UM NOVO HOMEM
(Osho, Philosophia Perennis, Volume 2, Capítulo 2)
«Ensino um novo homem, uma nova humanidade, um novo conceito de estar no mundo. Proclamo o homo novus. O velho homem está a morrer, e não há mais necessidade de o ajudar a sobreviver. O velho homem está no leito mortal: não chores por ele – ajuda-o a morrer. Isto porque somente com a morte do velho homem, o novo, pode nascer. A cessação do velho é o início do novo.
A minha mensagem para a humanidade é um novo homem. Menos do que isso, não. Não algo modificado, não algo contínuo com o passado, mas totalmente descontínuo.
O homem não tem vivido verdadeiramente até agora, não autenticamente; o homem tem vivido uma pseudo vida. O homem tem vivido patologicamente, o homem tem vivido doente. E não há necessidade de viver com essa patologia – podemos sair dessa prisão, porque essa prisão foi construída pelas nossas próprias mãos. Vivemos numa prisão porque assim o decidimos – porque acreditámos que a prisão não é uma prisão, mas a nossa casa.
A minha mensagem para a humanidade é: Chega. Acordem! Vejam o que é que o homem fez ao próprio homem. Em 3000 anos o homem andou a lutar durante 500 anos. Não podemos designar esta humanidade como sendo saudável. E só de vez em quando, um Buda floresceu. Se num jardim, só de vez em quando uma planta dá uma flor, chamas a isso um jardim? Algo de muito básico correu mal. Cada pessoa nasceu para ser um Buda: menos do que isso não te preencherá.
Eu declaro a tua Budidade.
Mas o que é que correu mal? Porque é que o homem viveu durante milhares de ano num tipo de inferno? Durante milhares de anos vivemos com o conceito de homem como um campo de batalha entre o baixo e o alto, o material e o espiritual, o prolixo e o lacónico, o bom e o mau, entre Deus e Diabo. As consequências disto limitaram severamente o potencial humano.
Para destruir o homem, para destruir o seu poder, uma grande estratégia tem sido usada – que consiste em dividir o homem em dois. O homem tem vivido na dualidade de ser materialista ou ser espiritualista. Foi-nos dito que não podemos ser ambos. Ser o corpo ou ser a alma – Foi-nos ensinado que não podemos ser ambos.
Esta foi a raiz da miséria do homem. Um homem dividido contra si próprio vai-se sentir num inferno. O céu nasce quando o homem deixa de se dividir contra si próprio. A separação do homem significa miséria, a integração do homem significa benção.
Até agora, a humanidade tem sido esquizofrénica – porque foi-lhe dito para reprimir, para rejeitar, para negar, muitas partes do seu ser natural. Mas ao rejeitá-las, ao negá-las, elas não são destruídas – simplesmente ficam tapadas. Ficam a funcionar a partir do inconsciente; assim ficam realmente mais perigosas.
O homem é um todo orgânico. E tudo o que Deus deu ao homem deve ser usado; nada deve ser negado. O homem pode ser uma orquestra; tudo o que é necessário, é a arte de criar harmonia dentro de si mesmo.
Mas aquilo a que chamamos religiões têm-nos ensinado caminhos para a desarmonia, para a discórdia, para o conflito. E quando estamos a lutar connosco próprios dissipamos a nossa energia. Tornamo-nos sombrios, ininteligentes, estúpidos – porque com pouca energia, ninguém consegue ser inteligente. Quando a energia transborda há inteligência. O transbordar da energia é o que causa o crescimento da inteligência. E o homem tem vivido numa pobreza interior.
A minha mensagem para a humanidade é: criem um novo homem – não dividido, integro, total.
O Buda não era total, nem o grego Zorba. Ambos são metade. Eu amo Zorba, eu amo Buda. Mas quando olho profundamente para Zorba falta algo: não tem alma. Quando olho para Buda, algo falta também: não tem corpo.
Eu ensino um grande encontro: o encontro de Zorba com Buda. Eu ensino Zorba o Buda – uma nova síntese. O encontro do céu e da terra, o encontro do visível com o invisível, o encontro de todas as polaridades – do homem e da mulher, do dia e da noite, do Verão e do Inverno, do sexo e da beatitude. Só nesse encontro um novo homem erguer-se-á na Terra.
A minha gente, são os primeiros raios desse novo homem, desse homo novus.
A divisão interna tem guiado a humanidade para um estado de suicídio. Só tem criado escravos – e os escravos não podem viver realmente, não têm nada para viver para. Vivem para os outros. São reduzidos a máquinas – cheios de habilidades, eficientes, mas uma máquina é uma máquina. E uma máquina não conhece o prazer de viver. Não consegue celebrar, só consegue sofrer.
As velhas religiões acreditavam na renúncia. A renúncia tem sido uma maldição. Eu trago uma benção para ti: eu ensino regozijo, não renúncia. O mundo não deve ser renunciado, porque Deus não o renunciou – porque é que tu o fazes? Deus é... porque é que tu não hás-de ser?
Vive-o na sua totalidade – e viver a vida totalmente trás transcendência. Então o encontro da terra e do céu é tremendamente belo; não há nada de errado. Então as polaridades desaparecem em si mesmas e os pólos opostos tornam-se complementares.
Mas o homem velho, não é verdadeiramente humano. É um humanóide, um homo mechanicus – um homem que não é total. E um homem que não é total, nunca pode ser sagrado.
O novo homem está a chegar, a cada dia. É uma minoria, é natural – mas os novos mutantes já chegaram, as novas sementes já chegaram. E o início deste século, assistirá à morte de toda a humanidade ou ao nascimento de um novo ser humano.
E tudo depende de ti. Se continuas a trepar para o velho, então o velho homem prepara-se para cometer um grande suicídio, um suicídio universal. O velho homem está pronto para morrer; o velho homem perdeu o entusiasmo de viver.
É por isso que todos os países se preparam para a guerra. A terceira guerra mundial será uma guerra total. Ninguém será vencedor, porque ninguém lhe sobreviverá. Não só o homem será destruído, mas toda a vida na terra.
Fica atento! Fica atento aos políticos – são todos suicidas. Fica atento aos velhos condicionalismos que nos dividem como Indianos, Alemães, Japoneses ou Americanos. O novo homem tem de ser universal. Ele transcenderá todas as barreiras da raça, religião, sexo, cor da pele. O novo homem não será nem oriental nem ocidental; o novo homem reclamará toda a terra como a sua casa.
Só então poderá a humanidade sobreviver – e não só sobreviver – com a chegada do novo conceito de homem... o velho é o conceito de “qualquer/ou”: o novo será “ambos/e”. O homem tem de viver uma vida rica interna e externamente; não há necessidade de escolher. A vida interna não é contra a vida externa; elas são parte de um ritmo.
Tu não precisas de ser pobre por fora para ser rico por dentro. E não precisas de ser rico por fora e deixar de ser rico por dentro. É assim que tem sido até agora – o Ocidente escolheu um caminho: Ser rico por fora! O Oriente escolheu outro caminho: Ser rico por dentro! Ambos estão desequilibrados. Ambos têm sofrido, ambos sofrem.
Eu ensino a riqueza total. Ser rico por fora através da ciência, e ser rico no mais profundo do coração através da religião. E é assim que te tornarás um, indivíduo, orgânico.
O novo homem não é um campo de batalha, com a personalidade separada, mas uma homem unificado, único, completamente sinérgico com a vida na sua totalidade. O novo homem incorpora uma imagem mutante mais viável de homem, uma nova forma de estar no cosmos, uma forma qualitativamente diferente de perceber e experienciar a realidade. Por isso, por favor, não chorem a morte do velho homem. Regozijemo-nos pelo facto do velho estar a morrer, da noite estar a morrer, e do amanhecer surgir no horizonte.
Estou satisfeito, totalmente satisfeito, que o homem tradicional esteja a desaparecer – que as velhas igrejas estejam a ficar em ruínas, que os velhos templos estão desertos. Estou imensamente satisfeito por a velha moralidade estar a cair direita no chão.
Esta é uma grande crise. Se aceitarmos o desafio, esta é uma oportunidade para criar o novo. Nunca estivemos tão maduros no passado. Vivemos numa das mais belas épocas – porque o velho está a desaparecer, ou já desapareceu, e um caos criou-se. E só do caos aparecem as grandes estrelas.
Temos a oportunidade de criarmos um cosmos novamente. Esta é uma oportunidade que raramente surge – muito rara. Somos uns felizardos por estarmos vivos nesta altura crítica. Usemos a oportunidade para criar o novo homem.
E para criar o novo homem, tens de começar por ti.
O novo homem será um místico, um poeta, um cientista, tudo junto. Ele não olhará para a vida através de divisões podres. Ele será um místico, porque ele sentirá a presença de Deus. Ele será um poeta, porque ele celebrará a presença de Deus. Ele será um cientista, porque ele pesquisará a presença de Deus, cientificamente. Quando o homem for estas três vertentes juntas, o homem será total.
Este é o meu conceito de homem sagrado.
O velho homem era reprimido, agressivo. O velho homem era obrigado a ser agressivo porque a repressão sempre trás agressão. O novo homem será espontâneo, criativo.
O velho homem viveu através de ideologias. O novo homem não viverá através de ideologias, nem através de moralidades, mas através da consciência. O novo homem viverá através da consciência. O novo homem será responsável – responsável por si próprio e pela existência. O novo homem não será moral, no velho sentido; ele será imoral.
O novo homem trás um novo mundo consigo. Agora mesmo, o novo homem está obrigado a ser uma minoria mutante – mas ele é o transportador de uma nova cultura, a semente. Ajuda-o. Anuncia a sua chegada: esta é a minha mensagem para ti.
O novo homem é aberto e honesto. Ele é transparentemente real, autêntico e auto-revelado. Ele não será hipócrita. Ele não viverá através de objectivos: ele viverá o aqui e agora. Ele só conhecerá um tempo: agora, e só um espaço: aqui. E através dessa presença ele saberá o que é Deus.
Celebremos! O novo homem está a chegar, o velho está a ir. O velho está na cruz, e o novo está no horizonte.»
(Osho, Philosophia Perennis, Volume 2, Capítulo 2).
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