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Com o lançamento da segunda parte de O Hobbit nos cinemas, a história de J. R. R. Tolkien volta a encantar jovens e adultos do mundo todo


Há quem diga que o mundo está dividido entre aqueles que leram O Hobbit e O Senhor dos Anéis e aqueles que ainda não leram. Além de seu grande valor literário, a obra-prima de J. R. R. Tolkien tem o mérito de nos colocar diante dos grandes mistérios e dramas do ser humano. O Hobbit e O Senhor dos Anéis nos fazem penetrar no âmago de nossa alma. Não é à toa que, desde o seu lançamento, em 1937, o livro tenha se tornado um best-seller instantâneo, cativando públicos desde a mais tenra idade. E com a volta dos hobbits para os cinemas, após quase 10 anos da estreia de O Senhor dos Anéis, temos mais uma vez a chance de refletirmos sobre a nossa existência e vida interior.

O Hobbit é o primeiro livro da saga de elfos, anões, magos e outras criaturas estranhas inventados pelo escritor e filólogo Sir John Ronald Reuel Tolkien. A obra - que, assim como em O Senhor dos Anéis, se passa na Terra Média - mistura elementos da mitologia nórdica e greco-romana com a doutrina moral cristã. Apesar do título, o grande protagonista da história é a providência divina, que age silenciosamente em cada acontecimento. Embora não seja mencionado sequer uma vez, Deus está presente o tempo todo, como numa "brisa leve". E isso fica evidente desde os primeiros capítulos, em que o pequeno Bilbo Bolseiro se deixa persuadir pelo convite do mago cinzento Gandalf, partindo para uma aventura perigosa ao lado de anões e outros seres fantásticos. Como no chamado da vocação cristã, no início da jornada do hobbit Bilbo está "o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo."01

Na mitologia de Tolkien, hobbits são criaturas pequenas muito parecidas com os seres humanos, embora "com cerca de metade de nossa altura, e menores que os anões barbados"02. Eles andam descalços, têm pés grandes e peludos, mas não possuem barba. Bilbo Bolseiro, o hobbit da história, é um tipo incrivelmente pacato e discreto, considerado pelos de sua vizinhança como alguém muito respeitável, sobretudo porque nunca havia se metido em aventuras ou, como nos conta o narrador, "feito qualquer coisa inesperada"03. A sua casa era uma toca bastante confortável, com adegas, quartos e cozinhas, onde Bilbo habitualmente se assentava para fumar seus cachimbos. Não existiam novidades na vida daquele hobbit; "você podia saber o que um Bolseiro diria sobre qualquer assunto sem ter o trabalho de perguntar a ele"04. Isso tudo só havia de mudar no momento em que Gandalf o convidasse para participar de uma jornada, a fim de libertar o ouro dos anões, aprisionado pelo terrível dragão Smaug.

Ao longo da narrativa, Tolkien traça um quadro de evolução do caráter do personagem, que culminará numa grande renúncia para Bilbo Bolseiro; uma renúncia que desencadeará uma série de acontecimentos inesperados, mas invisivelmente ordenados para o bem. O motor principal das forças do mal na história, que é nada mais que o orgulho e a avareza, acaba por ser vencido pela "humildade das menores criaturas desse mundo imaginário (os hobbits), cuja vida simples e marcada pela firmeza de carácter será o elemento explicativo da vitória do Bem contra Mal"05. Nisso se desenvolve também, mesmo que de longe, a doutrina da comunhão dos santos. Os personagens que compõem a história são como que peças de uma grande engrenagem; há uma conexão entre seus atos, sejam eles vis ou bons, que influenciam de maneira decisiva no encaminhamento do mundo. Percebe-se, então, aquela providência divina mencionada anteriormente. Mesmo no momento mais trágico da história, ela consegue recolher aspectos bons de cada um, fazendo com que daquele grande mal saia um bem ainda maior.

A jornada do hobbit Bilbo Bolseiro pode ser devidamente interpretada como a jornada dos cristãos. Bilbo, um sujeito de hábitos previsíveis e calculados, de repente se lança a uma expedição duvidosa, acompanhado por um grupo de anões rabugentos e por um mago cheio de mistérios, sem garantias sólidas de que voltará vivo ou de que terá uma recompensa. Lança-se, porém, com uma certeza a princípio imatura, a qual poderíamos chamar de fé, que, vez ou outra, irá titubear frente aos desafios e às circunstâncias difíceis. Muitas vezes, o pequeno aventureiro se pegará lembrando de "sua terra, de coisas seguras e confortáveis, e a pequena toca de hobbit"06. Mas o impulso da amizade e a graça de uma ação silenciosa, por assim dizer, o levará a renunciar a si mesmo, tomando para si a missão de lutar por seus amigos, mesmo que estes falhem e duvidem dele. Bilbo é tomado por uma firme decisão; uma decisão profunda que diz respeito a toda a estrutura da vida. Trata-se de uma história fascinante, na qual os limites da existência e as fraquezas dos companheiros - os pecados e defeitos da humanidade - são compensados pela confiança num bem maior - "ou seja, o Deus que está voltado para mim, uma certeza sobre a qual posso fundar minha vida, com a qual posso viver e morrer."07

Como foi dito pelo Padre Paulo Ricardo na aula sobre "O Senhor dos Anéis", não importa tanto o que você fará com esses livros, mas o que esses livros farão com você08. A bem da verdade, julgando pelo processo de desmoralização pelo qual a sociedade passa, em que o vício e a maldade se arvoram em grandes virtudes, ao ponto de o público brasileiro fazer campanha por um "beijo gay" na novela, a leitura de O Hobbit não é somente um entretenimento; é um exorcismo. Tolkien, quando deu vida aos seres estranhos - mas não menos fantásticos - da Terra Média, talvez não pretendesse provocar o leitor em seus aspectos psicológicos e éticos, talvez não quisesse nos ensinar sobre pecado, paixão, morte e ressurreição - "Quis fazer isso para minha própria satisfação, e tinha alguma esperança de que outras pessoas ficassem interessadas nesse trabalho", escreveu Tolkien, certa vez.09 -, mas o fato é que o que vai em obras como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e outros similares pode ser ainda mais evangélico que muita homilia. "E é justamente por ter assumido esses valores básicos, intrínsecos ao Cristianismo" - diz o especialista na literatura de Tolkien, Ives Grandra Martins Filho -, "que (J. R. R. Tolkien) conseguiu produzir uma obra de valor perene e de atractivo universal"10.

Os mitos têm a função de nos ensinar valores universais, transmitindo também o gosto pelo maravilhamento que há no mistério do mundo. Não é de pouca monta que outro escritor inglês tenha dado a um dos seus livros mais famosos um capítulo dedicado à "Ética da elfolândia". Em Ortodoxia, G. K. Chesterton diz que os contos de fadas lhe deram duas convicções: "primeiro, de que o mundo é um lugar fantástico e surpreendente; segundo, de que diante dessa loucura e prazer nós deveríamos ser modestos e submetermo-nos às estranhas limitações de uma bondade tão estranha."11 De fato, a poesia dos elfos de Valfenda é um santo remédio contra o racionalismo dos romances modernas: "A imaginação não gera a insanidade. O que gera a insanidade é exatamente a razão. Os poetas não enlouquecem; mas os jogadores de xadrez sim"12. E é por isso que a leitura da obra de Tolkien constitui-se num elemento de razoabilidade e sanidade.

Em verdade, a história de um autêntico cristão é "a história de como um bolseiro teve uma aventura, e se viu fazendo e dizendo coisas totalmente inesperadas. Ele pode ter perdido o respeito dos seus vizinhos, mas ganhou - bem, vocês vão ver se ele ganhou alguma coisa no final."13

Por Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 18: AAS 98 (2006), n. 1
  2. TOLKIEN, J.R.R. O Hobbit. 5ª Edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012, p. 2
  3. Ibidem, p. 2
  4. Ibidem, p. 2
  5. MARTINS FILHO, Ives Gandra. O Mundo do Sr. dos Anéis: Vida e Obra de J.R.R. Tolkien. Portugal: Publicações Europa-América, 2003, p. 19
  6. TOLKIEN, J.R.R. O Hobbit. 5ª Edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012
  7. RATZINGER, Joseph. O Sal da Terra: o cristianismo e a Igreja Católica no sécula XXI: um diálogo com Peter Seewald / Joseph Ratzinger. Rio de Janeiro: Imago Ed., 2005
  8. O Senhor dos Anéis
  9. TOLKIEN, J.R.R. O Senhor dos Anéis. 6ª Edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012, p. XIII
  10. MARTINS FILHO, Ives Gandra. O Mundo do Sr. dos Anéis: Vida e Obra de J.R.R. Tolkien. Portugal: Publicações Europa-América, 2003, p. 20
  11. CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p. 97
  12. Ibidem, p. 30
  13. TOLKIEN, J.R.R. O Hobbit. 5ª Edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012, p. 2


Tags: CatolicismoVirtudesFilmes


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Comentário de Gisélia em 15 janeiro 2014 às 11:40

Bela propaganda, mas não compartilho a opinião.

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