Anjo de Luz

Informação é Luz , ajude a propagar


O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES

("The Man Who Planted Trees")

Jean Giono

Tradução: Ericson L. Silva

julho/2005

http://www.idph.net

20 de outubro de 2002

PREFÁCIO

Jean Giono, o único filho de um sapateiro e uma lavadeira, foi um dos maiores escritores da França. Sua prodigiosa produção literária incluiu histórias, ensaios, poesia, peças, roteiros, traduções e mais de trinta novelas, muitos dos quais foram traduzidos para o inglês. Giono era um pacifista e foi preso duas vezes na França, no início e no fim da Segunda Guerra Mundial. Ele permaneceu ligado a Provença e Manosque, a pequena cidade onde nasceu em 1895, e onde, em 1970, faleceu.

Giono ganhou o Prix Bretano, o Prix de Monaco (pelo mais destacado trabalho colecionado por um escritor francês) o Légion d'Honneur, e foi também membro da Academia Goncourt.


O HOMEM QUE PLANTAVA ÁRVORES

Para que um caráter humano revele qualidades realmente excepcionais é preciso que se tenha a sorte de poder observar o seu desempenho durante muitos anos. Se o seu desempenho for destituído de todo egoísmo, se a sua motivação principal for uma generosidade inigualável, se for absolutamente certo de que não há qualquer expectativa de recompensa, e se, além disso, tiver deixado sua marca visível sobre a Terra, então não haverá qualquer dúvida.

Há uns quarenta anos eu estava numa longa viagem a pé sobre elevações montanhosas bem desconhecidas pelos turistas, naquela antiga região em que os Alpes fincam-se em Provença. Tudo, na época em que me lancei na travessia a pé dessas regiões desertas, era uma terra árida e sem cor. Nada crescia ali a não ser lavanda selvagem.

Eu estava cruzando a área no seu ponto mais largo, e depois de três dias caminhando encontrei-me no meio de uma desolação sem igual. Acampei próximo aos vestígios de uma vila abandonada. Minha água tinha acabado no dia anterior, e eu tinha de encontrar alguma. Essas casas agrupadas, embora em ruínas, assim como um velho ninho de vespas, sugeriam que algum dia devia ter havido ali uma fonte ou um poço. Havia realmente uma fonte, mas estava seca. As cinco ou seis casas, sem telhado, corroídas pelo vento e pela chuva, e a pequena capela com o seu campanário esfarelando postavam-se tais como as casas e as capelas nas vilas habitadas, mas toda a vida tinha desaparecido.

Era um belo dia de junho, brilhante com o sol, mas sobre essa terra desabrigada, lá em cima no céu, o vento soprava com uma ferocidade insuportável. Rugia sobre as carcaças das casas como um leão importunado em sua refeição. Eu tinha de mudar o meu acampamento. Depois de andar por cinco horas, eu ainda não tinha encontrado água, e não havia nada que me desse esperança de encontrar. Tudo à minha volta era a mesma secura, a mesma vegetação grosseira. Eu pensei ter visto à distância uma pequena silhueta negra, em pé, e presumi-a como sendo o tronco de uma árvore solitária. De qualquer modo, caminhei na sua direção. Era um pastor de ovelhas. Trinta ovelhas estavam deitadas à sua volta naquela terra que queimava de calor. Ele deu-me um gole de água do seu porongo e, um pouco depois, levou-me à sua casinha numa dobra da planície. Ele extraía a sua água - excelente água - de um poço natural muito fundo sobre o qual tinha construído um sarilho primitivo.

O homem falava pouco. Esse é o jeito daqueles que vivem sozinhos, mas podia-se sentir que ele era seguro de si mesmo, e confiante nessa segurança. Isso era surpreendente nesse campo estéril. Ele não vivia numa cabana, mas numa casa de verdade, feita de pedra e que dava plena evidência de como os seus esforços tinham recuperado a ruína que ele havia encontrado quando ali chegou. O seu telhado era forte e seguro. O vento nas suas telhas fazia o barulho do mar na praia.

O lugar estava em ordem, os pratos lavados, o piso varrido, o seu rifle lubrificado; a sua sopa estava fervendo no fogo. Eu notei então que ele estava com a barba bem feita, que todos os seus botões estavam bem pregados, que a sua roupa havia sido remendada com o cuidado meticuloso que torna o remendo invisível.

Ele compartilhou a sopa comigo, e depois, quando ofereci-lhe meu pacote de tabaco, ele disse que não fumava. O cachorro dele, tão silencioso quanto ele mesmo, era amigável sem ser servil.

Ficou subentendido desde o início que eu deveria passar a noite ali; a vila mais próxima ficava ainda a mais de um dia e meio de distância. E, além disso, eu estava perfeitamente familiarizado com a natureza das raras vilas existentes naquela região.

Havia quatro ou cinco delas bem separadas umas das outras nessas encostas montanhosas, entre os bosques de carvalho branco, na extremidade das linhas de ferro. Elas eram habitadas por carvoeiros, e a vida era ruim. Famílias amontoadas num clima que é excessivamente rude tanto no verão quanto no inverno não encontravam qualquer saída para o interminável conflito de personalidades. A ambição irracional atingia proporções desordenadas no contínuo desejo pela fuga.

Os homens levavam as cargas de carvão para a cidade, e então retornavam. Mesmo as personalidades mais saudáveis cediam diante do perpétuo trabalho pesado. As mulheres cultivavam suas reclamações. Havia rivalidade sobre tudo: sobre o preço do carvão tanto quanto sobre um assento no banco na igreja, sobre as virtudes em guerra tanto quanto sobre os vícios em combate, e também sobre a interminável batalha entre virtudes e vícios. E acima de tudo estava o vento, também incessante, a raspar os nervos. Havia epidemias de suicídio e casos freqüentes de insanidade, usualmente homicida.

O pastor foi pegar um saquinho e despejou um monte de bolotas (1) sobre a mesa. Começou a inspecioná-las, uma a uma, com grande concentração, separando as boas das ruins. Fumei o meu cachimbo. Eu realmente ofereci-me para ajudá-lo. Ele disse-me que esse era o seu trabalho. E de fato, vendo o cuidado que ele dedicava à tarefa, eu não insisti. Essa foi toda a nossa conversação. Quando ele já havia colocado de lado um monte bastante grande de bolotas, contou-as em dezenas, enquanto eliminava as pequenas e as que estavam ligeiramente trincadas, porque agora as estava examinando mais de perto. Quando tinha assim selecionado cem bolotas perfeitas, foi para a cama.

Havia paz em estar com esse homem. No dia seguinte eu perguntei se poderia descansar ali por mais um dia. Ele achou isso bastante natural, ou, para ser mais exato, deu-me a impressão de que nada o assustava. O meu descanso não era absolutamente necessário, mas eu estava interessado e queria saber mais a respeito dele. Ele abriu o aprisco e levou o seu rebanho para o pasto. Antes de sair, ele mergulhou o saco com as bolotas bem selecionadas num balde d'água.

Eu notei que ele carregava como cajado uma barra de ferro tão grossa quanto meu dedão e de aproximadamente um metro e meio de comprimento. Descansando ao caminhar, segui uma trilha paralela à dele. O pasto era num vale. Ele deixou o cachorro encarregado do pequeno rebanho e subiu aonde eu estava. Fiquei receoso de que ele fosse repreender-me pela minha indiscrição, mas não era nada disso: esse era o caminho por onde ele ia passar, e convidou-me para ir junto se eu não tivesse nada melhor para fazer. Subiu até o topo da montanha, a uns cem metros de distância.

Ali ele começou a fincar a barra de ferro na terra, fazendo um buraco no qual plantou uma bolota; e então tapou o buraco. Estava plantando carvalhos. Perguntei a ele se a terra lhe pertencia. Ele respondeu que não. Sabia de quem era? Não sabia. Ele supunha que fosse propriedade pública ou que talvez pertencesse a pessoas que não se importassem com ela. Ele não estava interessado em saber de quem era. Plantou suas cem bolotas com o maior cuidado.

Depois do meio-dia retomou o seu plantio. Suponho que eu tenha sido bastante insistente no meu questionamento, porque ele respondeu. Por três anos ele tinha estado plantando árvores nesse deserto. Ele tinha plantado cem mil. Dos cem mil, vinte mil tinham brotado. Dos vinte mil ele ainda esperava perder metade para os roedores ou para os imprevisíveis desígnios da Providência Divina. Restariam dez mil carvalhos para crescer onde nada tinha crescido antes.

Foi então que eu comecei a perguntar-me sobre a idade desse homem. Ele tinha obviamente mais de cinqüenta anos. Cinqüenta e cinco, ele contou-me. O nome dele era Elzeard Bouffier. Outrora tivera uma fazenda nas terras baixas. Lá ele tinha passado a sua vida. Perdeu o seu único filho, e então a sua esposa. Tinha se retirado para essa solidão onde o seu deleite era viver calmamente com a suas ovelhas e o seu cachorro. Tinha o palpite de que essa terra estava morrendo pela falta de árvores. E adicionou que, não estando pressionado por quaisquer negócios próprios, tinha resolvido remediar tal estado de coisas.

Uma vez que naquele tempo eu estava, a despeito da minha juventude, vivendo uma vida solitária, sabia como lidar gentilmente com espíritos solitários. Mas a minha própria juventude forçava-me a considerar o futuro em relação a mim mesmo e em relação a uma certa busca por felicidade. Eu disse a ele que em trinta anos os seus dez mil carvalhos estariam magníficos. Ele respondeu com muita simplicidade que, se Deus lhe desse vida, em trinta anos ele haveria plantado tantos mais que esses dez mil seriam como uma gota d'água no oceano.

Além disso, ele estava agora estudando a reprodução das faias (2) e tinha próximo de sua casa um canteiro de mudas nascidas de castanhas de faia. As mudas, que ele tinha protegido das suas ovelhas com uma cerca de arame, eram muito bonitas. Ele também estava considerando bétulas (3) para aqueles vales, ele disse; havia uma certa quantidade de umidade uns poucos metros abaixo da superfície do solo.

No dia seguinte nos despedimos.

No ano que se seguiu veio a guerra de 1914, na qual fiquei envolvido pelos próximos cinco anos. Um infante dificilmente tinha tempo para refletir sobre árvores. Para dizer a verdade, aquela coisa toda não tinha causado muita impressão em mim; eu a tinha considerado como um hobby, uma coleção de selos, e esqueci-me do assunto.

Com o fim da guerra, encontrei-me em posse de um pequeno bônus de dispensa das forças armadas e um grande desejo de respirar ar puro por algum tempo. Não foi com outro objetivo que peguei a estrada para as terras áridas novamente.

O campo não havia mudado. No entanto, além da vila deserta eu visualizei à distância uma espécie de névoa acinzentada que cobria os topos da montanha como um tapete. Desde o dia anterior eu tinha começado a pensar novamente sobre o pastor de ovelhas, plantador de árvores. "Dez mil carvalhos", eu pensei, "realmente ocupam um bom espaço."

Eu tinha visto muitos homens morrerem durante esses cinco anos para não imaginar facilmente que Elzeard Bouffier estava morto, especialmente quando, aos vinte anos, alguém considera os homens de cinqüenta como velhos que não têm nada a esperar senão a morte. Ele não estava morto. De fato, ele estava extremamente ativo.

Ele tinha mudado de trabalho. Agora ele tinha apenas quatro ovelhas, mas, em compensação, uma centena de colméias. Ele tinha se livrado das ovelhas porque elas ameaçavam as suas jovens árvores. Porque ele disse-me (e eu vi por mim mesmo) que a guerra não o tinha incomodado. Ele tinha tranqüilamente continuado a plantar.

Os carvalhos de 1910 estavam agora com dez anos e eram mais altos que nós dois. Era um espetáculo impressionante. Eu fiquei literalmente sem fala e, como ele também não falava, passamos o dia inteiro caminhando em silêncio pela sua floresta. Em três seções, ela media onze quilômetros de comprimento, e três quilômetros no seu ponto mais largo. Quando você lembrava que tudo isto tinha brotado das mãos e da alma desse homem, sem recursos técnicos, você compreendia que os humanos podem ser tão eficientes quanto Deus em outras áreas que não a da destruição.

Ele tinha seguido o seu plano, e faias tão altas quanto o meu ombro espalhadas tão longe quanto a vista podia alcançar, confirmavam isto. Ele mostrou-me belos grupos de bétulas plantadas cinco anos antes, isto é, em 1915, quando eu estava lutando em Verdum. Ele as tinha plantado em todos os vales onde tinha suposto - e corretamente - que havia umidade quase na superfície do solo. Eram delicadas como menininhas. E bem firmes.

A criação parecia ocorrer como uma reação em cadeia. Ele não se preocupou com isso; estava determinantemente executando a sua tarefa em toda a sua simplicidade; mas à medida em que caminhávamos de volta à vila eu vi água correndo em riachos que tinham estado secos desde tempos imemoriais. Esse era o mais impressionante resultado da reação em cadeia que eu tinha visto. Esses leitos secos tinham um dia, há muito tempo, correntes de água.

Algumas das vilas mais tristes que já mencionei tinham sido construídas em antigos assentamentos romanos, dos quais alguns traços ainda restavam; e os arqueólogos, explorando o local, tinham encontrado anzóis onde, no século XX, eram necessárias cisternas para assegurar mesmo um pequeno suprimento de água.

O vento, também, espalhava sementes. À medida em que a água ressurgiu, também reapareceram salgueiros, juncos, prados, jardins, flores e um certo propósito em se estar vivo. Mas, a transformação ocorreu tão gradualmente que se tornou parte do padrão sem causar qualquer surpresa. Caçadores, subindo para o descampado em busca de lebres ou porcos do mato, certamente notaram o súbito crescimento de pequenas árvores, mas atribuíram isso a algum capricho natural da terra. É por isso que ninguém se intrometeu com o trabalho de Elzeard Bouffier. Se ele tivesse sido detectado, teria tido oposição. Ele era indetectável. Quem nas vilas ou na administração pública poderia sonhar sobre tal perseverança numa generosidade magnífica?

Para ter uma vaga idéia dessa personalidade excepcional, não se pode esquecer que ele trabalha em total solidão: tão total que, mais próximo ao fim da sua vida, ele perdeu o hábito da fala. Ou talvez não tenha mais sentido necessidade disso.

Em 1933 ele recebeu uma visita de um guarda florestal que o notificou de uma ordem que proibia acender fogo em lugar aberto, devido ao receio de se pôr em risco o crescimento dessa "floresta natural." Foi a primeira vez que o homem lhe disse ingenuamente que tinha ouvido falar de uma floresta que crescera por si mesma. Naquele tempo Bouffier estava prestes a plantar faias num local a doze quilômetros da sua casa. E para evitar as viagens de ida e vinda – porque agora tinha já setenta e cinco anos de idade – planejava construir uma cabana de pedra bem no local da plantação. No ano seguinte ele o fez.

Em 1935, uma delegação inteira veio da parte do governo para examinar a "floresta natural." Havia um alto oficial do serviço florestal, um representante e técnicos. Houve uma boa dose de conversa inútil. Decidiu-se que alguma coisa precisava ser feita e, felizmente, nada foi feito senão a única coisa útil: a floresta toda foi colocada sob a proteção do governo, e a produção de carvão foi proibida. Porque era impossível não ser cativado pela beleza daquelas árvores jovens em todo o seu vigor; e elas lançaram o seu encanto sobre o próprio representante do governo.

Um amigo meu estava entre os oficiais florestais da delegação. Expliquei a ele o mistério. Um dia, na semana seguinte, fomos juntos ver Elzeard Bouffier. Encontramo-lo trabalhando duro a uns dez quilômetros do lugar onde a inspeção tinha acontecido.

Não era à toa que esse oficial era meu amigo. Ele era perceptivo para valores. Sabia como manter-se em silêncio. Entreguei os ovos que tinha trazido como presente. Dividimos o almoço entre nós três e passamos várias horas em silenciosa contemplação do campo.

Na direção donde viéramos os declives estavam cheios de árvores de seis a sete metros e meio de altura. Lembrei-me de como a terra parecia em 1913: um deserto... Um trabalho duro e pacífico, o vigoroso ar da montanha, a moderação e, acima de tudo, a serenidade de espírito tinham favorecido esse homem com uma saúde impressionante. Ele era um dos atletas de Deus. Fiquei imaginando quantos acres mais ele iria cobrir com árvores.

Antes de partir, meu amigo só fez uma breve sugestão sobre certas espécies de árvores para a qual o solo ali parecia particularmente adequando. Ele não forçou o argumento. "Pela boa razão de que", ele disse mais tarde, "Bouffier sabe mais sobre isso do que eu." E ao cabo de uma hora caminhando, tendo revirado esse pensamento em sua cabeça, ele adicionou: "Ele sabe mais sobre isso do que qualquer um. Ele descobriu uma maneira maravilhosa de ser feliz!"

Foi graças a esse oficial que não apenas a floresta, mas também a felicidade daquele homem foi protegida. Ele designou três guardas florestais para a tarefa [de cuidar da floresta], e aterrorizou-os tanto que eles ficaram imunes a todas as garrafas de vinho que os carvoeiros podiam oferecer.

O único perigo sério àquele trabalho ocorreu durante a guerra de 1939. Como os carros estavam sendo movidos a gasogênio (geradores que queimam madeira), nunca havia madeira suficiente. O corte foi iniciado entre os carvalhos plantados em 1910, mas a área era tão distante de quaisquer estradas de ferro que o empreendimento mostrou-se economicamente inviável. Foi então abandonado.

O pastor de ovelhas não viu nada disso. Ele estava a trinta quilômetros de distância, continuando pacificamente o seu trabalho, ignorando a guerra de 1939 assim como havia ignorado a de 1914.

Vi Elzeard Bouffier pela última vez em junho de 1945. Ele estava então com oitenta e sete anos. Eu tinha retornado à rota das terras devastadas; mas agora, a despeito da desordem na qual a guerra tinha deixado o país, havia um ônibus que fazia a linha entre o Vale de Durance e a montanha.

Atribuí o fato de não estar reconhecendo mais as cenas das minhas viagens anteriores a esse transporte relativamente ligeiro. Também parecia que a rota passava por um novo território. Foi preciso ver o nome da vila para convencer-me de que eu estava em verdade na mesma região que antes era só ruína e desolação.

O ônibus deixou-me em Vergons. Em 1913 esse vilarejo de dez ou doze casas tinha três habitantes. Eles tinham sido gente selvagem, odiando uns aos outros, vivendo de fazer armadilhas uns para os outros, muito pouco diferentes, tanto física quanto moralmente, das condições da pré-história humana. Ao redor as urtigas cresciam sobre os restos das casas abandonadas. A sua condição havia sido desesperadora. Para eles, nada havia senão esperar a morte – uma situação que raramente dá predisposição à virtude. Mas tudo havia mudado. Até mesmo o ar. Ao invés dos ventos ásperos e secos que costumavam me atacar, uma brisa suave estava soprando, carregada de perfumes. Um som como de água vinha das montanhas: era o vento na floresta. O mais impressionante de tudo, no entanto, foi que ouvi o barulho verdadeiro da água caindo numa piscina. Vi que uma fonte tinha sido construída, que fluía livremente e – o que me tocou mais – que alguém tinha plantado uma tília ao lado dela, uma tília que devia ter uns quatro anos de idade, já cheia de folhas, o símbolo incontestável da ressurreição.

Além disso, Vergons tinha evidências do tipo de trabalho para o qual a esperança é exigida. A esperança, assim, tinha retornado. As ruínas tinham sido retiradas, paredes dilapidadas tinham sido derrubadas e cinco casas tinham sido restauradas. Agora havia vinte e oito habitantes, sendo quatro deles jovens recém-casados. As casas novas, recentemente rebocadas, eram rodeadas por jardins onde flores e plantas cresciam numa ordenada confusão: rosas e repolhos, alho-poró e bocas-de-dragão, aipo e anêmonas. Era agora uma vila onde se gostaria de viver.

Daquele ponto em diante segui a pé. A guerra há pouco terminada não tinha ainda permitido o inteiro florescimento da vida, mas Lázaro há havia saído da tumba. Nas encostas inferiores da montanha eu vi pequenos campos de cevada e centeio; no fundo dos vales estreitos os prados estavam ficando verdes.

Levou apenas oito anos depois disso para que todo o campo verdejasse com saúde e prosperidade. Naquele local de ruínas que eu tinha visto em 1913 agora há belas fazendas, testificando uma vida feliz e confortável. As velhas correntezas, alimentadas pelas chuvas e a neve que a floresta conserva, estão fluindo novamente. As suas águas foram canalizadas. Em cada fazenda, em bosques de bordos, fontes transbordam sobre tapetes de menta fresca. Pouco a pouco as vilas foram reconstruídas. Pessoas vindas da planície, onde a terra é cara, fixaram-se aqui, trazendo juventude, movimento, o espírito de aventura. Ao longo das estradas você encontra homens e mulheres cordiais, garotos e garotas que entendem o riso e que redescobriram o gosto dos piqueniques. Contando a população anterior, irreconhecível agora que vivem confortavelmente, mais de dez mil pessoas devem a sua felicidade a Elzeard Bouffier.

Quando eu reflito que um único homem, armado somente dos seus recursos corporais e morais, foi capaz de fazer brotar da desolação essa "Terra de Canaã", eu fico convencido de que, apesar de tudo, a humanidade é admirável. Mas, quando eu calculo a infalível grandeza de espírito e a tenacidade da benevolência que deve ter custado para atingir esse resultado, sou tomado de um imenso respeito por aquele velho e iletrado camponês que foi capaz de completar um trabalho que tem o valor de Deus.

Elzeard Bouffier faleceu em paz em 1947 no Hospital de Banon.

_________________________________________________________________


APÊNDICE

Oxford Scientific Films/Raymond Blythe

BÉTULA

The silver birch tree, one of a number of birches native to parts of South America and to temperate and arctic regions of the northern hemisphere, is a deciduous tree growing to a height of 30 m (70 ft). This birch has silver-white bark that slowly turns black at the base of the trunk in older plants. Its leaves turn a bright yellow in autumn.

Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2004. © 1993-2003 Microsoft Corporation. All rights reserved.

BOLOTA. Fruto do gênero Quercus (carvalho), conhecido vulgarmente como abelota e bolota (q. v.), e que consta de um pericarpo coriáceo, envolvido na base por uma cúpula receptacular. Pertencente ao grupo dos aquênios.

Oxford Scientific Films/G.A. Maclean

Faia

A faia, encontrada somente em florestas temperadas do Norte, está relacionada ao carvalho e ao pinhão. A maioria das espécies de faias é decídua – isto é, elas perdem as suas folhas sazonalmente – embora algumas sejam sempre verdes e mantenham as suas folhas. Tanto a madeira como os frutos da faia são úteis; o fruto, denominado castanha (da faia), contém alto teor de óleo e é utilizada como alimento para porcos, enquanto a madeira é usada na fabricação de mobília.

Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2004. © 1993-2003 Microsoft Corporation. All rights reserved.

Oxford Scientific Films/Avril Ramage

Carvalho comum

O carvalho, com a sua madeira densa e dura, é largamente utilizado na fabricação de mobília e armários. Os carvalhos têm sistemas de raízes que penetram o solo a profundidades de mais de 30 metros à procura de água.

Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2004. © 1993-2003 Microsoft Corporation. All rights reserved.

Colaboração: VANDO em 16.9.2010:

www.supraconsciencia.blogspot.com

emamoreluz@gmail.com

Exibições: 48

Comentar

Você precisa ser um membro de Anjo de Luz para adicionar comentários!

Entrar em Anjo de Luz

Comentário de ॐFLORAॐRICAॐ LIS®ॐ em 17 setembro 2010 às 9:43
Comentário de ANDRA em 16 setembro 2010 às 17:43
MUITO BOM .

Seja um apoiador de Anjo de Luz

Para mantermos os sites de Anjo de Luz, precisamos de ajuda financeira. Para nos apoiar é só clicar!
Ao fazer sua doação você expressa sua gratidão pelo serviço!

CHEQUES DA ABUNDÂNCIA

NA LUA NOVA.

CLIQUE AQUI

 
Visit Ave Luz

 

PUBLICIDADE




Badge

Carregando...

Co-criando A NOVA TERRA

«Que os Santos Seres, cujos discípulos aspiramos ser, nos mostrem a luz que
buscamos e nos dêem a poderosa ajuda
de sua Compaixão e Sabedoria. Existe
um AMOR que transcende a toda compreensão e que mora nos corações
daqueles que vivem no Eterno. Há um
Poder que remove todas as coisas. É Ele que vive e se move em quem o Eu é Uno.
Que esse AMOR esteja conosco e que esse
PODER nos eleve até chegar onde o
Iniciador Único é invocado, até ver o Fulgor de Sua Estrela.
Que o AMOR e a bênção dos Santos Seres
se difunda nos mundos.
PAZ e AMOR a todos os Seres»

A lente que olha para um mundo material vê uma realidade, enquanto a lente que olha através do coração vê uma cena totalmente diferente, ainda que elas estejam olhando para o mesmo mundo. A lente que vocês escolherem determinará como experienciarão a sua realidade.

Oração ao Criador

“Amado Criador, eu invoco a sua sagrada e divina luz para fluir em meu ser e através de todo o meu ser agora. Permita-me aceitar uma vibração mais elevada de sua energia, do que eu experienciei anteriormente; envolva-me com as suas verdadeiras qualidades do amor incondicional, da aceitação e do equilíbrio. Permita-me amar a minha alma e a mim mesmo incondicionalmente, aceitando a verdade que existe em meu interior e ao meu redor. Auxilie-me a alcançar a minha iluminação espiritual a partir de um espaço de paz e de equilíbrio, em todos os momentos, promovendo a clareza em meu coração, mente e realidade.
Encoraje-me através da minha conexão profunda e segura e da energia de fluxo eterno do amor incondicional, do equilíbrio e da aceitação, a amar, aceitar e valorizar  todos os aspectos do Criador a minha volta, enquanto aceito a minha verdadeira jornada e missão na Terra.
Eu peço com intenções puras e verdadeiras que o amor incondicional, a aceitação e o equilíbrio do Criador, vibrem com poder na vibração da energia e na freqüência da Terra, de modo que estas qualidades sagradas possam se tornar as realidades de todos.
Eu peço que todas as energias e hábitos desnecessários, e falsas crenças em meu interior e ao meu redor, assim como na Terra e ao redor dela e de toda a humanidade, sejam agora permitidos a se dissolverem, guiados pela vontade do Criador. Permita que um amor que seja um poderoso curador e conforto para todos, penetre na Terra, na civilização e em meu ser agora. Grato e que assim seja.”

© 2024   Criado por Fada San.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço