Uma vez me fizeram a seguinte pergunta:
"Eu tenho sempre a sensação de ser inadequado. Esta é a palavra que me define. Inadequado. Parece que estou sempre dizendo a coisa errada na hora errada, estou sempre no lugar errado olhando para o lado errado. Sei que não dá pra errar tanto assim, mas essa sensação me tortura, aí o que eu tento fazer pra amenizar a situação é fazer o mínimo de coisas possível, mas está difícil pra se livrar dessa sensação. O que é isso? Porque eu me sinto assim?"
Resposta:
Essa sensação que te persegue, a sensação de estar sempre sendo recriminado por alguém ou por você mesmo tem um nome bem conhecido. É a famosa culpa . E o mais interessante nisso é que a pessoa que vive carregada de culpa acaba mesmo se cercando de pessoas que alimentam mais ainda a tal da culpa que você já sente, é possível que você tenha, inconscientemente se aproximado de pessoas que vivem apontado o dedo pra você e dizendo o quanto que você está errado. Você pode ter até mesmo a sensação de que está atraindo pessoas que vivem te recriminando. Isso porque quando as pessoas percebem que tem alguém no grupo sempre disposto a assumir a culpa do mundo, aí esse grupo se aproveita, mesmo que inconscientemente, e passa a ter você como o bode expiatório. Vamos entender como tudo isso começou. Quando criança você recebe um monte de regras, um monte de normas, não pode jogar comida na parede, não pode morder o irmão, não pode falar palavrão, você foi um vaso onde foi armazenando e aceitando todas essas regras. Você não pode negar que é confortável ter regras, as regras nos deixam tranqüilos porque sabemos que estamos fazendo as coisas certas, estamos dentro das regras. Mas... Mesmo sendo muito confortável não deixa de ser limitante. Quando você começa a ter os seus interesses, os seus objetivos. Essas mesmas regras podem te impedir de buscar a sua felicidade. Então pra você ser você mesmo.. Para você conquistar agora a sua identidade. Saber quem você é. Você vai ter que romper com essas regras. Você vai ter que assumir a responsabilidade por ser você mesmo, e não ser o que os outros ditaram.. É claro que esse processo não é tranqüilo. Precisa de força pra isso, romper com as normas que você aprendeu de pessoas que te queriam tão bem. Não é fácil. Dizer NÂO para essas pessoas tão cheias de boas intenções, não vou mais seguir as suas regras, agora eu traço o meu caminho. Isso gera insegurança. E medo. Quebrar esse vaso significa que você está correndo o risco de ser rejeitado. Eles gostavam de você quando você era aquela pessoa que eles formaram. Eles gostavam de você quando você era aquela pessoa que eles conheciam. E mudar pode ser muito duro, porque nem sempre os outros aceitam que você mude. Os outros estão confortáveis no que conheciam a seu respeito. E quando você sinaliza que está pensando com a sua ppa cabeça. Se inicia uma ameaça de não ser mais aceito. E diante dessa ameaça de não te aceitarem mais. Você fica inseguro. E aí é que entra ela. Ela. A culpa. A culpa é um indicador que você errou. “Eu não devia ter mudado meus pensamentos, devia continuar a pensar como os outros. Não devia ser eu mesmo.” Como vocês podem ver. Pra uma pessoa se sentir culpada ela precisa de que outras pessoas lhe aprovem ou recriminem. É sempre o outro que lhe aprova ou recrimina, você nunca está sozinho nessa. Por mais que sua impressão é que “não precisa ninguém falar. Eu mesmo me culpo”. Você se culpa por causa de coisas que você tem dentro de você mas que foi introjetado em algum momento no passado. Por exemplo. Se você matar alguém.. Você vai se sentir culpado, com certeza porque a nossa sociedade condena o assassinato.. É um ato horrível, mas se você tivesse vivido naquelas sociedades antigas que sacrificavam pessoas para os deuses, você não sentiria culpa nenhuma em participar de uma cerimônia de sacrifício humano. a culpa vem sempre das regras que a gente recebe. Quando você não avalia pra você mesmo se as coisas que você faz, escolhe, fala, se são coisa que estão de acordo com o que você é no seu intimo, se você não fizer essa avaliação, você vai viver pela ótica do outro. Pela forma do outro ver o mundo, e aí pelas expectativas que o outro tem de você. E quando você vive pra seguir o que o outro quer de você.. É que você vive naquela corda bamba de se sentir INADEQUADO. Essa foi a palavra que você usou Manoel. É a forma como você se sente. E se sente assim porque internamente, e nem sei se você tem consciência disso, mas você provavelmente vive querendo corresponder as expectativas dos outros. Isso é a base da ppa insegurança. O inseguro é aquele que não sabe o que fazer porque o referencial não está dentro dele. Não está acessivel, o referencial está fora, nos outros, é difícil adivinhar o tempo todo o que os outros querem de nós, mesmo porque os outros vivem querendo de nós coisas que são boas para eles, e não para nós. A forma como você vai lidar com isso é que vai determinar se você será uma pessoa segura ou insegura. E esse ponto é muito importante porque se você for se mantendo inseguro essa dor pode até virar uma dor física. Você passa a ter dor de cabeça, gastrite, dor muscular, etc. Como tb pode aparecer os medos. As raivas. E vem tudo junto com a culpa. A culpa e a raiva vivem de mãos dadas. Porque se você quer uma coisa. E não consegue essa coisa. Você passa a ter raiva por não ter conseguido. Quando você sente que precisa romper com as normas que não são mais adequadas.. Por exemplo. Você aprendeu a norma de ser sempre bonzinho com as pessoas. Isso toda criança aprende na família. Quando você percebe que essa norma não é correta em todas as situações.. Que você vai ter que deixar de ser Bonzinho. Vem a raiva pelo conflito interno. Raiva de querer ser menos bonzinho mas ao mesmo tempo ter esse aprendizado dentro de você de que você deveria ser sempre o Bonzinho.
Dica:
Quer saber se você está feliz com você mesmo ou não? O quanto você está carregando culpas, medos, tristezas, o quanto você se gosta? Faça uma lista, aliás duas listas, em uma você coloca as situações onde você gostou de você mesmo, as habituações onde você se percebeu como uma pessoa legal e realizada, e ao lado, outra lista contendo as situações onde você não gostou de você mesmo, onde você não se sentiu feliz, onde você percebeu que tem algo pra ser melhorado.
Metáfora:
Certo dia um bezerro teve que atravessar o bosque para voltar. Sendo um animal irracional deixou uma trilha muito tortuosa, cheia de curvas subindo e descendo colinas. No dia seguinte um cão que passou por ali usou a mesma trilha. Depois foi um carneiro e depois um rebanho que usou a mesma trilha torta. Mais tarde foram os homens que começaram a usar o mesmo caminho estranho, viravam a esquerda, á direita subia e descia, eles reclamavam , mas não faziam nada pra mudar a situação. Depois de tanto uso ela acabou virando uma estradinha. Mas uma estradinha onde as pessoas levavam três horas numa viagem que bem que podia ser feita em uma. O lugar progrediu e a estradinha acabou virando a rua principal de um vilarejo. E depois a avenida principal de uma cidade. E logo passou a transitar nessa avenida milhares de pessoas por dia, no mesmo caminho torto que um dia foi aberto por um bezerro. Seguir o caminho aberto pelos outros é muito mais fácil do que descobrir trilhas mais lógicas e racionais. E talvez por isso que as pessoas continuam seguindo o mesmo que lhe foi sempre ensinado. A pessoa que está tentando deixar de seguir o que deu certo para o outro acaba sentindo culpa, o que é bom para o outro não necessariamente será bom para você, cada um tem que elaborar as suas referencias. Seja você mesmo, saiba o que é bom para você.
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