"Devemos ser a transformação que queremos no mundo"
Mahatma Gandhi
Aproveitando o ensejo da Páscoa, resolvi escrever sobre alguns aspectos desta oportuna temática, por conta da relevância do assunto que irei abordar e também para que todos nós educadores possamos refletir e trabalhar de maneira mais consciente, assertiva e produtiva com nossos educandos no que tange a abordagem da cultura da paz.
Também porque que muito de nós, nos consideramos cristãos e celebramos a data como sendo a Ressurreição de Jesus Cristo, depois da sua morte pela crucificação. Penso que mesmo que não sejamos cristãos, independente de posição religiosa, o tema é bastante interessante, porque nos convida a perceber alguns aspectos entre o mundo material e espiritual que negligenciamos no decorrer da vida.
Refletindo e ampliando a visão sobre o assunto, seria interessante utilizarmos um dos significados da palavra "ressurreição" que quer dizer libertação / renovação / transformação / renascimento e a simbologia do "ovo da Páscoa" que também tem um significado bem próximo e trabalharmos com nossos educandos com alguns conceitos importantes para o desenvolvimento da cultura da paz e não-violência ativa, como o "autoconhecimento" e a "autotransformação" que estão diretamente ligados ao desenvolvimento da paz no nível pessoal.
Sabemos que para mudar ou transformar algo ou alguma coisa, precisamos em primeiro lugar ter alguma espécie de conhecimento sobre o que se quer modificar. Não existe mudanças sem conhecimento, então para que nossos educandos vislumbrem um universo de esperança num futuro pacífico, faz-se necessário despertar e incentivá-los ao trabalho pela busca da paz pessoal (pacificação no nível pessoal), para que assim eles possam perceber e compreender a verdade sobre si mesmos e o mundo ao seu redor.
Além do orgulho e do egoísmo, um dos grandes problemas que prejudica a humanidade inteira e que dificulta o estabelecimento da paz, penso que é a ignorância, e neste mesmo sentido o pior de tudo, é a ignorância de si mesmo. Muito de nós não conseguimos enxergar um palmo a frente do nosso nariz, imagine boa parte e ou todo o universo ao nosso redor?
Como minha mãe sempre me dizia: "A ignorância é pior do que a guerra e a lepra", é claro que ela estava corretíssima em sua fala, porque este ditado popular é de uma verdade ímpar, pois quanto de nós nos equivocamos e agimos de forma desequilibrada, desrespeitosa e preconceituosa com os outros, conosco mesmo (por incrível que pareça) e com a vida? Justamente pela falta de conhecimento, em especial de si mesmo.
Para nos libertarmos da ignorância e vivenciarmos a paz, o autoconhecimento é um investimento imprescindível na vida de quaisquer indivíduos, pois ajuda a melhorar a auto-estima e a auto-imagem, a compreensão dos conflitos internos, a modificação dos pensamentos, sentimentos e atitudes, ajuda na ampliação da consciência e consequentemente na valorização da vida, fazendo com que nós possamos dar um sentido mais adequado para ela.
"Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses." Esta famosa frase atribuída ao famoso filosófo grego Socrátes é uma interessante chamada para nós buscarmos e seguirmos este valioso caminho. Nos dias de hoje, ela pode ser traduzida como: "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os segredos do universo e a maneira de agir e de se aproximar de Deus. Segundo Hanna Wolff, neste contexto, aproximar-se de Deus, significa conhecer e aproximar-se da verdade que se está procurando para orientar-se.
Mais adiante, o Grande Mestre Jesus contribuiu imensamente com esta proposta de autoburilamento, justamente porque convidou toda a população que viveu com Ele, para a busca da verdade de si mesmo e da vida, quando nos disse que "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Como a sua palavra era de libertação e iluminação, tornou-se uma proposta muito revolucionária para a época, indo de encontro aos interesses, à perversidade e à ignorância dos políticos e religiosos e de boa parte da população, que acabaram Lhes condenado à morte por crucificação.
Ao passo que Jesus não morreu para nos salvar, mas sim, renasceu para nos mostrar que a vida continua e que o amor, a verdade, a caridade e a paz são os caminhos da salvação, e é justamente aí que Ele assinala o ponto chave da questão proposta neste texto, revelando-nos que o homem deve buscar o caminho da humanização, ou seja, ele deve tornar-se um ser melhor e autenticamente humano em sua existência, de acordo com aquilo que pode e deve ser, coerente com as suas potencialidades.
Para compreendermos melhor este caminho, faz-se necessário conhecer melhor conceito de autoconhecimento do ponto de vista psicológico e educativo, que pode ser denominado como busca do conhecimento de si mesmo; busca pela identidade interior. Sendo assim, a partir do momento em que o homem (o educando) desperta para a necessidade dessa busca interior, inicia-se uma verdadeiro caminho (jornada do herói) em sentido vertical rumo à evolução do seu ser em sua verdade, autenticidade, autonomia e independência.
A Pedagogia da Autonomia e da Libertação neste contexto, orientada pelo grande educador Paulo Freire, pode ser uma fonte segura de estudo para nós educadores que queremos despertar nossos educandos para uma vida mais (auto) crítica, ética, justa, amorosa, autonôma e responsável.
Aprofundando um pouco mais esta questão, ainda segundo Hanna Wolff, o compromisso com a vontade, a coragem do encontro consigo mesmo, a consideração com príncipios e valores, o exercício (agir na prática), a disponibilidade, a responsabilidade, a segurança, o tempo, a paciência, a abertura e a consciência receptiva, são características fundamentais para quem busca trilhar este caminho.
Seguramente, é um exercício que pode ser implantado e orientado na escola pelos educadores, no sentido de desenvolver a percepção dos educandos em sua multidimensão para os aspectos mentais (cognitivos), emocionais, físicos, psicoespirituais, sexuais, intuitivo e sensitivo para que eles possam assim, ampliar a consciência de si e do mundo.
Por experiência própria, posso dizer que autoconhecimento e em especial, a necessidade de transformação, não são experiências das mais fáceis, porque temos que seguramente enfrentar a nós mesmos, nossas sombras, projeções, identificações, equívocos, distrações exteriores, complexos, ilusões, fantasias, massificação e as nossas paixões inferiores.
Como nem sempre é fácil se ver e aceitar-se como se é, temos muitas dificuldades de assumir a responsabilidade para transformar-se. Mas, apesar do sofrimento que poderá causar, o autoconhecimento é um caminho extremamente válido, porque acaba sempre nos impulsionando para uma vida mais honesta, autêntica, verdadeira e feliz (conosco mesmo e na relação com os outros).
Enfim, o tema é complexo, sabemos disso, porém nunca um impedimento para que todos nós engendremos esforços na busca pelo autoconhecimento como um propósito de vida e que com isso, sejamos capazes de nos libertar das nossas amarras intímas e sociais e desenvolver em nós mesmos a capacidade de libertação, renascimento, renovação e de transformação, não somente na Páscoa, mas em todos os dias das nossas vidas. Portanto, aproveitemos mais uma vez esta data, para revermos os pedidos do Cristo, para nos "libertarmos" da nossa santa ignorância e "renovarmos" nossas atitudes.
Boa Páscoa para todos!
Desconheço o autor....
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