NO DIA EM QUE EU SENTI A MORTE

[JORGE LUIZ DE OLIVEIRA BARBOSA]

NO DIA EM QUE EU SENTI A MORTE

 

            Eu morri. De repente, sem esperar, aos 34 anos, desencarnei. Quando me dei por conta, estava no Plano Astral sendo amparada por uma equipe de seres de luzes. Ao meu lado, assim como eu, muitos estavam chegando. Podia ouvir seus prantos desesperados por deixarem a Terra. Em outros, sentia uma imensa alegria por retornarem à pátria espiritual e terem alcançado seus objetivos. Naquele turbilhão de emoções, o primeiro pensamento que me veio à mente foi: meus filhos! Como poderia deixa-los tão pequenos, ainda tão dependentes de mim?

 

            - Não! Eu não posso ir ainda! Não estarei ao lado deles, vendo-os crescer, acompanhando e desfrutando das suas conquistas. Não poderei lhes amparar nos momentos de dificuldades, nem lhes dar colo quando precisarem de amparo. Meu Deus! Que dor dizer adeus assim tão de repente.

 

            Ao ver a vida no plano físico sendo encerrada, pensei nos projetos que estavam sendo interrompidos, em todos os planos que EU fiz e não poderia mais realizar. Senti-me tão frustrada, amputada na minha vontade. Quantos conflitos desfilavam na minha mente. Logo eu, que me considerava tão consciente da espiritualidade, me via ali, perdida. A verdade é que não estamos preparados para a morte. Por mais que tenhamos consciência, na hora H, nos confrontamos com a dificuldade de dizer adeus. Era chegada a hora de praticar, verdadeiramente, o desapego.

 

            No meio do meu desespero, aos poucos, fui retomando minha calma. Voltei a pensar nos meus filhos. Como é difícil deixar filhos tão pequenos, tão dependentes de nós. É dilacerante para uma mãe abrir mão da sua presença física ao lado de suas crianças. Ao mesmo tempo, só pensava na tristeza, na dor deles ao se sentirem sozinhos no mundo sem o colo de sua mãe, sem meu carinho para defendê-los e protegê-los das dificuldades da vida. Parece que, quando temos mãe, tudo se torna mais fácil porque ela está lá para nos dizer que a situação terminará bem. Não existe amor maior e incondicional do que amor de mãe. É também o amor que mais nos prende e nos faz sofrer porque relutamos em entender que a vida dos filhos deve seguir mesmo sem a nossa presença. Dizer adeus é só uma questão de tempo porque sempre chegará a hora na qual os filhos deverão saber caminhar com suas próprias pernas. Pensei em Deus e tive a certeza de que, se ele armou para que a vida fluísse dessa maneira, é porque meus filhos seriam capazes de superar. Cada um deles precisava curar feridas e essa dor seria o melhor meio. Um difícil aprendizado, mas Deus dá o frio conforme o cobertor. A lição é sempre mais valiosa que a dor.

            Ao acalmar meu coração, constatei que todos os meus planos não eram para serem vividos. Deus é perfeito e, se me levou antes de concluí-los, é porque não era hora ainda. Como foi difícil, naquele momento, reconhecer minha vaidade e orgulho em querer conquistar e ser reconhecida pelos meus feitos. Nessa vida, o troféu da nossa caminhada não são as conquistas que vamos acumulando, mas a evolução e o crescimento que alcançamos. Senti que esse movimento eu havia buscado durante toda a minha vida física. Consegui crescer, mudar meus valores e comportamentos. Revendo minha trajetória, pensei em todos que cruzaram meu caminho e uma enorme gratidão invadiu meu coração. Todos que me fizeram rir ou chorar, de alguma forma, me ajudaram a entrar no movimento da mudança, trabalhando as minhas inferioridades e buscando melhorá-las.

 

Ao aceitar essas verdades, senti uma enorme plenitude no coração e entendi os planos de Deus para comigo. A dor do adeus ainda estava lá, mas consegui aceitar a partida e perceber o caminho maravilhoso que havia à minha frente. Consciente das minhas qualidades e imperfeições, aceitei seguir meu caminho com muita vontade de melhorar, trabalhando para o melhor, só que, agora, num outro plano.  ACEITAÇÃO. Esse é o segredo da vida. Quando aprendemos a aceitar os fatos que nos acontecem, tirando de cada acontecimento uma lição, buscando nos melhorar, tudo fica muito mais simples, mais leve. Foi isso que percebi, claramente, no meu íntimo. E, naquele instante, fui envolvida pelos amigos espirituais, aceitando as próximas etapas que estavam por vir. Me senti pronta para seguir...

 

 

Esse relato refere-se à experiência que vivi num exercício chamado Projeção do Plano Astral realizado no curso de Psicoterapia Reencarnacionista. Amparados por seres de luzes, e num ambiente preparado para isso, simulamos o nosso desencarne e vivenciamos a realidade de quem se desliga do Planeta Terra. Ao fazermos isso, reavaliamos a nossa vida, as prioridades, as pessoas, o nosso tempo. Confrontamos verdades que insistimos em não perceber e enxergamos a vida por outro ângulo, percebendo o que é importante para sermos felizes. Com esse exercício, temos a oportunidade de reavaliarmos o nosso caminho e fazermos as mudanças que são necessárias. Nesse momento, convido você, caro leitor, a entrar numa prática de meditação. Pare e pense como seria se você morresse agora. Deixe as emoções fluírem e veja quais os rumos que você escolheria mudar. Aproveite em vida o tempo de mudança, antes que a realidade do fim físico lhe tire essa oportunidade.

 

Namastê.

 

 

POR     KARINA SENSALES