Paul Ferrini
A CRIANÇA FERIDA NO ABRAÇO DO AMOR
AMOR SEM CONDIÇÕES
As feridas deformam o corpo e a mente. O amor expande suas fronteiras.
Todos os que atacam o fazem por medo. Enxergam o ataque como sua maneira de
escapar do medo, ainda que o ataque faça com que se sintam culpados. E
quanto mais culpa sentem, mais esperam ser atacados e mais medrosos se
tornam. É um ciclo vicioso.
Não há como cortar caminho para sair da separação e do medo. Esses estados
indicam carência de amor. O único jeito de ultrapassar essa turbulência é
pedir por amor e estar disposto a dá-lo e recebê-lo. Qualquer outra coisa é
contradição. Qualquer outra coisa só aprofunda a dor da separação.
A idéia de que o ataque vai nos livrar dos acontecimentos é absurda. A idéia
de que culpar outros (uma forma de ataque) vai remover o nosso desconforto é
ridícula. Nosso estado psicológico é simples, antes de deturpá-lo através da
permissão que nos damos para atacar ou defender: Não nos sentimos amados e
queremos nos sentir amados. Não há nada de misterioso a respeito desse
sentimento. Todos o sentimos. Sentíamos quando crianças e sentimos quando
adultos.
Nesse mundo o amor é como uma rua de mão dupla. Tendemos a responder
amorosamente a aqueles que nos oferecem amor e defensivamente a aqueles que
nos atacam ou se distanciam. Se não nos sentimos amados, geralmente é porque
não temos sido muito amorosos com os outros, ou não temos sido receptivos à
sua maneira de expressar amor.
Muitos de nós evitamos o amor porque temos medo dele. Se dissermos “não me
toque”, a maioria das pessoas não nos tocará, porque elas não conseguem
escutar essas palavras como sendo um pedido por amor.
Somente uma pessoa que
não estiver envolvida conosco através do ego será capaz de enxergar além de
nossas defesas e nos oferecer o amor que queremos, mas que temos medo de
pedir.
Por que temos tanto medo de pedir pelo que queremos? Um pedido tão simples
poderia fazer a vida mais fácil e mais prazerosa para todos nós. Quando não
nos sentimos amados, por que não podemos pedir por amor em vez de atacar ou
fugir?
Pedir por amor desfaz o ciclo vicioso e nos torna diretamente responsáveis
pelo nosso processo de cura. Quando pedimos por amor e o recebemos, não
temos mais desculpas para não sermos gentis com os outros. Quando pedimos
por amor e não o recebemos, temos que aprender a amar a nós mesmos através
da dor. Muitos de nós não se sentem preparados para assumir essa
responsabilidade. Preferimos projetá-la em outra pessoa.
Decidimos em favor de nosso próprio sofrimento quando nos recusamos a
assumir responsabilidade pela necessidade que sentimos por amor. Ainda que a
necessidade por amor seja universal, mesmo assim temos vergonha de pedir por
ele. Pensamos que pedir por amor significa que somos fracos e incapazes de
inspirar alguém a nos amar; se alguma vez já tenhamos pedimos por amor e
tenhamos sido rejeitados, não temos vontade de pedir de novo. Pensamos que
somos os únicos que precisam de amor, que todo mundo já o tem. Isso
demonstra como nos sentimos separados.
É difícil para mim dizer assim para você: “me sinto só, tenho medo, preciso
do seu amor e do seu apoio.” Prefiro fazê-lo sentir-se culpado, assim você
prestará atenção a mim sem eu ter que pedir diretamente. Dessa forma posso
controlá-lo.
Controlar é uma peça fundamental por trás de nossos sentimentos de medo e
separação. Se me distancio de você, quero que me ame sem fazer nenhuma
exigência de mim. Quero que me ame de uma forma que seja segura para mim,
que não ameace as minhas defesas. A idéia de que eu possa receber o seu amor
do jeito que você escolher dá-lo para mim, me é desconhecida. Não confio em
mim mesmo para amar dessa maneira. E não confio em você também.
Prefiro seguir sem amor do que recebê-lo em seus termos. Vejo o seu amor
como um ataque a mim. Em outras palavras, é inconcebível para mim que você
pudesse me amar incondicionalmente. Vejo seu amor por mim como uma maneira de
satisfazer as suas próprias necessidades, não de satisfazer as minhas.
Eu acredito que a única maneira de satisfazer as minhas necessidades é
controlar a maneira que você me ama. Se você não deixar que eu controle a
sua maneira de me amar, então vou rejeitar completamente o seu amor. Vou
fingir que não preciso dele.
Isso tudo fica muito complicado. Precisamos de amor mas não confiamos em
ninguém que possa dá-lo, sem colocar um monte de condições. Então,
manipulamos para conseguir o amor que queremos mas nunca ficamos
satisfeitos. Isso acontece porque as pessoas que nos deixam controlar seu
amor não nos amam realmente. Elas só respondem às nossas exigências. E,
ainda que isso seja o que parece que queremos, não satisfaz a nossa
necessidade profunda pela aceitação e pelo amor incondicional.
No fundo, conhecemos a diferença entre o amor que responde a exigências e o
amor que é dado livremente. Um é previsível mas sem fundação, o outro
energiza mas é imprevisível. Que dilema! Esse negócio de amor não é tão
fácil como pensamos. Por mais que tentemos, não conseguimos controlar o
amor. Nosso desejo por ser amados significa confiar na pessoa que quer nos
amar e sentir que o ambiente em volta desse amor é leal.
Se escolhemos relacionamentos com pessoas nas quais não confiamos, ou
ambientes de amor que são instáveis ou limitantes, podemos estar certos que
ainda estamos pedindo por amor com condições impróprias. Ou seja: “Posso
receber amor somente de uma pessoa que me ame intensamente mas que não possa
se comprometer comigo, ou somente de uma pessoa que se comprometa, mas que
não me faça exigências emocionais.”
Será que isso lhe soa familiar?
Qualquer pessoa que tenha se relacionado com um homem casado ou com uma
mulher casada conhece o primeiro exemplo. O casado, homem ou mulher,
geralmente conhece os dois exemplos, o primeiro com o(a) amante e o segundo
com o(a) esposo(a).
Confiar que uma pessoa possa nos amar sem pre-condições e em um ambiente que
não possamos controlar, exige muita fé. Sim, significa fé na outra pessoa.
Significa fé no universo. Mas, acima de tudo, significa fé em nós mesmos.
Significa que posso amá-lo sem garantias de que você vá ficar distante ou
presente. Indica que posso receber seu amor conforme seja dado, sem julgá-lo
como sendo pouco ou demasiado. Sugere que posso ser agradecido por seu amor,
mas não dependente dele, que seu amor possa me desafiar a crescer e a
aceitar a mim mesmo mais completamente e que meu amor possa fazer o mesmo
por você.
Esse é o tipo de amor que nos nutre e nos inspira. É o amor que nos chega
porque estamos prontos para enfrentar nossos medos e, gradualmente, deixar
de lado as nossas defesas. É um amor maduro, um amor entre pessoas iguais,
um amor que apoia o mútuo.
Não posso ter esse tipo de amor enquanto tiver medo dele. E estarei com medo
dele até que esteja disposto a abandonar minha necessidade neurótica pelo
controle. Por trás dessa necessidade de controlar e dos complexos
comportamentos contraditórios, frequentemente associados ao controle, existe
uma crença profunda em minha separação das outras pessoas. Toda oportunidade
de amar ou de ser amado desafia essa crença e me ajuda a ultrapassá-la, se
estiver disposto a compartilhar quem eu sou com meu companheiro.
A menos que meu companheiro venha a me conhecer como sou e vice-versa, não
podemos nos encontrar no plano superior da verdade. Em vez disso, escolhemos
o caminho lamacento da codependência, no qual cada um procura em vão
controlar o amor do outro, um processo que ambos resistem inconscientemente
por ser incompatível com nossas necessidades espirituais.
Tradução de Cláudia Martinez
Novembro 2009
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