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Hildegard von Bingen e a Visão do Divino

Hildegard von Bingen e a Visão do Divino

In Visão on março 22, 2010

http://www.youtube.com/watch?v=BQ4ihPx0Jo4

layout para: http://anjodeluz.ning.com/ por: Irecê

Margarethe von Trotta é a diretora dessa cinebiografia (clic no endereço acima para ver o trailer do filme) que conta a história de uma freira germânica, que viveu no século XII, conhecida por destacar-se em áreas tão distintas quanto a música, a filosofia e a medicina. O trailer está em alemão mas dá para entendê-lo…essa é a magia da imagem. Lendo o texto abaixo você entenderá o trailer melhor ainda, essa, a magia da palavra!

É comum pensarmos na vida monástica medieval como um lugar de penitências, ascetismo e, conseqüentemente, busca de isolamento do mundo. Em muitos casos era isso mesmo! Com isso, tendemos a esquecer que também era nos mosteiros da Idade Média que uma parcela significativa da herança cultural da humanidade estava abrigada. Não é surpresa nenhuma, portanto, que entre os muros dos monastérios dessa época tenha florescido algumas das mentes mais intrigantes da história da civilização ocidental. A freira alemã Hildegard von Bingen foi uma dessas mentes privilegiadas.

Hildegard nasceu em 1098, em Bermersheim, numa família de nobres germânicos. Sendo a décima descendente dos seus pais, aos oito anos ela foi oferecida a Deus como dízimo, em acordo com o costume da época. Hildegard foi entregue à Jutta de Spanheim, sua tutora que vivia reclusa no mosteiro de São Disibodenberg. É fato que naqueles tempos o envio de uma filha para uma instituição religiosa poderia ser, essencialmente, o cumprimento de uma promessa religiosa. Na prática, porém, ingressar num convento poderia ser uma oportunidade rara para uma menina de receber uma educação de qualidade. Além disso, a vida no claustro, a despeito de sua considerável rigidez normativa, libertava a mulher das obrigações associadas aos papéis tradicionais de mãe e esposa. Esta condição poderia representar uma chance única para uma mulher naquele contexto social desenvolver suas potencialidades intelectuais e criativas.

Foi assim, no confinamento do convento, que Hildegard aprendeu os rudimentos do latim, leitura e escrita; recurso que a permitiu iniciar sua brilhante jornada como filósofa e mística. No latim Hildegard escreveu o Scivias, abreviatura de Scito vias Domini, entre 1141 e 1151, com o auxílio do monge Vollmar, que sendo mais fluente nessa antiga língua a ajudou a colocar as idéias no papel. Nessa primeira obra de três volumes Hildegard narrava vinte e seis visões com riqueza de detalhes. Além da descrição das visões, o Scivias contém também a interpretação do significado das imagens que representam o que foi vislumbrado. A riqueza de sua narrativa mítica revelou um aspecto identitário fundamental de toda a produção intelectual de Hildegard, a relação Cosmos-Humanidade-Natureza como tema central. O caráter visionário do pensamento de Hildegard aparece não só no Scivias mas, igualmente, em outras obras como o Liber Vitae Meritorum, escrito entre 1158 e 1163, e o Liber Divinorum Operum Simplicis Hominis, escrito entre 1163 e 1173.

Os livros escritos por Hildegard deram-lhe o reconhecimento como autoridade em assuntos tanto religiosos quanto relativos ao comportamento humano e à natureza. Parte do entusiasmo das autoridades eclesiásticas com a obra de Hildegard vinha da necessidade de se combater o crescente interesse pela busca de explicações racionais para a experiência humana. A complexidade das descrições visionárias da obra de Hildegard possibilitaria leituras de toda ordem, inclusive não religiosas; mas a polarização entre os defensores do entendimento da fé à luz da razão e os da fé guiada pela verdade revelada acabou por colocar as visões de Hildegard no centro do debate, conferindo-lhe espaço privilegiado entre os últimos. Talvez por fé genuína, talvez por pragmatismo, Hildegard corroborou a idéia de que suas visões emanavam da vontade divina, o que favoreceu sua ascenção como pensadora e a distanciou de possíveis insinuações de heresia.

O ganho de importância obtido por Hildegard permitiu-lhe ocupar um espaço inédito para uma mulher na história da religião. Conhecida como a “Sibila do Reno”, ela atuou como conselheira, compositora e terapeuta; aparentemente, na sua visão, tais papéis eram incompatíveis com a subordinação ao mosteiro principal comandado por homens. Enfrentando uma série de conflitos com os monges, Hildegard funda dois mosteiros femininos: o primeiro foi o convento de São Rupert, próximo a Bingen, em 1152; o segundo ficava em Eibingen, já então ela era conhecida como Hildegard von(de) Bingen. Muito da ascensão social e intelectual de Hildegard foi propiciada pelo seu humilde discurso, alicerçado na idéia de que ela era apenas um instrumento da vontade divina. Esse discurso, entretanto, contrastava com a forma independente e assertiva com que ela liderava os mosteiros que dirigia e a sua própria atuação religiosa.

Hildegard von Bingen conseguiu algo espantosos para uma religiosa medieval: autorização para divulgar toda a sua obra visionária e para pregar em público. O prestígio que Hildegard alcançou estabeleceu a sua imagem de profetisa, e chegou ao ponto de levá-la oficialmente a dar conselhos tanto em questões do espírito quanto de política. Tamanho sucesso e independência, obviamente, gerou inveja e críticas não só de homens como de mulheres. Dentre as críticas feitas à Hildegard uma é bastante curiosa, trata-se do incômodo suscitado em outras freiras pela vaidade das monjas sob sua liderança, o que era perceptível na forma como elas se vestiam para as cerimônias religiosas: com os cabelos soltos, cobertos por longos véus de seda até o chão e adornadas com jóias de ouro.

Na opinião de Hildegard, para espanto das outras religiosas, a exigência de modéstia com a aparência deveria aplicar-se apenas às mulheres casadas para não desencadear o interesse de outros homens que não fossem seus próprios maridos. Em contraste, e em defesa da autonomia dos rituais realizados em seu mosteiro, Hildegard advogava que as monjas poderiam expressar livremente sua beleza e vaidade, pois não se encontravam comprometidas com nenhum homem mortal. A propósito, nos relatos da época Hildegard é descrita como sendo uma mulher de rara beleza!

Além do apuro estético associado à imagem das monjas, um outro aspecto dos ofícios nos conventos de Hildegard pareceu ao Imaginário medieval igualmente deslumbrante: a preocupação com a música. Hildegard foi uma compositora incansável e, segundo alguns estudiosos, em todo o século XII não há um autor sequer que tenha realizado um conjunto de composições tão diversificado quanto o da Abadessa de Bingen. A emotividade e intensidade de suas composições oferecem um contraponto à sobriedade da música sacra da época. As vozes femininas, especialmente complexas vocalizações de soprano, são as protagonistas de cantos caracterizados por amplas e inesperadas variações de tom; e o texto das músicas celebra o misticismo imaginal das visões de Hildegard. A narrativa mítica, a música e a poesia são os meios de expresão artística de Hildegard, mas não se encerram aí os talentos dessa mulher admirável. É nos compêndios de medicina que Hildegard revela seu lado afeito à natureza e ao pensamento científico.

Nos livros Physica e Causae et Curae, Hildegard revela o resultado de suas pesquisas sobre o uso terapêutico de plantas. A Abadessa de Bingen acreditava que humanos e natureza estão integrados, daí o seu interesse pela cura de enfermidades por meio dos recursos disponíveis no mundo natural, fossem estes vegetais ou minerais. O lado investigativo dessa grande freira germânica nos mostra mais uma das facetas de uma personalidade extremamente hábil, que com inteligência e perspicácia soube usar os recursos que dispunha para ocupar espaços inacessíveis para a maioria das pessoas e, até então, especialmente para mulheres. Como ninguém, Hildegard soube utilizar esses espaços mantendo-se ativa até a morte, aos oitenta e um anos de vida.

Nos relatos que fez de sua longa e fértil existência, a “Sibila do Reno” descreve a si mesma como alguém que desde a infância era capaz de ver o que ninguém mais via. Pesquisas recentes explicam essas visões como fruto de uma patologia, a enxaqueca! Cujas crises podem apresentar sintomas como a visão de raios de luz de diversas cores. Seja como for, talvez tão relevante quanto conhecer a origem das visões de Hildegard seja analisar a forma como ela conduziu o fato de ter as visões. Relevante destacar como a sua aparente acomodação aos preceitos dogmáticos – na função de profetisa visionária, cuja mente e corpo eram instrumentos da vontade divina revelada – não a impediu de estabelecer os próprios parâmetros de comportamento, fosse intelectual ou religioso, para si e para suas lideradas.

A visão de Hildegard, portanto, parece ir muito além da fonte de saber que emana dos céus. À sua maneira, de entender humanos e natureza como estando integrados, sua visão parecia enxergar o manancial de possibilidades que se abriga nas almas que se corporificam na terra. A visão de Hildegard, me parece, via sim o que a maioria de nós não vê: o quão divino podemos ser!

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