CORELAÇÃO DOS FATOS DA VIDA

[Lineu Fernandes Junior]

Participante: Não consegui chegar a um senso sobre uma pergunta que fiz anteriormente que diz o seguinte: um personagem é criado com uma índole nervosa para que a sua existência culmine num enfarto.

Pai Joaquim: Primeiro detalhe que devemos ter em mente para poder lhe responder: no Universo, dois mais dois dificilmente dá quatro. Segundo: dentro da força inescrutável de maya, ou seja, a criação da ilusão do mundo material, um ato, uma ação, um acontecimento, não tem correlação com outro. Pode ter, mas não tem obrigatoriamente. Deixe explicar isso melhor...

Vocês dizem assim: morreu de câncer porque fumava. Apesar de quem afirma isso se considerar muito sábio esta afirmação é uma mentira. Não vou nem dizer que é uma ilusão, mas uma mentira.

Isso porque alguma coisa para ser Verdade e Real universalmente falando, precisa ser eterna (acontecer sempre) e universal (acontecer a todos). Isso não acontece com esta máxima que vocês acreditam como verdadeira. Alguns que fumam morrem de câncer, mas nem todos que fumam morrem desta doença e nem todos que a tem são fumantes.

Portanto, fumar não leva ao câncer: pode levar... É isso que precisamos entender. O ato de fumar e o de ter câncer são coisas independentes, universalmente falando. Estes acontecimentos não estão correlacionados, mesmo que as percepções e a lógica humana diga ao contrário.

Voltando, então, à pergunta que você me fez anteriormente – sobre morrer de infarto e para isso precisar ser nervoso – afirmo que ela está fundamentada numa falácia. Isto porque a prova de ser nervoso e a prova de morrer de infarto, não estão correlacionadas e nem uma coisa leva infalivelmente à outra. Isso porque muitos que morrem de infarto nunca foram nervosos, assim como muitos que são nervosos nunca têm infarto.

Não podemos nos prender a esta lógica... Não podemos achar que um ato está ligado ao outro dentro de uma cadeia lógica reconhecida pelo ser humano. Não, isso não existe... Não é assim que o Universo funciona.

Participante: Pergunto isso porque numa palestra que o senhor fez sobre o aborto li o seguinte: determinada reação do espírito ao ter sido abortado em outra encarnação pode gerar para si um carma onde precise que o ser humano que ele será agora seja abortado. Por isso a história que ele agora escreverá para este ser humano conterá este acontecimento. A partir disso, pergunto: se um pode planejar terminar sua existência num aborto ou num assassinato, não seria também válida a prova de um enfarto, por exemplo?

Pai Joaquim: Poderia ser...

Repare que no texto que você se baseia, eu coloquei todos os verbos no condicional: poderia, seria, talvez fosse... Repare que não utilizo uma lógica perfeita: um mais um dá dois, aconteceu isso, irá acontecer aquilo...

No Universo as probabilidades são muitas. Um espírito que numa encarnação anterior passou pelo aborto e precisa refazer sua prova, não será necessariamente abortado na próxima encarnação. É isso que precisamos compreender.

Quando uso estes exemplos – que quem não passou por uma prova terá que repeti-la – faço apenas para que vocês possam ter uma noção do que é o Universo. Mas, com isso não crio regras fixas.

Aliás o próprio espiritismo fala isso. Ele ensina que nem sempre quem tirou a mão de alguém numa encarnação estará obrigatoriamente sujeito a perder a sua na próxima encarnação. O que importa não é o ato, mas a essência deste, ou seja, o gênero de provas. Este gênero pode ser vivenciado com diversos “teatrinhos” ou histórias de vida.

Por exemplo, quem se revoltou com o aborto numa encarnação, pode nessa, para cumprir a mesma prova, nascer muito pobre, não ter menor perspectiva na vida e, ao mesmo tempo, querer ter dinheiro, conseguir posses e ter fama. Esta é uma história que se liga ao mesmo gênero de provações (possuir a vida) pedido por aquele que um dia foi abortado.

Pai Joaquim de Aruanda.

Publicado em Visão Universalista (texto) / www.meeu.com.br