EBULIÇÃO CADENCIADA

[Luiz Soares da Silva]

Luiz Soares das Terras Nordestinas.

Ao longo destes últimos quarenta anos vivi, desafiei, desconfiei, neguei e me entreguei na busca das causas maiores. Para tanto me tornei um rebelde de carteirinha. Para consagrar a minha rebeldia adentrei nos esportes radicais, sendo o mergulho o meu passa tempo predileto.

Na sinfonia do ilimitado o oceano foi o santuário ou o palco das minhas descobertas. Ao me afastar da costa via o litoral praticamente desaparecer gradativamente. À medida que me distanciava mais pequenino eu ficava naquele mundo de água e céu. A embarcação com dois motores potentes propulsores de um casco invejável, de nada valia naquela imensidão de água azul.

Como que querendo ser parte viva daquele cenário criava a emoção de bisbilhotar o que havia lá em baixo. A definição mais maravilhosa que alguém já usou seria estar in grávido. A expressão tem um significativo descomunal, qual seja nos colocarmos dentro de um útero materno e flutuarmos no líquido amniótico que nos sustenta e nos acalenta.

Em cima apenas o fundo da embarcação como sendo uma mísera “casca de coco”, oceano ilimitado. No fundo areia ou rochas onde a vida se perpetua. A meia profundidade não tem nenhum tipo de referencial. O silêncio é total. Sentimos-nos como pássaros a cruzar o horizonte. Voltamos ao nosso estágio inicial. Neste momento só temos pensamentos pueris. Sim, podemos voar no sentido amplo da palavra. Não estamos mais presos, os grilhões da materialidade desapareceram, somos livres!

Nos momentos atuais depois de tantas incursões nos mares das terras alagoanas e norteriograndenses tentamos nos situar. Tentamos encontrar justificativas para tantos encontros e desencontros que a peça teatral da vida nos prega. Na materialidade nada de excepcional e, o sentimento geral seria de que somos apenas pessoas que lutam dentro de dois pontos referenciais: mais e menos.

Desisti e me agarrei à espiritualidade sem, entretanto deixar de manter um vínculo com os ensinamentos que me foram repassados, por ocasião da preparação da minha primeira comunhão, dentro das regras do catolicismo. O espiritismo se tornou para mim, não um tratado; mas, sim explicações lógicas sobre a nossa verdadeira grandeza. Mais do que um corpo acumulamos energia e, por isso somos luz. É isto que nos torna imortais!

E assim chegamos a 2012 com o pensamento tentando formatar o que seria o grande fato histórico, na realidade da humanidade, com o termo de Ascensão. Atravessei como todos nós atravessamos e, confesso que fiquei um pouco decepcionado. Queria ou imaginava um espetáculo pirotécnico sem precedentes. Nuvens carregadas e carruagens de luz cruzando por todos os cantos e recantos do planeta. Sem dúvidas pensei sim apenas no cenário e este foi o meu maior engano.

A libertação da energia acumulada não depende do cenário de um dilúvio. Não depende com o que aconteceu com civilizações que nos antecederam e sofreram o desastre total, em todos os sentidos. Pontualmente e comparativamente cheguei à conclusão de que o desafio maior seria nos vencermos, nos descobrirmos a nos mesmos, encontrando não lá fora o que temos inserido dentro de cada um de nós.

Os meus inseparáveis amigos e irmãos da espiritualidade muito tem me ajudado a compreender o momento atual. A nossa liberdade tem que acontecer de forma intrínseca, naturalmente falando. Temos que nos definir e criar as condições que nos situem dentro da grandiosidade da consciência cristica. Não podemos acreditar por temeridade. Não devemos nos converter sob a influência do medo. Devemos sim, deixar florir o sentimento de filho do universo.

Estamos num processo de ebulição cadenciada. O planeta, climatologicamente falando abandona as supostas proposituras estatísticas com que o homem tenta brincar com o tempo, o oceano cresce com o degelo, a chuva torrencial incomoda na sua limpeza geral, o vento levanta a poeira do Saara e turva a cidade de Londres. O mundo sente o valor da água sob a batuta da seca. O mundo se penaliza com o quadro sem moldura que a fome retrata.

E o tempo para a conclusão de tudo isto? Sem previsão. A previsão se vincula a consciência do despertar de cada um de nós. Muitos já absorveram; entretanto, uma grande maioria ainda continua com os pés no chão e acorrentado aos seus delírios materialistas.

Eis o que me vem como justificativa. Eis o que seria nos situarmos no geral e nunca na especificidade. Por isso mesmo não haveremos de presenciar grandes calamidades ou desastres que possam varrer da superfície da Terra todos os seus inquilinos. O processo evolutivo depende de uma conscientização coletiva de forma assimilativa e construtiva que venhamos a desejar, por livre e espontânea vontade – haja paciência e coragem!