Diferente do que se pensa na Terra, vicissitude não quer dizer pagar por atos cometidos anteriormente vivenciando sofrimentos. O vocábulo vicissitude é definido no dicionário como “mudança ou variação das coisas que sucedem” (Mini Dicionário Aurélio). Portanto, a expiação consiste na mudança ou sucessões de acontecimento na vida de um ser e não no simples pagamento de uma pena.
Sendo assim, como expiar sem que os acontecimentos alterem-se constantemente? As variações dos acontecimentos (hoje está tudo de acordo com o que o ser humanizado quer, outro dia não) não são atos praticados por outros para feri-lo, magoá-lo ou contrariá-lo. É Deus, Causa Primária de todas as coisas, que comanda essas variações, pois elas são o fundamento da existência.
O ser que imagina que vem à matéria carnal para ter uma vida estável, ou seja, para passar apenas por situações que lhe são confortáveis, certas, justas, nega-se a expiar seus atos anteriores. Não cumprindo um dos fundamentos da encarnação, não alcança a perfeição, objetivo primeiro da existência carnal do ser universal.
O errado é uma vicissitude, uma variação do certo do ser, que deve ser vivenciada pelo espírito para alcançar à perfeição. Da mesma forma o sujo, o feio e o desarrumado são variações de limpo, bonito e arrumado e por isso são só vicissitudes e não ações praticadas por outros seres humanizados.
Todas as situações que o ser humanizado qualifica, portanto, espiritualmente falando não são atos praticados por outros seres, mas comandadas por Deus, Causa Primária de todas as coisas para criar a vicissitude necessária para se chegar à perfeição. Mas, mesmo materialmente falando, não podemos atribuir a origem das ações qualificadas por um ser humanizado como sendo provenientes de outro ser.
As qualificações que o ser humanizado vivencia durante a vida nascem das verdades individuais do ser. Ou seja, alguma coisa só pode ser considerada errada se houver um certo diferente do que está acontecendo. Este certo está dentro de quem está qualificando aquilo como errado. É, portanto, o padrão de certo que cria o errado...
Assim, se um dos objetivos da encarnação é passar pelo errado sem apontar erros, é necessário que o ser humanizado abandone os seus padrões. Enquanto eles estiverem presentes não haverá como se atingir à perfeição.
O espírito não vem à carne para atingir o gozo do seu querer, mas para amealhar bens no céu, ou seja, suportar as vicissitudes da existência material. Apegar-se aos conceitos (o que acha certo) como leis, cujo cumprimento é necessário para a felicidade é negar a existência da expiação.
Todas as situações de uma existência onde os desejos do ser não são contemplados, são uma vicissitude para ser suplantada com o objetivo de atingir á perfeição. O desemprego, a falta de bens materiais ou a ausência de saúde são instrumentos da elevação espiritual e não acontecimentos de uma vida que ocorrem motivados por outrem, pelo destino, pelo azar ou pela sorte. Portanto, o ser humanizado precisa vivenciar estes acontecimentos.
Reclamar deles, desejar que eles não existissem ou até mesmo orar a Deus pedindo a suspensão da expiação é negar-se a passar pela vicissitude que pode levar à perfeição. Aliás, se este é um dos objetivos da encarnação, quer dizer que um dos fundamentos da existência carnal do ser consiste-se nesse aspecto. Se não houvesse vicissitudes, ou seja, não houvesse variação do querer do ser, não existiria caminho para a perfeição.
Passar por essas situações mantendo a fé (confiança e entrega absoluta a Deus) é o caminho que leva o ser à perfeição. Foi para passar por esses momentos que ele veio à matéria carnal e, por isso, o Amor Sublime de Deus não deixará de causar essas etapas na sua vida. Não fazê-lo poderia proporcionar ao espírito a chance de acusar a Deus de não lhe ter dado o que precisava.
O Amor divino se apresenta na vida do ser humanizado justamente no momento em que Ele faz o que é preciso para que este ser evolua e não simplesmente dar o que ele deseja. Deus gostaria de contentar o espírito lhe dando o que deseja, mas sabe que esse caminho não leva à elevação espiritual (perfeição). Como um pai material, que utiliza todos os meios para que o filho compreenda a necessidade de fazer o que deve e não o que quer, Deus causa os acontecimentos que contrariam o ser (vicissitudes), pois sabe que isso é importante para o seu futuro.
Na verdade, Deus é obrigado a agir dessa forma não por desejo próprio, mas porque o filho reluta em buscar a sua elevação. Todas as vicissitudes nascem de um momento onde o ser buscou a sua satisfação individual e não amou a Deus acima de todas as coisas. Se o espírito não houvesse se apegado às qualificações que possui para as coisas em situações anteriores, ou seja, abrisse mão dos seus desejos, jamais o Pai teria que agora gerar uma vicissitude.
É Justiça Perfeita que dá a cada um de acordo com as suas obras. Todas as situações que o espírito não consegue alcançar a felicidade são causadas por situações anteriores onde preferiu buscar o prazer individual. Elas não nascem do desejo do Pai, mas da justa reação a um apego aos seus padrões em ações anteriores.
A perfeita compreensão sobre a vicissitude consiste-se, portanto, em entender que vivenciá-la não quer dizer passar por necessidades pura e simplesmente, mas viver alterações constantes na vida. Entender que estas alterações não são provocadas pelas pessoas, objetos, sorte, azar ou destino, mas são situações necessárias para a evolução de cada um. Não são penas impostas por um juiz, mas a ação de um Pai que é Justiça Perfeita e Amor Sublime.
Fonte: Espiritualismo Ecumênico Universal - www.meeu.com.br
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