TUDO É SIMPLES COMO UMA BRISA

[Margarida Maria Frangelli]

 

 

BRISA

Uma brisa soprou

Sobre a copa de uma árvore

E uma folha dançou

Dançoooou

Logo em seguida

Outra e outra

Ao redor

Outras árvores

Seguiram aqueles passos

E dançaram juntas

Ao meu lado — uma flor

Contemplou como eu

O corpo de um balé cósmico

Olhei para a flor

 E a flor

Olhou para mim

Unissonantemente compactuamos

A nítida sensação

De que todas as notas

Surgiram de um aparente nada

E possuíram o ar, a mim e a flor

Daquela música

Que em sua plenitude

Soprando tal melodia

Fez-nos cantar e dançar a luz

O canto e a dança de um novo dia

E nos refizemos vida.

 

Era uma vez... eu, sentada à janela do apartamento de uma amiga no quinto andar de um edifício voltado para outros edifícios. Estava degustando o som de uma música clássica num final de tarde, daqueles que parece que tudo está banhado em ouro pelo dourado do sol. Embora tudo em volta fosse uma floresta de cimento, bem em frente dessa janela havia uma enorme árvore a cobrir todo o resto. Seus galhos e folhas balançavam ao sopro de uma suave brisa. Permaneci distraída com meu olhar fixo naquela extraordinária leveza de movimentos combinando passos entre galhos e folhas com a música que eu ouvia. Meio que em transe, isolei-me do barulho do trânsito e da tagarelice que subiam pelo lado de fora vindos da rua.

Não mais que um breve instante, e fui inundada por uma plena sensação que as notas daquela música que eu ouvia no interior do apartamento vinham lá de fora, daquela brisa que pairava e fazia aquela árvore dançar por inteiro propositadamente por puro prazer. Minha alma estava dançando junto em fusão. Tudo era como se fôssemos uma coisa só; abrisa, a música, aqueles seres vestidos de folhas e galhos que formavam a copa daquela árvore, eu e uma flor que habitava um vaso numa mesa ao meu lado. A sensação foi a de ter sido possuída por uma luz que eu não estava acostumada a ver, e essa luz, agora circundava todas as formas para onde quer que eu olhasse.

Foi dessa maneira que nasceu em mim a certeza de que somos seres uníssonos, todos os seres vivos, vibrando nos mais variados padrões de tons de todas as clave, e que afinados formamos uma espécie de sinfonia cósmica e que tocamos para um infinito balet cósmico. Nós, instrumentos humanos dessa orquestra escomunal, andamos meio desafinados por aí, meio destoando do resto de nosso corpo artístico universal, talvez por isso nossa atual música não esteja soando harmoniosamente em nossos tímpanos. Mas, existe um diapasão para ajustarmos nossos tons com o todo. Na minha opinião, tal diapasão está espalhado por toda parte, aqui, ali e acolá em cada momento de nossa existência. Mas, para encontrá-lo é preciso fixarmos nosso olhar em algum verde que se sobressaia de alguma de nossas janelas. Toda casa, apartamento ou barraco ou qualquer outra forma de habitação tem uma, mesmo nas ruas ou desertos sempre há uma janela, basta um instante de atenção.

Caso não haja um mínimo de verde por perto, como nas prisões (qualquer tipo de prisão), por exemplo, poderemos pintar algum com o pincel de nossa mente, lugar onde guardamos todas as tintas das mais variadas nuances ou, simplesmente tocarmos algum instrumento musical que nos habita. Todo mundo tem um!

Olhar uma flor ao lado e ouvir os sons que vêm do vento pode ser o melhor diapasão que tanto precisamos para nos reconectarmos com todos os outros integrantes dessa imensa orguestra natural. Tocamos nessa orquestra para que o corpo do balet cósmico dance sua eternidade. E na verdade, nos conscientizarmos disso é, nossa única responsabilidade para com o que aqui vimos cumprir. A vaga é ilimitada nessa orquestra. Mesmo que não nos conheçamos uns aos outros fisicamente, estaremos juntos, nos tocando em coreografias de luz e refazendo dessa forma a vida nos quatro cantos desse imenso planeta azul.

VENHA!     ESCUTE A BRISA!    TOQUE E DANCE COM ELA!   VOCÊ SABERÁ SEU TOM E SEU RTMO!

 

    (por: Margarida Maria Frangelli)