Quem ama o faz sempre respeitando as escolhas individuais, e até mesmo permitindo que a pessoa cometa alguns erros a fim de aprender com as experiências da vida.

- Portanto, estas são as três grandes lições do amor. Pratique-as em toda a sua plenitude, pois dessa forma, você, sua filha e seus parentes estarão vivendo o amor em sua expressão mais sublime, e quem vivencia isto... está fadado a ser feliz.

Autor: Hugo Lapa