O HOMEM TORNADO LIVRE
Cristina Guedes
Começa-se o ano novo com mais esperanças e triunfos a realizar. E quando menos se espera lá vem a pergunta. Começa-se a escrever assim na bucha e descobre-se que se criou a palavra sob correntes marinhas de um novo dia.
Mas para começar o nosso diálogo proclamo um sujeito normal, honesto, compreensivo, mas logo sei que essa normalidade está perfeitamente definida, e quem sabe terrívelmente, resolveu achar seu livramento condicional.
Pois é, todo setenciado pensa em um dia ser livre para que seus protestos de desarmado Armstrong na Lua, mude o mundo.
Mudaremos o mundo? Eu, tu, você, todos mudaremos o mundo? In memorian, só quando formos livres?
Todos temos nossos delitos. Não há tipos e nem plurais amortecedores que prendam os livres ativistas do mundo. Ontem Noel desceu pela nossa chaminé enquanto a mocinha estava nua na tv trazendo seu lacinho preso ao bumbum sem nem saber direito o que estava fazendo pelada ali ao lado do velhinho.
Sim, mas há um homem livre aí ao seu lado? Ou você, é um homem livre?
Talvez haja a história dele e de muitos. E que no fim do dia voltará para casa correndo para explicar os motivos de sua ausência prolongada.
A vida inteira vivi entre meus dois irmãos, Gilvan e Davi, e com eles comecei atacando todas as mentiras que diziam sobre as meninas - acabei brincando com meninos numa ordem de idéias tão engraçadas que passei a entender melhor o mundo das meninas.
Realmente eu sempre parecia uma chefe de gang e não entendia bem qual era a dos meninos, mas meu instinto de menina nada conformada com o velho mundo das Suzis (bonequinha meio Barbie que surgiu nos anos 70) me colocava de sobreaviso contra o ireal. Até mesmo meus avós como os repórteres da vida viam que minha inclinação por contestação não era das mais fáceis.
Sim, mas deixem que eu lhes fale hoje dos meninos. São diferentes de nós. De mim e de vocês. Têm asfaltos e calçadas, prazeres e posses desde cedo e isso exerce sobre eles um efeito fantástico, tornando-os amolecidos onde nós meninas somos duras, escondidos onde nós somos expressivas, a ponto de se sentirem com dúvidas quando somos confiantes ou rebolantes perto deles.
Então vejamos: E o menino tornado livre como é?
Ou seja aquele menino que antes estava preso, ou ainda, que se tornou ou está livre de ônus ou das restrições familiares ou culturais. Pois o menino tornado livre poderá parecer desobrigado um dia. Tem hora que tem uma obrigação e não tem mais. E tem hora que foi beneficiado com a libertação. Mas tem hora que ele fica aborrecido com tanta gente averiguando a vida dele.
Certamente, o menino tornado livre seria aquele que tinha preconceitos, tinha restrições, e não os encontrou mais em casa. E como um desobrigado em relação aos preconceitos ainda vigentes de sua vida de menino, ele sente-se na fiel obrigação de ser um lord da ordem prática do seu mundo. E se for abordado apressadamente ele irá se agarrar teimosamente ao seu liberado ponto de vista. De modo que para esse menino, suas palavras e frases tornarse-ão nítidas e separadas, e não entretecidas como as nossas.
O menino tornado livre não fala exatamente como criança, mas adquire um sotaque peculiar quando abre as cortinas distintas do seu risco leviano de ver. É aí que o menino mora ao lado e reage e fica louco pra aquecer as possobilidades de assimilação. E toda sua safra de menino vem à tona. Tudo ele vence. E quase surpreso, o menino destampa-se para encurtar distâncias e fazer vibrar mais vida nos desertos urbanos onde ele vive.
Ardentemente, o menino tornado livre já foi quase marginalizado em seu mundo quando quis virar a mesa. Consolou-se resistente no fim do seu expediente e soube que não estava sozinho. E o que era espontâneo nele começou a doer. Perguntou-se: é meu canto? É meu lugar? É meu manto esse calar? O simples fato dele pensar em casamentos, trabalhos, sexo e civilização ocidental inteira deixou-o numa sensação de culpa, até meio despovoado de parentes antes pendurados nas paredes. Virou um tipo fora da roda, fora do brinquedo, fora até do seu mal-estar antigo.
Mas foi muita encenação na vida do menino. O mercado de consumo decidiu apelar para o seu sexo de audiência. E ele se consolou aprendendo tênis horizontal com a sua professora. E tudo tinha sido uma farsa na vida do menino tornado livre. Tudo obrigou-o ao Conselho de Informação Compulsória. Tudo era a sua antiga prisão por traz do seu comportamento.
No entanto, o menino tornado livre desconfiou das sentenças. Estabeleceu conflitos internos, lá no fundo, foi lentamente diluído, pois mais cedo ou mais tarde ele iria entrar em choque com seu comportamento estatístico.
Chegou a hora do menino tornado livre virar homem. Tenso, nervoso, obstinado, incomodado, mas libertatório sempre, ele ligou as idéias junto com cada mensagem destinada ao seu inconsciente. Era normal que ele tivesse se sentido dividido, da sua família, do seu bairro e até da sua vizinhança conservadora demais para ele.
E o menino tornado livre avançou em ser homem. Lembrou-se que um dia se expôs nos classificados como quem se despiu humilhado. No seu novo endereço certo, definitivo e viril, ele tombou no coração. Extasiou-se. E ainda delirante, pelo clássico gatilho oculto de sua pistola, ele se iluminou na face, obstinadamente ao longo da vida breve soltou o couro dos sapatos. Na madrugada à dentro, na mansidão do compasso, louvou todos os meninos insepultos que afundaram inflados de sonhos. E por todos eles acendeu uma vela.
Sendo homem, o menino avançou tanto e foi em frente tanto, que ser livre foi para ele voar, mas voar livremente como homem e lembrar-se sempre que também os pássaros mais livres demoram para fortalecer suas asas. E teve lucidez. Agora do topo do seu edifício o seu vôo seguro foi inaugurado. Assim, albatroz experimentado, misturou-se a revoada dos dias até se perder no infinito.
Feliz semana NOVA para todos os amigos dos Anjos de Luz!!!
Agradeço as belíssimas mensagens e ligações de alguns amigos daqui, durante essas festas, recebam meu carinho e minha sincera admiração por todos.
Paz, alegria e Triunfo sempre
Cristina Guedes
escritora, jornalista e taróloga
http://revistafroditequemquiser.ning.com/profiles/blogs/o-homem-tor...
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