Este não é mais um texto sobre a lei da atração, tampouco sobre alguma fórmula mágica para ficar rico. Diferente do que pensamos, riqueza e pobreza pouco tem a ver com nossas posses materiais, mas muito mais com a forma que encaramos e vivemos a nossa vida. Este é um texto então para nossa reflexão sobre como estamos enxergando a nós mesmos e a vida através das lentes da riqueza e pobreza, fartura e escassez, também sobre como podemos mudar isso.
O dinheiro é um artifício escolhido por nós como um meio de padronizar as trocas de mercadorias e serviços em nossa experiência humana. Ele é neutro, não é bom nem ruim, tampouco é capaz de exercer alguma influência energética em alguém, sendo um mero instrumento nas mãos de quem o usa.
Muitas crenças foram associadas ao dinheiro, inclusive os conceitos de riqueza e de pobreza. A pior das associações, ao menos uma das mais nocivas delas, é a de que precisamos do dinheiro para sermos felizes. Esta presunção está intimamente ligada à crença de que a felicidade vem de algo externo a nós e não de um alinhamento com nossa alma e com a expressão daquilo que verdadeiramente somos.
Pensando que sempre há algo melhor em outro lugar que não aqui, a não aceitação do momento presente e o foco constante no externo com o tempo foram se tornando mais e mais o padrão para o ser humano, o comportamento considerado normal de nossa sociedade, movidos agora pela busca constante do que satisfará nossa necessidade no momento seguinte e que nos fará feliz.
Dessa forma, aquele que por puro desalinhamento espiritual está infeliz ou insatisfeito, acredita que algo externo está faltando, atribuindo valor àquele que possui aquilo que acredita que satisfará sua carência ou necessidade, criando assim o início da distinção entre “os que possuem” e “os que precisam”.
Por causa de nosso vazio interior, constante foco no negativo e da enorme lista que elaboramos diariamente com o que consideramos problemas de nossa sociedade, dificilmente paramos para observar como já estamos melhores do que em qualquer outro momento da nossa história. Ainda que exista muita coisa a ser melhorada, podemos facilmente notar as mudanças no “bom senso” geral, já que todos compartilhamos a ideia de um mundo melhor, inclusivo e justo a todos.
Além disso, hoje já existem hospitais e escolas públicas, coisa que há poucos séculos era privilégio dos abastados. Já existem também obras de saneamento básico que eventualmente chegarão aos lugares mais remotos, melhorando a vida de todos.
Antigamente, poucas famílias tinham a posse de todas as terras e o povo pagava impostos para poderem se instalar sob a proteção de determinado reino. A vida era dificílima para quem não era da corte ou não tinha posses. O trabalho era essencialmente braçal, não haviam leis trabalhistas e nenhuma facilidade dos tempos atuais, não havia transporte público ou sequer ruas e estradas pavimentadas, não havia energia elétrica, sistema de esgoto, coleta de lixo nem a menor noção de higiene. A expectativa de vida hoje é maior que o dobro do que já chegou a ser e só tende a aumentar.
Hoje podemos ser ouvidos, temos direito de votar e eleger nossos representantes que cuidarão do bem coletivo. Existem leis para assegurar os direitos de cada um, uma disputa entre egos não precisa acabar em um duelo. Existem serviços governamentais que trabalham exclusivamente para atender as necessidades da população. Tudo bem que existem deficiências e ainda há muito o que melhorar, mas comparado com que o mundo já foi, estamos muito bem e ficaremos cada vez melhor.
Uma grande vitória dos tempos atuais sobre nosso passado é nossa liberdade de expressão. Somos todos livres para seguirmos nossos sonhos, empreender, estudar em bibliotecas públicas e assim adquirir mais conhecimento e nos dedicar àquilo que gostamos. Também podemos nos unir a quem amamos e expressar nosso afeto livremente.
Como vemos, existe muita coisa que não reparamos. Mas que quero mostrar com isso? Existe uma postura nossa de olharmos sempre para fora e enxergarmos tudo de acordo com o que vibramos. Dessa forma, em algum momento de insatisfação e cegueira interior, desejamos aquilo que não temos e que o outro ostenta. Associando então a felicidade à condição de se ter algo que não temos, surgiram assim os conceitos de riqueza e pobreza conforme erroneamente compreendidos hoje. “Rico é quem tem o que eu quero ter, é quem é o que eu quero ser”, sempre focados no externo, nas comparações, na matéria, na aparência ou em qualquer outra coisa confundida com o alinhamento espiritual com nossa própria Presença Divina que nos preencheria instantaneamente.
Desde pequenos fomos ensinados, muitas vezes com certa severidade, a “sermos gratos pelo pouco que temos, pois tem gente que não tem nem isso”. Quer dizer, juntamente com algo que poderia ser um belo ensinamento, o da gratidão, recebemos a programação da comparação com o outro sob o prisma do que possuímos para basear nosso estado de felicidade e contentamento. Então, “se ao me comparar com quem está na miséria eu tenho mais, devo ficar feliz”. Desculpem-me mas não há nada mais impensado a se ensinar a alguém, é muita besteira junta. Além desta pérola, recebemos ainda antigas programações religiosas enobrecedoras da pobreza que condenam o enriquecimento e os ricos como, por exemplo, “É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”, sempre vendo a fartura e o dinheiro como vilões, algo que transforma as pessoas negativamente. Não é à toa que hoje no Brasil exista tanta revolta social, tanta raiva e vitimismo projetados aos que vencem na vida. Desde nosso descobrimento fomos catequisados como cordeiros, um rebanho de obedientes prontos para servir e à espera da Graça Divina que nos aliviará do sofrimento. “Aqueles que tem condições então devem fazer o papel desta Graça, já que sou apenas um cordeiro bonzinho que faz tudo certinho para ir pro céu, não posso pecar indo atrás de sucesso e dinheiro”.
Dessa forma, em meio às nossas buscas exteriores, é comum dizermos “tenho tudo o que preciso, só me falta dinheiro”. Sou grato pela minha saúde, pela minha família, sou grado a Deus, ao meu trabalho e tudo isso que me faz feliz”. Ou seja, se são as coisas externas que estão nos deixando felizes, então ainda não aprendemos sobre felicidade e por isso continuamos a não entender sobre a verdadeira riqueza e pobreza. Ainda condicionamos a felicidade aos outros, às coisas, ao trabalho e às posses em geral. “Minha família” diz um, “minha carreira” diz outro, “ajudar ao próximo”, diz mais alguém sobre o que os preenche, mas ninguém se lembra do próprio Ser, a única fonte de felicidade verdadeira que há.
Por mais nobre que fomos levados a acreditar que seja nos contentarmos com pouco, para o Criador tanto faz se escolhemos passar nossa experiência na matéria na fartura ou na escassez. Ao contrário do que pensamos, ser rico ou pobre nada mais são do que experiências neutras aos olhos do Criador, nada tem a ver com merecimento, castigos divinos ou provações. Nem a riqueza nem a pobreza representam méritos ou deméritos para o Ser e nosso caminho.
Riqueza e pobreza são puramente escolhas de cada indivíduo, senão somente palavras usadas para classificar comparações entre possuir ou não possuir. Sendo então apenas palavras, prefiro usá-las para representar características espirituais disponíveis à todos. Àqueles que as acessam podemos chamar de ricos, àqueles que as rejeitam de pobres, mas sempre lembrando que não há melhor nem pior em um ou outro, ambos são apenas formas de experimentar a transitoriedade da vida material, além de também não relacionarem-se com a fartura ou escassez de posses materiais.
Assim, rico então é aquele que independente de sua aparência, do que ele veste, de sua forma física, de seu estilo de vida, de suas posses, de sua profissão ou do quanto ganha, já é capaz de conviver com neutralidade em relação aos valores da matéria, já reconheceu o sagrado em si e em todos aceitando incondicionalmente cada aspecto do seu Ser. Tem humildade o suficiente para apresentar-se do jeito que é, sem necessidade de ser mais nem menos, assim como para reconhecer onde não está enxergando a Perfeição Divina em si e precisa melhorar. É feliz simplesmente porque existe. O amor do universo transborda através dele e nestas condições relaciona-se consigo mesmo, com o próximo e com a vida.
Já pobre é aquele que depende de qualquer circunstância externa para ser feliz e estar em paz consigo. Apoia sua vida na família, nos amigos, no trabalho, nos eventos sociais, até mesmo no Deus externo pregado por sua religião. Sempre dependente de algo exterior a si, pouco consegue dar atenção ao que já tem e ao que é. Compara-se incessantemente com os outros e diminui-se facilmente caso não consiga “enfeitar” a imagem que faz de si mesmo de modo a elevá-lo em suas comparações. Caso este pobre viva na fartura, está sempre precisando de algo novo que o complete; caso viva na escassez está sempre pronto a culpar alguém por seus infortúnios. O pobre sempre precisa que alguém dê a ele aquilo que ele mesmo não se dá, seja amor, reconhecimento, alegrias, incentivos ou bens materiais mesmo. Não tem amor próprio nenhum, relaciona o amor sempre a coisas externas e aparências.
A riqueza vem do amor próprio, da independência e liberdade. Pobreza vem do desamor, da dependência e da incompletude. Nossas posses materiais, as facilidades ou dificuldades que atraímos, o dinheiro que flui para e através de nós ou se lidamos com a vida a partir de uma perspectiva de fartura ou de escassez são pura e unicamente escolhas de cada um, caminhos por onde experienciaremos nossa curta estada na Terra e ninguém tem nada a ver com isso.
Independente de ser rico ou pobre espiritualmente, experimenta a fartura na vida aquele que enxerga a abundância infinita do universo e sabe que ela está disponível a todos, quem reconhece seu próprio valor e merecimento, quem sabe que o único responsável por suas condições de vida é ele mesmo, quem trata a si mesmo com amor e gratidão, quem busca por oportunidades ao invés de dificuldades e principalmente quem está do próprio lado e não contra si, quem ouve seu coração e o segue com todas as suas forças, com coragem e fé.
Já a escassez é típica na vida de quem tem mais medos proibitivos do que coragem de viver seus sonhos, de quem se sente inferior e desmerecedor, de quem acredita que depende de sorte ou de alguém poderoso que o ajude, de quem se acha incapaz ou que não tem o que precisa para melhorar de vida, de quem transfere aos outros as responsabilidades que são unicamente suas, de quem se sente vítima das circunstâncias e culpa os outros pelas suas condições de vida, de quem acredita mais nas dificuldades do que em sua vitória, de quem critica aqueles que vivem a fartura em suas vidas da maneira que bem entendem, de quem acha que o dinheiro corrompe e que “quem tem dinheiro não presta”, de quem acredita que terá que mudar seu jeito de ser caso venha a ter dinheiro, de quem se inferioriza ao comparar-se com alguém que aparenta ter dinheiro a ponto de achar que “não combina” com uma vida rica e farta, de quem a atitude mais comum é reclamar, encontrar defeito ou dificuldades ao invés de reconhecer o que há de bom, as oportunidades e aprendizados em tudo que nos acontece.
A abundância é uma característica neutra da experiência humana, disponível a todos e que está sempre atuante em nossas vidas, trabalhando incessantemente para nos dar mais e mais daquilo que temos como nossa verdade, sejam nossas crenças na fartura ou na escassez, nas oportunidades ou desafios, na facilidade ou dificuldades, na saúde ou na doença, a vida sempre nos traz mais daquilo onde colocamos a nossa atenção e das vibrações que mais alimentamos, infinita e incessantemente.
Se alguém que busca a fartura está cheio de crenças e programações de escassez, quanto mais energia colocar nesta busca mais suas programações limitantes serão ativadas e manifestarão dificuldades, empecilhos e sabotagens em sua vida. Se para a pessoa, mesmo que inconscientemente ter dinheiro esteja associado a medos e perigos, uma parte de seu Ser fará de tudo para não tê-lo e assim mantê-la à salvo.
É muito importante então compreender a neutralidade de tudo no universo material e a indiferença que é para o Criador se escolhemos uma experiência terrena de fartura ou escassez. Temos total liberdade de decidir em que preferimos acreditar como a nossa verdade e qual o caminho percorreremos ao encontro das partes superiores do nosso Ser. Uma vez profundamente compreendido isso nossos nós e amarras se afrouxam e nossa realidade pode ser mudada com muito mais facilidade, simplesmente compreendendo que tudo o que somos capazes de imaginar de bom já existe e está disponível para nós, apenas esperando nosso alinhamento vibratório e permissão. Em termo práticos, que acreditemos que já somos aqueles que futuramente gostaríamos de ser e que experimentemos nossa vida através destes olhos.
Viver é fácil e será cada vez mais na medida em que aprendemos sobre quem somos e como funcionamos. Melhorar nossa realidade material está mais relacionado a deixarmos de ser quem não somos do que à necessidade de se conquistar algo que não temos. A partir daí o mecanismo da abundância Divina e o próprio universo se encarregam do resto.
Namastê!
Rodrigo Durante
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