O LIVRO TIBETANO DA GRANDE LIBERTAÇÃO

[Maria Rodrigues]

Como a dualidade não existe realmente, a separação é falsa. Até a dualidade ser transcendida e a unicidade realizada, a Iluminação não pode ser atingida. O samsara e o nirvana na sua totalidade são uma unidade inseparável, são o nosso próprio espírito.

Os seres andam perdidos no samsara devido às crenças mundanas, que são livres de aceitar ou de rejeitar. Por conseguinte, praticando o Dharma, livre de todo o apego, tenta abarcar a essência destes ensinamentos.

Embora o espírito exista, não tem existência.

Quando procuras o espírito no seu estado verdadeiro, vê que o espírito é inteligível, embora invisível.

No seu estado verdadeiro o espírito é nu e imaculado, não é feito da nada, é vacuidade. É claro, vazio, não-dual, transparente, intemporal, não-composto, sem impedimentos, sem cor.

Não é percepcionável como uma coisa distinta, mas como a unidade de todas as coisas, embora não sendo composto por elas, tem um gosto único e transcende a diferenciação.

Sendo o espírito verdadeiramente vacuidade e não tendo qualquer fundação, o espírito é vazio como o céu.

Para saber se é assim ou não, olha o interior do teu próprio espírito.

Sendo meramente um fluxo instável como o ar no espaço, as aparências objectivas não têm poder para fascinar e impedir.

Para saber se é assim ou não, olha o interior do teu espírito.

Todas as aparências externas, emergindo por si mesmas e sendo naturalmente livres como as nuvens no céu, na verdade desaparecem nos seus respectivos lugares.

Para saber se é assim ou não, olha o interior do teu espírito.

Porque o Dharma não está em sítio algum sem ser no espírito, não há outro lugar para meditar que não seja o espírito. Porque o Dharma não está em sítio algum sem ser no espírito, não há outra doutrina para ser ensinada ou praticada noutro sítio.

Porque o Dharma não está em sítio algum sem ser no espírito, não há outro lugar para verdadeiramente se cumprir um voto.

Porque o Dharma não está em sítio algum sem ser no espírito, não há outro lugar onde a Liberdade possa ser atingida.

Ainda e sempre, olha o interior do teu espírito.

Quando olhas para o exterior, para a vacuidade do espaço, não há espaço onde se possa encontrar a luminosidade do espírito. Quando olhas o interior do teu espírito em busca do que brilha, não encontras nada que brilhe.

O nosso espírito é transparente, sem características. Sendo vazio de características é comparável a um céu sem nuvens.

O estado do espírito que transcende todas as dualidades leva à Libertação.

Ainda e sempre, olha o interior do teu espírito.

(traduzido p/inglês por W. Y. Evans-Wentz)

citado por Jack Korndield

em "Os Ensinamentos do Buda"