Entendendo a Separação..

[José Carlos de Araujo]

Encontros e Separações

Ontem conversando com uma amiga, ela me contou sobre a separação de um casal que conhecemos, e isso desencadeou uma reflexão conjunta, sobre o que une, e o que separa os casais. Um pouco do que conversamos vou compartilhar com vocês. Primeiro vamos focar nossa atenção nas coisas que atraem duas pessoas e inspiram o desejo de proximidade. Platão, em O Banquete, diz que o amor erótico, o amor-paixão é um sentimento de carência, a sensação de que nos falta algo indefinível, é isso que movimenta o desejo de conquistar, possuir e não perder o ser amado. Já Aristóteles considera que o amor surge e se alimenta da atração sexual, e do desejo de sentir prazer, vivenciar o êxtase e a beleza. Sócrates por sua vez fala de um dos mitos que narram o nascimento do deus Eros. Reza o mito que quando Afrodite nasceu das espumas do mar, houve uma grande festa no Olimpo, todos os deuses foram convidados exceto a deusa Penúria. Depois do banquete terminado, a deusa Penúria apareceu para comer os restos da comida, as sobras da festa. Comeu sofregamente, pois estava como sempre, faminta. Terminada a refeição ela foi até o jardim, e de repente avistou Poros, o deus da riqueza, da esperteza e artimanhas, da abundância e da fartura, adormecido e deitado na relva. Logo se apaixonou e deitou-se sobre ele, e assim, concebeu Eros. Segundo Sócrates, por essa razão, Eros, o amor carente de sensações, se tornou um fervoroso amante do belo e um servidor fiel de Afrodite, a sedução. Como sua mãe a deusa Penúria , Eros, deus do amor, vive faminto e sedento, insaciável, e como seu pai Poros é belo e abastecido pela riqueza, a perspicácia,  criatividade, astícoa e prosperidade, onde encontra sempre recursos para realizar seus desejos, fantasias e anseios. Existe um outro mito que fala dos seres complementares, unidos num só corpo, o feminino e o masculino integrados. Esses seres, eram muito poderosos, e os deuses temendo esse poder, os separaram em duas metades. Desde então, essas metades se procuram buscando a antiga integração. Esse mito pretende dizer que buscamos no outro, o que nos complete, que nos faça recuperarmos o poder pessoal. Isso me parece um erro que cometemos frequentemente, deveríamos nos autoconhecer primeiro, nos sentir inteiros, para poder nos aproximar de alguém oferecendo essa inteireza, e não para suprir uma necessidade. Esse movimento não é amor, é projeção de carências, e nos faz criar expectativas dificilmente realizáveis. O poeta Mario Quintana escreveu: "Não precisa correr atras de borboletas, cuide do seu jardim que elas aparecerão". Situações e circunstancias também colaboram para aproximar ou afastar as pessoas, mas nunca podemos nos afastar de nós mesmos, do dialogo interior,fonte de revelações e descobertas. Na verdade a complexidade do amor e suas formas de se expressar é muito grande. Amar não é fácil, até porque o amor além de tudo, é capaz de imitar a si mesmo, As vezes, o que sentimos parece ser amor, e de repente percebemos que , não é amor verdadeiro, porém, uma solução de angustia. Resulta que para evitar a solidão, acabamos vivendo a pior delas. a solidão acompanhada, o tédio. Essa é a principal causa das separações entre os casais. No entanto as separações são sempre dolorosas, trazem consigo uma sensação de fracasso, de incompetência pra ser feliz e fazer feliz. Penso que apesar de sofridas,  as separações oferecem a oportunidade de recriarmos a nós mesmos. No lugar de lamentações  devemos fazer um balanço interior sincero, e depois disso, como a ave Fenix permitir nosso renascimento das cinzas. É comum dizermos, quando sabemos da separação de um casal: “ Para mim foi uma surpresa, eles aparentavam ser felizes”. Pois é, muitas vezes separar-se pode ser desistir de aparentar. Eu penso que ninguém se separa de repente. Passamos algum tempo nos separando, nos afastando aos poucos um do outro, e quando a ruptura acontece, é apenas a conclusão de um processo. Então, por que sofremos com as separações? Por vários motivos, alem das razões que citei anteriormente. O mais triste de uma relação deteriorada é que algumas pessoas optam pelo sofrimento, preferem ser vitimas do comodismo. e  viver amarguradas, envenenadas pela mágoa,  e destilando veneno  o tempo todo. Para essas pessoas é muito difícil aceitar o desgaste da relação...por isso, procuram justificativas alheias a esse fato, Na maioria das vezes quando um casal se separa, um dos dois atribui o desenlace a intervenção de uma terceira pessoa, uma traição. É quando o sentimento de rejeição. o ego ferido, a vaidade arranhada desencadeiam inseguranças, raivas e rancores.  Ao mesmo tempo, diante da separação nos fragilizamos e nos culpamos, ou procuramos culpados, mas o caminho não é por aí, a culpa não existe, o que existe é a consequência, o desgaste, a corrosão do amor. Penso que aquele que toma a iniciativa, e pede a separação demonstra coragem,  autoconfiança, e  fé na possibilidade de ser feliz. Não se trata de egoismo, nem de menosprezo pelo companheiro (a), mas de ousar despertar o parceiro do conformismo, e força-lo(a) a ver que o amor acabou, Sim, porque não há amor sozinho, é um sentimento bilateral, e quando termina,termina para os dois, embora nem sempre ao mesmo tempo. Em tudo na vida é importante estar atento aos sinais, aos detalhes, observar quem convive conosco, nossos próprios sentimentos. e procurar ouvir a voz silenciosa da alma, a intuição.  No amor como em tudo na vida é preciso saber e aceitar, que tudo está passando e se modificando...apostar no definitivo é perigoso porque a vida está em constante transformação, inclusive nós.

Marilu Martinelli