Anjo de Luz

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Compartilhando um conto que me tocou profundamente...

Que possamos, todos, descansar no verde vale, livres de todas as ilusórias cargas, despidos da auto importância e conscientes de que SOMOS TODOS UM, ahow!!!

Tania Ramalho Ayakan

 

No colo do verde vale

 

 

“Cansado. Assim sentia-se o Tempo.

 

Muito mais que velho, muito além de antigo. Isto eu sou – pensava, andando para a

frente. Ele não conhecia outra direção.

 

Vasculhando o passado que trazia às costas, não encontrava o dia em que tinha

começado a caminhar. Já procurara muito. Agora até duvidava que existisse esse

dia, que ele, como tudo o mais, tivesse um começo. Há tanto andava, que não sabia

quanto, e bem podia há outro tanto estar andando.

 

Lá longe, porém, na juventude – se é que alguma vez tinha sido jovem – lembrava-

se de caminhar com alegria, os passos, ou a alma, leves. Ah, sim! Tinha sido bom!

Naquela época, certo de que o mundo inteiro era arrastado por ele, como numa

imensa rede, enchia-se de orgulho e poder.

 

- eu piso com o pé direito – dizia afundando bem o calcanhar – e trago a primavera.

Piso com o esquerdo – lá ia o outro pé marcando a terra – e vem chegando o verão.

Cada passada minha faz uma flor, um fruto, uma semente.

 

Ria vendo girar as pás do moinho de vento.

 

- coisinha de nada – dizia-lhe – se o vento acabar, você morre. Eu não, eu sou meu

próprio vento. Sou eu que comando a ordem de tudo, que faço a hora do sol, e

marco a noite da lua. Eu que empurro este mundo todo prá frente.

 

Essa tinha sido a sua razão para andar. Mas agora, tantas luas acumuladas no seu

rastro, tantas frutas desfeitas no chão, já não lhes via a graça. Pois nada havia à

sua frente que não conhecesse.

 

Só uma coisa não conhecia: parar.

 

Foi pensar na palavra, e estremecer de susto. Nunca antes essa ideia tinha estado

com ele. Pela primeira vez desde a alegria, percebeu que tropeçara em algo novo.

 

Parar, seria possível?

 

- mas se eu parar – pensou – os filhos não se acabam no ventre das mães, os

passarinhos nos ninhos não aprendem a voar.

 

E continuou andando.

 

Mas a ideia seguiu caminho com ele, mais tentadora a cada passo. E o Tempo

começou a olhar o mundo com outros olhos, procurando em todo lugar a sedução

que o faria cometer tão grande audácia.

 

Olhou a cachoeira. Imaginou-se ali, os pés metidos na água fria, ouvindo para

sempre o canto transparente.

 

- mas, se eu parar, para a água – pensou com susto – a canção emudece. Não terei

mais o que ouvir, nem onde molhar os pés. E, triste, tocou as pernas para frente,

uma depois da outra, como sempre.

 

Olhou a floresta. Pensou que bom seria deitar naquele musgo rasgado de sol. E já se

via quase lagarto, quando lembrou que as árvores parariam de crescer, as folhas

parariam de se mexer, o sol pararia de brilhar. E levantando os joelhos com cansaço

e tédio, foi adiante.

 

Chegou ao deserto.

 

- enfim, um lindo mundo parado!

 

Mas da crista das dunas, o vento soprou areia em seus olhos, e ele percebeu que

nem ali poderia ficar.

 

Foi ao mar e viu as ondas.

 

E passou pelo lago e viu os peixes.

 

Tudo se movia.

 

Tudo, pensou, estava preso à rede que trazia nas costas.

 

Até chegar ao vale. Liso, lindo, lento vale.

 

Águas se perseguiam entre lago e regatos, espigas balançavam a cabeça jogando

grãos ao vento; flores se voltavam para o sol. Ali também, no mesmo movimento,

nada estava parado.

 

- pois eu estarei – exclamou súbito o Tempo, reconhecendo naquela paz todo o seu

desejo.

 

E aos poucos, todo suspiroso, temendo a própria coragem, espraiou-se no vale,

estendeu-se longo como ele mesmo não sabia ser. E, pela primeira vez, descansou.

 

Céu acima, doce grama embaixo, ainda esperava, porém, o desastre, o enorme

desabar da ordem. E alisava o pelo daquele chão, finas hastes e talos, para leva-lo

na memória das mãos quando fosse preciso levantar-se e recomeçar a marchar

para sempre, em castigo por aquele momento de fraqueza.

 

Silêncio no vale.

 

- acabou-se – pensou, esmagado de culpa – tudo parou. – a luz do sol pareceu

escurecer.

 

- É o fim – e entrefechou os olhos.

 

Mas ouviu um mugido de longe, estremeceu um coelho no mato, uma folha caiu.

Para surpresa do Tempo, movia-se o mundo.

 

- Não sou eu, então, que carrego tudo isso? – perguntou-se intrigado, sentando. E

debruçado para olhar de perto o mundo pequeno que nunca tivera tempo para

olhar, viu o grilo saltar vergando os fios de grama, viu o escaravelho marcar sua

passagem rolando a bola de esterco, a serpente escorrer em curvas, cada um no

seu ritmo, avançando, tecendo a rede de que ele acreditava segurar as pontas. E

ali, inclinado sobre a vida, descobriu aquilo que nunca suspeitara: não era ele, com

seus passos, que ordenava tudo, que comandava o salto do grilo, o vento na

espiga, as pás do moinho. Mas eram eles, grilo e espiga, cada um deles que, com

seus pequenos movimentos, faziam os passos do Tempo.

 

Então abriu as mãos, soltou a carga que acreditava carregar, deitou a cabeça.

 

Serena, a nuvem se afasta. O sol volta a desenhar sombras.

 

No colo do verde vale, dorme afinal o Tempo, enquanto filhotes amadurecem nos

ovos.”

 

Marina Colasanti


Gratidão, Tânia ! 
 
 

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A lente que olha para um mundo material vê uma realidade, enquanto a lente que olha através do coração vê uma cena totalmente diferente, ainda que elas estejam olhando para o mesmo mundo. A lente que vocês escolherem determinará como experienciarão a sua realidade.

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“Amado Criador, eu invoco a sua sagrada e divina luz para fluir em meu ser e através de todo o meu ser agora. Permita-me aceitar uma vibração mais elevada de sua energia, do que eu experienciei anteriormente; envolva-me com as suas verdadeiras qualidades do amor incondicional, da aceitação e do equilíbrio. Permita-me amar a minha alma e a mim mesmo incondicionalmente, aceitando a verdade que existe em meu interior e ao meu redor. Auxilie-me a alcançar a minha iluminação espiritual a partir de um espaço de paz e de equilíbrio, em todos os momentos, promovendo a clareza em meu coração, mente e realidade.
Encoraje-me através da minha conexão profunda e segura e da energia de fluxo eterno do amor incondicional, do equilíbrio e da aceitação, a amar, aceitar e valorizar  todos os aspectos do Criador a minha volta, enquanto aceito a minha verdadeira jornada e missão na Terra.
Eu peço com intenções puras e verdadeiras que o amor incondicional, a aceitação e o equilíbrio do Criador, vibrem com poder na vibração da energia e na freqüência da Terra, de modo que estas qualidades sagradas possam se tornar as realidades de todos.
Eu peço que todas as energias e hábitos desnecessários, e falsas crenças em meu interior e ao meu redor, assim como na Terra e ao redor dela e de toda a humanidade, sejam agora permitidos a se dissolverem, guiados pela vontade do Criador. Permita que um amor que seja um poderoso curador e conforto para todos, penetre na Terra, na civilização e em meu ser agora. Grato e que assim seja.”

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