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Conta-se na Bhagavad Gita que Arjuna, durante a guerra, pede a Krishna que coloque a carruagem no meio do campo de batalha para melhor avistar os dois exércitos que irão se enfrentar. Ao ver as pessoas que estão no lado inimigo, entra em desespero. Ele apresenta todos os sintomas do que hoje chamaríamos de síndrome do pânico.

Arjuna, então, ao constatar que o lado inimigo está repleto de amigos e parentes, com os quais ele deverá lutar, diz: “Krishna, vendo minha gente reunida e desejosa por guerra, os meus membros parecem desintegrar-se e minha boca está seca. O meu corpo treme e nasce em mim uma sensação de horror. Gandiva, o arco, cai da minha mão. Minha pele está queimando, não sou capaz de ficar em pé, e minha mente parece girar.”

Arjuna dedicou-se para essa guerra e para ser um grande guerreiro durante boa parte de sua vida. Ele passou treze anos no exilio, pensando somente na guerra, dedicando-se aos treinos e à disciplina, em busca de poderes e armas. Durante toda a vida, Arjuna pensou que, ganhando a guerra, encontraria a paz e se libertaria do sofrimento.

Chegando ao campo de batalha, ele percebe que toda essa dedicação e todos esses anos de treino e disciplina não iriam levá-lo à felicidade e à paz que idealizou e adiou para o futuro.

“Não desejo a vitória, ó Krishna. Tampouco o reinado, ou prazeres. O reinado, o que é para nós, Govinda? Para que servem as diversões e mesmo a vida?”

“Qual será nossa satisfação, Krishna, matando os filhos de Dhritarastra? Matando-os, somente frutos negativos se juntarão a nós. Como poderemos ser felizes, Krishna, matando a nossa gente?”

Então, nesse momento, Arjuna entra em uma grande “depressão”. A vida perde todo o sentido, tudo o que ele imaginou que iria lhe trazer felicidade vai por água abaixo. Anos dedicados à guerra, e agora Arjuna descobre que, mesmo ganhando esta guerra, ele continuará sofrendo e infeliz, pois para ganhá-la terá que matar as pessoas com as quais ele gostaria de desfrutar a vitória.

Arjuna não sabe mais o que fazer para ser feliz e acabar com o sofrimento, está em desespero. Ele nem sabe mais o que quer nesse momento, os desejos e esperanças acabaram. Ele não sabe o que pode fazer para permanecer em paz.

Enquanto existe uma esperança, ou algo que imaginamos que realizando isso seremos felizes, conseguimos ainda dar continuidade à vida, pois estamos correndo atrás de um sonho. Mas depois de termos realizado várias coisas, e continuarmos tão infelizes como antes, não sabemos mais o que fazer para ser felizes, e então daí vem o desespero, a depressão.

Isso pode acontecer em algum momento da nossa vida, é o momento onde existe um forte sofrimento e não sabemos a solução, não sabemos o que precisamos fazer para permanecer em paz. O conflito que Arjuna vive na Gita é o conflito que vivemos ou viveremos em algum momento das nossas vidas. Por isso é comum nos identificarmos tão profundamente com o que Arjuna experiencia no campo de batalhas.

Como Arjuna, nós adiamos a nossa felicidade e a depositamos em situações exteriores como um bom casamento, um bom emprego, uma casa e um carro, em juntar muito dinheiro. Mas, depois que tentamos tudo isso, percebemosque não é bem assim. Por mais que busquemos e consigamos adquirir essas coisas, descobrimos que estamos tão insatisfeitos quanto antes.

Depressão é um momento da vida em que entramos em desespero, porque não sabemos como podemos nos libertar do sofrimento e encontrar a nossa paz, como aconteceu com Arjuna.

Ele, na guerra, entra em desespero porque não sabe o que fazer, nesse momento ele pede à Krishna: “Eu, tomado por natureza miserável, com a mente incapacitada para decidir o que é certo ou errado, peço-lhe que me ensine aquilo que é afirmado decididamente como absoluto. Sou seu discípulo, pois me entrego a você. Pois eu vejo que nem a aquisição de um reinado próspero na terra ou o domínio de criaturas celestiais eliminarão a tristeza que inutiliza os meus órgãos”.

Arjuna acha que nada que ele possa imaginar irá acabar com a sua tristeza e, assim, pede à Krishna que lhe ensine sobre aquilo que é absoluto, aquilo que, quando conquistado, nada mais precisará ser conquistado.

Vedanta diz que existe um desejo que, se conquistado, engole todos os demais. Tal desejo é o de encontrar um estar bem comigo mesmo. Encontrando esse estar bem comigo mesmo, o mundo, que é dual, muda o tempo todo (como é a sua natureza), mas eu continuo sempre bem, porque sei que a plenitude é a minha verdadeira natureza.

E é exatamente esse o desejo que é despertado em Arjuna quando ele se coloca como discípulo de Krishna na Gita. Ele não mais busca uma realização baseada em objetos ou situações, ele busca uma felicidade em si mesmo. Esse é o desejo por moka: “Eu desejo aquilo que vai me libertar do sofrimento e da tristeza, eu quero conhecer o absoluto”.

Quando temos um momento na vida como esse, paramos e fazemos uma análise sobre a direção que estamos tomando nas nossas vidas. Descobrimos que é impossivel resolvermos todos os problemas e conquistarmos todas as coisas. Neste mundo sempre existirão problemas para serem resolvidos e objetos para serem conquistados. Encontrando a plenitude em nós mesmos, adquirimos a maturidade necessária para lidarmos com os problemas e as situações, sem perder o estado de paz.

Arjuna reconhece, então, que não quer mais a solução para os problemas relativos, porque esses problemas sempre existirão. O que ele busca, agora, é resolver o problema fundamental e esse problema é o sentimento de que sempre algo está faltando.

O que falta não importa, o que importa é que sempre está faltando, e isso nos tira do estado de paz.

O sábio reconhece que tudo no Universo é passageiro. Assim como a alegria passa, a tristeza também passa. E, então, pensa: “Se o problema tem solução, porque se preocupar? Da mesma forma, se o problema não tem solução, adianta preocupar-se?”

No mundo, todo ganho envolve uma perda e para toda perda existe um ganho. Então, o que vai me fazer feliz, o que vai me dar uma solução definitiva nessa vida? Há um momento, então, em que surgem questionamentos (viveka), e começamos a nos indagar:

- Levo minha vida correndo. Aonde quero chegar?
- Será que o objetivo da minha vida é ficar resolvendo problemas?
- Será que o que eu quero da vida é juntar muito dinheiro, ser famoso e depois morrer?
- Será que algum dia eu vou encontrar uma paz e uma satisfação?
- Será que minhas ações estão me levando a encontrar essa paz?

Sentimo-nos sempre limitados, em termos de conhecimento, de tempo e de felicidade. Por isso sofremos e tentamos sempre nos preencher acumulando objetos.

Krishna diz a Arjuna que o seu sofrimento é ilegítimo, pois não somos esse corpo e essa mente que são limitados. O que verdadeiramente somos já é livre de limitação, completo, pleno e feliz. Nós sofremos por algo que verdadeiramente não somos, assim como Arjuna. Por isso Krishna diz que o seu sofrimento é ilegitimo.

O problema do sofrimento humano é a ignorância de si mesmo. O desconhecimento de quem nós realmente somos. Para acabar com essa ignorância, é necessário um meio de conhecimento. O sofrimento existe por ignorarmos aquilo que nós verdadeiramente somos, e, para reconhecermos aquilo que somos, é preciso esse conhecimento. É necessário escutar as palavras que fluem da boca do mestre para o ouvido do discípulo. Essas palavras revelam aquilo que somos, o sujeito.

Krishna, na Gita, ensina a Arjuna sobre o reconhecemento do sujeito que tudo observa e, enfim, acaba com o seu sofrimento. Krishna não faz mais do que reconstruir a imagem que Arjuna tem dele mesmo. Ao fazer isso, o mestre devolve ao discípulo o sentido da vida e do viver.

Conhecendo-nos como livres de limitação, descobrimos aquilo que verdadeiramente somos, e dessa forma podemos lidar com todo esse mundo relativo, sem perdermos nosso estado de paz.

Arjuna termina a Gita dizendo para Krishna: “A ilusão foi eliminada, o reconhecimento foi alcançado por mim mediante esse ensinamento. Estou firme e livre de dúvidas. Seguirei seu ensinamento”.

E Sanjaya, que é ao mesmo tempo testemunha e narrador, conclui: “Assim escutei esse maravilhoso e emocionante diálogo entre Krishna e Arjuna, escutei esse Yoga, que é segredo, que fala sobre o absoluto, diretamente do senhor do Yoga, Krishna. A todo momento que me lembro desse ensinamento, eu me alegro, de novo e de novo”.

Que possamos então receber as bençãos desse ensinamento, o qual é capaz de reconstruir a imagem que temos de nós mesmos e do mundo. E que nos faz nos sentirmos alegres, de novo e de novo, cada vez que escutamos.

Harih Om Tat Sat!



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Publicado originalmente nos Cadernos de Yoga, no Outono de 2009.

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Comentário de Sonia Ollé em 15 agosto 2009 às 9:36


"O que falta não importa, o que importa é que sempre está faltando,

e isso nos tira do estado de paz."

Luz... Amor... Paz... Com muita Alegria paraTodos Nós!!!

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