O Amor tem Cura?
Você realmente acredita que o amor possa se curar?
E, afinal, do que sofre o amor? Da falta de respeito? Da falta de sintonia quando eu digo que amo e o outro nem quer saber de mim? Ou da completa ausência de um parceiro honesto?
Parece que a maioria das pessoas sofre desse flagelo de não se sentirem amadas ou recompensadas pelos sentimentos amorosos que oferecem ao mundo. E dentro dessa maioria já percebi que boa parte não acredita na cura do amor.
As pessoas desejam que o amor seja curado, que tudo possa fluir diferente em suas vidas, mas quando intimamente se perguntam se acreditam de fato que curar o amor seja possível, muitas negarão.
Não será uma negação desejada, como um "não" que alguém fala com total convicção e desejo que sua negativa seja respeitada. Ao contrário, será um "não" dolorido como um parto sem anestesia, um "não" que não quer ser pronunciado e um "não" que também nunca desejei ouvir, mas, que na minha função de terapeuta e ouvinte dos lamentos da alma, já recebi muitas vezes como resposta.
Aline chegou assim ferida às minhas mãos. Depois de um relacionamento superficial, como ela chamou, já que o namorado não assumia totalmente a relação, ela conheceu Alfredo num grupo de estudos espiritualistas e, logo, ambos perceberam a química especial que acontecia entre eles. Ela, com medo, fugiu, mas aquele tipo de fuga de quem não quer ir. Ela não queria se afastar do moço, apenas estava com medo de onde aqueles sentimentos poderiam levá-la. Dentro dela já sentia um frio na barriga e o sinal de alerta mostrando que de novo tudo poderia dar errado.
"Mesmo assim não deixei de dar uma chance", disse ela em prantos. "Tive coragem. Queria que o amor desse certo dessa vez, mas não deu. Depois de sairmos algumas vezes e de me ajudar a pôr um ponto final no antigo relacionamento, ele simplesmente sumiu".
Senti a dor do desabafo de Aline que, apesar de seus 35 anos, parecia uma senhora idosa falando de tudo o que não dava certo em sua vida. Expliquei que mudar a chave de uma história de vida não é fácil, mas é possível.
Na Sessão de Vidas Passadas, as histórias se repetiam. Ela, vítima de enganos, fechando-se para a vida, sempre atraindo pessoas complicadas, sofrendo e ficando aprisionada ao círculo familiar.
Terminada a parte energética da sessão, conversamos sobre o seu comportamento hoje. Perguntei o que ela fazia nos seus finais de semana, como estava observando a passagem da vida.
"Maria Silvia, estou tão infeliz que os dias parecem iguais. Trabalho e cuido da minha mãe, nos finais de semana fico com meus sobrinhos e, de vez em quando, saio com as amigas, mas perdi o gosto pelas coisas. Agora, então, depois dessa decepção não quero mais nada. Passei pelo menos dois finais de semana dormindo. Sei que é errado, mas não queria ver a vida".
De certa forma, esta moça já tinha algumas respostas dentro dela, mas seguir o caminho de cura não é nada fácil. Conversamos sobre persistência em trilhar um rumo positivo, pois não basta desejar coisas boas ou felizes, precisamos acreditar de verdade. Abrir a mente, participar de grupos, fazer cursos, envolver-se em trabalhos humanitários é fundamental para abrir a energia. E quando a pessoa está muito triste, aí sim, é que deve mergulhar em possibilidades de cura. Neste caso, até limpar a casa, lavar roupa funciona, desde que não se transforme em mais uma fuga de encarar o problema.
Acreditar na possibilidade da cura é fundamental para qualquer tratamento ter sucesso. Mas se não acreditamos que um relacionamento tem cura como curá-lo? Isso sem esquecer de que um relacionamento envolve pelo menos duas pessoas e que uma dessas pessoas somos nós mesmos...
As pessoas sempre desejam que a cura aconteça, mas muitas vezes colocam a expectativa fora, no relacionamento, no outro. Com isso fortalecem, como no caso de Aline, a sua postura de vítima. Claro que não é algo que alguém deseje. Ninguém quer ser vítima, porque ser vítima significa assumir impotência e possíveis agressões e uma pessoa, em sã consciência, não quer isso para si mesma, mas às vezes o cansaço é tão grande, o peso de histórias repetitivas é tão intenso que não conseguimos ver nosso comportamento dentro do contexto.
Depois de alguns encontros, minha cliente começou a compreender que ela, mesmo sem querer, havia fantasiado em cima deste novo encontro. A "química" sentida logo no início, alguns telefonemas marcantes foram o estopim do sonho de que com essa pessoa seria diferente, aliás, que já estava sendo.
Assim, ela queimou etapas do relacionamento. Não se permitiu ir conhecendo a pessoa e, quando menos esperava, até justamente por não conhecer o cara, esperou dele uma atitude que ele não poderia oferecer, porque simplesmente ele não pensava como ela. E, então, o fim, mais uma decepção, mais um homem taxado de canalha, mais um sofrimento.
Assim, amigo leitor, sugiro que você vá com calma com você mesmo, invista na sua cura e perceba que nem tudo se resolve pelo racional, que é falho, e só tem como referências o passado. Cultive o amor, abra a mente e lembre-se de que a fé nos conecta com o futuro que pode ser muito melhor do que nossas expectativas....
por Maria Silvia Orlovas