Empresas começam a perceber que aquecimento global vai pesar no bolso
A boa notícia é que o mundo novo da economia limpa oferece diversas possibilidades de emprego.
Daqui para frente, a cobrança vai ser maior. Retorno, só com responsabilidade. Por exemplo, a conta feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que se o Brasil não caminhar para uma economia mais limpa, o orçamento doméstico vai ficar muito mais pesado nos próximos 50 anos. Pelo menos R$ 1,6 mil reais a mais por ano para cada brasileiro.
Tudo funciona para fazer a nascente renascer depois de anos seguidos de poluição. Cercas impedem que o gado pisoteie as fontes de água. Barragens na beira da estrada ajudam a chuva a ser absorvida pelo solo e a aumentar a capacidade do lençol freático. O replantio da mata ciliar, que protege as encostas dos rios, é constante.
Parte da renda dos produtores não depende do clima, da colheita, nem do gado que eles criam. Na cidade de Extrema (MG), eles ganham dinheiro para preservar as nascentes do Jaguari, o principal rio que deságua no sistema Cantareira, responsável pela metade do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.
“Não imaginava que um dia poderia ganhar dinheiro para preservar as nascentes”, admite o produtor rural Zé Moisés.
Zé Moisés é um dos 50 agricultores que participam do projeto-piloto na divisa de Minas Gerais com São Paulo. Eles recebem até R$ 1,5 mil por mês. A conta é rateada entre o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais e a prefeitura de Extrema, que sabe que água de boa qualidade atrai empresas e pode, no futuro, aumentar a arrecadação.
“A gente entende que é um investimento que o município está fazendo para seu futuro e para o futuro das pessoas que moram em Extrema”, aponta o secretário de meio-ambiente de Extrema e gestor ambiental do município Paulo Henrique Pereira.
Preservar virou sinônimo de economizar. O impacto na economia brasileira pode ser grandioso se o esgotamento dos recursos naturais continuar na mesma velocidade. Segundo um levantamento da ONG WWF, se a humanidade consumisse no ritmo dos brasileiros, seria necessário um quarto a mais de planeta para dar conta da demanda.
É preciso frear essa tendência para evitar uma tragédia econômica: projeções feitas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, no relatório que avaliou o impacto do aquecimento global no Brasil mostram que o PIB vai ter uma redução de até R$ 3,6 trilhões em 2050, caso nada seja feito para reverter as transformações causadas pelas transformações climáticas.
É o equivalente a jogar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos. Uma das principais ameaças é a mudança no regime de chuva.
“Trará consequências muito sérias para produção de energia Somos dependentes da água em 85%, de energia elétrica e também para a agricultura. Nenhum outro país no mundo será tão afetado quanto o Brasil se houver uma mudança nos recursos hídricos”, diz o consultor o Ministério do Meio Ambiente Tarso Azevedo.
“Você tem que cobrir as eventuais perdas que vão ocorrer, que são estimadas em 30%. O Rio São Francisco, por exemplo, tem perda caudal significativa. É um rio que tem uma produção hidrelétrica grande”, aponta o diretor do estudo "Economia do Clima" Sérgio Margulis.
Temendo prejuízos, é natural que as empresas tenham aberto o olho para os novos cenários.
“Três anos atrás eram raras as empresas que tinham algum profissional acompanhando as negociações internacionais das mudanças climáticas ou que participavam de fórum dessa natureza. Hoje, o número de empresas que estão começando a criar as suas áreas que cuidam de mudanças climáticas é muito grande”, compara o coordenador do programa de sustentabilidade global da FGV Juarez Ferraz de Campos.
Muita gente já percebeu que aí está uma boa chance de se destacar profissionalmente. MBAs de sustentabilidade e mudanças climáticas estão com vagas esgotadas.
“Em dezembro de 2008 nós já tínhamos cerca de 1,3 milhão trabalhadores empregados formalmente, ou seja, são empregos formais oferecidos por setores que têm uma contribuição direta para as reduções da emissão de carbono”, diz coordenador do Programa Trabalho Verde / OIT Paulo Sérgio Muçouçah.
Parte da estratégia é fazer um inventário de carbono. É como se todos os processos produtivos fossem submetidos a um exame de raio-x. Com o diagnóstico em mãos, o primeiro passo das empresas é escolher o método mais eficaz para reduzir emissões e garantir uma gestão mais verde.
“Justamente porque sofrem uma pressão de seus compradores da Europa que têm metas, compromissos de redução. Não é só o preço do produto. O comprador lá fora quer saber quanto de carbono aquele produto emitiu”, comenta.
Compensar as emissões de carbono requer esforço e investimento. Para o investimento virar lucro, o segredo é transformar a necessidade urgente do planeta em oportunidade de negócio.
“Vai eliminar os desperdícios e a eliminação de desperdícios é uma atividade já em promoção da sustentabilidade. Outro é que tem todos os aspectos tangíveis de geração de marca, imagem perante a seus consumidores. Fazem com que você seja um fornecedor preferencial”, explica o diretor de sustentabilidade da Natura Marcos Vaz.
“A nossa sociedade, principalmente gerações anteriores, viveu em um mundo que tinha pouca gente e muito recurso. No futuro, vamos viver em um mundo diferente, com muita gente e poucos recursos. Vai ser uma sociedade diferente. Se nós investirmos agora, as pessoas vão poder viver decentemente, desde as gerações atuais entendam isso e invistam para garantir esse futuro”, aponta o presidente do Comitê Brasileiro PNUMA/ONU Haroldo Mattos de Lemos.
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http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL1394394-16020,00-EMPRESAS+CO...
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