FILOSOFIA DA RELIGIÃO
1. Introdução
A necessidade de se orientar na vida é fundamental para os seres humanos. Não precisamos apenas de comida e bebida, de calor, compreensão e contatos físicos; precisamos também descobrir que estamos vivos.
Nós perguntamos:
• Quem sou eu?
• Como foi que o mundo passou a existir?
• Que forças governam a história?
• Deus existe?
• O que acontece conosco quando morremos?
Muitas questões existenciais são bastante gerais e surgem em todas as culturas. Embora nem sempre sejam expressas de maneira tão suscinta, elas formam a base de todas as religiões. Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião.
E o que é a religião? É o batismo numa igreja cristã. É a adoração num templo budista. São os judeus com o rolo da Torá diante do Muro das Lamentações em Jerusalém. São os peregrinos reunindo-se da Caaba em Meca.
E como começaram as religiões? Foram registradas várias formas de religião durante toda a história. Já houve muitas tentativas de explicar como surgiram as religiões. Uma das explicações é que o homem logo começou a ver as coisas a seu redor como animadas. Ele acreditava que os animais, as plantas, os rios, as montanhas, o sol, a lua e as estrelas continham espíritos, os quais era fundamental apaziguar. O antropólogo E. B. Tylor (1832-1917) batizou essa crença de animismo. Ele foi influenciado pela teoria de Darwin sobre a evolução, afirmando que o desenvolvimento religiosos caminou paralelamente ao avanço geral da humanidade, tanto cultural como tecnológico, primeiro em direção ao politeísmo (crença em diversos deuses) e depois ao monoteísmo (crença num só deus). Tylor concluiu que os povos tribais não haviam ido além do estágio da Idade da Pedra e portanto, praticavam esse mesmo tipo de animismo. Hoje essa teoria do desenvolvimento foi rejeitada, e há um consenso geral de que animismo não é uma caracterização adequadoa para a religião dos povos tribais.
O homem sentiu-se impotente diante de dois fatores: a natureza, o céu, as estrelas, o sol, a colheita, bem como o tema da morte.
Assim como as origens do homem requerem uma explicação, a maioria das pessoas se preocupa em saber o que acontecerá com elas quando morrerem.
As sepulturas dos vikings, nas quais os mortos eram enterrados com armas, ornamentos e comida, mostram que a idéia da vida após a morte não é nova. Os gregos antigos acreditavam no Hades, onde os que partiram passavam a levar uma existência tênue, feita de sombras. O ideal guerreiro da era dos vikings se espelha na crença que tinham no Valhala, onde os heróis lutam suas batalhas e morrem durante o dia, voltando novamente à vida durante a noite. Certas tribos indígenas da América do Norte ainda têm na existência dos “eternos campos de caça”, com uma profusão de caça de todos os tipos.
Em várias sociedades, os mortos continuam existindo sob a forma de espíritos ancestrais, em íntima proximidade com os vivos. Eles oferecem aos vivos segurança e proteção, e em troca exigem que se façam sacrifícios em seus túmulos.
Quando se pergunta o que continua vivo, obtêm-se diversas respostas. Em geral, diz-se que é algo chamado de alma, mas em muitas tribos africanas não existe a divisão corpo e alma. Mesmo no cristianismo, a “vida eterna” não é associada a uma “alma eterna”. Menciona-se a “ressurreição do corpo”, ou , em outras palavras, a reconstituição da pessoa inteira. É verdade que o cristianismo fala num “corpo espriritual”, porém isso serve para enfatizar a idéia de que o homem, após a ressurreição, não se tornará um espírito indefinido.
As religiões costumam ter idéias diferentes sobre a salvação. Algumas crêem que o homem pode ser salvo por um poder divino, ao passo que outras afirmam que ele deve resgatar a si mesmo – e para isso indicam uma variedade de métodos.
O conceito de transmigração ocupa uma posição única. Os hinduístas acreditam que a alma se liga a este mundo pelos pensamentos, pelas palavras e ações humanas, e que quando um indivíduo morre, sua alma passa para o corpo de outra pessoa ou de um animal. Portanto, a alma está presa nesse eterno ciclo, até que venha a salvação.
Não somente tribos politeístas e animistas da Antiguidade, como também civilizações como a egípcia e a suméria, a partir de uma certa época, passaram a adotar práticas henoteístas, isto é, elegiam um único deus dentro de seu panteão cultural, o qual se tornava o deus daquela tribo ou daquela cidade. Ali, nesse lugar, esse deus escolhido era adorado ou idolatrado como um Deus-Supremo, isto é, superior a todos os outros deuses. Tal prática foi a precursora da concepção monoteísta, visão na qual se acredita na existência de um único Deus.
2. Manifestações Religiosas
Jung afirmou: “Entre todos os meus pacientes com mais de 35 anos de idade não há nenhum cujo problema não seja a religação religiosa. A raiz da enfermidade de todos está em ter perdido o que a religião deu a seus crentes em todos os tempos. E ninguém está realmente curado, enquanto não tiver atingido de novo seu enfoque religioso...”
Temos as seguintes definições de religião, segundo alguns estudiosos:
“A religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta dependência.” Friedrich Schleiermacher (1768-1834)
“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética).” C.P. Tiele (1830-1902)
“A religião é a convicção de que existem poderes transcendentes, pessoais ou impessoais, que atuam no mundo, e se expressa por insight, pensamento, sentimento, intenção e ação.” Helmut von Glasenapp (1891-1963).
2.1. O sagrado e o profano
O termo religião vem do latim “religare”que significa ligar, unir, ou seja a religião como forma de ligação entre o sagrado e o profano. Mas o que é o sagrado e o profano? É uma experiência de uma potência ou força sobrenatural que habita um ser: planta, animal, humano, coisas, ventos, água, fogo. O sagrado é a experiência de uma força superior aos outros seres, a sacralidade é a ruptura entre o natural e o sobrenatural, mesmo que os seres sagrados sejam naturais: é sobrenatual a força ou potência para realizar aquilo que os humanos julgam impossível efetuar contando apenas com as forças e capacidades humanas. O sagrado está inserido em um contexto, por exemplo, a vaca na Índia é considerada sagrada, o cordeiro é sagrado no sacrifício da Páscoa judaica.
O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível no sagrado ou muito perto dos objetos sagrados. Essa tendência é compreensível, pois para os “primitivos”como para o homem de todas as sociedades pré-modernas, o sagrado equivale ao poder, e em última análise, à realidade por excelência. Potência sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade, perenidade, eficácia. É, portanto, fácil de se compreender que o homem religioso deseje profundamente ser, participar da realidade, saturar-se de poder.
O sagrado e o profano constituem duas modalidades do Ser no Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo de sua história. Esses modos de Ser no Mundo não interessam unicamente à história das religiões ou à sociologia, não constituem apenas o objeto de estudos históricos, sociológicos, etnológicos. Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no Cosmos e consequentemente, interessam não só ao filósofo, mas também a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana.
2.2. Politeísmo
Em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem funções distintas, bem como esferas definidas de responsabilidade. A criação de animais e a pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra, podem ter seus próprios deuses. O mundo dos deuses com frequência é organizado da mesma maneira que o dos homens, numa família ou estado.
Alguns pesquisadores acreditam que as divindades indo-européias (isto é, indianas, gregas, romanas e germânicas) se estruturam em três classes baseadas na sociedade da época:
• O monarca (que muitas vezes era também sacerdote)
• O aristocrata (os guerreiros), e
• Os artesãos, agricultores e comerciantes.
Era comum as pessoas venerarem o deus que ocupava o mesmo lugar que elas na escala social.
Geralmente o deus supremo é o deus do céu. Isso não implica que ele habite o céu, mas que se revele no firmamento e nos fenômenos associados à abóbada celeste.
Em muitas religiões o deus do céu faz par com uma divindade feminina. A imagem do casal Céu e Mãe Terra é de fácil compreensão para uma sociedade agrária. A terra é fértil e dá o alimento ao homem, mas só depois de receber sol e chuva do céu.
Além dos “deuses-reis”, familiares para nós porque se encontram na mitologia clássica e na germânica, há uma grande quantidadde de deuses menores e espíritos em volta de nós que são patronos de determinadas doenças ou de certas profissões.
2.3. Panteísmo
O panteísmo é uma crença que difere tanto do monoteísmo como no politeísmo. Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual o objetivo do mortal é alcançar a união com o divino.
2.4. Animismo e Crença nos Espíritos
Em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina animus, que sginifica “alma”, “espírito”. Em certa época os historiadores da religião pensavam que o animismo havia sido a base de toda a religião e que mais tarde ele se transformou, via politeísmo, em monoteísmo. Mas essa é apenas uma teoria. O que é certo é que o animismo impera em várias sociedades.
Em nossa própria cultura a noção de espírito está presente em muitas criaturas relacionadas com as forças naturais: espíritos das águas, duendes, fantasmas e sereias.
Os espíritos dos mortos também continuam a desempenhar um importante papel na África, na América Latina, na China e no Japão.
Normalmente as características dos deuses são mais individualizantes e definidas com mais clareza que as dos espíritos. E as divindades em geral têm nome. Mas em inúmeros casos é difícil distinguir de imediato entre deuses, antepassados e espíritos. Todos são expressões da força sobrenatural que banha a existência. A idéia de uma força ou um poder que regula todos os relacionamentos na vida humana e na natureza predomina sobretudo nas religiões primais (primitivas). Os historiadores da religião costumam usar o vocábulo polinésio mana para descrever essa força, que precisa ser controlada ou aplacada.
2.5. O Monoteísmo
Historicamente, os primeiros escritos puramente monoteístas datam de 1200 a.C., com a unificação de tribos pagãs, que deram origem posteriormente ao povo judeu. Mas antes disso, em 1350 a.C., o faraó Akenaton, no Egito, tentou implementar o monoteísmo, fazendo com que a população adorasse o deus Aton, representado pelo disco solar Aton. Para o egiptólogo Alexandre Varille, "a revolução de Akenaton foi mais uma reação contra o poder temporal de Amon do que uma modificação profunda da religião.
Não somente tribos politeístas e animistas da Antiguidade, como também civilizações como a egípcia e a suméria, a partir de uma certa época, passaram a adotar práticas henoteístas, isto é, elegiam um único deus dentro de seu panteão cultural, o qual se tornava o deus daquela tribo ou daquela cidade. Ali, nesse lugar, esse deus escolhido era adorado ou idolatrado como um Deus-Supremo, isto é, superior a todos os outros deuses. Tal prática foi a precursora da concepção monoteísta, visão na qual se acredita na existência de um único Deus.
Historicamente, os primeiros escritos puramente monoteístas datam de 1200 a.C., com a unificação de tribos pagãs, que deram origem posteriormente ao povo judeu. Mas antes disso, em 1350 a.C., o faraó Akenaton, no Egito, tentou implementar o monoteísmo, fazendo com que a população adorasse o deus Aton, representado pelo disco solar Aton. Para o egiptólogo Alexandre Varille, "a revolução de Akenaton foi mais uma reação contra o poder temporal de Amon do que uma modificação profunda da religião.
Nas modernas religiões monoteístas Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, entre outras religiões, o termo “Deus” refere-se à idéia de um ser Supremo, Infinito, Perfeito, criador do universo, que seria a causa primeira e fim de todas as coisas. Dentre as características principais deste Deus-Supremo estariam:
• a Onipotência: poder absoluto sobre todas as coisas;
• a Onipresença: poder de estar presente em todo lugar; e,
• a Onisciência: poder de saber tudo.
Essas características foram reveladas aos homens através de textos contidos nos Livros Sagrados, quais sejam:
• o Tanakh (Torá), dos judeus;
• a Bíblia, dos cristãos;
• o Alcorão, dos muçulmanos.
Esses livros relatam histórias e fatos envolvendo personagens, tais como:
• Abraão e Moisés, na fé judaica;
• Jesus Cristo, na fé cristã;
• Maomé, na fé islâmica.
Estes foram escolhidos para testemunhar e transmitir a vontade divina na Terra ao povo de seu tempo.
O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível no sagrado ou muito perto dos objetos sagrados. Essa tendência é compreensível, pois para os “primitivos”como para o homem de todas as sociedades pré-modernas, o sagrado equivale ao poder, e em última análise, à realidade por excelência. Potência sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade, perenidade, eficácia. É, portanto, fácil de se compreender que o homem religioso deseje profundamente ser, participar da realidade, saturar-se de poder.
O sagrado e o profano constituem duas modalidades do Ser no Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo de sua história. Esses modos de Ser no Mundo não interessam unicamente à história das religiões ou à sociologia, não constituem apenas o objeto de estudos históricos, sociológicos, etnológicos. Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no Cosmos e consequentemente, interessam não só ao filósofo, mas também a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana.