SINFONIA DA CHUVA

[Luiz Soares da Silva]

Luiz Soares das Terras Nordestinas.

No céu sempre claro e descascado (sem nuvens), na terra quente, o vento incomoda as narinas da gente. Um redemoinho que se forma, em aspectos específicos, no reino dito dos místicos, batizado por sertão.

O Brasil tem o privilégio de poder dispor no seu vasto território, de uma variedade de clima e suas especificas peculiaridades. Mas, desejamos mostrar como se faz importante tais constatações, de modo a que possamos referendar ou descrever a suntuosidade da sinfonia da chuva.

É preciso estar dentro. É preciso viver holisticamente a transição exorbitante, a explosão da vida nas terras do semiárido nordestino, vivenciada pelo advento do período dito chuvoso. Naturalmente que por mais que possamos usar palavras, o que fica inserido seria; sim, um momento de contemplação da criação universal.

Água. Na química seria apenas H2O ou Protóxito de Hidrogênio Líquido! Não se importando com as denominações, o que nos chama atenção seria a grandeza desta combinação. Um segredo que não nos foi revelado e, me acredito, nunca o será. Ela é vida, com uma capacidade igual à Bombril – mil e uma utilidades.

O ciclo da chuva é maravilhoso, estaticamente falando. Mas, a sua dinâmica aniquila muitos e muitos estudiosos e cientistas do tempo. Uma chaleira na linha do equador, que esquenta sob a intensidade dos raios inclementes do sol, num período de praticamente nove meses. A vegetação de porte reduzido se amolda e sobrevive com o antagonismo da seca e das chuvas.

A geografia humana tenta se adaptar e se embrenha pela terra seca e inóspita. Nesta jornada sem êxito tenta interiorizar os costumes e padrões do litoral costeiro. De certa forma, a imitação reprime acintosamente a qualidade de vida. Ao governo milhões e milhões de reais empregados numa luta inglória. Nesta ilusão milenar não descobre, não se faz adequar e se tornar parte de um sistema perfeitamente ajustado.

A esperança beira ao fanatismo, quando atribui a sua Fé o desejo de mudar o cenário típico e costumeiro. Neste panorama ilusionista sofre, se contorna e se conforma em acreditar no próximo período de chuva. Conta os minutos, as horas, os dias, os meses como forma de retemperar uma crença que extrapola a própria realidade. Acreditar seria, enfim uma forma de lutar desesperadamente dentro do pragmatismo incontrolável do conformismo; ou, quem sabe enfrentar e buscar a forma mais eficiente de sobreviver com dignidade.

E os costumes? Ah! Os costumes. A casa de taipa tão degradante e degredada no ambiente, mostra sim, uma forma de abrandar o calor infernizante. O que seria questionável seria a sua aparência, a falta de reboco e o chão batido. O calor é o mestre inquestionável. A parede de tijolo age mais como uma estufa, com um alto poder de aquecimento, inclusive durante o período da noite.

A sobrevivência humana depende muito mais da água captada e armazenada da chuva, do que de um serviço prestado a residentes nas capitais. Complementando o alimento daria o sustento. Mas, como se alimentar de plantas que exigem não só certa quantidade, mas, também de uma boa distribuição, advinda no período chuvoso. A fé induzida sufoca a ciência e a tecnologia. Como esperar um milagre se existe uma quantidade previamente disponibilizada, que representa a metade de que os cultivos de subsistência exigem? Como acreditar na produção se a chuva não se aplica a exigência da distribuição em duas épocas distintas, na fenologia dos vegetais?

Nesta odisseia interminável, olha o horizonte, procura nuvens no céu, observa o comportamento dos animais típicos, procura a barra do dia e observa atentamente cada por do sol, todos os dias. O antídoto para tal quadro seria a chuva. A chuva que faz renascer as plantas da caatinga, faz correr e roncar os riachos esturricados faz brotar a babugem – plantas rasteiras - milagreira.  

Nuvens carregadas são como confetes. Nuvens que chegam são alusões à fartura. Nuvens carregadas são guloseimas com um sabor bem distante. Nuvens carregas são riachos, açudes, cacimba e cacimbões acumulando água. Nuvens carregadas são imaginações que se colocam sobre os animais esqueléticos que rondam insistentemente nos arredores das casas.

O cenário e a consciência se modificam em questão se segundos. Mas, o vento chega e começa a modificar o que a vã imaginação premeditava. O vento nordeste assume o comando, tanto na intensidade, velocidade e direção. Sopra e dissipa a formação das nuvens milagreiras. Os redemoinhos se tornam mais constantes, derrubando plantações importadas e colocadas na contramão da geografia da cobertura vegetal especifica. O sol parece ficar mais intensamente abrasador, o calor úmido sufoca a garganta sempre ressequida.

Assim os nossos sonhos e desafios vão ultrapassando a barreira do tempo. Assim a chuva será sempre a esperança das causas perdidas. Desconhecer é iludir. Desconhecer seria uma forma humilhante de manter uma realidade que descaracteriza a intuição, a inteligência e questiona a sabedoria da essência divina. A chuva inserida no paradigma do clima é mais uma peça, uma apresentação das várias facetas que o clima assim e irretratavelmente acontece e continuará a acontecer, doa a quem doer.

 

[Dione Cavalli]

Maravilhoso texto! gratidão irmão Luiz pela partilha!

Vereis que cada Ser, cada vez mais, será responsável por criar a própria realidade e aqueles que estão na mesma frequência e sintonia estarão cada vez mais unidos!

Namastê