Águas de março - Raphaela C. Mello

[Sonia Ollé]

Águas de março  - Raphaela C. Mello

 

"Elas banham a terra, promovendo a vida,

e ainda nos ensinam a abrir caminho

onde antes só existiam barreiras."

O canto das chuvas anuncia o fim do verão.

Mas esse é só o começo.

A terra molhada nos faz uma promessa.

Diz ela que a vida florescerá sob o céu enquanto as águas cumprirem seu curso:

 

Cair, escorrer, abrir fendas e driblar rochedos até

se unir à vastidão do oceano.

Por sua trajetória errante, a água representa movimento, fluidez, mas também tenacidade.

 

"Ela tem a capacidade de preencher espaços vazios e contornar obstáculos, ou mesmo pingar lentamente até desgastar um anteparo.

 

Por isso, segundo a filosofia tradicional chinesa, se quisermos agir com sabedoria no cotidiano

devemos seguir tal exemplo",

 

Afirma Márcio de Luna, presidente da Associação Brasileira de Acupuntura do Rio de Janeiro (ABA-RJ).

Em termos espirituais, a água é universalmente reconhecida como símbolo da purificação do corpo e do espírito.

 

"Esse entendimento se manifesta na cerimônia do batismo e também quando ingerimos o líquido ou fazemos imersões em água limpa e corrente", diz o especialista.

 

Depois de um banho de mar ou de cachoeira, não há incômodo que persista.

 

É um santo remédio.

Podemos ainda nos relacionar com esse elemento por

meio da simples contemplação.

Sentadas à beira do riacho, observando a torrente correr diante de nossos olhos, assistimos ao espetáculo da impermanência, como bem apontou o pensador

grego Heráclito, autor da célebre frase:

 

"Um homem não se banha duas vezes no mesmo rio".

 

O sábio nos lembra que, assim como a água,

estamos todos de passagem nesta vida.

 

 

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Luz... Força... Proteção... Amor... Paz...

 

Com muita Alegria para Todos UM!!!

 

Lisa Ono e Miúcha - "Águas de Março" em Japão '07

 

ÁGUAS DE MARÇO
Tom Jobim

"É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o MatitaPereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
pau, pedra, fim, caminho
resto, toco, pouco, sozinho
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração."

 

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