3. Conceitos de Divindade
O conceito Deus assumiu, ao longo dos séculos, várias concepções, evoluindo desde as formas mais primitivas provenientes das tribos politeístas da antiguidade até os dogmas das modernas religiões monoteístas.
3.1. Definições de Deus
Segundo o dicionário de filosofia de André Lalande, temos as seguintes definições de Deus:
1. Sob o ponto de vista ontológico – é o princípio único e supremo da existência e da atividade universal, como substância imanente dos seres; como causa transcendente criando o mundo fora de si; como fim do universo: o motor imóvel de Aristóteles. As três idéias anteriores são resumidas assim por Vacherot: “Deus é o ser dos seres, a causa das causas, o Fim dos fins: eis como ele é o verdadeiro Absoluto.” Les Nouveau Spiritualism, p. 389.
2. Sob o ponto de vista lógico – é o Princípio supremo da ordem no mundo, da razão no homem e da correspondência entre o pensamento e as coisas. “Sou obrigado a aceitar um ser em que a verdade é eternamente subsistente e em que ela é sempre entendida... Este eterno é Deus eternamente subsistente, eternamente verdadeiro, eternamente a própria verdade”, Bossuet, Conhecimento de Deus e si mesmo, IV, 5.
3. Sob o ponto de vista físico – é um Ser pessoal, superior à humanidade que dá ordens e faz promessas, ao qual se dirigem orações e que as atende se as julgar boas. Ele é geralmente concebido como o aliado e o protetor dum grupo social ao qual ele se manifesta e que lhe presta culto. (ancestral, chefe guerreiro, legislador, juiz, libertador, etc). Na antiguidade este grupo é étnico ou familiar. Ex.: Deuses gregos e Deuses troianos; Deus Lares; Deus de Israel (ver particularmente Deuteronômio, cap V,VI, VII). Neste sentido da palavra, os deuses podem, pois, ser múltiplos e em luta uns com os outros, pode haver deuses e deusas, etc.
4. Sob o ponto de vista moral – Ser supremo, que pela sua inteligência e sua vontade, é a garantia da moralidade. “A ordem moral, o mundo moral, como poderiam existir se não tivesse o seu fundamento, o seu apoio e, enfim, a sua realização, a única viva e soberana que é Deus?” Renouvier e Prat, Nova monadologia”.
A doutrina espírita considera Deus a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, eterno, imutável e imaterial. Todas as leis da natureza são leis divinas, pois Deus é seu autor.
Já o Budismo é “uma religião sem Deus”, na medida em não se acredita na existência de um ser supremo. Seu objeto principal é o sofrimento e a possibilidade de cessação do sofrimento, não questões teológicos ou ontológicas. O Budismo é mais um sistema ético, filosófico e psicológico que visa a auxiliar as pessoas a entender as razões de seus sofrimentos e construir uma vida mais feliz e em harmonia com os outros.
O judaísmo elimina uma vogal do nome de Deus para não ser pronunciado completamente: D-us (D'us), pelos judeus de língua portuguesa para se referirem ao criador do mundo sem citar seu nome completo em respeito ao terceiro mandamento recebido por Moisés. Além da forma D-us, utiliza-se também o termo D'us com o mesmo objetivo. Em outros idiomas, eliminam-se também uma ou mais letras da palavra correspondente, como no hebraico transliterado El'him ou no inglês G-d / G'd.
3.2. As principais diferenças entre as religiões Ocidentais e Orientais:
Visão da história
Ocidental : Visão linear da história, isto é, a história tem um começo e um fim; o mundo foi criado num certo ponto e um dia irá terminar.
Oriental : Visão cíclica da história, isto é, a história se repete num ciclo eterno e o mundo dura de eternidade em eternidade.
Conceito de deus
Ocidental: Deus é o criador; Ele é todo-poderoso e é único. O monoteísmo é tipicamente ocidental.
Oriental: O divino está presente em tudo. Ele se manifesta em muitas divindades (politeísmo), ou como uma força impessoal que permeia tudo e a todos (panteísmo)
Noção de humanidade
Ocidental: Há um abismo entre Deus e o ser humano, entre o criador e a criatura. O grande pecado é o homem desejar se transformar em Deus em vez de sujeitar à vontade de Deus.
Oriental: O homem pode alcançar a união com o divino mediante a iluminação súbita e o conhecimento.
Salvação
Ocidental: Deus redime o ser humano do pecado, julga e dá a punição.
Existe a noção de vida após a morte, no céu ou no inferno.
Oriental: A salvação é se libertar do eterno ciclo da reencarnação da alma e do curso da ação. A graça vem por meio de atos de sacrifício ou do conhecimento místico.
Ética
Ocidental: O fiel é um instrumento da ação divina e deve obedecer à vontade de Deus, abandonando o pecado e a passividade diante do mal.
Oriental: Os ideais são a passividade e a fuga do mundo.
Culto
Ocidental: Orar, pregar, louvar.
Oriental: Meditação, sacrifício.
Fonte: Gaardner, Jostein. O Livro das Religiões, pág.42
4. A existência de Deus
Há milênios, a questão da existência de Deus foi levantada dentro do pensamento do homem, e os principais conceitos filosóficos que investigam e procuram respostas sobre esse assunto, são:
- Deísmo – esta palavra foi criada no século XVI, para distinguir do ateísmo. Pascal, opô-la ao mesmo tempo ao cristianismo e ao ateísmo, mas conclui que ateísmo e deísmo “são duas coisas que a religião cristã aborrece quase igualmente”. Deísmo, em francês, guardou da sua origem um cambiante frequentemente pejorativo; foi utilizado como um termo de censura pelos ortodoxos em relação àqueles que se limitam a crer em Deus sem aceitar nos dogmas e práticas de uma religião determinada. Ele é, pelo contrário, tomado em grande parte pelos ecléticos e aplica-se à “religião natural”, quer dizer, à doutrina dos filósofos que “admitindo apenas a existência de Deus, a imortalidade da alma e a regra do dever, rejeitam os dogmas revelados e o próprio princípio da autoridade em matéria religiosa”.
- Teísmo - Teísmo é um conceito surgido no século XVII (R. Cudworth, 1678) contrapondo-se ao moderno ateísmo, deísmo e panteísmo. O teísmo sustenta a existência de um deus (contra o ateísmo), ser absoluto transcendental (contra o panteísmo), pessoal, vivo, que atua no mundo através de sua providência e o mantém (contra o deísmo). Portanto, o teísmo é característico das religiões da revelação Cristianismo, Judaísmo e Islamismo: a existência de um deus pode ser provada pela razão, prescindindo da revelação. O teísmo Cristão, que fundamenta sua crença em Deus na Sua revelação sobrenatural através da Bíblia. A partir do teísmo se desenvolve a Teologia, que é encarada principalmente, mas não exclusivamente, do ponto de vista da fé. Embora tenha suas raízes no teísmo, pode ser aplicada e desenvolvida no âmbito de todas as religiões. Não deve ser confundida com o estudo e codificação dos rituais e legislação de cada credo.
- Ateísmo – Contrapondo-se à visão da teologia, o ateísmo nega a existência de Deus ou dos deuses. Para alguns ateus, o conceito Deus deixou como sequela para a humanidade uma inumerável quantidade de tradições e costumes, mantidas em seu nome, que conduziram o ser humano a um segundo plano, fato este que fez girar a roda da história contra ele mesmo, subjugando-o à vontade deste conceito intangível, e limitando sua vida e sua criatividade por gerações e gerações. Entre alguns importantes filósofos ateus estão Nietzsche e Sartre, pertencentes à filosofia Existencialista. Para Nietzche, “Deus está morto” em Assim Favou Zaratrusta. Segundo ele, o Super-homem é capaz de construir sua existência sem se apoiar em um Deus. Para Jean Paul Sartre, a não existência de Deus não permite ao homem prejudicar ou agir de maneira irresponsável. Ele critica Dostoievisky que afirma “se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Para Sartre a não existência de Deus nada muda no comportamento moral.
- Agnosticismo - Dentro da visão agnóstica, não é possível provar racionalmente a existência de Deus, como também é igualmente impossível provar a sua inexistência. Para um agnóstico as características de Deus são incompreensíveis para a razão humana.