Anjo de Luz

Informação é Luz , ajude a propagar

      
                   
           1970                              1990                                         2006


Ken Wapnick


por Joe Jesseph


 

Decidi publicar essa página com links para informações sobre Ken Wapnick juntamente com links para trechos de alguns de seus escritos porque vi na internet muita informação errônea a respeito dele, quem ele é e o que ele ensina. Eu não pedi permissão a Ken para publicar um site especificamente sobre ele, mas tenho sua permissão para reproduzir na internet certos trechos de seus escritos que penso que poderiam ser úteis e de interesse para os leitores. Esses escrito constituem a parte principal do material compreendido pelo Miracle Studies Web site.


Eu uma vez disse a Ken que achava que sua biografia deveria ser publicada. Ele disse que Helen Schucman (escriba do Um Curso em Milagres e sua amada colega e amiga) uma vez tinha pedido a ele para escrever uma autobiografia, o que ele fez, mas então, ele decidiu que não havia uma boa razão para publicá-la. Naquela época, ele simplesmente me disse: "Nós (querendo dizer ele e sua esposa Gloria) não somos importantes". Embora eu entenda o que ele quis dizer - "Nós não somos especiais" -, apesar disso, acho que é importante que uma informação precisa sobre o Ken esteja disponível na internet, uma vez que ele é uma figura proeminente e, como eu disse, já existe muita compreensão e informação errônea sobre ele na web.


De tempos em tempos, como parece apropriado em conexão com um livro sobre o Um Curso em Milagres, Ken tem escrito alguns registros de sua vida pessoal e jornada espiritual. Em acréscimo a isso, ele e Gloria permitiram-se ser entrevistados e que os resultados fossem publicados. Nessa página, estou oferecendo links para parte desse material, juntamente com um link para certos trechos dos trabalhos de Ken sobre o próprio Curso.


Embora Ken possa não considerar sua pessoa importante, o que é importante sobre ele é sua sincera e contínua dedicação a Jesus e seu Curso. Essa dedicação exigiu que ele se tornasse tanto escritor quanto professor, e trouxe a ele uma proeminência pública que estou certo de que ele nunca buscou, e que o teria deixado aterrorizado de imaginar em seus anos de juventude, antes que ele encontrasse o Um Curso em Milagres. Ele é agora claramente a autoridade máxima do mundo em relação ao Curso, o autor de livros sobre o Curso mais amplamente publicados, e, na minha opinião pelo menos, um maravilhoso professor de Deus, tanto pelo exemplo como por meio de palavras.


Em minha opinião, Ken é um exemplo vivo de alguém que respondeu ao pedido de Jesus como é encontrado no Curso:


Pois é só disso que preciso, que ouças as palavras que digo e as dês ao mundo. Tu és a minha voz, os meus olhos, os meus pés, as minhas mãos, através das quais eu salvo o mundo (LE-pI.rV.in.9:2-3).


Ele incorpora o cumprimento dessa oração (similar à famosa oração atribuída a São Francisco) encontrada logo no início do Texto do UCEM:


Eu estou aqui só para ser verdadeiramente útil.

Eu estou aqui para representar Aquele Que me enviou.

Eu não tenho que me preocupar com o que dizer ou o que

fazer porque Aquele que me enviou me dirigirá.

Eu estou contente em estar aonde que que Ele deseje,

sabendo que Ele vai comigo.

Eu serei curado na medida em que eu permitir que

Ele me ensine a curar (UCEM)


Eu conheço Ken pessoalmente desde 1988 e trabalhei com ele na equipe da Foundation for A Course in Miracles de 1989 a 1992. Desde aquela época, continuei em contato com ele e tenho oferecido serviços voluntários à Fundação, primariamente em conexão com a internet, para acrescentar um pouco de luz de velas ao farol da Lighthouse [Farol], que é o logotipo e símbolo da Fundação, assim como o título do seu boletim.

Embora eu não considere Ken como especial, realmente o considero como um professor que tem ido fiel ao seu chamado.

Todo bom professor espera dar aos seus estudantes tanto do seu próprio aprendizado que, um dia, não mais necessitem dele. Essa é a única meta verdadeira do professor (T-4.I.5:1-2).


Com gratidão,

Joe Jesseph



Fonte:



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ENTREVISTA COM GLORIA E KENNETH WAPNICK

por Ian Patrick, Miracles Network, Inglaterra



Ian Patrick: Ken, vamos começar falando sobre sua infância, ambiente em casa e criação religiosa.

Kenneth Wapnick: Eu nasci em 1942, no Brooklyn, Nova Iorque, e minha família era judia. Como a maioria dos judeus durante aquele período, eles eram mais judeus em sua identificação cultural do que em qualquer tipo de crença religiosa. Isso significava que nós guardávamos os principais feriados judaicos e mantínhamos uma casa kosher, mas que não havia um sentimento real de Deus na casa. Na escola fundamental, nós estudávamos hebraico pela manhã e os assuntos em inglês à tarde. Na época em que percebi o quanto não gostava de hebraico, já estava com 11 anos. Basicamente, eu me ressenti de tudo aquilo que eles estavam nos ensinando como se fosse um fato. Não fazia sentido para mim que Deus fizesse as coisas que eles descreviam. A forma com que isso era ensinado era realmente sem nenhuma aplicação prática ou qualquer senso real de um sentimento espiritual. Era apenas: “É isso o que a Bíblia diz. É isso o que os judeus acreditam, e é isso que vocês têm que memorizar...”, etc.

IP: Era sobre coisas como a história de Sodoma e Gomorra que você se ressentia?

KW: Sim, eu não gostava de toda aquela coisa sangrenta, a matança. Eu me lembro de que uma vez, estava sendo ensinado como Deus tinha feito o sol ficar parado para que Joshua pudesse vencer uma batalha. Eu me inclinei para o meu amigo e nós dois sussurramos “absurdo” um para o outro; isso não tinha sentido. Não havia senso de um Deus vivo, uma presença em sua vida.

IP: Você sentia que havia algo que queria encontrar?

KW: Não, eu não tinha qualquer interesse em Deus. Eu tinha aprendido hebraico. Até os dias de hoje, ainda posso falá-lo e lê-lo. Aprendi o que é o sistema de crenças judaico. Nós lemos a Torá três vezes em oito anos, então, eu tive uma educação totalmente hebraica. Mas, quando me formei, com 13 anos, fui para uma escola pública normal de nível médio. Eu realmente sentia que era a última vez em que jamais iria pensar sobre Deus.
Dois anos depois, minha mãe pensou que seria bom se seus dois filhos desenvolvessem um interesse em música clássica. Ela entrou em um clube de música, começou a trazer discos e eu comecei a escutar. Muito lentamente, comecei a senti-la. Durante os dez ou quinze anos seguintes da minha vida, eu diria que a música era minha religião. Durante um período de tempo, comecei a ter experiências internas enquanto estava ouvindo Beethoven e Mozart.

IP: Posso entender o que é ter uma resposta emocional à música, mas, para você, era mais do que isso?

KW: Sim. Havia um elemento emocional em relação à música, e eu sentia isso. Mas esse era um sentimento muito mais profundo. Eu podia ouvir na música algo mais do que aquilo que eu normalmente sentiria. Eu não sabia o que era, mas sabia que havia algo. Sem dúvida, durante o resto do ensino médio, faculdade, universidade e além, a música era a coisa mais importante para mim.
Mais ou menos na mesma época em que comecei a desenvolver um interesse em música, comecei a ler Freud. Alguém tinha mencionado Freud em uma aula do nível médio. Eu estava na biblioteca e foi quase como se um livro caísse da prateleira. Era uma introdução básica à teoria freudiana. Eu o li e gostei dele. Até hoje, não sei o quanto eu entendi. Eu tinha mais ou menos 15 ou 16 anos. Mas algo realmente instigou meu interesse e comecei a ler tudo – A Interpretação dos Sonhos, etc., e livros de outros teoristas.

Aprofundando o interesse

Decidi que iria me tornar psicólogo e não pensei mais nisso depois. Fui para a faculdade, fiz meu bacharelado em psicologia, e nunca o questionei. Tive mais cursos de literatura do que de psicologia, mas eu tive o que precisava ter. Em algum momento na faculdade, fiquei consciente de que agora havia duas partes em minha vida. Havia a parte externa, que estava estudando psicologia e se preparando para se tornar psicólogo, e a parte interna: minha parte Beethoven/Mozart. Era assim que eu pensava a esse respeito. Eu nunca experienciei isso como um conflito, mas eu podia faltar às aulas e ir à Nova Iorque para participar de concertos e óperas.
Meu interesse em música estava realmente se aprofundando e eu estava cada vez mais ciente de que havia algo nessa música, na forma com que eu a experienciava que não era citado em nada que eu tivesse lido. Embora eu gostasse e admirasse Freud e várias outras pessoas, eu sabia que eles não falavam sobre isso.
Eu me formei aos 22 anos de idade, e parti para estudar para o meu Ph.D. em psicologia clínica. Foi muito fácil para mim. Eu já tinha lido tudo e era um bom estudante. Eu gostava do assunto e o compreendia, então, tinha muito tempo à minha disposição. Faltei às aulas lá também para ir à Nova Iorque ouvir música. Eu estava realmente chegando ao cerne da música de Beethoven.
Em meu segundo ano da universidade, pela primeira vez, realmente experienciei um conflito. Por um lado, cumpri bem meus cursos e gostei de trabalhar com pessoas, mas não acreditava em nada do que estava estudando. A única coisa que era importante para mim era a música e entrar nas profundezas do que quer que ela me despertasse. Pela primeira vez, comecei seriamente a pensar que deveria deixar a universidade e simplesmente fazer algo com música. Entendi, depois de um tempo, que não estava interessado em estudar música e minha habilidade musical era muito limitada.

Gloria Wapnick: Não é verdade. Ele rege muito bem!

KW: Sim, eu realmente tenho uma batuta e rejo. Eu costuma ir a concertos com minha batuta e me sentar em um canto e reger! Eu tocava clarineta muito mal e não posso cantar de forma alguma. Mas amo a música e posso ouvir muito bem.

Misticismo

Considerei fazer minha dissertação em Ph.D. de psicologia sobre Beethoven, como uma forma de tentar integrar esses dois aspectos da minha vida. Mas entendi que não havia forma de estudar minha experiência com a música objetivamente.
Fiquei cada vez mais interessado em misticismo, e quanto mais eu lia sobre os místicos, mais entendia que eles estavam escrevendo sobre o mesmo tipo de coisa. Eles o chamavam de ‘Deus’; eu não tinha um nome para isso. Eles descreviam um processo, e eu podia ver um processo na música de Beethoven através dos anos. Eu podia ver o mesmo processo espelhado em mim mesmo: um processo de chegar cada vez mais perto de “seja lá o que fosse aquilo”. Era nisso que eu estava interessado.
Acabei fazendo minha tese sobre Santa Teresa de Ávila, a mística espanhola do século XVI. De todos os místicos, ela era a única que escreveu sobre sua experiência, não teoricamente. Peguei suas experiências e as analisei do ponto de vista das três principais escolas de psicologia: psicanálise, behaviorismo e existencialismo. Então, dei minha própria interpretação. A tese era: “A psicologia da experiência mística”. Uma seção sobre esquizofrenia teve que ser retirada. Ela não seria aprovada, mas eu pensei que seria um dos melhores capítulos. Eu a reescrevi e a publiquei como um artigo: “Esquizofrenia e Misticismo”.

IP: Em que extensão seu estudo estabeleceu a fundação para o que estava por vir?

KW: Passei pelo menos dois anos com Santa Teresa, que era muito cristã, e, naquele ponto, eu não tinha interesse em Jesus ou em Deus. Usei suas experiências como uma metáfora. Ela estava escrevendo sobre algo que era abstrato. Eu gostei disso, e realmente sentia ressonância com tudo. Em retrospecto, essa foi uma forma de me sentir mais confortável com Jesus e com Deus. No processo de restringir tudo até Teresa, li muito do misticismo hindu, budista e judaico, e então, fiquei ciente e inteirado de toda a universalidade dessa experiência.
Li o Bhagavad Gita, os Upanishads, a maior parte dos Vedas. Li bastante e gostei de tudo. Eu sabia que era tudo verdade por causa da minha própria experiência. Não era algo “irrefletido”. Eu entendi que essa era a mesma coisa que Beethoven tinha atravessado em sua vida. Eu estava ciente de que Mozart não tinha passado por isso, porque ele não tinha um processo. Ele era um canal direto, da mesma forma que Helen [Schucman – escrita do Um Curso em Milagres] era.

Vivendo como um monge

Quando eu terminei minha tese, em 1968, entendi que a significância dela não era a qualidade substancial do trabalho. Estava tudo certo, mas eu hoje escreveria isso muito diferente. Foi todo um processo de fazê-la, acreditando em mim mesmo – que eu poderia fazê-lo -, para que ela fosse aceita. Esse foi o primeiro passo principal que senti para integrar essas duas partes de mim mesmo. Então, fiquei muito feliz por ter realizado algo que era interno.

IP: Vamos passar para sua vontade monástica.

KW: Eu estava casado naquele ponto, mas minha esposa e eu realmente estávamos nos distanciando cada vez mais. Eu estava cada vez mais confortável com esse meu lado interior, e Ruth estava ficando mais desconfortável com isso. Nós nos separamos em 1970. Eu me mudei para o interior do estado de Nova Iorque, e me tornei psicólogo assistente-chefe em um hospital psiquiátrico, e eventualmente, psicólogo-chefe. Foi aí que comecei a viver sozinho, e essa coisa monástica começou.
Eu estava trabalhando como terapeuta, freqüentemente com crianças perturbadas. Esse foi meu primeiro trabalho real. Trabalhei em uma escola, com pais, famílias e com as crianças. Eu estava sempre confortável em trabalhar com pessoas perturbadas, tanto com as crianças quanto então, no hospital psiquiátrico, com psicóticos.

GW: Você estabeleceu todo o programa.

KW: Sim, eu fiz bastante no hospital. Por volta daquela época, quando meu casamento estava terminando, eu comecei a ter algumas experiências que deixaram claro para mim, pelo menos naquela época, que realmente havia um Deus pessoal. A experiência abstrata que eu vinha tendo e incrementando através de muitos anos culminou nesse conhecimento. Isso mudou tudo para mim e, a maneira como eu estava vivendo no interior, sem saber o que estava fazendo. Apenas comecei a viver mais e mais como um monge. Não foi algo consciente. Os judeus não sabem muito sobre monasticismo. Mas, comecei a passar cada vez menos tempo com amigos. Trabalhava muito duro no hospital, mas, quando meu dia terminava, eu ia para casa. Passei muito tempo quieto. Trabalhei muito com meus próprios sonhos, que eram úteis naquele ponto. Isso durou mais ou menos um ano. Foi um tempo maravilhoso.

Presença de Deus

Enquanto eu estava vivendo dessa forma, comecei a ler Thomas Merton [um famoso monge trapista]. Aquela foi a primeira vez em que eu descobri o que era um monastério. Enquanto lia, entendi que eu estava vivendo uma vida basicamente monástica. Então, no verão de 1972, fiz arranjos para ir ao monastério de Merton, o Abbey of Gethsemani, em Kentucky.
Fui para lá durante apenas uma semana, mas realmente sentia que estava em casa. Foi um sentimento estranho. Passei meu tempo na igreja, chorando. Senti uma forte e real presença de Deus durante a missa. Eu não podia registrar isso, mas esse era o fato. Então, somei dois mais dois e obtive cinco. Eu disse: “É óbvio para mim que Deus quer que eu me torne um monge”. Obviamente, para poder me tornar um monge trapista, eu primeiro tinha que me tornar católico.
De volta ao hospital, falei com o capelão sobre me tornar católico. Ele não sabia o que fazer comigo. Aqui estava eu, uma pessoa influente no hospital. Eu era judeu, um Ph.D. e tinha acabado de voltar de uma semana em Gethsemani. Então, ele disse: “Aqui está um livro. Se você tiver quaisquer perguntas, vou respondê-las. Então, vou batizá-lo”. Eu li o livro. Não me importei com o que ele dizia – essa era a vontade de Deus, então, eu ia fazê-la. Assim, ele me batizou em duas semanas, e eu me tornei católico.
Voltei ao monastério, dessa vez como católico, e os monges estavam muito felizes. Era preciso esperar um ano desde o momento do batismo até o momento em que eu poderia ingressar no Abbey, então, eu tinha um ano para planejar isso. Mas, não havia dúvida: era isso o que eu ia fazer. Eu era um católico muito estranho, porque Jesus ainda não era alguém em quem eu estivesse interessado, e eu não acreditava em nada do que a igreja ensinava. Tudo o que eu queria era me tornar monge e estar a sós com Deus.
Eu nem mesmo era um cristão real, mas a idéia de estar em um monastério não era um problema para mim. Eu obviamente era uma pessoa sinceramente religiosa, então, ninguém se importou em me fazer perguntas. Só me perguntaram se eu tinha qualquer problema em relação ao nascimento através de uma virgem. Isso era irrelevante para mim, então, não tive qualquer problema com isso!
O padre que me batizou era membro da mesma ordem religiosa que padre Michael – esse não é o seu nome real, mas é o nome público que demos a ele. Padre Michael era psicólogo que tinha feito residência no Columbia Presbyterian Medical Center com Helen Schucman e Bill Thetford. Ele conhecia Helen e Bill muito bem na época em que o Um Curso em Milagres estava sendo transcrito. Ele era uma das pouquíssimas pessoas com quem eles compartilharam o Curso e ele ficou muito impressionado com ele. Ele realmente tinha grande admiração por Helen, e Bill era seu terapeuta. Para ele, o Curso era um exemplo perfeito da linda e mística escrita. Depois, nós descobrimos que embora ele tivesse o Curso, nunca realmente o leu.
Em algum ponto, Bill viu aquele artigo que escrevi sobre esquizofrenia – eu o tinha reproduzido em um livro. Ele gostou do artigo e o mostrou ao padre Michael como um exemplo de um psicólogo que levou a experiência mística a sério. Ele ficou impressionado com o artigo, e, quando o padre estava se vangloriando com ele que tinha acabado de batizar um psicólogo, e disse a ele o meu nome, Michael ficou entusiasmado e disse: “Tenho que conhecer esse cara”. Nós nos encontramos em outubro de 1972, e nos tornamos muito bons amigos.

O livro de Helen

Logo a seguir, decidi que ia deixar o hospital e passar alguns meses por conta própria em Israel, antes de entrar no monastério. Eu não tinha idéia do motivo. Antes de partir, no fim de novembro, Michael me convidou para conhecer dois amigos seus – obviamente, Helen e Bill. Nós quatro passamos uma noite no apartamento de Bill. A maior parte da noite foi passada comigo contando minha história – como cheguei onde estava. Em algum ponto da noite, alguém disse – provavelmente Michael – que Helen tinha escrito um livro sobre desenvolvimento espiritual. (Não foi assim que ele disse isso para mim). Bill apontou para o canto da sala de estar, onde havia uma pilha de sete fichários – muito grande – contendo o manuscrito. Ele me ofereceu a oportunidade de examiná-lo, mas não achei que devia, porque estava partindo para Israel, não levando nada comigo, e não me via carregando aquelas coisas grandes comigo. Passei outra noite com Michael e ele também ofereceu-se para me deixar examinar o manuscrito. Mais uma vez, não achei que devia.
Acabei ficando cinco meses em Israel, em dois monastérios diferentes. Continuei pensando nesse livro de Helen. Até sonhei com ele.

IP: Eles disseram alguma coisa sobre ele, como tinha sido escrito?

KW: Não, apenas que Helen o havia escrito e que ele era sobre espiritualidade; nada sobre Jesus ou a transcrição. Mas senti um elo com Helen, uma conexão real – com Bill também, mas mais com Helen, mais profunda. Escrevi a eles enquanto estava em Israel. Uma vez, em meus sonhos, encontrei o livro em uma cesta de papéis usados em uma plataforma do metrô. Ele estava brilhando. Em outra vez, o encontrei em uma praia. Nas duas vezes, eu soube que tinha encontrado um livro muito santo.

Primeira reação

IP: Esses sonhos eram similares aos de Helen, tal como quando ela puxou o livro do fundo do leito de um rio?

KW: Sim, de certa forma. Naquele ponto, entretanto, eu tinha decidido que iria ficar em Israel. Descobri um monastério que era no topo de uma montanha. Ele era adorável. Não tinha água corrente ou eletricidade – simplesmente perfeito. Eu poderia simplesmente ficar quieto, a sós, com Deus. Antes de me estabelecer lá pelo resto da minha vida, no entanto, eu queria ver aquele livro e senti que deveria fazer algo em relação a meus pais, que estavam muito transtornados. Eles pensavam que eu tinha sido abduzido. Eles não sabiam o que estava acontecendo com seu filho. Eu tinha escrito a eles, mas eles não entenderam coisa alguma. Então, voltei aos Estados Unidos para o que pensei serem três semanas. Foi aí que vi o Curso pela primeira vez. Os escritórios de Helen e Bill eram adjacentes, então, Bill foi ao escritório de Helen e ela me colocou sentado no escritório dele, com duas seções do Texto.
IP: Você se lembra do comecinho do que leu?

KW: Sim, o primeiro foi: “Pois Eles vieram” (T-26.IX), e o outro foi o final do Texto: “Escolhe outra vez” (T-31.VIII). Essas eram as duas seções favoritas de Helen. Eu as li e fui simplesmente nocauteado. A linguagem era tão linda e tão significativa. Eu disse a Helen: “Essa é a primeira coisa que eu li que é tão linda quanto Shakespeare, mas que diz algo”.

IP: Qual é sua passagem favorita?

KW: Também é “Pois Eles vieram”.
Mudei o resto da minha vida por causa disso. Decidi que era isso o que eu estivera procurando. Eu não tinha que me enterrar em um monastério. Uma das coisas que sempre me aborrecera era que se eu tivesse ficado no monastério, minhas habilidades como psicólogo seriam desperdiçadas. Eu sabia que havia algo errado com isso. Quando vi o Curso e comecei a lê-lo, entendi que era a forma perfeita de eu usar todos os meus antecedentes e habilidades. O Curso era a forma perfeita de integrar psicologia e espiritualidade.

IP: Você sentiu que devia meramente estudar o material?

KW: O primeiro passo foi lê-lo. Eu o li completamente muito rápido pela primeira vez. Depois, obviamente, o li muito mais cuidadosamente. Eu simplesmente soube que era isso que eu deveria estar fazendo – eu deveria permanecer em Nova Iorque com Helen e Bill – e esse seria o trabalho da minha vida. Estava muito claro. Eu não me tornei um monge. Meus pais ficaram muito aliviados, porque eles não tinham contado a ninguém que eu era católico. Isso não transparecia, percebe? Eu estava em Nova Iorque e tinha um trabalho respeitado no Medical Center, ou assim eles pensavam – porque passei todo o meu tempo com Helen e Bill. Eles subseqüentemente conheceram Helen e Bill e gostaram muito deles. Helen se tornou uma boa amiga da minha mãe. E eles eram pessoas muito respeitáveis!

IP: Helen era originalmente judia?

KW: Sim, mas embora seu marido, Louis, fosse muito judeu em identificação cultural, Helen não era. Sua mãe era metade judia, mas ela não foi criada como judia e então, não tinha sentimentos judeus.

IP: Você tem alguma idéia por que os judeus parecem ter tanta influência na história do Curso – você mesmo, Helen, Judith Skutch [editora do Curso], Marianne Williamson?

KW: Também a pessoa que imprimiu o Curso era judia. De fato, ele costumava chamar Bill de “nosso símbolo BASP!”. Você sabe o que é BASP? Sim: Branco, Anglo-Saxão, Protestante! Isso era muito estranho, mas eu não tenho idéia do por que. Pessoas têm todos os tipos de idéias místicas, mas, quem pode saber?

IP: Então, você começou a trabalhar com Helen?

KW: Sim. Depois de ler o manuscrito completamente pela primeira vez, eu disse a Helen e Bill que achava que ele precisava de um pouco de edição. Uma parte do material pessoal tinha sido retirado, mas ainda havia algumas coisas que pareciam não fazer parte dele. Os parágrafos, as seções, capítulos e títulos não estavam muito bons e eram inconsistentes. Bill não era bom com isso.

IP: Eles tinham feito isso por si mesmos ou sob orientação?

KW: Eles o tinham feito por si mesmos. O texto tinha sido ditado direto, então, eles fizeram isso depois. Muito do ditado de um dia terminava em uma pausa natural, que era o fim de uma seção ou capítulo, então, não era muito difícil. Mas, havia muitas decisões que eles tomaram que eu sentia que eram um pouco arbitrárias. Aquilo não tinha sido canalizado. Foi dito a eles que tirassem todo o material pessoal, mas ainda havia algumas coisas que não se encaixavam. Então, eu sugeri que deveria ser feito de novo. Bill não era o tipo de pessoa que tinha paciência. Então, Helen e eu passamos de um ano a quatorze meses fazendo isso.

IP: Isso foi feito com a orientação de Jesus?

Beleza e significado

KW: Sim. Nós não editamos ou mudamos coisa alguma, exceto no início, onde coisas foram retiradas. Nos primeiros meses, o material pessoal foi entremeado com mensagens específicas que Jesus estava dando a Helen. Então, quando elas foram retiradas, havia brechas. Foi aí que tivemos que inserir uma palavra ou frase, no que agora são os primeiros quatro capítulos. Depois disso, a edição foi puramente de pontuação, parágrafos, títulos e letras maiúsculas. Sempre que havia algo de que não estávamos certos, Helen perguntava. Em dois trechos, eu me lembro de dizer: “Esse não é um bom título”, então, ela perguntava a Jesus e sua resposta era: “Não. É assim que tem que ser”.

IP: Ele não disse: “A propósito, duas páginas atrás, estava algo que vocês fizeram e eu não gostei”?

KW: Não. Na verdade, a experiência de Helen era a de que Jesus realmente não se importava com esses detalhes. Então, ela sentiu que estava a seu cargo. Nós fizemos isso tão compenetradamente quanto pudemos. Nada foi feito que tivesse qualquer efeito sobre sua substância. Helen era muito clara a esse respeito.

IP: Nunca ouvi você falar sobre o impacto desse material em sua personalidade. Você, de qualquer forma, resistiu a ele?

Pondo ordem no registro

KW: Não, não resisti. Eu nunca tinha visto qualquer coisa como ele, mas simplesmente sabia que tudo nele era verdadeiro e eu o entendi. Parte disso foi por causa dos meus antecedentes como psicólogo, e tendo lido muito Freud, isso fez sentido perfeito para mim – todas as sutis partes psicológicas. A idéia de que o mundo era uma ilusão estava certa para mim. Eu nunca pensei muito sobre ela, mas tinha lido bastante do hinduísmo e budismo. Eu não tinha problemas com ela intelectual ou pessoalmente. Era um pouco estranho, de certa forma. Helen perguntou a Jesus em algum ponto por que eu não tinha tido problemas com ela. E sua resposta foi: “Não há tempo para isso. Existe tanto para ser feito”.
Foi mais por eu ter encontrado aquilo que estivera procurando. Eu tinha sido um buscador real. Pensei que tinha encontrado a resposta no monastério, mas, obviamente, não se encaixou muito bem. Jesus agora tinha se tornado muito central para mim e eu entendi que a experiência pessoal que tinha tido durante os dois ou três anos anteriores não era com Deus, era realmente com Jesus. Então, o Curso era o próximo passo óbvio para mim e o material parecia absolutamente certo.
IP: Você poderia nos contar um pouco sobre Helen: o tipo de pessoa que ela era e sua resposta a esse material?

KW: Meu livro [Ausência de Felicidade] foi escrito realmente, em grande parte, para fazer um registro correto sobre Helen. Então, muitas histórias sobre ela – que ela era ateísta, que ela não acreditava nisso – simplesmente não eram verdadeiras. Ela era um exemplo de alguém que era muito dividida. Ela se identificava profundamente com o Curso e acreditava nele, mas resistia a ele. Nunca houve qualquer questionamento sobre isso. Jesus era a figura central para ela, embora ela tivesse passado a vida toda fugindo dele, gritando com ele e discutindo com ele. Sua devoção a ele, seu amor a ele e sua raiva contra ele eram todos muito claros para mim; e eles eram coexistentes. Helen é uma pessoa muito difícil de descrever, porque você tinha que conhecê-la. Ela tinha uma integridade impecável, e, ao fazer a edição do Curso com ela, isso ficava aparente. Ela sabia que isso era santo, que tinha vindo de Jesus e que ela iria mantê-lo tão puro quanto possível. Então, ela tirou a si mesma do caminho.

IP: É verdade que ela conservou sua raiva até sua morte?

KW: Sim. No período final da sua vida, isso se tornou mais resignação do que raiva. Ela simplesmente manteve Jesus distante dela.

IP: O Curso não a ajudou?

KW: Não acho que Helen precisava do Curso. Essa era uma das coisas que estava clara. Ela sabia o que o Curso dizia, por dentro e por fora. O primeiro ensinamento que jamais dei com o Curso foi para Helen. Nós o lemos inteiramente, cada linha. Nós líamos algo e Helen começava a rir até que as lágrimas rolassem por seu rosto. Ela tinha um senso de humor muito bom. Ela dizia: “Eu não entendo uma palavra disso. Isso soa absolutamente sem sentido para mim”. Então, eu tinha que explicar a ela, sabendo muito bem que, em algum lugar, ela sabia exatamente o que estava sendo dito!

IP: Ela não conseguia aplicar os princípios?

KW: Ela conseguia quando escolhia fazê-lo, mas a maior parte do tempo, escolhia não fazê-lo. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, que estava guardando mágoas e que isso era o oposto exato do que o Curso dizia. Ela sabia que sua raiva não ia funcionar, mas isso não a detinha.

GW: Ela também era muito útil a muitas pessoas.

KW: Sim. Ela ajudou provavelmente centenas de pessoas através dos anos: antes do Curso, enquanto ele estava vindo através dela, e depois. Ela geralmente não gostava das pessoas que ajudava e se ressentia do fato de ter que ajudá-las. Mas ela era muito dedicada a isso. Ela lhes dava conselhos. Ela não era uma psicoterapeuta no sentido usual da palavra. Ela apenas dizia às pessoas qual era o seu problema.

Publicação

IP: Ela dizia: “Leia esse livro que eu canalizei”?

KW: Não, ela nunca diria isso! Com freqüência, eu estava com ela quando ela estava dando conselhos às pessoas – conselhos muito bons, baseados no Curso. Depois, eu dizia a ela: “Você ouviu o que disse?”. Ela ria e dizia: “Não, eu não ouvi uma palavra disso!” – e era verdade. Ela era muito específica sobre ajudar as pessoas a curarem seus relacionamentos, especialmente com os membros da família. Ela trabalhava com pais de crianças retardadas.

IP: Conte-me sobre a publicação do Curso, sobre o capital disponível.

KW: Conforme o tempo foi passando, senti que Helen e eu realmente deveríamos chegar a editar o Curso. Helen estava parando de trabalhar. Isso a estava deixando muito ansiosa. Ela levou bem um ano e deveria ter nos custado seis meses. Continuei impulsionando-a para fazê-lo. Nós finalmente terminamos na primeira parte de 1975. Então, ele teve que ser datilografado novamente e revisado. A última não foi feita muito bem. É por isso que existiam erros.

IP: Quem fez a revisão?

KW: Bill e eu, mas não fizemos isso juntos. Helen disse que se íamos fazê-lo, tínhamos que fazê-lo da maneira correta. Bill não queria fazê-lo, então, não o fizemos – mas deveríamos ter feito. Ele estava terminado e datilografado na primavera de 1975. Mas nós não sabíamos por que. Logo a seguir, Judith Skutch [editor] apareceu. Isso também foi estranho.

Vindo à tona

Judy estava participando de uma conferência sobre parapsicologia em Nova Iorque, e Bill também foi lá. Ele realmente não queria ir, mas pensou que deveria. Ele e Judy se conheceram. Ela estava interessada em arranjar fundos para pesquisas sobre cura e fenômenos psíquicos. Bill estava interessado em convidá-la a ir até o centro médico para conversar. Ela almoçou com Helen e Bill, e depois voltou para o escritório onde eu estava. Foi aí que nós mostramos o Curso a ela e Helen contou a história de como ele surgiu. Judy ficou nocauteada também, e levou o manuscrito com ela. Todos nós ficamos amigos e costumávamos nos encontrar uma ou duas vezes por semana no apartamento de Judy. Nós viajamos para a costa leste no verão de 1975, que foi, basicamente, o “vir à tona” do Curso. Foi a primeira vez em que Helen e Bill falaram publicamente. Foi mais fácil para eles falarem publicamente a 3.000 milhas de casa!

IP: Pensei que o nome de Helen não estivesse associado ao Curso até depois da sua morte.

KW: Não estava impresso, mas ela falou. Eu costumava me referir a isso como seu “espetáculo de variedades”. Helen falaria sobre suas experiências e então Bill falaria. Os dois falariam sobre essa “estranha voz”. Aí, minha parte no espetáculo era entrar e dizer: “A propósito, vocês deveriam saber que a voz era Jesus”. Eles não podiam dizer a palavra, então, essa era minha parte!

IP: Você recebia os tomates podres!

KW: Sim. Naquela primeira visita à costa leste, um amigo de Judy fez 300 fotocópias do manuscrito editado do Curso, dos quais nós obtivemos os direitos autorais e depois distribuímos. Até aquele ponto, Helen não tinha deixado ninguém tê-lo. Ela tinha sido muito protetora em relação a ele. Nós começamos a falar sobre a necessidade de publicar o Curso. Conversamos com diversos editores. Acho que um deles até fez um contrato, mas nada parecia certo. Sempre que perguntávamos sobre isso, a resposta era: não, não deveríamos fazê-lo. Finalmente, Helen ouviu a resposta de que nós mesmos deveríamos fazê-lo.
Judy e Bob Skutch, seu marido naquela época, tinham um fundação: “A Fundação para Investigação Para-sensória”. Então, nós mudamos seu nome para “A Fundação para a Paz Interior”. Não havia dinheiro para ela, mas, então, Judy recebeu um telefonema de um homem chamado Reed Erikson, que estava vivendo no México. Ele disse: “Ouvi falar sobre o Curso. Parece para mim que ele é a coisa mais importante no mundo e quero pagar por ele”. Basicamente, ele fez um cheque em branco. Ele tinha ganhado dinheiro construindo navios ou algo com barcos.

IP: Quantas cópias foram impressas?

KW: Cinco mil. Nós corrigimos as provas conforme elas saíam das prensas! Foi um desastre, e havia muitos erros. Mas, estava feito. Isso foi em 1976.

IP: E esse foi o começo?

KW: Sim. Isso foi vendido dentro de um ano. Nós imprimimos mais e as vendas desses custearam a próxima edição. Foi assim que foi feito.

IP: Em qual estágio depois disso você sentiu que estava pronto para sair por aí e ensinar o Curso?

KW: Eu só vi meu papel como o de ensinar os professores do Curso, em pequenos grupos. Nenhum de nós pensou que esse Curso iria se tornar tão grande. Ninguém jamais sonhou que haveria um boletim em Londres, por exemplo!

Um elo muito profundo

GW: Assim como os outros, Bill nunca quis um papel de ensino.

KW: Sim. Bill e Helen nunca curaram seu relacionamento – na superfície – em termos do que qualquer um poderia saber, ou como eles se sentiam um em relação ao outro. Havia, obviamente, um laço muito profundo entre eles. Antes de Bill morrer, ele pensou que tinha resolvido isso e perdoado Helen. Talvez tivesse. Naquela época, Helen já havia morrido há sete anos. Mas, certamente, a idéia de eles fazerem qualquer coisa juntos estava fora de questão.

GW: Bill era tímido também. Ele era reticente e não queria assumir uma posição “lá fora”.

KW: Eu não estava interessado em ser professor. Escrevi meu primeiro livro, Psicologia cristã no Um Curso em Milagres. Comecei a trabalhar com o Glossário/índice e com alguma coisa que acabou sendo Perdão e Jesus. Dei palestras a grupos diversas vezes, mas, enquanto Helen estava viva, devotei todo o meu tempo a ela. Quando ela morreu, eu ainda não tinha interesse em ensinar. Gloria e eu estávamos casados no outono de 1981. Naquela época, eu tinha uma prática privada de terapia.

IP: Deixe eu me voltar para Gloria. Qual é sua história?

GW: Eu fui criada como católica romana. Minha mãe era muito religiosa. Eu não fui à escola católica, mas queria ser freira. Toda a família da minha mãe estava na Itália e, quando eu tinha treze anos, nós fomos até lá para uma visita. Minha mãe teve uma série de ataques do coração, então, permanecemos por um ano. Durante aquele tempo, eu descobri o que a Segunda Guerra Mundial tinha produzido em todas as pessoas de lá – todo o horror que elas tinham experienciado em primeira mão. Fiquei severamente traumatizada com isso. Eu me questionava: “Como Deus poderia ter permitido que isso acontecesse?”. Decidi que não queria um Deus que permitisse que isso acontecesse, que tinha criado esse mundo. Então, em certo sentido, simplesmente me retirei.

Ainda buscando

Quando voltei aos Estados Unidos, fui ver um padre e disse a ele que não acreditava mais em Deus. Ele me disse para ter fé, mas eu não o fiz. Deixei a igreja – minha mãe ficou muito transtornada -, e nunca voltei. Mas eu busquei.
Durante todo o ensino médio, li diferentes livros sobre espiritualidade e outras religiões. Todo esse mundo não fazia sentido para mim. Fui para a faculdade. Ainda buscava, mas não encontrava respostas. Eu me casei com um iraniano e passei a viver no Irã. Nós tivemos dois filhos, mas a situação era tão opressiva que finalmente escapei de volta para os Estados Unidos com meus filhos. Depois me divorciei do meu marido. Eu era professora. Mas ainda havia essa brecha. Eu sentia uma profunda conexão com Maria – sempre uma figura importante para mim -, mas tinha um relacionamento especial de ódio com Deus. Eu o culpava pela confusão do mundo e por tudo o que estava acontecendo.

Raios iluminadores

Um dia, em 1977, alguém em meu departamento me falou que tinha ido ver um médium. Eu nem mesmo sabia o que era isso, mas ela disse: “Por que você não tenta. É uma experiência e tanto”. Eu era mente aberta, então, fui. O espírito guia me disse que eu deveria ir a certo centro da Nova Era, e que lá eu iria encontrar o que estivera procurando durante toda a minha vida. Achei isso muito intrigante, porque eu nem mesmo tinha certeza sobre o que era isso. Eu estava muito confusa com tudo aquilo, mas telefonei. Eles estavam oferecendo alguns workshops sobre cura, então, eu me registrei. Entre minhas escolhas, estava algo chamado Um Curso em Milagres.

IP: Você tinha idéia a respeito do que ele era?

GW: Não. Mas o professor estava falando sobre perdão. Eu conversei com ele e o questionei. Estava muito interessada. Eu queria comprar os livros naquela noite, mas não tinha nenhum dinheiro comigo. O professor disse que confiava em mim e me deixou levar os livros.

KW: Isso é muito incomum na cidade de Nova Iorque!

GW: Fiquei acordada metade da noite, lendo. Era como se passassem raios iluminadores através de mim. Eu me senti quase como se fosse a voz de Jesus que estivesse lendo diretamente para mim. Quando ele disse que Deus não criou esse mundo, o quebra-cabeças de toda a minha vida se juntou. Esse foi o começo da minha cura com Deus. Foi o ponto de “eureca”. Eu senti que esse material era tão importante que eu iria iniciar um grupo semanal em minha casa. Telefonei para todos os meus amigos e disse a eles para trazerem quem quisessem.

IP: Eles eram apenas seus amigos, não eram estudantes do Curso?

GW: Não. Eu apenas disse a meus amigos que esse era um livro incrível – eles poderiam não querer voltar depois da primeira noite -, mas que deveriam ouvir o que ele dizia.

IP: Quando você conheceu Ken? Vamos ter um pouco de romance!

GW: Vi Kenneth pela primeira vez quando ele estava dando uma palestra na cidade de Nova Iorque, em junho de 1977. Todos estavam no palco: Bill, Judy, Jerry Jampolsky. Helen não estava lá, mas todos os outros sim. Quando Kenneth subiu para falar, de repente, vi essa imensa aura branca no palco, ao redor dele – e eu geralmente não vejo auras. Eu pensei: “Uau. Isso é realmente interessante!”. Eu não sabia o isso significava, e não disse nada a ele.
Naquela época, eu estava tendo muitas dificuldades em nosso grupo. Praticamente cada caminho espiritual estava ali representado. Os católicos estavam tendo muita dificuldade com o Curso. Eles pensavam que ele estava falando sobre transubstanciação [a crença na transformação literal da comunhão do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus], e eu não concordava com eles. Eles estavam tentando encaixar essa doutrina no Curso.
Kenneth estava andando para a coxia, depois de ter falado, e eu o detive e disse: “Tenho uma pergunta sobre transubstanciação”. Ele olhou para mim, surpreso, e me disse que não tinha tempo naquele momento, mas que estava no catálogo telefônico e que eu poderia telefonar para ele. Isso me pareceu ridículo, então não o fiz.
Aí, houve um encontro um mês ou dois depois, perto de onde eu vivia. Ele estava falando naquela tarde. Imaginei se eu poderia ter minha pergunta, e algumas outras poucas que tinham me ocorrido, respondidas. Ele se lembrou de mim, mas, novamente, disse que achava que não haveria tempo para discutirmos isso, pois o espaço estava muito cheio e havia várias pessoas ao seu redor. Mais uma vez, ele disse: “Por que você não me telefona?”. Fiquei aborrecida, então, não o fiz.
Houve um terceiro encontro naquele ano. Fui até lá especificamente porque sabia que Kenneth estaria dando uma palestra. Ele entrou e disse: “Ah, lá está minha amiga católica!”. Eu nunca me esqueci daquilo. Pensei: “Eu não sou católica. Se apenas ele soubesse!”. Depois, a caminho do almoço, finalmente tive as respostas para minhas perguntas, e perguntei a ele se poderia vir ao meu grupo, para ajudar a resolver nossas interpretações conflitantes. Então, eu disse a ele: “Tenho medo de altura e de cobras”. Ele disse: “Não é disso que você tem medo na realidade. Você está fugindo de Jesus”.

Cinco ou seis pessoas

Foi como se alguém tivesse me dado um tapa de leve. Do nada, comecei a chorar. Levantei-me da mesa e comecei a ruminar aquilo. Chorei o caminho todo para casa. Então, eu soube que tinha que telefonar para ele, porque não conseguia parar de chorar. Foi assim que passamos a conhecer um ao outro. Ele veio ao meu grupo. Uma coisa levou a outra. E aí está o romance!

IP: Ken, o que você estava fazendo naquela época?

KW: Eu não estava ensinando muito, mesmo que Helen tivesse morrido em fevereiro de 1981. Pediram-me para falar para muitos grupos, mas eu não queria fazer isso. A maioria dos grupos era um pouco estranha e eu não queria simplesmente ir e fazer coisas, e ouvir coisas, que eu sentia que não seriam úteis. O grupo de Gloria, e dois outros, eram exceções. Eu sabia que Gloria era séria.

GW: Foi muito estranho. Não sei dizer por que, ou o que ele disse na primeira vez em que veio. A Terceira Guerra Mundial estava para irromper no grupo, mas todos sentiam que suas perguntas tinham sido respondidas, e isso foi muito pacífico.

KW: Em 1982, fomos para a Califórnia ficar com pouco com Judy Skutch. Ela e Bob Skutch estavam dando uma palestra em uma grande conferência de milagres, na montanha do estado de Washington, então, Judy nos convidou para ir. Eu não estava agendado para falar e não estava interessado nisso. Na primeira noite, Judy estava falando sobre como o Curso foi escrito, etc. No final, ela disse: “Eu não sou a pessoa que vai responder às suas perguntas. Aqui está a pessoa que poderia fazê-lo”. Ela me convidou a subir ao palco e falar um pouco. Então, eles me convidaram para dar uma palestra no dia seguinte também. Foi a primeira vez em que falei para um grupo grande sobre o Curso.

IP: Como surgiu a idéia da sua fundação?

KW: Eu sempre estive na equipe executiva da Foundation for Inner Peace. Mas eles estavam na costa oeste e nós na costa leste, então, parecia mais fácil termos uma organização separada. Iniciamos nossa fundação no final de 1982.

IP: Por que vocês pensaram que uma fundação para ensinar o Curso era necessária?

KW: Helen tinha visto uma grande casa branca, próxima da água, com uma porta de madeira, onde estava escrito: “Fundação... paz”. Nós tínhamos visto Bill, Helen, seu marido e eu vivendo e ensinando lá, mas a forma era sempre muito indistinta. Mais uma vez, vimos isso como sendo sobre ensinar professores. Nunca divisamos qualquer coisa grande como isso. Você provavelmente ouviu a famosa linha que Helen sempre dizia: o Curso era para cinco ou seis pessoas!

Ensino

GW: E o Curso presta-se ao ensino. Eu fui professora toda a minha vida. Está claro para mim que o Curso é curricular. Existe um texto, um livro de exercícios e um manual para professores. Ele é engendrado dessa forma.

KW: Eu realmente não sou uma pessoa pública. Posso dar muitas palestras públicas, mas sou basicamente como um monge em termos de como vivo, em não querer muitas pessoas ao meu redor. Mas, sempre ficou claro que o Curso precisava ser ensinado, que Helen não ia fazê-lo, Bill não queria fazê-lo, e que seria eu que iria fazê-lo.

GW: Antes disso, em 1981, nós tínhamos transformado uma garagem de um carro em uma sala de aula, mas dificilmente conseguíamos encaixar todo mundo lá. Logo decidimos que precisávamos de um lugar maior.

Imaculada

KW: Um paciente meu, um ex-padre, falou para um amigo, Bob Draper, sobre o Curso e sobre mim. Bob começou a me escrever, fazendo perguntas e nós ficamos amigos. Eu estava para fazer um workshop de uma semana em Tuscon, Arizona, em 1982, mas tive que cancelá-lo por que meu pai tinha morrido. Eles me imploraram que pelo menos voasse até lá e ficasse apenas um dia. Eu concordei, e encontrei Bob e sua esposa, Kathy, lá. Logo a seguir, Bob telefonou e disse que sentia que deveria nos dar dinheiro. Então, ele nos deu U$ 200.000, o que nos permitiu comprarmos um lugar em Crompond, Nova Iorque.

GW: Esse foi o próximo lugar para onde fomos. Era muito maior. Nós tínhamos um espaço para escritório e duas salas grandes onde poderíamos dar aulas. Então, expandimos até isso ficar pequeno, e Bob concordou em financiar um novo lugar. Nós procuramos muitos lugares. Tentamos alguns lugares que haviam sido monastérios, mas nada parecia funcionar. Então, um amigo nos falou sobre esse lugar, aqui [Lago Tennanah, fora de Roscoe, Nova Iorque]. Então, viemos dar uma olhada. Nós o vimos em 8 de dezembro, o que era significativo para mim porque é a data da Imaculada Concepção. O lugar estava em um estado terrível, mas parecia certo.

IP: Ele é bem como a visão de Helen do prédio branco perto da água.

KW: Bem, esse claramente era um símbolo. Mas, sim, era um prédio branco com uma cruz no topo.

GW: Nós então reformamos todos os prédios, por dentro e por fora: eles estavam em péssimo estado. Nós fizemos cozinhas, aquecedores, refizemos os telhados, e construímos mais dois prédios.

IP: Vocês têm aulas, seminários e retiros privados de estudo?

GW: Sim. E nesse ano [1998], nós introduzimos semanas de contemplação. Temos workshops, aulas acadêmicas, intensivas que duram duas ou três semanas. Nós experimentamos formas diferentes conforme prosseguimos.

IP: Ken, você também está trabalhando aqui com traduções do Curso. Quantas você fez até agora?

KW: Quatro: alemão, espanhol, português e hebraico. A tradução em chinês deve estar pronta no próximo ano [1999]. Em russo deverá estar terminada nesse ano ou no início do próximo [1999]. Em francês está em processo. Uma revisão total da tradução em espanhol está em processo. Em alemão e italiano serão feitas no próximo ano [1999], uma em dinamarquês em um ano ou dois depois disso. E elas continuam.

IP: Olhando para trás, para o início de sua vida, o que você acha que recebeu de sua associação e estudo do Curso?

KW: Eu sempre estive ciente, mesmo enquanto era criança, de que havia mais do que estava acontecendo. Embora eu tenha tido uma infância feliz, sempre senti que eu não era parte das coisas, que estava à margem de tudo. Penso que o que o Curso fez foi deixar tudo claro, em termos do significado da minha vida. Eu nunca realmente tive um propósito. Em grande parte da minha vida, meu trabalho era entrar em contato com essa coisa dentro de mim mesmo, o que depois entendi que era Deus. Eu sempre tive problemas em integrar isso, e isso me capacitou a fazê-lo. O interno e o externo são um. Você não tem que sacrificar Deus para estar envolvido com as pessoas e vice e versa. Em meus primeiros anos, eu não sabia fazer isso. Nesse sentido, isso me tornou uma pessoa completa.

IP: Em certo sentido, minha pergunta perde de vista o ponto central, porque o Curso não é sobre mudar você como uma pessoa.

KW: Não. Ele me modificou no sentido de que agora eu me sinto mais integrado, mais inteiro. E se eu não tivesse encontrado o Curso, não teria encontrado Gloria!

GW: O UCEM fez toda a diferença no mundo para mim.
KW: O que se espera que você diga é que através do Curso, você encontrou seu amado marido!

GW: Antes de encontrar você, o Curso começou a curar meu conceito de Deus, minha projeção em Deus de todos os tipos de coisas e o fato de eu estar realmente zangada com Ele. Isso começou naquela primeira noite, e através de sua presença contínua em minha vida. Não posso imaginar minha vida sem o Curso. Ele juntou as peças do quebra-cabeça e as integrou. É claro, encontrar Kenneth foi importante. Eu sabia que esse era um trabalho muito importante.

IP: Eu li que vocês tiveram problemas aqui, como qualquer outra pessoa. Vocês disseram: “Bem, por que não? Esse mundo nunca vai ser perfeito”. A questão é, como vocês lidam com esses problemas conforme eles surgem? Não que vocês nunca deveriam ter problemas em um lugar “santo”.

KW: Esse é o ponto.

Nosso propósito

GW: Sim. Em nossos primeiros dez anos aqui, esse provavelmente foi nosso maior aprendizado. Nós tivemos dois empreiteiros que falharam, prédios que ficaram sem ser terminados, etc. Houve um bocado de perdão. Para mim, tem sido uma lição depois da outra. Elas sempre aconteceram em relacionamentos. Se eu soubesse naquela época o que sei agora, provavelmente teria dito: “É um ótimo lugar aqui, mas não vou fazer isso”.

KW: Sim. Em termos do lugar, nós tivemos um grande problema após o outro nos primeiros anos. Agora, as coisas correm bem suavemente.

IP: Eu freqüentemente senti que vocês estavam em uma “missão” para explicar o Um Curso em Milagres para os “desgarrados”.

KW: Não sei se eu colocaria as coisas dessa forma! Não estou certo nem de que usaria a palavra “missão”, mas realmente sinto que nosso propósito é vermos, no momento em que morrermos, que o Curso tem uma fundação sólida. O Curso realmente permanece por conta própria, mas, assim como com uma árvore pequena que começa a crescer, você tem que nutri-lo e protegê-lo. Acho que vemos nosso trabalho como sendo o de assegurar que o Curso cresça da forma que deve crescer, seja lá o que for isso.

IP: Você não acha que ele já tem essa fundação sólida?

KW: Não. Ele é tão facilmente mal compreendido. Assim como, através dos anos, o Curso tem ficado bem conhecido, ele tem se tornado cada vez mais propenso a ser mal interpretado. Não que isso seja um pecado. As pessoas simplesmente o compreendem mal. Eu não acho que eu tenha sentido em um nível consciente que era isso que eu “deveria” fazer, eu simplesmente o faço. Então, olho para trás para o que fiz e digo: “Ah, é por esse motivo que estou fazendo isso”. Assim com quando escrevo um livro, não tenho idéia de como o livro vai sair. Eu simplesmente faço o livro. Então, quando ele está terminado, eu digo: “Era sobre isso que o livro era”. Aquela primeira palestra que dei, no estado de Washington, em 1982, não foi conscientemente escolhida, mas ela levou a uma coisa, depois a outra. Ficou muito claro, conforme comecei a dá-la, quanto interpretação errônea havia. Eu não me importo se as pessoas ouvem o que eu digo, ou se concordam comigo, simplesmente sinto que é isso que vou fazer, e então o faço.
IP: Você acha que uma fundação sólida será até mesmo possível no mundo do ego?

Próximo passo

KW: Eu não sei. Acho que o ponto de partida é que nós simplesmente fazemos o que fazemos, seja lá para que propósito for. Não existe um plano como tal. Não é que Jesus ou Deus tenha um plano, e esse seja o papel que desempenhamos. Os planos acontecem através do tempo, e o tempo é uma ilusão.

IP: Vocês estão basicamente fazendo o que gostam de fazer, dado que não existe nada que alguém precise fazer no mundo?

GW: Nós dois somos pessoas muito privadas, e, se estivéssemos fazendo o que gostaríamos de fazer, não estaríamos fazendo isso. Nós não gostamos da luz dos holofotes. Eu não sinto que tenho uma missão, mas sempre senti, depois de deixar a igreja e estudar história, que as pessoas entenderam tudo isso errado. Senti que o Curso corrigiu isso e que ele era a declaração do que o cristianismo deveria ter sido. Senti que iria devotar minha vida a ele. Era algo interno. Acho que Kenneth se sente da mesma forma. Se nós tivéssemos escolhido, iríamos ficar só nós dois. Ele já tinha escolhido ser um monge.

KW: Eu não escolhi isso. Quando vi o Curso, simplesmente pensei: “Esse é o próximo passo”.

GW: As pessoas poderiam chamar isso de orientação, mas acho que está direcionado para nossa mente certa. Então, parece com o próximo passo.

O jeito que é

IP: Vocês dizem que estão ensinando o que o Curso realmente diz. Se vocês lerem uma linha do livro e então a explicarem, essa seria sua interpretação, certo?

KW: Eu não acho que o Curso tenha interpretações. Acho que ele diz o que diz. Agora, você poderia perguntar quem sou eu para dizer: “O que eu digo que ele diz, é o que ele diz”. Acho que é algo que as pessoas têm que decidir por si mesmas.

IP: Mas você afirma isso.

KW: Afirmo. Eu digo: “É isso o que ele diz”. Acho que seria desonesto continuar dizendo: “Isso é o que eu acho que ele diz”, mas eu realmente sei que é. Entendo que as pessoas vão dizer: “Ele está absolutamente certo”, “Essa é a opinião dele”, “Quem diabos ele pensa que é?”, “Ele está sendo arrogante”, ou seja lá o que for. Eu só posso fazer o que sei. Seria a mesma coisa que, quando Helen estava transcrevendo o Curso, ela dizer a Jesus que não concordava com o que ele tinha acabado de dizer. Ele diria: “Sinto muito, mas é assim que é”. Isso não vai impedir ninguém de dizer: “Bem, eu li aquele mesmo livro e entendi algo totalmente diferente dele”. Mas eu sinto que estaria sendo desonesto comigo mesmo e com os outros, se qualificasse isso como a minha interpretação.

IP: Você diz que diversas passagens do Curso são metafóricas e outras devem ser vistas literalmente. Como o leitor pode saber se é metafórico ou literal? Não é confuso? Talvez tudo deva ser visto literalmente.

KW: Sim, é confuso. Não podemos ver tudo literalmente porque seria contraditório. No Curso, o próprio Jesus diz que está falando em símbolos, que a verdade está além dos símbolos. Ele diz que está falando do Pai, Filho e Espírito Santo como se fossem separados, mas que eles não são e que ele está falando dessa maneira porque essa é a condição na qual pensamos estar. Não pode ser literal que Deus chore, que Ele tenha mãos, braços, boca ou voz, etc. Você poderia perguntar: “Quem pode dizer o que é um símbolo?”, mas ninguém poderia argumentar que não existem partes do Curso que não tenham que ser vistas como símbolos, de outra forma, seria tolo. A Canção da Oração claramente veio como uma correção para as pessoas que estavam confundindo símbolo e realidade.
Como você sabe o que é o que? Minha regra indicativa é que qualquer coisa que fale em uma moldura dualista tem que ser um símbolo, porque a verdade está além da dualidade. Qualquer coisa que fale de dualidade – tal como o Espírito Santo sendo uma voz que fala com você, ou Deus tendo um plano – tem que ser um símbolo, porque é dualista. A verdade, o Curso diz, inequivocamente, está além de todos os símbolos. Isso, para mim, está muito claro. Eu não acho que seja interpretativo.

IP: Por que você acha que ele diz coisas como que o Espírito Santo vai ajudar de qualquer forma que pedirmos, se ele realmente não quer dizer isso?

KW: Acho que ele responde isso. Você tem que ler todo o Curso, mais A Canção da Oração, para isso. Ele diz que o Espírito Santo vai responder “qualquer problema específico” e “Também foi dito a ti que tens apenas um problema” (C-2.2;3). Então, ele diz: “Na oração, isso não é contraditório” (C-2.2;3).

Confusão de níveis

Acho que você precisa entender o conceito de uma escada, e que o Curso é escrito em muitos níveis. Ele encontra você onde você acredita estar. A Canção da Oração tem o conceito de uma escada. Você começa no início e vai até o topo. Então, você começa a entender por que o Curso diz o tipo de coisas que diz. Isso estava muito claro para Helen, Bill e para mim. Nós nunca nem pensamos em questioná-lo, porque era óbvio para nós que eram símbolos (e, como psicólogos, podíamos lidar com isso). Foi uma surpresa para nós que as pessoas começassem a entender as coisas literalmente, e tirá-las do contexto. Foi aí que comecei a falar sobre o nível I e o nível II.

IP: O Curso fala sobre níveis? Não vi isso.

KW: Ele o faz, quando você o lê. Quando se é psicólogo – e não foi por acaso que as três pessoas mais próximas do Curso eram todas Ph.Ds e, basicamente, freudianas – se está muito acostumado a lidar com símbolos e níveis, e com as pessoas não dizendo o que falam. Isso não significa que não tenha qualquer significado. É apenas um símbolo.

GW: Acho que é um pensamento muito reconfortante o de que o Espírito Santo está com você, porque o ego vai pular pra frente e dizer: “Veja! O próximo passo – esquecimento”, etc. Então, é útil que seja assegurado que existe uma presença com você.

IP: O primeiro passo é que as pessoas saibam que o Espírito Santo é seu amigo.

GW: Certo. Saber que existe uma ajuda que você pode chamar, dentro de si mesmo, é muito importante no processo. O Curso diz que, eventualmente, “virá uma experiência para acabar com tuas dúvidas” (LE-291/298). Você vai entender o que é a verdade e o que é a ilusão, o que é real e o que é irreal. Então, todas as outras questões caem de lado.

KW: Quando as pessoas realmente entendem o que o Curso diz, então, todas essas outras questões caem por terra. Isso leva tempo. Quando você entende o todo, vê que cada parte se encaixa no todo e a coisa toda muda. Se você não entender o todo, então, vai pegar as partes individuais e dizer que significam isso. É como o cego e o elefante. O elefante é a tromba ou o rabo? Muitas pessoas pegam um pedacinho e dizem: “É isso o que ele diz e quem é você para me dizer que não significa isso?”.

IP: Qual você acha que é o maior erro que as pessoas cometem?

KW: Pegar o Curso nas mãos para início de conversa! [sorriso]. Talvez, seja o que estivemos falando. É não entender símbolo e metáfora. É isso o que leva as pessoas a pensarem que o Espírito Santo consegue vagas no estacionamento para elas; ou que não importa o que você faça aqui, porque é tudo uma ilusão. Essa é a “mãe” de todos os problemas.

IP: “Abençoadófilas” é sua palavra que poderíamos definir como as pessoas que negam a feiúra do ego e do mundo. Ao começarmos a ver com a visão do Espírito Santo, nossa experiência do mundo externo não vai mudar de acordo? Como sabemos que os “abençoadófilos” não estão fazendo isso? Para eles, o mundo pode ser um lugar adorável.

Degraus na escada

KW: Ah, com certeza. Mas não existe maneira de respondermos a isso objetivamente. Falando como terapeuta, no entanto, através dos anos, você se torna intuitivamente consciente de quando as pessoas estão negando. Por exemplo, há muitos anos, um paciente meu estava me contando sobre seu feriado. Ele disse: “Na terça-feira, eu fiz isso, na quinta, meu pai morreu, e na sexta, fiz aquilo”. Eu disse: “Espere. O que você acabou de dizer?”. Agora, eu poderia ter dito que aquela pessoa estava no mundo real e que a morte do seu pai não era nada, ou que provavelmente havia algo ali que deveria ser examinado. Esse é um exemplo extremo, mas, com muita freqüência, quando os “abençoadófilos” falam, você quase pode sentir que existe algo com o que eles não estão lidando. Mas eu não posso saber isso objetivamente.

IP: Tem que haver algumas pessoas que estão começando a subir alguns poucos degraus na escada.

KW: Eu espero que sim. Com certeza.

IP: Mas você não está dirigindo suas observações a elas, está?

KW: Não. Se você estiver tão avançado, não precisa desse Curso e, certamente, não tem que estar em uma aula ou ler esse livro. O Curso é para as pessoas que ainda estão em seus egos... Ah! Peguei você! [sorriso].

IP: De forma similar, qual você pensa que é o propósito daquelas lindas e poéticas passagens que você diz que estão além da nossa compreensão no mundo? Elas são “cenouras” para nos encorajarem a continuarmos, para nos darem alguma meta?

KW: Sempre acho difícil responder perguntas sobre propósito. É desse jeito, e então nós tentamos entender por que é assim. Acho que uma razão é que Helen adorava poesia. Ela sentia que essa era a dádiva de Jesus para ela, em algum nível. Foi assim que ela expressou isso para mim. Isso realmente dá ao Curso certa dignidade.
É lindo e, em um nível prático, também exige que a pessoa o leia muito cuidadosamente e preste atenção. Você não pode acelerar a leitura dele. É uma forma maravilhosa de integrar o conteúdo sublime do Curso com uma forma que também é muito sublime.

IP: O Curso diz que é apenas um entre centenas de caminhos. Então, ele fala sobre as “religiões do ego”, o que a maioria desses outros caminhos seria. Você acha que esses outros caminhos funcionam? Você pode atingir Deus dessa forma, se eles engendram julgamento e culpa?

KW: Sim. É preciso entender que no Curso, Jesus está falando do ponto de vista do Curso. Dessa perspectiva, quase todos os caminhos espirituais são do ego – certamente, as religiões ocidentais são. Mas, se o Curso não é o único caminho espiritual que vai levá-lo para casa, então, existem outros pontos de vista. Se você estiver partindo de outro ponto de vista, então, o Curso é visto sob um prisma diferente. Ele pode ser visto como trabalho do diabo, o trabalho do ego, ou do inconsciente de Helen.

Exemplo de amor

Um dos valores de alguém como Madre Tereza era que ela claramente tinha transcendido, pelo amor que ela exsudava, em um caminho espiritual que é, em certo nível, repleto de culpa e julgamento. Ela seguiu aquele caminho perfeitamente, mas você sentia uma presença muito amorosa. Eu a ouvi falar em várias ocasiões e a conhecia pessoalmente. Quando ele falava sobre aborto, você nunca tinha um senso de julgamento. Ela era clara sobre o aborto ser ruim, mas não que, se você tivesse feito um aborto, seria condenado ao inferno. Ela podia ser um membro do que o Curso diria ser uma fé baseada no ego e, no entanto, ela fazia isso com tal pureza de conteúdo que transcendia a forma, e então, se tornou uma porta-voz do amor de Jesus. Quantos estudantes do Um Curso em Milagres iriam querer se colocar no lugar dela, como um exemplo de amor e expressão isenta de ego?

IP: Em relação ao caso judicial Endeavor Academy x Penguin pelo copyright, você poderia processar alguém sem atacá-lo?

KW: É claro que pode. É a mesma coisa que dizer: “Se eu sou um estudante do Curso e digo que o corpo é uma ilusão, por que iria me tornar cirurgião; como eu poderia me tornar enfermeira; por que iria ao médico quando estiver doente?”. Não é o conjunto de leis que é o problema, é o julgamento, ódio, raiva e separação que elas forjam. De fato, você pode ter um caso muito forte de outra forma e dizer: “Essa é uma maravilhosa sala de aula”. Como você poderia passar com algo que, no nível da forma, obviamente é do ego, e fazê-lo sem raiva, julgamento e condenação? Penso que é uma oportunidade maravilhosa. É o mesmo que Madre Teresa: sua religião expressa julgamento e especialismo, mas ela o fez com uma atitude que transcendeu tudo isso. Por que isso seria diferente?

IP: Presumo que você pense que prosseguir com esse caso jurídico é um ato amoroso, para preservar a integridade do Curso?

KW: Sim, e você tem que usar as coisas do mundo, porque é aí que acreditamos estar.

GW: A pergunta que você deveria fazer é: “Por que as pessoas estão invalidando o copyright?”. Quais são seus motivos? Existe um copyright válido. Por que elas sentem que têm que roubar e fazer isso? Por que elas não podem se conformar com a forma que escolheram como sua lição nesse mundo? Elas escolheram vir para cá, ou encarnar, nessa época, com essas leis internacionais de copyright. Então, porque escolheriam invalidá-las e não se conformarem com elas?

KW: A questão é que você faz o que você faz, o melhor que pode sem o ego. Dizer que uma pessoa espiritual não segue um conjunto de leis é a “Primeira lei do caos” de que existe uma hierarquia de ilusões. Isso não é diferente de dizer, quando você está doente, que você não vai a um médico porque, “afinal, está tudo na mente”, ou que o Curso diz que você não corrige os erros e você é um professor escolar cujos alunos dizem: “Quatro mais quatro são sete”. As pessoas confundem níveis. Não há nada que você deveria fazer ou deixar de fazer. Depende de como você o faz. Não é a forma que é importante, é o conteúdo amoroso que você cumpre. Você pode seguir com o caso de outra forma: “Por que um amoroso estudante do Um Curso em Milagres estaria envolvido em um caso jurídico?”. Essa pode ser uma maravilhosa sala de aula. Não estou dizendo que é por isso que você o faz, mas que você o faz porque é isso o que está no programa hoje.

Prática espiritual

IP: Como você aplica os princípios do Curso em sua vida diária?

KW: Eu faço isso como o ensino e como o Curso diz. Tento viver meu dia tão livre de ego quanto possível, e, uma vez que ele geralmente envolve muitas pessoas, existem muitas oportunidades.

IP: Você tem alguma forma particular de prática espiritual? Sei que você ensina contra rituais. Você medita ou qualquer coisa como isso?

KW: Eu não faço nada de forma regular, ritualística. Eu geralmente caminho pela manhã, mas tenho feito isso por quarenta estranhos anos. A meditação e outras disciplinas espirituais têm valor, mas acho que elas são uma espada de dois gumes. Você pode se tornar dependente demais delas. Qualquer coisa que o ajude a se tornar mais pacífico e mais focado é benéfica. O perigo está apenas em que isso pode se transformar em um relacionamento especial. Eu costumava meditar, mas não faço mais isso, não.

IP: No topo da sua montanha, em Israel!

KW: Certo! Com freqüência estou quieto, mas nada de qualquer forma prescrita.

IP: Obrigado aos dois.

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Reproduzido em sua totalidade com a gentil permissão de Ian Patrick.

Essa entrevista foi conduzida por Ian Patrick na Foundation for A Course in Miracles, Roscoe, Nova Iorque, em 11 de setembro de 1998.

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Co-criando A NOVA TERRA

«Que os Santos Seres, cujos discípulos aspiramos ser, nos mostrem a luz que
buscamos e nos dêem a poderosa ajuda
de sua Compaixão e Sabedoria. Existe
um AMOR que transcende a toda compreensão e que mora nos corações
daqueles que vivem no Eterno. Há um
Poder que remove todas as coisas. É Ele que vive e se move em quem o Eu é Uno.
Que esse AMOR esteja conosco e que esse
PODER nos eleve até chegar onde o
Iniciador Único é invocado, até ver o Fulgor de Sua Estrela.
Que o AMOR e a bênção dos Santos Seres
se difunda nos mundos.
PAZ e AMOR a todos os Seres»

A lente que olha para um mundo material vê uma realidade, enquanto a lente que olha através do coração vê uma cena totalmente diferente, ainda que elas estejam olhando para o mesmo mundo. A lente que vocês escolherem determinará como experienciarão a sua realidade.

Oração ao Criador

“Amado Criador, eu invoco a sua sagrada e divina luz para fluir em meu ser e através de todo o meu ser agora. Permita-me aceitar uma vibração mais elevada de sua energia, do que eu experienciei anteriormente; envolva-me com as suas verdadeiras qualidades do amor incondicional, da aceitação e do equilíbrio. Permita-me amar a minha alma e a mim mesmo incondicionalmente, aceitando a verdade que existe em meu interior e ao meu redor. Auxilie-me a alcançar a minha iluminação espiritual a partir de um espaço de paz e de equilíbrio, em todos os momentos, promovendo a clareza em meu coração, mente e realidade.
Encoraje-me através da minha conexão profunda e segura e da energia de fluxo eterno do amor incondicional, do equilíbrio e da aceitação, a amar, aceitar e valorizar  todos os aspectos do Criador a minha volta, enquanto aceito a minha verdadeira jornada e missão na Terra.
Eu peço com intenções puras e verdadeiras que o amor incondicional, a aceitação e o equilíbrio do Criador, vibrem com poder na vibração da energia e na freqüência da Terra, de modo que estas qualidades sagradas possam se tornar as realidades de todos.
Eu peço que todas as energias e hábitos desnecessários, e falsas crenças em meu interior e ao meu redor, assim como na Terra e ao redor dela e de toda a humanidade, sejam agora permitidos a se dissolverem, guiados pela vontade do Criador. Permita que um amor que seja um poderoso curador e conforto para todos, penetre na Terra, na civilização e em meu ser agora. Grato e que assim seja.”

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