Quando a busca da verdade se concentra em ensinamentos é a mesma coisa. Quando uma pessoa recebe novas informações diz que vai analisá-las para poder ver se acredita (dá o valor de verdade) nela ou não. Esta análise, na realidade, é voltada, não para o entendimento da informação em si, mas sempre para ver se ela se coaduna com outras que já possui. Se a nova informação está fundamentada em conceitos que a pessoa já possuía rotula como verdade; se não, diz que aquilo não é verdadeiro.
Exemplificando. Uma pessoa que acredita na vida ativa pós-vida (o mundo espiritual descrito pelo espiritismo) se recebe uma informação que contenha os elementos da ressurreição ensinada pelo cristianismo – todos os mortos voltarão à vida com o retorno de Cristo a Terra – vão dizer que ela não é verdadeira. Mas, quem pode garantir realmente se uma ou outra concepção está certa?
Por causa disso pergunto: que busca da verdade é essa que os seres humanos dizem fazer se só aceitam como verdadeira uma informação que contemple os conceitos que ele já possui?
Repare como a busca da verdade que a razão estimula é apenas uma embromação. Ela não está buscando a Verdade mesmo, mas sim elementos que justifiquem a sua vontade, aquilo que quer que seja feito.
Isto que estamos conversando serve também para compreendermos mais dois aspectos da busca da verdade. O primeiro é que muita coisa que se lê em livros são esquecidos pela mente. Por que isso acontece? Porque aquilo não satisfaz aos desejos do ser humano. A mente é seletiva, ou seja, ela só se lembra daquilo que é importante para ela mesma, ou seja, o que pode servir para justificar a busca do prazer, da satisfação dos desejos de cada um.
O segundo aspecto diz respeito à interpretação. Tudo que se lê é interpretado, ou seja, é compreendido de determinada forma. Muitas das vezes, as interpretações que formamos com a leitura de alguma coisa nada têm a ver com aquilo que estava na ideia original do autor. Além disso, se duas pessoas lêem o mesmo texto acabam encontrando verdades diferentes.
Por que tais coisas acontecem? Porque a verdade que cada um absorve tem que satisfazer os desejos individuais de cada um. Como nem todos possuem os mesmos desejos, as interpretações criadas pela mente para o mesmo texto são diferentes...
Podemos então afirmar, que as verdades dos seres humanos são maleáveis de acordo com os seus desejos. Este é mais um motivo pelo qual afirmo que não existe a Verdade neste planeta. Como disse, uma informação para ser considerada Verdade Verdadeira precisa ser universal, ou seja, ser única para todos. Mas, se as informações que o ser humano possui precisam atender os seus anseios e se nem todos têm os mesmos, como qualquer informação pode ser universal?
Realmente a busca da verdade é completamente inútil. Primeiro, porque ela não existe e por isso ninguém pode transmiti-la; segundo, porque o ser humano só aceita como verdade aquilo que satisfaz as suas próprias conveniências.
Por que estou falando estas coisas? Para desmistificar a busca de conhecimentos que hoje move a humanidade. É preciso que os seres humanos caiam na realidade, ou seja, se conscientizem que não estão buscando verdade alguma, mas apenas arregimentando informações que lhes sirvam de instrumentos para o seu próprio prazer. Por mais que acreditem que estão buscando ensinamentos verdadeiros, sábios, profundos, sublimes ou santos, os seres humanos, espiritualistas ou não, na realidade não estão fazendo isso, pois só aceitam como verdade aquilo que lhes interessa.
Não estou acusando ninguém de nada ou sendo contra qualquer coisa: o que estou fazendo é mostrando a verdade sobre a busca da verdade. A busca da verdade, verdadeiramente falando, não possui nada de sábio ou santo, porque ela se resume em buscar informações que sirvam como instrumentos do prazer de cada um. Se o prazer é o bem material, buscar informações é estar apegado à matéria.
Buscar ouvir mentores, gurus ou médiuns – inclusive eu mesmo – acreditando que eles podem trazer ensinamentos verdadeiros nada tem de santo ou sábio. Isso porque de tudo o que eles falarem só ficará arquivado na sua memória aquilo que possa servir como instrumento do prazer. O que não servir, será esquecido.
Esta busca se torna ainda mais inútil se entendermos que mesmo aquilo que fica não é verdade. Mesmo que o mentor, médium ou guru pudesse dizer uma verdade, quando você ouvir o que tem para dizer raciocinará sobre isso e assim gerará uma interpretação cujo teor estará sujeito aos seus próprios desejos.
Quando se acredita numa doutrina é preciso seguir tudo: o que satisfaz e o que não satisfaz os anseios de cada um. Se não se aceitar tudo o que a doutrina prega, não se está seguindo doutrina alguma.
Tem muita gente que diz que gosta da umbanda, mas quando os exus chegam estas pessoas vão embora. Fazem isso porque dizem que não gostam de gira de exus. Estas pessoas, então, não são umbandistas, porque a umbanda é formada pela falange dos exus também. A gira de exus faz parte da seita umbandista.
As pessoas que gostam apenas de gira de determinada falange (pretos velhos, caboclos, crianças, etc.) não são umbandistas, mas sim seguidores daquela falange. Mas, porque seguem esta ou aquela falange? Porque gostam dela... Então, não são seguidores da umbanda ou de uma falange, mas seguidores de si mesmo...
Mas, para que serve tudo isso que estou falando? Se tudo isso é real, como se comportar diante das informações que nos chegam? Aceitando tudo que lhe chega como apenas como uma informação, sem categorizá-la como verdades ou mentiras...
O ser humano que realmente alcança a real sabedoria é aquele que nada sabe, apesar de conviver com diversas informações em sua mente. Para chegar a isso é preciso não desacreditar em nada que recebe como informação, mas também não acreditar em nada como verdade.
O verdadeiro sábio é aquele que não busca a Verdade porque sabe que ela não existe. Por isso trata qualquer informação que receba como verdade relativa: algo que alguém acredita que é verdadeiro. Se alguém credita àquela informação o valor de verdade, ela é uma verdade. Pode não ser a dele, mas é uma verdade de alguém.
A compreensão do sábio sobre as diversas informações disponíveis do planeta é a seguinte: elas não são mentiras, mas uma verdade de alguém.
A partir desta visão sobre a verdade que estou comentando aqui você deve estar perguntando: ‘Como fica a máxima de Cristo que diz que se deve buscar a verdade porque ela vos salvará’? Vamos conversar sobre isso...
Quando Cristo ensina que se deve buscar a verdade, ele fala da Verdadeira, da Absoluta. É esta que deve ser buscada para se alcançar a salvação. Qual é a Verdade Absoluta? Nada que você pode conhecer...
Esta é a Verdade que encontrada pode lhe salvar: a verdade de que não há verdade neste mundo... Ao compreender isso você terá encontrado a Verdade deste mundo...
Mas, vocês ainda poderiam me perguntar: ‘Isso quer dizer que não podemos ter verdades’? Não tê-las é impossível. O máximo que se pode fazer é ter a consciência de que aquilo que se acredita que é verdadeiro o é apenas para você mesmo, ou seja, trata-se de uma verdade relativa. Por isso não deve querer impingi-la aos outros – fazer com que eles também acreditem que é verdade. Quando você tiver esta consciência com relação às informações que possui e que diz serem verdadeiras, terá se libertado delas e elas não mais terão o peso de verdade. Quando se alcança este tipo de consciência, a pessoa trata os conceitos que tem como informações e não verdades...
Este tipo de consciência vale para todas as coisas deste planeta, inclusive para aquelas que você imagina líquida e certa, santa ou sagrada. Isso porque só é santo ou sagrado aquilo que você declarar que seja.
NOTA: Na fala a seguir o amigo espiritual aborda o seguinte trecho da resposta do Espírito da Verdade à Kardec na pergunta 14 de O Livro dos Espíritos:
“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair”.
Buscar a verdade é entrar num labirinto donde não consegue se sair. É como um cachorro que corre incessantemente atrás do seu próprio rabo. Além do mais, enquanto estiver buscando-a, não fará o que tem que ser feito. O que tem que ser feito? O Espírito da Verdade ensina na mesma pergunta:
“Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável”.
Mas, apesar deste conselho que é antigo, vocês continuam buscando certezas, verdades, sobre um mundo onde nunca conseguirão penetrar enquanto humanizados. Quando acham alguma informação que acreditam estar certo, o que fazem? Veja se não é o que o Espírito da Verdade diz:
“Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos,pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis”.
Ficam orgulhosos de seus saberes, mas na realidade nada sabem... Para aqueles que acham que sabem alguma coisa mais uma palavra do Espírito da Verdade que está na pergunta 9 de O Livro dos Espíritos:
“O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”
Portanto, sigam aquilo que o Espírito da Verdade ensina na pergunta 14 do mesmo livro:
“Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos.”
Agora, se quiserem ler um milhão de livros e ouvirem mais tantas palestras, façam isso, mas saibam que estão apenas se enganando. Apenas encontrarão informações ou verdades relativas de outros e só classificarão como verdade aquilo que satisfaz os seus desejos. Isso vale, inclusive, para aquilo que eu falo, pois enquanto estão preocupados em me ouvir não estão realizando o trabalho de aproximação de Deus.
Espiritualismo Ecumênico Universal
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