Por que temos tanto medo da morte? Parece que, de tanto se ouvir falar da morte (não de se discutir e se informar sobre ela) e do pavor que a mesma semeia sobre nossas vidas através dos tempos, a pergunta parece simplória e sua resposta poderia soar um tanto quanto óbvia. Mas, não é bem assim, pois envolve algo, senão tão misterioso quanto a morte, mas igualmente intrigante e presente em nosso mundo imaginário e sentimentos, que é a própria idéia ou medo da morte. Como lembra a frase de William Dunbar, “Timor mortis conturban me”, ou seja, “A idéia da morte me deixa morto de medo”, e o sentido do medo, às vezes, torna-se maior do que a própria morte.
Muitos são os estudiosos do medo e a maioria deles tem constatado que muitos dos medos podem se transformar em fobias, ansiedade e pânico, que podem ser analisados como estágios crônicos do medo, cujas conseqüências e repercussões são, normalmente, desastrosas e comprometedoras, por vezes, afetando nosso comportamento e personalidade e, conseqüentemente, influenciando nosso modo de viver.
Desmistificando o pensamento popular de que homem que é homem nem chora e nem tem medo, é inegável que todos tenhamos medo, assim como todos choramos. Muito embora, muitos o façam escondido e neguem tal fato, o que se caracteriza como sendo uma bobagem, pois rir e chorar sao consequencias de sentimentos e emoções inerentes ao ser humano. Por outro lado, negando o medo ou não, este é importante em nossas vidas, talvez, tanto ou mais do que a coragem e a bravura, seus antagônicos, desde que se manifeste como alerta consciente à sobrevivência e nos faça pensar melhor em nossas atitudes e suas conseqüências. Na verdade, se constitui em um estado emocional de alerta frente ao perigo, à ameaça, à insegurança e às incertezas, existindo como um mecanismo psicológico de defesa. Ao contrário, o medo da morte só traz angústia e ansiedade.
Vários têm sido os conceitos para o medo e, no final, parece que cada um deles apenas nos mostra uma de suas facetas, permanecendo assim, nas entrelinhas (como diria Lacan), muito mais do que realmente é e, adormecido ou sempre em estado de alerta, em nossos sentimentos e em nossa consciência.
Como os instintos necessários à sobrevivência, o medo também é uma das mais antigas emoções do ser humano que, embora não pareça, tem garantido sua existência e sobrevivência através dos tempos, possuindo grande importância no psiquismo e personalidade humana, a ponto de exercer enorme influência e determinações em seu comportamento. Pois é por meio do medo que o ser humano descobre o quanto é vulnerável através de suas fraquezas e incapacidades de enfrentar determinadas situações, transpor obstáculos e se manter isento de perigos. O medo é psicossomático e essa condição está intimamente relacionada às diferentes reações desencadeadas como respostas a este fenômeno que, diga-se de passagem, são várias e normalmente diferentes, de pessoa para pessoa. Nunca devemos esquecer, no âmbito Portanto, temos medo da dor porque ela “machuca” nosso físico e a sensação psíquica que temos é de sofrimento imediato. Por outro lado, o medo também “invade” nossas mentes e habita nosso emocional, manifestando uma dor mais lenta, porém mais duradoura, arrefecendo nosso corpo e desencadeando, inclusive patologias orgânicas. Pior ainda é se criamos o medo em nosso imaginário, antecipando “possíveis ilusões, traumas e dores psíquicas” para alguma coisa que nem sequer ainda aconteceu. Como vemos, o medo, quando em forma patológica, pode causar muitos problemas, de várias ordens, em nossas vidas.
Assim sendo, existe medo pra tudo no mundo e o que, a princípio, parece um desastre, logo se configura como sendo uma vantagem, além do que não podemos nos dar ao luxo de ter apenas um medo, porém vários. A lista realmente não é pequena e, evidentemente, dentre eles está um dos maiores medos da humanidade, a morte!
O medo da morte explica-se por si só, ou seja, pelo fator medo e não somente pelo fato da morte existir, mas pela constante e infindável ameaça que a mesma semeia sobre nós. Em segundo lugar viria o desconhecimento sobre a morte, responsável pelo constante temor do que ela representa e pelo seu eterno mistério desconhecido. Como se isso não bastasse para a aflição dos humanos, o medo da morte é rotulado também como sendo a origem e a evolução de todos os demais medos. Isso explica porque temos medo da separação, da distância e da perda de tudo que gostamos, necessitamos e nos apegamos, pois ao perdemos algo, alguém ou qualquer coisa que represente essa necessidade, afeição esse algo que já é parte de nosso ser, é algo que morre em nós, porém não antes da angústia do medo nos conduzir a esse fato.
Retomando a questão básica sobre o medo da morte, Kastenbaum diz, no seu livro Psicologia da Morte que “o medo à morte não deve ser cultivado nem tolerado: deve ser superado”. Se analisarmos melhor, veremos que esta não é uma frase de enfeito, porém um sábio entendimento, pois no dia em que superarmos o medo da morte, certamente a venceremos mesmo que continuemos a morrer. Podemos ver, finalmente, que uma das formas de se ter menos medo da morte é conhecendo o próprio medo e, em seguida, sabendo melhor quem e o que é a morte e qual a sua face.
Juarez Chagas / Professor do Centro de Biociências da UFRN
Você precisa ser um membro de Anjo de Luz para adicionar comentários!
Entrar em Anjo de Luz