olhos, as janelas do templo, estão suficientemente abertas para deixar
entrar a luz do conhecimento; desde o momento em que os ouvidos
trazem suas mensagens para o cérebro, para a mente objetiva; desde o
momento em que a boca poderia pronunciar palavras cuja inspiração
proviesse do interior do templo; ainda na infância do templo, o homem,
em sua ignorância e vaidade, determina que o templo da criança se
torne um templo de cobiça e ignorância, de materialismo e dúvida, uma
verdadeira câmara negra de superstição e falsidade.
Este o maior dos crimes. Quantos templos foram lançados ao esquecimento,
abandonados a um lento processo de degradação e destrui-
ção, de desintegração, ainda jovens e suscetíveis de renovação, de restaura
ção, porque a mão do homem e sua natureza negativa decidiram modificar
o templo ou tomar a si o controle de suas tendências naturais e sua
harmonização com o Cósmico? Quantos Mestres foram rudemente, cruelmente
expulsos de seu Santuário dos Santuários, no âmago de um jovem
templo, por ali ser-lhes negado controle, maestria, enquanto o controle,
o domínio do exterior, não só era permitido, mas imposto?
Enquanto o Mestre Interior aguarda, vê o Próprio trono que lhe
era destinado a ser-lhe arrebatado. Vê a harmoniosa organização interna
do templo ser mal empregada e incorretamente controlada. Vê o
maravilhoso cérebro, originalmente vazio de qualquer conhecimento, ser
preenchido com falso conhecimento. Vê a mente, com suas maravilhosas
funções naturais, ser, pouco a pouco, levada a raciocinar em função de
fundamentos preconceituosos, vaidosos, antinaturais e ilógicos. Não somente
vê o próprio templo ser mal empregado por aqueles que crêem e
afirmam conhecer sua composição e suas necessidades mas, além disso, à
medida que o cérebro da criança se torna mais forte e ela se torna mais
consciente, e, lenta mas seguramente, assume o controle de seu corpo,
nada lhe é ensinado sobre a verdade do templo, e ela é mantida em ignor
ância ou em falso entendimento quanto à natureza, à finalidade e às
verdadeiras necessidades desse templo.
Que sofrimento para o Mestre Interior! Este é o aprisionamento de
que falávamos de início um aprisionamento que significa não apenas
confinamento de residência no interior do templo, mas interdição de todas
as manifestações exteriores e de toda determinação de liberdade; que significa
perseguição e negação de direitos, supressão de direitos. A isto tem o
Mestre Interior que se submeter: a ser um prisioneiro em seu próprio templo,
onde deveria ser o rei; o escravo, onde deveria ser o soberano!
Qual o resultado? Com o passar dos dias, dos anos, o grande
templo humano cresce em fortaleza. Seus órgãos e suas faculdades, que
deveriam expressar plenamente os desejos do Mestre são dedicados a expressar
a ignorância humana, introduzida sistemática e abundantemente
no templo, pelos canais do materialismo. A cada ano que passa,
mais proficiente se torna o cérebro para raciocinar somente do ponto de
vista materialista. A cada ano que passa, mais eficiente se torna a mente
em interpretar, em cumprir sua sutil função de ajudar o sistema nervoso
a compreender mas sempre do ponto de vista materialista.
Os olhos físicos foram abertos para enxergar, e para enxergar somente
dentro de certas limitações materiais, pela única razão de terem
sido treinados para enxergar deste modo, e de nenhum outro. Enquanto
os olhos físicos, objetivos, foram treinados para enxergar, mesmo ao ponto
de serem acrescentados óculos e serem inventados microscópios e telescópios
para ajudá-los, os olhos psíquicos, os do Mestre Interior, nunca foram
desenvolvidos, e até sua existência foi negada.
Os ouvidos físicos da criança foram treinados para ouvir mais clara
e inteligentemente, a cada hora. No adulto, os ouvidos físicos alcançaram
proficiência e ao seu poder foram acrescentados todos os recursos que
o homem conseguiu inventar para aperfeiçoar sua audição, possibilitando-
lhe ouvir a maiores distâncias. Há o telefone, a televisão e tantos outros
instrumentos inventados para fazer o homem ouvir melhor os sons
puramente físicos no mundo. Mas durante esse treinamento e desenvolvimento
do ouvido objetivo, o ouvido psíquico, o do Mestre Interior, não foi
desenvolvido, e até sua existência negada. Também a língua física da
criança foi educada. A ela foram ensinados um ou mais idiomas, do
mesmo modo de sempre (e os mesmos idiomas de sempre), com suas limita-
ções e expressões que há séculos existiam no mundo. Foi ela treinada para
produzir satisfatoriamente certos sons vocálicos e corrigir a emissão de
outros sons, dissoantes e desagradáveis. Foi ela educada para memorizar
e pronunciar muitas palavras, até que acumulou grande vocabulário.
Foram-lhe proporcionados todos os meios para bem falar: auditórios, palanques,
tribunas, etc. A voz foi treinada para cantar e usar as leis da
harmonia para expressão física, material. Tudo isto foi feito até que o
adulto alcançou o domínio da voz física e pôde falar bem e poderosamente,
transmitindo pensamentos a outrem por meio de sons materiais. Mas
ao Mestre Interior foi negado o desenvolvimento de sua silente voz, a voz
psíquica, que tanto e tão freqüentemente se esforçava para ao menos
sussurrar sua mensagem, mas à qual foi negada a oportunidade de se
fazer ouvir, à qual foi negado o direito de falar!
Que Mestre encontramos no interior do ser humano adulto? Um
Mestre que é mantido CEGO, SURDO E MUDO! Certamente isto
não é maestria! E, no entanto, ali está ele, pronto para reinar e comandar,
orientar e dirigir, falar e ser ouvido, ver e compreender, ouvir e perceber
através das faculdades psíquicas, que tinham o mesmo poder e grau
de desenvolvimento das faculdades objetivas quando ele penetrou no templo,
mas que agora tornaram-se paralisadas, reprimidas e negadas no
tirânico HOMEM MATERIAL.
Não é este um quadro digno de sério estudo, de séria contemplação?
Breve chegarão os dias em que tudo isso não mais se dará."
Saralden
Este texto é um pequeno fragmento do livro :
"Tornando-se luz –– A Iniciação... Meu encontro com
Anne Frank" de Mara de Carvalho Guimarães
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