De um lado, quem planta. De outro, quem consome os alimentos. E o que acontece quando essas duas pontas se unem? É esse modelo de produção que o Globo Rural mostrou neste domingo (22). São as CSAs – comunidades que sustentam a agricultura.
Há seis anos, o agricultor Edson Rosa conseguiu oito hectares de terra num assentamento em Planaltina, no Distrito Federal. No começo, a produção servia principalmente para alimentar a família. Vendia o que sobrava, mas era pouco e a renda não chegava a um salário mínimo. A vida só mudou depois que a família descobriu a CSA.
Funciona assim: um grupo de pessoas se reúne para financiar o produtor rural. Em troca, recebe os produtos da roça. Quem está na cidade não é chamado de consumidor, mas de co-agricultor. Afinal, são pessoas ativas, que participam do processo.
Nesse modelo de produção, o agricultor calcula quanto vai gastar durante o ano inteiro: com muda, sementes, adubos, energia. No caso do Edson, R$ 66 mil. Esse valor é dividido entre os 22 co-agricultores que fazem parte dessa CSA. A mensalidade fica R$ 277 para cada um.
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Nessa conta, entra também uma porcentagem de lucro para o produtor. Assim, o Edson tem uma renda garantida de R$ 3 mil. Em troca, os financiadores da CSA levam para casa, toda semana, uma cesta de alimentos fresquinhos e aprendem a conviver com os riscos da agricultura.
Graças a esse modelo, a família de Edson resolveu um grande problema que enfrentava no sítio – o desperdício. “Era complicado porque ele levava para a feira e voltava às vezes com metade dos produtos”, diz a agricultora e mulher de Edson, Vanessa Carneiro. Agora, a produção tem destino certo. Em um ano, a família passou de oito itens cultivados para mais de 20, entre frutas e hortaliças.
E como se forma uma CSA?
Uma das pioneiras da atividade no Brasil, Claudia Vivacqua, explicou para o Globo Rural que as comunidades podem se formar por iniciativa do agricultor ou dos consumidores. Não existe nenhuma entidade de certificação ou de controle. O funcionamento da parceria é definido pelos membros do grupo.
“As CSAs são uma iniciativa da sociedade civil, não existe um organismo jurídico. Porém, algumas CSAs criam os seus próprios contratos. Mas não são contratos com valor jurídico, são contratos na base da confiança”, explica Claudia.
Ela faz parte da CSA Brasil, uma organização não-governamental que estimula esse tipo de atividade. A entidade sem fins lucrativos tem sede em São Paulo e atua em todo o país. De tempos em tempos, o grupo organiza cursos, que reúnem agricultores, técnicos, consumidores.
O professor Wagner dos Santos, presidente da CSA Brasil, explica que um dos objetivos dos encontros é mostrar que uma CSA é muito mais do que uma parceria comercial. “Quando a gente sustenta um organismo agrícola que a gente fala, a gente tá sustentando ele de porteira fechada, com tudo o que tem dentro, com os pássaros, lençol freático, nascentes, florestas, animais. Estamos sustentando o todo”.
Em cinco anos, esses cursos já receberam 150 pessoas. Durante o curso, o grupo tem aulas práticas no campo. A ideia é estimular a produção de alimentos aliada à preservação do meio ambiente. Quem vive na cidade vê de perto a rotina do agricultor.
As comunidades que sustentam a agricultura começaram a ganhar força no Brasil na última década. Hoje são mais de cem em todo o Brasil. Melhoria de vida para quem planta. Alimentos saudáveis para quem compra. Um modelo que aproxima produtores e consumidores e que gera renda, valoriza a produção local e respeita o meio ambiente.
Cada CSA estabelece as suas regras de funcionamento: valor da contribuição, os alimentos que vão na cesta. Tudo é combinado caso a caso.