falando de jesus

[luciane brum]

FALANDO DE JESUS


Vejo Jesus como um gênio. Não o da lâmpada, o daqui mesmo, da Terra. Artesão supremo de todas as ciências e artes. Jesus, engenheiro máximo que faz brotar de seus esboços a trama complexa dos corpos que nos atendam as necessidades evolutivas. Um arquiteto que forja nossas carnes, músculos, ossos, entranhas e olhos que nos abrigam o espírito livre nesta breve passagem.
Cuida esse nosso pai generoso da logística dos nossos ares, arrastando nuvens e ventos até onde se precisar de rega. Apara com carinho as traquinagens que fazemos no planeta – purifica fumaças, renova nascentes, fertiliza a terra com nossas sujeiras.
Orienta um batalhão de benfeitores em cada canto da Terra; na lida com as tempestades renovadoras, na arrumação das florestas, no beijo das flores. Inunda de bênçãos e inspirações mesmo os corações mais perversos, e faz fluir uma garoa de êxtases tranqüilos sobre a cabeça dos que lutam com passos milimétricos pelo refazimento da alma humana.
Tem esse nosso guru cósmico a paciência das galáxias, o olhar terno e purificado das estrelas mais lindas. Torna eternamente a este nosso ninho de joão-de-barro que insistimos em maltratar com nossas bicadas estúpidas. E, incansável, não nos deixa um segundo sequer sem a noção da beleza e da perfeição em detalhes de grandiosidade tão elegante que sequer percebemos na busca insana que o egoísmo nos impõe.
Conta conosco mesmo sabendo que ainda demoramos nas searas da incompreensão e da ingratidão. Viajante na eternidade dos tempos e dos espaços, aguarda calmamente nosso caminhar lento e teimoso. Gira diariamente, com dedos cuidadosos, este nosso planeta frágil e nos traz todas as formas da beleza celestial. Enche de encantos e perfumes todos os ângulos da nossa visão curta e mesquinha.
Cuida de nossas mentes traiçoeiras e ignorantes, quando desesperados só lhe dirigimos o pensamento nas horas de aflição, e releva as horas enormes em que lhe ignoramos a existência.
Brindou-nos essa alma sábia com as mais belas formas traduzidas em continentes e ilhas, em diversidade de seres, em vales e montanhas de candura indescritível, moldados na paciência dos milênios. E, caridoso, deixou-nos dormente no pensamento a visão do Universo, que transformamos em poesias, em pinturas e melodias, nos momentos em que olhamos acima de nossas cabeças ocas. Pai delicado, que nos permite as lágrimas quando nos vemos jogados nos abismos da nossa imperfeição, ou alçados aos píncaros das nossas mais puras emoções.
Jesus, mestre dedicado e amoroso que desenha nossos sonhos, e que ora nos poupa de ver sua alma santificada, pois nossos olhos de crianças cegariam diante de tanta luz e divindade.