Entre os sacis e as Fadas
A magia dos vaga-lumes e pirilampos a iluminar as noites de campos e florestas
Valéria Fernandes, de São Lourenço-MG
15 de Dezembro de 2008
Num desses dias de primavera, uma chuva forte deixou sem luz a cidade. E aí eles apareceram como há muito tempo não faziam. Os vaga-lumes, pirilampos, piscavam por todos os lados. "Todos os lados", agora, são telhados de puxadinhos mal acabados e áreas cheias de entulhos, que substituíram os terrenos baldios cobertos por marias-sem vergonha e os quintais com pomares, hortas e roseiras. Situação típica da ocupação desordenada. De qualquer forma, naquela noite eles se destacavam na escuridão de uma cidade sem luz.
Pirilampos integram aquele grupo de seres mágicos, formados por fadas, sacis e duendes que habitam florestas encantadas. Afinal, como fadas, que voam, sacis, que correm numa perna só, e duendes, que desaparecem, os pirilampos também têm habilidade especial. São bichinhos que acendem e apagam. A diferença é que da existência deles ninguém duvida. Esses pequenos besouros integram um ecossistema, importante como qualquer outro, e estão ameaçados de extinção pelo excesso de iluminação artificial, poluição e desmatamento.
Os vaga-lumes usam a luz para atraírem parceiros e se reproduzirem, para se defenderem dos inimigos e para caçarem (alimentam-se de formigas, cupins e mariposas). De acordo com especialistas, o excesso de luz artificial à noite impede os animais de utilizarem sinais luminosos para se encontrarem. Mas, além disso, prejudica a visão da abóboda celeste, dificulta os estudos astronômicos, aumenta a falta de visibilidade e prejudica animais e plantas.
É por isso, por exemplo, que parques e jardins botânicos não têm iluminação noturna.
Em Portugal, o Parque Biológico de Gaia abre especialmente nas noites de junho para o público observar os pirilampos. Aqui no Brasil, os espetáculos protagonizados por esses insetos ocorrem, principalmente, na Amazônia e no Cerrado goiano. Lá, distante das luzes artificiais, pode-se ver os cupinzeiros luminosos. O fenômeno acontece entre outubro e abril quando as fêmeas, depois de fecundadas, depositam os ovos na base dos cupinzeiros e, à noite, acendem suas luzes para atraírem caça. Os campos se enfeitam, como que decorados por pequenas e inúmeras árvores de Natal. Infelizmente, porém, também esses locais são cada vez mais raros, já que as plantações de soja e cana se expandem sem qualquer controle.
Reação química
A produção de luz dos vaga-lumes é resultado de uma reação bioquímica e a presença de uma enzima chamada luciferase que tem sido objeto de pesquisas nas últimas décadas. Técnicas de engenharia genética estão sendo usadas para fazer com que bactérias possam produzir luz.
No início deste ano, o professor Vadim Viviani, do campus de Sorocaba (SP) da Universidade de São Carlos publicou um artigo no jornal "Photochemical and Photobiological Sciences" falando sobre os avanços obtidos com o estudo da estrutura genética desses insetos. Em entrevistas, o professor Viviani explicou que os genes das luciferases podem ser utilizados como biomarcadores luminosos, quando transferidos para uma bactéria.
Segundo ele, ao adquirir luz, a bactéria pode ser acompanhada dentro do organismo humano. Esse procedimento tem sido utilizado para testar o funcionamento de medicamentos, para detectar se há contaminação bacteriana em alimentos e para mostrar a evolução de células cancerígenas em modelos animais.
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