Todo conto mítico encontra dentro de nós, no subconsciente, uma equivalência que busca justamente nos ensinar a nos conhecermos melhor.
O mito de Narciso dá origem ao narcisismo, uma questão ainda não bem entendida no meio comum e nas escolas.
Narcisista é descrito como a pessoa com excessivo amor a si mesmo e, portanto, incapaz de amar a outrem. No sentido esotérico à época e hoje na psicanálise moderna aprendemos justamente o inverso, ou seja, narcisista ou as pessoas extremamente vaidosas, orgulhosas, prepotentes ao extremo são justamente as pessoas que possuem um baixo valor de amor para si mesmo, qual seja, tem pouco amor próprio, não ama a si mesmo, e, portanto, não é capaz de amar a ninguém.
Comentamos anteriormente no texto sobre o “aumento das maldades nos dias atuais” sobre a velhíssima questão do orgulho, vaidade e prepotência que são a verdadeira fonte de todas as misérias humanas que acontecem diariamente no mundo.
Estes sentimentos têm na verdade origens básicas na falta de amor próprio suficiente para que a pessoa possa ser mais equilibrada e tenha segurança pessoal na sua vida.
As pessoas inseguras vestem normalmente uma carapaça de vaidade extremada atrelada ao orgulho e prepotência no trato com as demais pessoas. Estes modus comportamentais representam uma auto-defesa destas pessoas.
No estudo do esoterismo aprendemos que os narcisistas representam apenas uma alma com o desenvolvimento por demais infantil no psico-mental da consciência, não sabem realmente quem são de verdade e se apegam apenas ao à exterioridade, como aparência, dinheiro, poder, orgulho, prepotência. Podem aparentar pessoas muito felizes exteriormente, muitas vezes bem ricas, mas guardam um tristeza gigantesca de alma e insatisfeitas sempre culpam os outros pela sua própria falta de satisfação e felicidade na vida.
No conto mítico vemos que Narciso é incapaz de amar Eco, uma ninfa belíssima, figurando Narciso uma pessoa que não pode amar ninguém, quem quer que seja, porquanto ele não tem amor próprio, e sem amor nada tem para doar a outrem.
É triste vermos pessoas que buscam desesperadamente aprender a amar a si próprio como Narciso se mirando diariamente no espelho de água e não conseguindo de maneira alguma conhecer a si mesmo, então acabam vivendo apenas com os seus arquétipos criados para enfrentar a sociedade.
O amor é um sentimento humano de alma, a única característica que nos faz semelhante a Deus. Não é algo da mente humana que cria estereótipos da própria pessoa, como forma arquetipais de quem ele quer ser e sendo assim foge cada vez mais de quem ele realmente é e nada mais do que isto poderá ser.
Precisamos vigiar constantemente o que a mente humana cria, posto que o que o ser humano cria e tem criado, na maioria das vezes, é só bobagens por hora, mas está de acordo com a sua infantilidade psico-mental. Não se trata de crítica, mas de constatação do grau de desenvolvimento médio da atual humanidade.
Entretanto, vaidade não é somente algo negativo, é positivo também, desde que saibamos utilizá-la a nosso favor para que possamos desenvolver o nosso amor próprio, cuidando por exemplo de nosso corpo, ou cuidando com orgulho de nossas virtudes, as quais mesmo que poucas e enrustidas, existem em todos os seres humanos. Todavia, as virtudes, precisam ser compreendidas no sentido de serem desenvolvidas à bem dos outros em primeiro lugar, diferentemente do amor próprio que necessitamos desenvolver como sementes primeiro dentro de nós mesmos. Alguém que não tem amor dentro de si mesmo, nada tem a dar para outrem, a não ser vaidades, orgulhos, prepotências e arrogâncias que são usadas pelas pessoas justamente para que não sejam desmascaradas como pessoas que não tem amor próprio e que absolutamente não conhecem a si próprio.
Tudo que é exagerado, torna-se cego e adoece o ser humano. Cuide de ser vaidoso sim, mas a favor de outro. Cuide de ser vaidoso sem vaidades pessoais. E aprenda a se conhecer a si mesmo primeiramente, profundamente, para que possas desenvolver a semente do amor que frutificada poderá então ser oferecida em forma de rosas ao próximo.
Lembre-se que o ser humano só poderá doar aquilo que já tem dentro de si desenvolvido.
Por Atama Moriya, em 19-11-2009.
O conto mítico de Narciso
Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém, à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E, a sua perdição, foi justamente este desprezo que devotava às jovens.
Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada – com razão – que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.
Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia uma caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria… Mas não era possível – era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:
- Há alguém aqui?
- Aqui! – respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem – gritou.
- Vem! – respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! – a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir… – disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.
Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.
Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a freqüentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. “Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!”, disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.
Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraçá-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
- Porque me despreza, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava “Ai, ai”, Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.
-fim
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