Transcrito por Ismael de Almeida
MISTÉRIOS E MAGIAS DO TIBETE
SEIS
O Crepúsculo dos Lamas
Nossos cavalos contornaram a colina vermelha onde fica o Mosteiro Real de Lhassa, e fomos descendo lentamente em direção ao portão Ocidental ou Pargo Kaling, que leva à cidade.
Pelas ruas de Lhassa, grupos de mendigos, imundos e esfarrapados, correram em nossa direção implorando esmolas. Quando eles se afastaram com as esmolas recebidas, nosso amigo, o lama Kazi, olhou-os tristemente.
E virando-se para nós, falou:
- Muitos destes mendigos são ricos e não precisam esmolar. Quando se cumprir a profecia do ano do Tigre de Ferro (1950), os comunistas chineses invadirão o Tibete e não haverá mais mendigos, todos terão que trabalhar...
- O Tibete vai ser realmente invadido? - indagou o Dr. Vessantára.
- Sim - respondeu o lama Kazi - tal como o foi em épocas muito remotas e depois em 1904, pelas tropas inglesas sob o comando do Coronel Younghusband. Os tibetanos opuseram a mesma resistência que breve oporão aos comunistas chineses. Isto acontecerá no próximo ano do Tigre de Ferro (1950). O invasor vencerá, pois assim dizem nossos oráculos mais antigos. Tudo será inútil da parte do nosso país, pois é chegado o tempo do crepúsculo dos lamas...
Soubemos então que na época da invasão inglesa no Tibete, o tenente coronel médico, Dr. Wadell, escreveu em seus apontamentos:
"É realmente surpreendente como os astrólogos tibetanos puderam prever, com grande antecedência, a tempestade que ora invade seu país. Entretanto, eu mesmo copiei estas palavras proféticas de um velho manuscrito tibetano datado do ano de 1850. Com extrema exatidão ele revela a hora, dia e ano em que isto sucederia."
Desde que o Lamaísmo invadiu o terreno político, alcançando o poder temporal do Tibete, os reis-lamas tornaram-se meros bonecos nas mãos do clero. Esta supremacia religiosa sobre milhões de fiéis da Ásia trouxe-lhe muito mais do que prestígio. Tornou-se uma fonte valiosa de rendimentos. Muitas contribuições de valor são enviadas da Índia, Mongólia, China e Birmânia para os cofres do palácio Potala. Após a morte do 13º Dalai, foi instalada no Potala uma seção especial do Ministério de Finanças do Tibete. Sua missão é recolher as oferendas religiosas de todo o vasto mundo lamaísta. Incalculáveis quantidades de ouro e prata, peles raras, pedras preciosas, sedas finíssimas, brocados de ouro e objetos de arte são guardadas nos cofres secretos do Potala. Consta que estes tesouros são usados como reserva, num caso de guerra inesperada. Mas, segundo nosso amigo, o lama Kazi, mesmo todo este tesouro será inútil para salvar o Tibete do seu Carma de destruição. O Tibete, com suas tradições medievais e a religião lamaica, desaparecerá da face da terra.
Todavia, suas ideias filosóficas fundamentais jamais morrerão.
Sua sutil influência irá um dia misturar-se com a força política dominante que virá com a Fênix Vermelha - ou comunistas chineses. O atual 14º Dalai ensinará seu povo a matar os invasores chineses, que em 1950 invadirão o Tibete. Entretanto, Gautama, o Buda, ensinava a não-violência. A verdade é eterna e nenhuma pressão material poderá destruí-la, pois ela está acima de tudo. A magia do misterioso encanto tibetano será desfeita. E é bem possível que diante do pânico e do terror que vai imperar no Teto do Mundo, que o povo tibetano volte a meditar nas palavras do testamento político do 13º Dalai, falecido em 1924. Este documento, conservado ainda hoje no palácio Potala e cuja cópia foi levada pelo Coronel Younghusband pala o Museu Britânico, diz o seguinte:
"No ano do Tigre de Ferro (1950), a religião e a administração secular do Tibete serão atacadas pelas forças da Fênix Vermelha. O 14º Dalai e o Panchen Lama serão vencidos pelos invasores. As terras e as propriedades dos mosteiros lamaístas serão divididas e distribuídas entre os invasores. Os nobres e as altas personalidades do Estado terão suas terras e seus bens confiscados e serão obrigados a servir às forças invasoras para não morrer...
Contudo, a grande luz espiritual que, há séculos, brilha sobre o Tibete, não se apagará. Ela aumentará, se difundirá e resplandecerá na América do Sul e, principalmente nas terras de O Fu Sang (1), onde será iniciado um novo ciclo de progresso com a nova sétima raça dourada".
Segundo nos informou o lama Kazi, o atual 14º Dalai - que não é a reencarnação do verdadeiro Dalai - para não ser aprisionado, fugirá para a Índia. O incrível caos que há séculos reinou na Ásia, voltará a reinar no País das Neves. Os lamas largarão os rosários e pegarão nas armas. Isto fez-nos lembrar que o destino do atual Dalai lembra o de Devadata - un dos discípulos de Sidarta Gautama, o Buda, e que era primo de sua esposa, a princesa Yasodhara.
Conta-se que, através das práticas da yoga, Devadata conseguiu desenvolver grandemente seus poderes psíquicos ou "siddhis". Certa vez um Marajá ofereceu uma rica taça de ouro ao homem que pudesse alcançá-la, sem subir no topo do bambu, onde estava pendurada.
Vieram muitos magos e faquires para tentar a prova. Em vão invocaram seus poderes ocultos. Sabendo do que se passava, Devadata - orgulhoso dos seus poderes - resolveu competir. Sentou-se no chão, perto do trono do Marajá e concentrou toda a sua força mental. E o povo assombrado viu Devadata ir se elevando aos poucos no ar. E assim, levitando, conseguiu obter a taça sem subir no bambu. Contente com sua façanha, Devadata foi procurar o Buda e narrou-lhe o ocorrido. O Sublime sorriu e respondeu mansamente:
- De que valem estes poderes, meu filho? Nada significam para teu progresso espiritual. São apenas demonstrações vãs...
Indignado, Devadata irritou-se com a resposta do Iluminado, e abandonou-o. Foi para a cidade e começou a pregar contra ele. Buda continuou sereno e deixou Devadata entregue ao seu próprio destino. Uma tarde, Devadata caminhava pela floresta junto com seus discípulos quando, de repente caiu dentro de areias movediças. Apesar de toda sua clarividência não tinha visto o perigo. Desesperado viu que ia afundando cada vez mais. Os discípulos correram para salvá-lo. Mas nada conseguiram. E Devadata morreu colhido pelas areias movediças...
Possivelmente, apesar de todo seu poder, o mesmo acontecerá com o 14º Dalai Lama. Breve terá que dizer adeus aos seus famosos títulos de Encarnação Viva do Deus Chen Re Zi, Regente Máximo do Teto ao Mundo, Precioso Protetor do Povo, Grande Buda Vivo, O Bem Amado Senhor, O Mais Recôndito Sábio e tantos outros nomes poéticos e imaginosos que não terão mais razão de ser...
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Nota:
(1) - Os tibetano, chamam "O Fu Sang" ao Brasil, onde dizem que teve início a sua civilização, antes do Grande Dilúvio.