"O caminho"

[Tati Castro]

Estou na praia, é tarde e o sol já vai se por, observo o mar admirando o movimento constante das ondas, elas parecem felizes com sua missão vão e voltam do infinito, a milhões de anos num bailado belíssimo que inspira paz e conforto. O mar sabe que todos têm uma missão que equilibra o Cosmo, e que quando nos rebelamos ou nos negamos a cumpri-la utilizando-nos do livre arbítrio, o Universo perde seu equilíbrio e entra em espera para que possamos retornar a missão abortada.

Fico ali parada, hipnotizada com a incrível energia que emana do mar. Sinto uma brisa leve em minha face, ela sussurra um mantra de cura para mim, sinto-me leve, calma, pareço até mesmo flutuar. Uma energia de paz e amor toma conta de meu ser, meu corpo vibra em conjunto com minha alma, vibram alegria e gratidão por este momento.

Entro em transe profundo, sou guiada a outra dimensão, não sinto medo, sei que estou vivendo uma experiência única, mágica e multidimensional. Continuo na praia, mas em outra realidade de tempo/espaço. Uma Luz dourada me envolve emanando uma energia impar de amor e paz tão grande que é difícil descrever em palavras. Não sei precisar quanto tempo dura esta experiência só sei que é maravilhosa e gostaria que ela não terminasse nunca, sinto-me protegida e segura como se nenhum mal pudesse chegar a mim, minha alma clama por uma oração e as palavras vão soando como música em meus ouvidos:

“Senhor,

Hoje meus olhos te enxergam,

E minha razão te compreende.

Meus caminhos me mostraram a força de tua energia, e o poder de teus ensinamentos.

O Cosmos arde em chamas de amor e suas setas se disparam em todas as direções...

Não haverá pedras que impeçam a minha caminhada, e nem angustia a arrebatar os meus dias...

Porque eu conheci o Teu nome. E aqui, eu te REAFIRMO ao mundo! A Ti ... e a Tua eterna Gloria, assim seja!”

Volto a pisar na areia e vejo a minha frente uma pequena luz a brilhar, uma voz dentro de mim, diz :

- “Siga a luz ela é sua Estrela de Belém.”

Começo a caminhar em sua direção e a cada passo que dou sinto minha alma se expandir, é como se todo o Universo vibrasse com aquele acontecimento. Vou andando, andando, minhas pegadas vão ficando na areia como marcas de agradecimento. Alcanço as pedras e subo com esforço, escalando o monte a minha frente, estou próxima a luz seu brilho esta mais intenso. Chego ao alto, onde uma verde relva completa o belo cenário ao meu redor. Fico enaltecida com o que vejo – A minha estrela de Belém é a lanterna do Eremita, que parado ao lado de uma linda escada me espera amparado pelo seu cajado.

Ele ergue sua lanterna para melhor iluminar a imensa escada que vai ate o céu, ela é feita de pedras e suas laterais cobertas de flores de vários tamanhos e cores, roxas, azuis e rosas com lindas folhas verdes, formam um corrimão vivo e colorido.

Sou tomada de uma grande emoção, lágrimas correm em minha face, estão lavando as impurezas de meu ser, preciso estar pura para me aproximar do Eremita. Sua figura é tão bonita e marcante, um ancião, com seus de grande sabedoria 60 anos, barba e cabelos brancos semblante cansado e marcado pelos anos de dedicação a sua missão. Esta ali aos pés da grande escadaria a me esperar iluminando o caminho para mim.

Pergunto-me sem parar – Sou merecedora deste momento? De estar aqui vivendo esta experiência?

Lágrimas banham minha face, uma alegria e uma dor inundam meu peito, pois um telão surge e nele é projetado toda a historia de minha vida, todas as minhas falhas, todas as vezes que errei ou vacilei que me afastei do meu caminho são mostrados anos, décadas passam em segundos. Meu Deus quantos erros cometi, não me lembrava mais de ter sido tão fraca e covarde.

Porque isto agora meu Deus? Me trazer até aqui para me apontar o dedo, mostrar quão fraca e pecadora eu fui? Estaria eu tão perto do céu, de minha ascensão, para ser informada de que sou indigna de ir ate lá?

Paro de caminhar, meu desejo é de retornar, fugir dali, não quero ver mais nada; já me sinto pequena e inferior, abaixo a cabeça como sinal de derrota, de entrega. Sou perdedora, perdi a batalha da vida. Sou culpada, culpada. Eu me sentencio.

- Minha pequena aprendiz, quão incrédula tu es. Não se envergonhe, venha, lute. Precisamos conhecer nossas fraquezas, nossos erros, o nosso lado obscuro para poder ascender e encontrar a luz. Pois só pode conhecer a luz quem já foi apresentado à escuridão.

Estas palavras atravessaram meu peito como há uma flecha de amor, compreendi a beleza daquele momento ímpar e segui em frente, inundada de coragem, paz e um imenso amor. De repente na tela começou a passar todas as minhas vidas terrenas e as missões que me propusera a cumprir. Vejo que fui guerreira, escrava, cigana, marquesa e sacerdotisa. Tive belas encarnações, e em cada uma aprendi e desenvolvi meu espírito para este momento.

Estou agora frente a frente com o Eremita, me ajoelho diante de sua figura, para receber sua benção.

- Minha pequena criatura, você tem viajado por séculos, trabalhando em prol de um bem maior, os seus esforços foram reconhecidos e o seu momento chegou. Este é o caminho da sabedoria o caminho sem volta a dimensão do amor e da paz, o caminho que te leva ao Criador. E eu estou aqui para conduzi-la, vamos...

- Vamos! Obrigada, obrigada, obrigada!!!!

Ao me levantar vejo que a luz lá em cima é como a luz aqui em baixo; sinto que ele conhece bem aquele lugar, e que a luz de sua lanterna provem de lá.

*Autoria: Tatiane Ribeiro de Castro

A oração citada no texto é um trecho da "oração em resposta ao salmo 91."